os Brasis: o colapso como sistema, por Arkx

os Brasis: o colapso como sistema, por Arkx

I

aquilo que nos acostumamos a chamar de mundo está em colapso.

II

tanto a sociedade como os indivíduos nada mais são do que duas perspectivas diferentes das relações sociais. estas são uma rede complexa de interconexões dinâmicas em constante retroalimentação. cada nó desta rede produz como efeito aquilo que denominamos de indivíduo, enquanto a rede ela própria seria a sociedade. chamamos de mundo o modo como experimentamos este conjunto de interconexões. se o mundo está em colapso isto implica que são as relações sociais que estão em colapso. ou dito de outra forma: estão num agudo processo de reconfiguração.

III

este colapso, ou esta reconfiguração, está sendo experimentado pelos indivíduos, ou as pessoas, como uma negação, como se não estivesse de fato ocorrendo. porque este colapso é o colapso de um modo de vida, de um jeito de se viver. há a ilusão do modo de vida ser o bote salva-vidas capaz de garantir a sobrevivência em meio ao grande naufrágio, enquanto o que está de fato naufragando é o modo de vida.

IV

portanto, o que está em colapso, ou em reconfiguração, é o próprio modo de vida. quanto mais a ele nos agarramos, mais experimentamos, mesmo sob o prisma da negação, o seu colapso.

V

a reconfiguração do modo de vida é inexorável, inelutável, inescapável. o capitalismo global financeirizado cruzou uma fronteira a partir da qual outro modo de vida por ele está sendo implantado, como decorrência de um outro modo de produção.

VI

o modo de produção não se restringe ao plano econômico. abrange o conjunto do que denominamos de realidade, sendo esta o resultado do próprio processo de produção. cada modo de produção produz sua própria realidade.

VII

a reconfiguração do modo de vida se dá através da governamentalidade. esta deve ser entendida não como um regime de governo e sim como um modo de vigiar e controlar, a fim de configurar as relações sociais para produzirem o feed-back arquitetado no design do sistema.

VIII

migramos de uma governamentalidade sob o modelo da economia política para um paradigma cibernético. no qual a mercadoria mais importante é a informação. seu processamento ocorre num fluxo incessante, através de uma coleta e análise 24×7 de dados, para produzir informações e gerar  inteligência. produção-distribuição-consumo já não são instâncias delimitadas, e sim superpostas e interconectadas. a palavra cibernética em sua origem grega tem o significado de “governança”.

IX

como em todo o período de transição, o upgrade de uma obsoleta forma de se governar “abre uma fase de instabilidade, uma clarabóia histórica onde é a governamentalidade enquanto tal que pode ser colocada em xeque”.

X

colocar em xeque a governamentalidade é desenvolver um outro modo de vida. portanto, não se trata de se ater a um modo de viver descontinuado, o que seria de todo impossível pois este tende a desaparecer sob a configuração da nova versão de processamento. muito menos submeter-se voluntariamente ao novo modo de vida imposto pelo capitalismo cibernético, incorporando a atualização de seus algorítmicos.

XI

um outro modo de vida é também um outro modo de se fazer política. assim como a governamentalidade cibernética não elimina a econômica, apenas acima dela inclui um outro nível que determina os inferiores, um outro modo de se fazer política também incorpora alguns elementos anteriores por compatibilidade, mas os reconfigura sob uma nova versão.

XII

um outro modo de se fazer política se funda não em propostas de governo, ou mesmo em propostas de sociedade ou país, mas sobretudo numa proposta de um outro modo de vida. há muito já não se trata de uma luta restrita ao plano eminentemente econômico e institucional, sendo este o principal motivo de seu repetido fracasso. a definitiva questão a ser constantemente colocada é também a única maneira de enfrentar e superar o atual colapso: qual a vida que desejamos levar?

 

Redação

31 Comentários

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  1. Concordo, mas

    Concordo que estamos em colapso. Apenas acho que o que está colapsando tem nome: Capital.

    O capital, e todas as suas formas sociais (trabalho, valor, mercadoria)  é o modo de vida que está colapsando, exatamente porque o capitalismo encontrou dois limites:

    – interno: o capital fixo (máquinas) está tornando o trabalho humano (capital variável) obsoleto, ou seja, produzir não gera mais valor;

    – externo: para compensar a falta de lucro deve-se produzir mais e mais, no entanto, o planeta tem limites ecológicos, que estão começando a serem ultrapassados: nesse ritmo logo vai haver um colapso do próprio suporte de vida planetário.

    O capitalismo não é só um sistema econômico, mas sim um modo de vida que torna tudo “econômico”, inclusive as pessoas que, através da venda de seu trabalho também são mercadorias. E hoje as pessoas são mercadorias obsoletas, pois as máquinas fazem a maior parte do trabalho produtivo.

