Observar para transmutar | processo de transformação parte II

Continuando a saga da transformação pessoal, cujo início foi contado aqui, andei pensando se escreveria isso em passos: faça isso e faça aquilo e, então, chegará “lá”.

Acontece que processos de transformação são tão individuais e peculiares e, sério mesmo, é muito possível que você faça parte da enorme parcela da população mundial que não precisa de um processo de transformação profunda. Esta é uma coisa que me deixa encafifada nos dias de hoje: é tanta regra e tanta norma que quase ninguém consegue ficar confortável consigo mesmo, e isso é um perigo. Reflita: somos tantos, milhares e tão caracterizados particularmente que chega a ser bizarro que todos tenhamos que seguir a mesma receita pra chegar “lá”, neste lugar que sequer existe na vida real – se existisse, com certeza haveria passagem de ônibus/trem/avião e seria muito mais fácil de estar, concorda? 

Pronto. Parâmetros saudáveis são alguns dos principais aliados que captei neste jornada. Nada de check list proposto por revista feminina ou site de psicologia, aqui a transmutação veio de dentro pra fora e, claro, após uma enorme temporada de resistência. Como é que eu soube seruma pessoa que poderia se beneficiar de uma transformação bruta? O tamanho do incômodo em ser eu mesma gritou e, ah, viu, é um grito que não dá pra ignorar – você simplesmente sabe o que fazer, mesmo que não queira. Ou resista. 

Daí vem a parte mais dificil pra mim, que é a observação. Já viu aquele povo doido observando pássaros? Uhun, e o que eles fazem? Eles ficam em silêncio. Puts, quase desisti aqui, porque, olha, ficar em silêncio é algo tão distante de mim, mas tão distante mesmo que nem quando estou muda estou quieta, consegue entender o tanto de vírgula que eu coloco nas frases e faz sentido pra você qual é a velocidade e a intensidade do meu pensamento? Percebe? Ufa… Mas eis que o silêncio é ferramenta essencial pra quem deseja mudar, porque é necessário – muito mesmo – se ouvir. Porque se o mundo lá fora está exagerando nos níveis de crueldade é bem possível que os níveis de crueldade estejam latentes aí mesmo, por dentro e estejam sendo refletidos para que você olhe. Olhe, sinta e transforme. 

Do português “o mundo lá fora é mesmo uma extensão do seu mundo interior”. E isso nem é tão difícil de perceber, faz um teste e me conta. O que mais te incomoda nas pessoas? E você não tem nada disso em você, né? Sei… 

Bem, comecei a treinar a tal observação. Em meditações ativas, existe isso sim, dá uma pesquisada. Consiste em se encontrar com seus pensamentos de modo que eles não te afoguem e reeducar a cabeça para que não busque mais os antigos atalhos. Sim, porque estou mudando e de antigo vou querer só o que é sólido: atalho faz tão mal que me questiono onde é que eu estava com a cabeça enquanto me contavam a história da Chapéuzinho Vermelho, a mestra do atalho e principal expoente infantil da causa e consequência. Eita, Chapéuzinho nossa de cada dia!

Comecei a observar e anotar as novas sensações. De que cor eu gosto? Que comida me faz feliz? Quais são as palavras que me deixam sorrindo e quais são aquelas que me apertam o peito? Quais são as histórias que eu preciso reler, pra perdoar, pra abrir espaço no coração? E aqui, meu caro, começa algo bastante dolorido: um ciclo de culpa-desculpa que passa pelos pais (inevitável), volta pra você mesmo, dá uma paradinha em Deus/Cosmos/Universo/Carma e, com o saco quase cheio, que normalmente é quando uma lição bem aprendida é validada pelo ser, existe uma sensação boa. Tão boa que eu nem reconheci. Achei que estava tendo um AVC/viagem astral/posseção. Foi um mix de felicidade tranquila com uma vontade tão grande de chorar. E eu chorei. Quase tanto quanto choveu na época Arca de Noé, cerca de 40 dias e 40 noites – fui limpando tanto e tudo que o sentido da vida tomou prumo. 

Depois da tempestade, e sim, é verdade, vem a bonança. Uma bonança complexa, verdadeira e tão conturbada como é a rotina de uma mulher que cria filha sozinha, que tem boletos demais e recursos de menos (por enquanto!) e que não está num período sabático, que deve ser algo importante, sim, mas tão distante do que eu chamo de vida real. 

Segue aqui, de binóculos que seja, pra ver onde eu vou chegar – e se quiser deixar sua história sobre como vem enfrentando a caminhada, entendo que compartilhar é uma das formas mais gratificantes de se enxergar e, portanto, uma excelente forma de observação, tão essencial no processo. 

A imagem é do Aves de Ipu

Mariana A. Nassif

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