Observações sobre a crise sanitária – COVID-19
por Greiner Costa
As informações a seguir foram organizadas após a atualização oficial de 10/04, 17:30. O quadro abaixo apresenta o número de casos confirmados nos últimos 39 dias.
Quadro Crescimento Casos Confirmados no Brasil | |||
Data | Nº casos Confirmados | Novos Casos por dia | Variação Percentual |
03/03/2020 | 2 | 0 | |
04/03/2020 | 2 | 0 | 0% |
05/03/2020 | 8 | 6 | 300% |
06/03/2020 | 13 | 5 | 63% |
07/03/2020 | 19 | 6 | 46% |
08/03/2020 | 25 | 6 | 32% |
09/03/2020 | 30 | 5 | 20% |
10/03/2020 | 34 | 4 | 13% |
11/03/2020 | 69 | 35 | 103% |
12/03/2020 | 78 | 9 | 13% |
13/03/2020 | 98 | 20 | 26% |
14/03/2020 | 121 | 23 | 23% |
15/03/2020 | 200 | 79 | 65% |
16/03/2020 | 234 | 34 | 17% |
17/03/2020 | 291 | 57 | 24% |
18/03/2020 | 428 | 137 | 47% |
19/03/2020 | 621 | 193 | 45% |
20/03/2020 | 904 | 283 | 46% |
21/03/2020 | 1.128 | 224 | 25% |
22/03/2020 | 1.546 | 418 | 37% |
23/03/2020 | 1.891 | 345 | 22% |
24/03/2020 | 2.201 | 310 | 16% |
25/03/2020 | 2.433 | 232 | 11% |
26/03/2020 | 2.915 | 482 | 20% |
27/03/2020 | 3.417 | 502 | 17% |
28/03/2020 | 3.904 | 487 | 14% |
29/03/2020 | 4.256 | 352 | 9% |
30/03/2020 | 4.579 | 323 | 8% |
31/03/2020 | 5.717 | 1.138 | 25% |
01/04/2020 | 6.836 | 1.119 | 20% |
02/04/2020 | 7.910 | 1.074 | 16% |
03/04/2020 | 9.056 | 1.146 | 14% |
04/04/2020 | 10.278 | 1.222 | 13% |
05/04/2020 | 11.130 | 852 | 8% |
06/04/2020 | 12.056 | 926 | 8% |
07/04/2020 | 13.717 | 1.661 | 14% |
08/04/2020 | 15.927 | 2.210 | 16% |
09/04/2020 | 17.857 | 1.930 | 12% |
09/04/2020 | 19.638 | 1.781 | 10% |
(*) O quadro acima demonstra que nos últimos 21 dias (3 semanas) a taxa média de crescimento diário de casos confirmados de COVI-19 é de 16,0%, um crescimento que não pode ser informado como exponencial. Como temos visto no noticiário. Ainda não é. O que os gráficos a seguir confirmam:
Algumas hipóteses sobre o que poderá vir nas próximas semanas podem ser apontadas em visão geral, a partir dos os inúmeros indícios, artigos com estudos e notícias veiculadas nos portais de informação sobre a evolução da doença em outros países e especificidades locais:
- A primeira constatação: dada a entrada do vírus no Brasil por pessoas de alta renda, o espalhamento do vírus inicialmente se deu pontualmente e em setores de baixa concentração populacional, o que reduziu o impacto do espalhamento inicial;
- Esse fato somado à implementação precoce de medidas de contenção nas grandes cidades, verifica-se que as curvas de crescimento da doença não são acentuadas;
- É evidente no entanto a subnotificação tanto de óbitos como de casos confirmados de contaminação;
- A subnotificação tem origem também evidente no atraso nos resultados dos testes, que além disso estão sendo feitos em muito poucas pessoas no Brasil, diferente de outros países;
- A não realização de testes e o atraso em resultados é de longe o principal gargalo que produz subnotificação e prejudica as estatísticas oficiais atuais no Brasil;
- Na última semana tem sido noticiado a chegada e doação de testes e testes mais rápidos no Brasil;
- É portanto esperado que em algum momento milhares de confirmações de contaminação e também centenas de mortes sejam incluídas nos registros oficiais como causados por Covid19 devido a resultados de testes em atraso;
- Mais grave, começam a surgir informações sobre surgimento de casos confirmados e óbitos começam a ser registrados em periferias de grandes cidades, onde há maior população concentrada, regiões com pobreza e infraestrutura habitacional e sanitária precárias, onde as condições para isolamento social efetivo são muitas vezes impraticáveis – favelas, cortiços, habitações multi-familiares, ocupações etc.;
- O problema do espalhamento do vírus para regiões de maior contingente populacional que está se iniciando se soma como fator grave às campanhas realmente criminosas em redes sociais, e mesmo em pronunciamentos do próprio Presidente, contrárias ao isolamento social;
