Oportunismo e xenofobia da extrema direita diante do coronavírus, por Arnaldo Cardoso

Com agenda convergente à de Salvini na radical oposição à imigrantes e crítica à União Européia, Le Pen asseverou “Agora fechem a fronteira”, diante dos casos de coronavírus na vizinha Itália.

Oportunismo e xenofobia da extrema direita diante do coronavírus

por Arnaldo Cardoso

A chegada do coronavirus na Itália cujo maior foco está na Lombardia, região mais populosa do país localizada ao norte, além de provocar grande apreensão entre os administradores públicos e a população em geral, tem  propiciado mais uma lastimável série de demonstrações do ânimo que move a extrema direita do país e parte de seus seguidores.

Reunindo crueldade, xenofobia e gosto pela provocação o jornalista Vittorio Feltri, de conhecidas posições de extrema direita, se manifestou uma semana atrás num veículo de comunicação com o deplorável comentário:Se o Coronavírus se espalhar pela África, poderemos finalmente fechar os portos“, ironizando o processo que o ex-Ministro do Interior Matteo Salvini responde por proibir o navio Gregoretti da Guarda Costeira italiana de atracar em porto italiano e  desembarcar imigrantes ilegais resgatados em alto mar em 2019.

Na última sexta-feira (21), fazendo explícito uso político da inquietude causada pelo coronavírus, Salvini não se furtou em publicar em sua página no Twitter uma foto da primeira vítima do coronavírus no país seguida da mensagem: “Uma oração por ele e um pensamento para sua família. Talvez agora alguém tenha entendido que é necessário fechar, controlar, bloquear, blindar, proteger?” [referindo-se às fronteiras do país].

Sem perder a oportunidade, Salvini tenta (apoiado por recursos tecnológicos) capitalizar a grave situação dirigindo mensagens com conteúdos específicos para cada grupo de apoiadores/eleitores (profissionais da saúde, jovens, idosos…) através das  redes sociais, e também reforçar sua obsessiva batalha contra os imigrantes e, ao mesmo tempo, seu antieuropeísmo. Salvini vem pedindo a suspensão do Tratado de Schengen, que desde 1985 estabeleceu a livre circulação de pessoas no espaço integrado pelos Estados-Membros, dentre os quais a Itália.

O tratado que se insere no contexto do processo de integração europeia prevê medidas extraordinárias e temporárias em emergências. Podem ser adotadas, após discussão entre todos os Estados-Membros, em caso de “ameaça séria” à segurança. A duração e o escopo das medidas devem ser limitados no tempo e reduzidos ao mínimo necessário.

O comissário europeu Janez Lenarcic logo respondeu às declarações de Salvini: “Seria lamentável se essa situação fosse usada para fins políticos.

Attilio Fontana, governador de Milão – capital da Lombardia – e membro da Liga tem trocado com o Primeiro Ministro Giuseppe Conte duras declarações pondo em questão a capacidade do governo  central (M5S-PD) em administrar a crise. 

Para além das fronteiras nacionais, assim como Matteo Salvini aproveita a situação para acusar de incompetência o governo central italiano, a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen vem questionando o presidente francês Emmanuel Macron. Com agenda convergente à de Salvini na radical oposição à imigrantes e crítica à União Européia, Le Pen asseverou “Agora fechem a fronteira”, diante dos casos de coronavírus na vizinha Itália.

Nesse contexto é oportuno lembrar que a linha de argumentação da defesa de Salvini diante da acusação de crime de “sequestro de pessoas com agravante” é afirmar que “A defesa da pátria é um dever sagrado. Eu sustento que defendi minha pátria.” A epidemia do coronavírus tem se mostrado uma boa oportunidade para Salvini, explorando o medo, afirmar-se como defensor da pátria. 

A persistente invocação da pátria – desprezando princípios do direito internacional e de direitos humanos – por lideranças dessa extrema direita que ganha espaço na Europa e reaviva as piores memórias de um continente que experimentou a barbárie e a destruição nos faz lembrar da sentença tão bem formulada pelo escritor inglês do século dezoito Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio do canalha”.

Arnaldo Cardoso, cientista político.

Redação

4 Comentários

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  1. Agora SÓ FALTA AS PESSOAS apoiarem os que querem que OS DESCENDENTES DE ITALIANOS sem terra e famintos, que vieram da Itália no século XIX sejam “devolvidos” à pátria mãe. Hehehehehe até EU teria que ir. Pô, lá o salário mínimo é maior,…. então….eu quero.

  2. Está cada vez mais claro: o coronavírus é de direita. Aterroriza, leva as pessoas à segregação e ao egoísmo, a fecharem-se em si mesmas (por isso chama-se-lhes de “ensimesmadas”)… Além disso leva à pobreza da geral. Trata-se de um vírus comercial, econômico e geopolítico. Parece que ataca prioritariamente países cuja moeda é baseada no dólar estadunidense. Tanto que o FMI já disse que a China está voltando à normalidade.

  3. Está cada vez mais claro: o coronavírus é de direita. Aterroriza, leva as pessoas à segregação e ao egoísmo, a fecharem-se em si mesmas (por isso chama-se-lhes de “ensimesmadas”)… Além disso leva à pobreza da geral. Trata-se de um vírus comercial, econômico e geopolítico. Parece que ataca prioritariamente países cujas moedas são baseadas no dólar estadunidense. Tanto que o FMI já disse que a China está voltando à normalidade.

  4. Por mais incrível que possa parecer quanto mais abertas as fronteiras, maior é a segurança do país.
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    Pode parecer paradoxal, mas países com fronteiras abertas podem se proteger mais de uma epidemia do que países com fronteiras fechadas. Explico melhor.
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    Quando se fecha as fronteiras de um país, exceto países como a Coréia do Norte, que as fronteiras são vigadas metro a metro, é impossível impedir que alguém entre clandestinamente no país. Isto os Europeus apreenderam durante guerras, onde países inimigos fechavam as fronteiras com risco de morte para quem tentava passar, mas mesmo assim os antifascistas espanhóis, por exemplo, passavam da França para a Espanha e em direção contrária todo o tempo que desejavam, alguns morriam, mas a maioria passava.
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    As fronteiras são permeáveis a vontade humana e quando alguém resolve passar, dependendo a capacidade individual de cada um e o dinheiro ou a amizade com alguém que passa regularmente e ilegalmente pelas fronteiras (fazem contrabando de coisas legais ou ilegais), as pessoas passam.
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    Porém quando uma fronteira está fechada e alguém passa ilegalmente, se ele tiver contaminado por uma doença qualquer ele fará tudo o possível de esconder a sua posição e caso capturado não vai dizer com quem ele falou e com quem ele se relacionou.
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    Por outro lado quem passa legalmente por uma fronteira não tem nada a esconder e se o país tem unidades de prevenção e tratamento a doença o estrangeiro poderá tranquilamente ir até esta unidade e os especialistas de saúde poderão rastrear todos os locais que ele andou e alertar aquelas pessoas que ele teve contato.
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    Ou seja, por mais incrível que possa parecer a maior defesa contra epidemias é a capacidade de rastrear todos os contatos que qualquer infectado teve para providenciar o mais rápido possível os casos de contaminação no país e não fechar as fronteiras.

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