    Sinuca de bico.

    1. todos perderemos

      Lembro uma afirmação de um pensador, filosofo, escritor italiano constatando o esgotamento dos recursos alertando a todos para um modelo de vida mais espartana e responsável por vontade própria antes que os fatos imponham a obrigação, a segunda alternativa é sempre a mais traumática.

      Li nestes dias neste blog que a terceira alternativa é eliminar parte da população por conflitos epidemias e o que mais o capital consiga inventar para proteger o 1%.

    2. os Brasis: o colapso como sistema

      -> Apenas acho que o que está colapsando tem nome: Capital.

      -> exatamente porque o capitalismo encontrou dois limites

      sem dúvida!

      o Capital diante de seus limites já não consegue se reciclar. sem que o centro do sistema (EUA, Alemanha e Japão) tenha mais qualquer planejamento de como evitar o colapso em curso, já não resta vestígio sequer de alguma racionalidade no sistema.

      nenhum New Deal, nenhum Plano Marshall. salvem os bancos! que morram afogados os refugiados…

      por outro lado, como seria o Capitalismo Globalizado sob hegemonia chinesa? talvez ainda mais pernicioso? que tal os portos brasileiros e geração hidráulica de energia, e os rios por conseguinte, sob gestão do Comitê Central do PC Chinês?

      -> E hoje as pessoas são mercadorias obsoletas, pois as máquinas fazem a maior parte do trabalho produtivo.

      certo!

      e cabe aqui um adendo:

      – num Capitalismo logístico, no qual tudo se tornou serviços, a criação de valor já não se limita a esfera da produção, hoje a circulação agrega valor em vez de desvalorizar o produto.

      “Outro belo exemplo dessa mudança de paradigma diz respeito ao carro e ao chinelo havaianas. Na matriz fordista, o processo de produção do valor se dava na esfera da produção (o carro é feito na fábrica), e assim que começa a circular, passa a perder valor (e não à toa os conflitos se davam nessa mesma esfera). Hoje, a havaianas é o paradigma: é um pedaço de borracha com baixo “valor agregado”, mas é vendido a um preço muito maior em todos aeroportos do mundo. Isso não se dá pelos custos logísticos ou de produção, mas pelo trabalho imaterial acrescido à mercadoria: o marketing, a criação dos mundos onde aquele produto é desejado (produção de desejo). Isso implica dizer que, ao contrário da matriz anterior, hoje a circulação multiplica o valor em vez de desvalorizar algo (entendemos circulação não apenas da mercadoria, mas também das informações, dos signos, das imagens, etc.).”

      Da fábrica à metrópole – Giuseppe Cocco

      ou seja:

      “os homens são os órgãos sexuais do capital”, não mais tanto na produção e sim principalmente na distribuição/circulação.

      -> Sinuca de bico.

      também sem poder se reciclar através da destruição criativa das grandes guerras mundiais, o Capital em seu delírio pretende ser possível uma sociedade pós holocausto nuclear. como? Matrix, borgs, zumbis, colméias, SkyNet & Terminator…

      tudo isto não pode acabar bem. ainda há algo a se fazer?

      .

      1. Qual é, Arkx?

        A criação de valor nunca se limitou somente à esfera da produção. Qual é o valor da heroina que, produzida no Mejico, abastece os viciados do Tio Sam, se ela continuar nas Montanhas do México?

        A circulação faz a heroina aumentar de preço, o qual não é senão a expressão monetária do valor, nos EUA.

        Quem se locupleta não é o produtor nem o consumidor, é o atravessador.

        Certamente a localização da propriedade fundiária, juntamente com a fertilidade diferencial do solo, é um dos fatores que determinam o quantum pago pelo arrendatário ao proprietário fundiário a título de renda da terra. Mas, nesse caso, a relativa proximidade da produção ao mercado faz cair os custos da circulação, e essa queda nos custos da circulação compensa o aumento de valor da maior distancia de um produto ao mercado.

        O valor da renda da terra é determinado pelas terras menos férteis e mais distantes, isto é, de localização menos privilegiada em relação ao mercado.

        As havainas aumentam de preço não em decorrencia da multiplicação do valor pela circulação mas em decorrencia da mono/oligopolização da economia. Só isso.

        Se as havainas não tem concorrentes nem nas rodoviárias, imagina nos aeroportos.

        Será que esse mundinho cuja solidez está se esfumaçando no ar vai te deixar saudades, Arkx?