- De fato, pode ser observado nos últimos dias efetivo relaxamento nas condições de isolamento nas cidades;
- Os três fatores apontados acima (redução progressiva da sub-notificação, aumento da transmissão comunitária em regiões de pobreza e maior concentração populacional; e o relaxamento do isolamento por campanhas criminosas de grupos bolsonaristas) deverão produzir uma inflexão nos números relativos a casos confirmados de contaminação pelo vírus;
- Com o intervalo de alguns dias, o mesmo pode-se esperar venha a ocorrer com o volume de internações de casos graves e aumento expressivo do número de mortes;
- Esse quadro provável de ampliação de casos de contaminação e sua confirmação clínica até a 1ª quinzena de maio, aponta para a necessidade de extensão das políticas oficiais de isolamento e provável ampliação das restrições;
- E para a ampliação da batalha da comunicação produzida por grupos bolsonaristas e setores empresarias retrógrados;
- Em paralelo, como observação de caráter positivo, está ocorrendo a montagem de estruturas de apoio para fazer frente ao agravamento da crise que ainda não se apresentou, o que tende a criar melhores condições de tratamento e oferta de leitos e infraestrutura em UTIs;
- Esse fato positivo é resultado de iniciativas e planejamento de governos estaduais e prefeituras principalmente, em menor medida também do ministério da saúde;
- Não obstante, é esperado que pelo grande contingente populacional no Brasil, em especial regiões metropolitanas das maiores cidades, as estruturas mesmo ampliadas em grande medida recentemente, não serão suficientes para a demanda por UTIs e respiradores, de forma que um número significativo de óbitos pode ser esperado até o final de maio;
- Como pode ser observado em outros países, quando o ápice de casos e óbitos é atingido em cerca de 3 a 4 semanas os casos começam a se estabilizar, o que no Brasil apontaria para o final de maio.
Obs. finais:
- Ainda a verificar estudos que apontam para novos momentos de isolamento se tornando necessários no Brasil devido a repiques nas contaminações a partir do 2º semestre;
- Estudos aprofundados sobre as consequências econômicas da crise, com perspectiva de gravíssima recessão e depressão, exigindo a implantação de estratégias de sobrevivência para o capitalismo e para a sociedade, fundadas em políticas de renda mínima de cidadania e taxação regressiva de fortunas e lucros;
- Outros estudos ainda mais complexos apontando para mudanças estruturais na forma como a sociedade poderá se reorganizar, mudando substancialmente ou em importante medida as “leis” da economia de mercado, tornadas clássicas e de “pensamento único” em todos os setores da mídia e, de forma hegemônica, em universidades e centros de pesquisa, públicos e empresarias;
- Finalmente um sonho possível de transformação ainda mais substancial na forma como vivemos em sociedade com reflexos sobre a cultura consumista, competitiva, não cooperativa, individualista, visões de mundo e comportamentais mandatárias em sociedades capitalistas para o estabelecimento e construção de outras formas fundadas em solidariedade, sustentabilidade efetiva em todos os sentidos, proteção mútua e cooperação total.
Esse pode ser um mundo que está hoje em gestação. Globalmente.
Pode ser.
Caso os segmentos sociais que defendem e lutam pela humanidade, pela civilização contra a barbárie capitalista, os agrupamentos e movimentos democráticos mobilizados em nossa sociedade não se apresentarem de forma coordenada e integrada para essa batalha, mais uma vez o capitalismo financeiro globalizado poderá mudar tudo para não mudar o essencial. Nesse caso, a civilização perderá mais uma oportunidade.
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Por favor, gostaria de saber qual a formação do autor da análise.
excelente! informação qualificada e muito bem organizada. observações normativas que delas decorrem (20 a 22) e conclusão sao um desafio para os cidadãos de esquerda que buscam uma proposta que aponte para algo além do reformismo.