        Olha a Lei de Murphy

        1. os Brasis: o colapso como sistema

          -> As havainas aumentam de preço não em decorrencia da multiplicação do valor pela circulação mas em decorrencia da mono/oligopolização da economia. Só isso.

          -> Se as havainas não tem concorrentes nem nas rodoviárias, imagina nos aeroportos.

          na ânsia de contrapor, a precipitação e o dogmatismo impedem sequer a leitura da citação, e acaba escrevendo besteira…

          não há oligopólio, pois há no mercado dezenas de sandálias semelhantes às Havaianas. imitam, mas o que vale (o que tem valor) é a marca, e não a sandália em si.

          este valor da marca Havaianas vem do tipo de vida, do modo de vida, que a ela se associa através do marketing.

          isto é tão óbvio e cristalino, mesmo para Marx que chegou a começar analisar este fenômeno em seu conceito Intelecto Coletivo (General Intellect).

          estamos desde a 3a. Revolução Industrial num Capitalismo eminentemente terciário e logístico. e agora chegou a Indústria 4.0.

          vídeo: Marx Reloaded

          [video: https://www.youtube.com/watch?v=la2107n3RH0%5D

          .

           

          1. As demais fabricantes de sandálias não investem em marketing?

            Se as Havaianas são vendidas em decorrência do investimento em marketing, as demais marcas não são vendidas ou vendem menos porque não investem em marketing ou porque seus marketings sejam ineficientes?

            Não tem marketing que faça um operário assalariado comprar uma ferrari. O marketing pode até funcionar mas apenas para uma pequena parcela da sociedade.

          2. os Brasis: o colapso como sistema

            -> Se as Havaianas são vendidas em decorrência do investimento em marketing

            está se confundindo, intencionalmente ou não…

            a questão não é esta, e sim: as Havaianas tem inegavelmente mais valor agregado do que outras sandálias exatamente iguais materialmente a elas.

            e isto ocorre não exatamente por investimento em marketing, e sim por ter firmado uma marca associada a um estilo de vida.

            existem inúmeros exemplo: ternos Armani, é sempre a marca que agrega valor. café do Starbucks. burguer do McDonalds. çamiseta da Hering. tênis Adidas.

            o valor é agregado através do trabalho executado não nas fábricas, ou nos pontos de venda, e nem mesmo única e exclusivamente pelo marketing direto e ostensivo.

            numa economia terciária, onde tudo e todos são rede de fornecedores de serviços, com o tempo de vida convertido plenamente em tempo de trabalho não remunerado, um incessante trabalho imaterial e desvinculado do emprego e do salário, agrega valor ao produto através de sua associação com um modo de viver.

            uma mercadoria tem valor absurdamente diferente caso esteja associada a uma grife. ao usá-la, se faz do corpo um comercial vivo. trabalhando-se gratuitamente para agregar valor a esta grife, mas se experimenta como de fato vivendo o modo de vida associado aquela grife. então nos tornamos apenas escravos felizes com a própria escravidão. mas tanta “felicidade” ilusória só pode redundar em depressão, o distúrbio psico-somático de nossa época.

            ao colonizar o tempo de vida, o biopoder expropria nossa energia vital. aos poucos, nos tornamos zumbis num ambiente de anomia. ao biopoder devemos afirmar a biopotência: uma indomável vontade de viver. o cuidado de si, para neutralizar o processo de zumbificação. mas isto só pode ser feito coletivamente, numa sucessão de regeneração do eco-sistema social.

             

          3. As Havaianas tem  MENOS

            As Havaianas tem  MENOS valor-utilidade agregado do que as sandálias Ipanema, pois, em média, os cabrestos das Havaianas se rompem muito mais rapidamente do que os cabrestos das havaianas. Mesmo assim, a pessoa que me disse isso afirmou que prefere comprar as havaianas, não por estas sandálias estarem associadas a um estilo de vida, mas por serem mais leves do que as demais sandálias.

            Outra pessoa acaba de me dizer que as sandálias da Ipanema gastam a sola muito mais rapidamente do que as sandálias havainas.

            Mas existem dois estilos de vida diferentes associados ao uso de havainas e ao uso de tênis da adidas. Seriam estilos de vida contraditórios, mas, ainda que contraditórios, deve ter mujita gente que compra sandálias havaianas e tênis adidas/nike.

            Não seria, portanto, o estilo de vida a força motriz do sucesso das Havainas, por exemplo.

          4. os Brasis: o colapso como sistema

            -> Mas existem dois estilos de vida diferentes associados ao uso de havainas e ao uso de tênis da adidas. Seriam estilos de vida contraditórios

            você tá fazendo uma confusão dos diabos…

            o modo de vida (forma de vida) enquanto conceito não se reduz a um mero estilo de vida. vai muito além.

            ninguém compra uma sandália Havaianas, ou um tênis Adida, ou qualquer mercadoria associada a uma grife, por causa de seu valor de uso.

            o que é vendido é a ilusão de que a mercadoria proporciona um modo de vida a ela associado, não apenas pelo marketing mas principalmente porque corroborado pelos demais consumidores.

            é “bacana” usar Havaianas, e não uma outra sandália exatamente igual mas sem marca.

            este exemplo com as grifes é simples e fácil de ser entendido, de como o valor atualmente se agrega principalmente fora da esfera da produção.

            mas isto se dá também em outros setores. o Facebook é um outro grande exemplo. qual a necessidade que temos do Facebook? que tipo de comunicação e relacionamentos temo através do Facebook?

            a verdade é que ao se usar o Facebook trabalha-se de graça, agregando valor ao Facebook, que é um serviço e portanto setor terciário.

            e pior: disponibilizando uma enorme quantidade de dados pessoais que apenas contribuem para o constante exercício e aperfeiçoamento de mecanismo de vigilância e controle. os quais, por sua vez, revertem para geral e moldar hábitos de consumo.

            as mercadorias produzidas pelo Capital não visam a atender necessidades pré-existentes. ao contrário, o Capital produz estas necessidades, para então oferecer as mercadorias para atender uma demanda criada por ele próprio.

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          5. Em sendo assim…

            Eu estou querendo, contra a minha vontade. ir a um cinema, assistir ao Jovem Karl Marx. Eu nem sabia da existªencia desse filme. Foi vc que fez a propaganda. Chegando ao cinema, vou comprar pipocas e refri nºao pelo seu valor de uso,, mas porque todos usam. Entrando no cinema eu vou derramar o refri e as pipocas no tapete. Isso proporcionara trabalho aos trabalhadores. Se ninguem sujar, os donos dos shoppings dispensam os trabalhadores. Nºao eh a toa que eles mandam vc limpar seus pratos e colheres depois de comer em suas praças de alimentaçºao.

            Eu sabia que tudo que tem valor de troca tem valor de uso mas nao sabia que as havaianass, entre outras mercadorias, tem valor de troca mas nao tem valor de uso. Mas muitissima gente estah usando havaianas, mesmo que elas nao sejam compradas em razºao de suas utilidades.

            E vc ainda diz que sou eu quem tah fazendo uma confusºao dos diabos.

            A culpa eh do Lula. Vc nao acha )estou sem interrogaçºao no teclado

            Estou brincando. Nao se zanga, Mano

          6. os Brasis: o colapso como sistema

            -> Estou brincando. Nao se zanga, Mano

            ao longo da vida conhecei muita gente com o seu perfil: pessoas legais, inteligentes, sensíveis, bem informadas, de Esquerda…

            infelizmente, todas compartilhando do mesmo mal: se julgavam imortais.

            ainda assim, a cada vez que a morte apenas de relance olhava para elas, entravam em pânico.

            mas logo se recompunham, tornando a viver como se nunca fossem com a morte ter seu encontro definitivo.

            hoje muitas delas enfim compreenderam que nunca tiveram tempo a perder. já estão mortas.

            nada pude fazer senão ser testemunha implacável se seus colapsos.

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          7. Eu sou um simples mortal mas é preciso ser valente e forte

            Eu sou um simples mortal mas, apesar dessa mortalidade, é preciso ser ou pelo menos parecer valente e forte, pois o tempo que nos é dado viver é muito curto para perdê-lo temendo a morte. E atenção para as janelas no alto. Atenção ao pisar o asfalto, o mangue. Atenção para o sangue sobre o chão.

            Mas quando a Prima vem, pense no pânico. Quando parece que acenderam uma fogueira no seu estômago, Mano, a dor te tira o pânico, você quer apenas morrer para se ver livre daquela dor terribilíssima. Ou então vomitar, pois, após o vômito, vem a bonança. O que causa pânico é a dor, não a morte em si.

          8. Mono/oligopólio é concorrência imperfeita

            O que são os monopólios industriais?

            É quando determinada indústria domina área em que atua. Por exemplo, a havaianas tem o monopólio no setor de chinelos, pois é a principal marca.

            https://brainly.com.br/tarefa/440503

             

            O termo monopólio também é usado quando, mesmo havendo concorrentes, uma determinada empresa ou um grupo empresarial domina quase por completo as vendas de um determinado produto, deixando uma pequena fatia do mercado para a concorrência.

            https://www.suapesquisa.com/economia/monopolio.htm

    3. em gênero número e grau

      o ‘desenvolvimentismos’ não vão ultrapassar as janelas das nossas casas porque estão baseados no trabalho, no valor-trabalho e como bem pontuou Kurz, o valor-trabalho começou a morrer nos anos setenta, hoje ele é um cadáver putrefado, uma ossada. A substância do capital é ele mesmo, o dinheor que vira dinheiro, a forma ‘pura’ da reprodução. Não passa pelo mundo das mercadorias, não precisa de trabalho, o ser humano chegou no ponto da total dispensabilidade, nem mais para reproduzir o capital nós servimos.

      1. Se o valor-trabalho está morto…

        Se o valor-trabalho começou a morrer nos anos setenta, sendo ele, hoje, apenas um cadáver putrefato, uma ossada, então com base em que são feitas as trocas?

        Com base em que se troca um par de sapatos por uma bicicleta, por exemplo?

        É o tempo de trabalho social médio gasto na produção das duas mercadorias ou é a utilidade dos dois bens?

         

        “A troca do trabalho vivo pelo trabalho objectivado, quer dizer, a manifestação do trabalho social sob a forma antagónica do capital e do trabalho, é o último desenvolvimento da relação do valor e da produção baseada no valor. O pressuposto desta relação é – e continua sendo – que a massa de tempo de trabalho imediato, a quantidade de trabalho utilizada, representa o factor decisivo da produção de riquezas. Ora, à medida que se desenvolve a grande indústria, a criação de riquezas depende cada vez menos do tempo de trabalho e da quantidade de trabalho utilizada, e cada vez mais do poder dos agentes mecânicos postos em movimento durante a duração do trabalho. A enorme eficiência destes agentes, por sua vez, não tem qualquer relação com o tempo de trabalho imediato que custa a sua produção. Depende, antes, do nível geral da ciência e do progresso da tecnologia, ou da aplicação dessa ciência à produção. (O desenvolvimento das ciências – entre as quais as da natureza, bem como todas as outras – é, certamente, função do desenvolvimento da produção material). A agricultura, por exemplo, torna-se uma simples aplicação da ciência do metabolismo material e o modo mais vantajoso da sua regulação para o conjunto do corpo social. A riqueza social manifesta-se mais – e isto revela-o a grande indústria – na enorme desproporção entre o tempo de trabalho utilizado e o seu produto, assim como na desproporção qualitativa entre o trabalho, reduzido a uma pura abstracção, e o poder do processo de produção que ele controla. O trabalho já não surge tanto como uma parte constitutiva do processo de produção; ao invés, o homem comporta-se mais como um vigilante e um regulador face ao processo de produção. (Isto é válido não só para a maquinaria, como também para a combinação das actividades humanas e o desenvolvimento do intercâmbio humano). O trabalhador não mais introduz a matéria natural modificada (em ferramenta) como intermediário entre si e a matéria; antes introduz o processo natural – transformado num processo industrial – como intermediário entre si e toda a natureza inorgânica, dominando-a. Ele próprio coloca-se ao lado do processo de produção, em vez de ser o seu agente principal. Com esta transformação, não é o tempo de trabalho realizado, nem o trabalho imediato efectuado pelo homem, que surgem como o fundamento principal da produção de riqueza; é, sim, a apropriação do seu poder produtivo geral, do seu entendimento da natureza e da sua faculdade de a dominar, graças à sua existência como corpo social; numa palavra, é o desenvolvimento do indivíduo social que aparece como a pedra angular da produção e da riqueza. O roubo do tempo de trabalho de outrem sobre o qual assenta a riqueza actual surge como uma base miserável relativamente à base nova, criada e desenvolvida pela própria grande indústria. Logo que o trabalho, na sua forma imediata, deixe de ser a fonte principal da riqueza, o tempo de trabalho deixa e deve deixar de ser a sua medida, e o valor de troca deixa portanto de ser a medida do valor de uso. O trabalho excedente das grandes massas deixa de ser a condição do desenvolvimento da riqueza geral, tal como o não-trabalho de alguns poucos, deixa de ser a condição do desenvolvimento dos poderes gerais do cérebro humano. Por essa razão, desmorona-se a produção baseada no valor de troca, e o processo de produção material imediato acha-se despojado da sua forma mesquinha, miserável e antagónica, ocorrendo então o livre desenvolvimento das individualidades. E assim, não mais a redução do tempo de trabalho necessário para produzir trabalho excedente, mas antes a redução geral do trabalho necessário da sociedade a um mínimo, correspondendo isso a um desenvolvimento artístico, científico, etc. dos indivíduos no tempo finalmente tornado livre, e graças aos meios criados, para todos. O capital é em si mesmo uma contradição em processo, [pelo facto de] que tende a reduzir o tempo de trabalho a um mínimo, enquanto, por outro lado, coloca o tempo de trabalho como a única medida e fonte de riqueza. Assim que, diminui o tempo de trabalho na forma necessária para aumentá-lo na sua forma excedente; coloca portanto, o trabalho excedente, em medida crescente, como uma condição – questão de vida ou de morte – para o necessário. Por um lado, o capital convoca todos os poderes da ciência e da natureza, assim como da cooperação social e intercâmbio social, com o fim de tornar a criação de riqueza independente (em termos relativos) do tempo de trabalho empregado nela. Por outro lado, o capital necessita de utilizar o tempo de trabalho como unidade de medida das gigantescas forças sociais entretanto criadas desta maneira, e para as confinar dentro dos limites requeridos para manter o valor já criado como valor. As forças de produção e as relações sociais – dois aspectos diferentes do desenvolvimento do indivíduo social – aparecem ao capital como meros meios, e não são para ele mais que meios para produzir apoiando-se na sua base limitada. Na verdade, contudo, elas são as condições materiais para rebentar com essas mesmas bases. “Uma nação é verdadeiramente rica quando em vez de 12 horas se trabalha apenas 6. Riqueza não é dispor de tempo de trabalho excedente” (riqueza efectiva), “mas de tempo disponível, para além do usado na produção imediata, para cada indivíduo e para toda a sociedade”. – Karl Marx, Fragmento sobre as Máquinas

        https://comunism0.wordpress.com/fragmento-sobre-asmaquinas/

      2. A Sociedade do Espetáculo
        “El espectáculo somete a los hombres en la medida en que laeconomía los ha totalmente sometido. El espectáculo no es más que la economía desarrollándose para sí misma. Es el reflejo fiel de la producción de las cosas, y la objetivación infiel de los productores. (…) Con la automatización, que es a la vez el sector más avanzado de la industria moderna y el modelo en el que se resume perfectamente su práctica, es necesario que el mundo de la mercancía supere esta contradicción: la instrumentación técnica que suprime objetivamente el trabajo debe al mismo tiempo conservar el trabajo como mercancía y único lugar de nacimiento de la mercancía. Para que la automatización o toda otra forma menos extrema de crecimiento de la productividad del trabajo no disminuya efectivamente el tiempo de trabajo socialmente necesario al nivel de la sociedad, es preciso crear otros empleos. El sector terciário, los servicios son el inmenso despliegue de líneas de etapas del ejército de la distribución y del elogio de las mercancías actuales; movilización de fuerzas suplementarias que encuentra oportunamente, en la facticidad misma de las necesidades relativas a tales mercancías, la necesidad de tal organización de esta retaguardia de trabajo. El valor de cambio no pudo formarse sino en tanto que agente del valor de uso, pero su victoria por sus propias armas ha creado las condiciones de su dominación autónoma. Movilizando todo uso humano y manejando el monopolio de su satisfacción, aquél ha terminado por dirigir el uso. El proceso del valor de cambio se ha identificado a todo uso posible y lo ha reducido a su arbitrio. El valor de cambio es el condotiero del valor de uso que termina conduciendo la guerra por su propia cuenta.” – Guy Debord

      3. os Brasis: o colapso como sistema

        -> A substância do capital é ele mesmo, o dinheor que vira dinheiro, a forma ‘pura’ da reprodução.

        4a. Revolução Industrial: o delírio paranóico terminal do Capitalismo.

        quanto mais racionalidade no processo produtivo, tanto mais irracionalidade sistêmica. quanto mais asséptico o ambiente da fábrica, mais bárbaro o eco-sistema social.

        vídeo: (R)EVOLUTION?! – Industry 4.0 in 4 dimensions

        [video: https://www.youtube.com/watch?v=MZkY9HNCiM0%5D

        .

         

  2. A vida que queremos levar e a vida que nos querem impor
     

    Já fomos capturados, já somos escravos mentais, físicos e econômicos do sistema.

    De nós nada temos. Sequer o solo, subsolo, céu ou natureza.

    A qualquer tempo um grupelho poderá se declarar dono do mundo de fato e de direito e tomar fisicamente tudo o que é nosso.

    Só não o fazem porque não sabem o que fazer depois.

    A agenda está pronta.

    Mas, caro Arkx, o poder é um fim sem contentamento.

    Por favor, dê a origem dessa imagem.

    A informação nela contida é de suma importância.

    Abraços.

  3. Fulminância

    “Toda a sociedade até aqui repousava, como vimos, na oposição de classes opressoras e oprimidas. Mas para se poder oprimir uma classe, têm de lhe ser asseguradas condições em que possa pelo menos ir arrastando a sua existência servil. O servo conseguiu chegar, na servidão, a membro da comuna, tal como o pequeno burguês a burguês, sob o jugo do absolutismo feudal. Pelo contrário, o operário moderno, em vez de se elevar com o progresso da indústria, afunda-se cada vez mais abaixo das condições da sua própria classe. O operário torna-se num indigente e o pauperismo desenvolve-se ainda mais depressa do que a população e a riqueza. Torna-se com isto evidente que a burguesia é incapaz de continuar a ser por muito mais tempo a classe dominante da sociedade e a impor à sociedade como lei reguladora as condições de vida da sua classe. Ela é incapaz de dominar porque é incapaz de assegurar ao seu escravo a própria existência no seio da escravidão, porque é obrigada a deixá-lo afundar-se numa situação em que tem de ser ela a alimentá-lo, em vez de ser alimentada por ele. A sociedade não pode mais viver sob ela [ou seja, sob a dominação da burguesia], isto é, a vida desta já não é compatível com a sociedade”. Marx e Engels

    1. os Brasis: o colapso como sistema

      recentemente lembrei-me de vc.

      foi ao final de uma sessão do filme “O Jovem Marx”. assim que as luzes foram acesas, um cara levanta e dirige-se à plateia, falando alto reclamando:

      – e O Globo colocou o bonequinho dormindo para este filme?! deveria ter botado ele batendo palmas…

      ainda sob efeito da emoção provocada pelo surpreendente final do filme, não me esquivei a polemizar:

      – mas por que diabos O Globo iria aplaudir este filme? por que iria dar força para um filme anti-capitalista? ainda assim, a Globo não é nosso maior inimigo não. nosso maior inimigo são os banqueiros! parece até que vc não entendeu nada do filme que acabou de ver…

      não adianta citar Marx, se não compreendê-lo. ou pior, se não se aplica na análise, e principalmente na prática, aquilo que se lê.

      vídeo: O jovem Karl Marx

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=625tYKCd3RE%5D

      .

       

    1. os Brasis: o colapso como sistema

      -> is now where capitalism is developing in new ways

      postei dois vídeos sobre a 4a. Revolução Industrial. estes vídeos divulgam a narrativa dos Proprietários da Humanidade de como vêem a Indústria 4.0, seu novo empreendimento global para reciclar o Capitalismo.

      mas o que não se vê neles?

      numa linha de produção inteiramente robotizada, o ex operário converteu-se em “autoridade de compliance”. o capital fixo se exacerbou, portanto a extração de mas-valia tornou-se residual.

      além disto, como se dá a realização do valor? nos vídeos, não há consumidores – logo, não há mercado! sem mercado, não há capitalismo!

      em sua missão impossível de extirpar o fator humano do processo de produção, o Capital vai devorar a si mesmo.

      frise-se: estes vídeos são uma ficção, a fábula que o Capitalismo narra a seu próprio respeito sobre seu futuro que jamais acontecerá.

      recorde-se: na década de 1960, o futuro do Capitalismo eram as viagens espaciais, o mais emblemático exemplo é “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, este futuro nunca se tornou presente.

      p.s.: veja a cara dos gestores e pesquisadores nestes vídeos. já não são humanos, são caricaturas de andróides e cyborgs. alguns relembram o estereótipo do vilões nazistas do cinema.

      vídeo: What is the Fourth Industrial Revolution?

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=kpW9JcWxKq0%5D

      vídeo: (R)EVOLUTION?! – Industry 4.0 in 4 dimensions

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=MZkY9HNCiM0%5D

      .

    2. Power by data extraction rather than the production of new goods

      A acumulação de capital pela burguesia sem a intermediação do processo de produção não é novidade. A esse respeito, Marx escreveu no século XIX:

      “All nations with a capitalist mode of production are therefore seized periodically by a feverish attempt to make money without the intervention of the process of production.” – Karl Marx

  4. Arkx, nao tenha medo da Revoluçao Industrial 4.0

    Esses malabarismos do capitalismo saturam’se e esgotam’se cada vez mais rapidamente. Ele est+a indo para um beco sem saida, conforme constatou Marx:

    As revoluções burguesas, como as do século XVIII, avançam rapidamente de sucesso em sucesso; seus efeitos dramáticos excedem uns aos outros; os homens e as coisas se destacam como gemas fulgurantes; o êxtase é o estado permanente da sociedade; mas estas revoluções têm vida curta; logo atingem o auge, e uma longa modorra se apodera da sociedade antes que esta tenha aprendido a assimilar serenamente os resultados de seu período de lutas e embates.

    Assim, Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas

    1. os Brasis: o colapso como sistema

      -> Ou então vomitar, pois, após o vômito, vem a bonança. O que causa pânico é a dor, não a morte em si.

      como crianças mimadas criadas em playground, o que todos querem é se livrar da dor.

      mas a morte é companheira, e é justamente a dor que nos lembra que ainda estamos vivos…

      vídeo: Fight Club – Queimadura química

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=C5_DKdslAG0%5D

      .

       

      1. É natural fugir da dor e buscar o prazer

        O prazer, muito mais do que a dor, é quem me lembra que eu ainda vegeto.

        Qual’é, Arkx, pára de masoquismo/estoicismo. Pelo andar da carruagem, acho que não demora voce vai se martirizar, chicoteando seu próprio corpo até que ele sangre.

         

        Te dou, de brinde, o poema do Fernando Pessoa:

        “O poeta é um fingidor

        Finge tão completamente

        que chega a fingir que é dor

        a dor que deveras sente”.

         

        Cara, tu já sentiu dor de dente, por exemplo?

        Os cálculos da tua vesícula já te fizeram invejar os mortos?

        Já teve alguma fratura exposta ou algum dente extraído sem anestesia?

        Tu já levou bofetões na cara da polícia e de outros babacas, além de chutes na bunda?

        Tu já pariu gêmeos sozinho?

        Tu já sentiu a dor de tua irmã ao perder um filho assassinado gratuitamente?

        Se tu não sabes o que é dor, porque não te calas?

  5. O que significa viver pronto para o encontro final com a morte?

    Arkx, o que significa se julgar mortal, isto é, viver preparado para o encontro definitivo com a morte?

    Significa buscar a dor e fugir do prazer?

    Significa não entrar em pânico quando a morte olha de relance para a gente?

     

    Se você se dignar a me responder, deixo dois poemas do Affonso Romano de Sant’Ana:

    “ELES ESTÃO SE ADIANTANDO

    Eles estão se adiantando, os meus amigos.
    Sei que é útil a morte alheia
    para quem constrói o seu fim.

    Mas eles estão indo, apressados,
    deixando filhos, obras, amores inacabados,
    e revoluçöes por terminar.

    Não era isto o combinado.

    Alguns se despedem heróicos,
    outros serenos. Alguns se rebelam.
    O bom seria partir pleno.

    O que faço? Ainda agora
    um apressou seu desenlace.
    Sigo sem pressa. A morte
    exige trabalho, trabalho lento
    como quem nasce.

     

    PREPARANDO A CASA

    Meu amigo visita sua cova
    como quem vai
    à casa de campo plantar rosas.

    Há algum tempo
    comprou sua casa de terra.
    Plantou árvores ao redor
    e de quando em quando vai lá
    como se vivo
    pudesse fazer o que só morto fará.

    De vez em quando vai ver
    como sua morte floresce.
    Olha, pensa, ajeita uma coisa e outra
    depois volta à agitação da vida:
    ama, come, faz projetos,
    pois já botou a sua morte
    no lugar que ela merece.

     

    Deixo mais um do Blind Lemon Jefferson:

     

    See that my grave is kept clean

     

    Well, there’s one kind-a favor I’ll ask of you
    There’s just one kind favor I’ll ask of you
    You can see that my grave is kept clean

    And there’s two white horses following me
    I got two white horses following me
    Waiting on my burying ground Did you ever hear that coughin’ sound?
    Means another poor boy is underground Did you ever hear them church bells tone?
    Have you ever hear that church bells tone?
    Did you ever hear them church bells tone?
    Means another poor boy is dead and gone And my heart stopped beating and my hands turned cold
    And my heart stopped beating and my hands turned cold
    Now I believe what the Bible toldThere’s just one last favor I’ll ask of you
    And there’s one last favor I’ll ask of you
    There’s just one last favor I’ll ask of you
    See that my grave is kept clean Ah, tá, e não se esqueça de me enterrar de meias e com a cara virada para o poente. Vou perder a Lua Cheia nascendo mas não é possível, morto e enterrado, ver o por do sol e o nascer da lua, infelizmente. Acho que a culpa não é do capitalismo, pois a culpa de tudo é do Lula/Lulismo.

    1. os Brasis: o colapso como sistema

      -> Se você se dignar a me responder

      primeira regra sobre o Clube da Luta: nunca comente com ninguém sobre o Clube da Luta.

      já lhe respondi inúmeras vezes. mas vc não lê, não vê os vídeos… vc continua achando que conversar sobre nossa morte iminente é motivo de inspiração artística e intelectual.

      vídeo: Fight Club – Queimadura química

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=C5_DKdslAG0%5D

      vídeo: Fight Club – Raymond K Hessel motivation scene

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=mhJxEt3KGQM%5D

       

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