Os evangélicos – um povo sem donos, por Sérgio Saraiva

O apoio de líderes das igrejas neopentecostais a Bolsonaro é púbico e explícito – os neopentecostais são parte do estrato evangélico – mas talvez tal apoio não se reflita nos fieis.

Os evangélicos – um povo sem donos, por Sérgio Saraiva

Muito tem se falado do apoio evangélico a Bolsonaro. Pode, contudo, não ser bem assim. E provavelmente não é mesmo.

Em 13 de janeiro de 2020, a Folha publica uma pesquisa que traça o perfil dos evangélicos.

Comparei o resultado com o de outra pesquisa da mesma Folha, de 02 de outubro de 2018, com o perfil dos eleitores de Bolsonaro e Haddad. Vésperas do 1º turno das eleições de presidenciais.

Usei como grupo de controle o perfil dos eleitores que pretendiam votar branco e nulo.

Se a tal influência da religião evangélica na preferência politica dos fieis é real, ela carece, para ser identificada, de uma análise mais sofisticada do que a comparação dos perfis mostrou.

Pela simples comparação entre os perfis, não há influência alguma da religião.

Por vezes, o perfil evangélico se parece mais com o perfil dos eleitores de Haddad. Outras vezes, favorece Bolsonaro. Quando não parece descrever o perfil dos que pretendiam votar branco ou nulo.

Por exemplo, o perfil evangélico é essencialmente feminino – 58%. O que é mais próximo do eleitor de Haddad (50%) do que do de Bolsonaro (45%). Mas as mulheres também formavam o principal percentual dos que pretendiam votar branco ou nulo em 2018 – 65%

O recorte por idade só mostra que os brasileiros estão envelhecendo. Acima dos 35 anos – os adultos – estão 61% dos evangélicos e, na mesma proporção, os eleitores de Haddad (67%), de Bolsonaro (60%) e de nenhum dos dois (67%).

49% dos evangélicos tem o ensino médio de escolaridade; o que os aproxima dos eleitores de Bolsonaro (47%) e dos que votam branco e nulo – exatos 49%. Haddad tem mais eleitores de nível fundamental de escolaridade – 43%. Mas há também 40% de seus eleitores com ensino médio.

Por renda, os evangélicos se situam na faixa de até 2 salários mínimos – 48%. Tipicamente o eleitor de Haddad – 57%. E os que pretendiam votar branco e nulo – 51%. Bolsonaro era em 2018 o candidato dos mais ricos, somente 28% de seus eleitores estavam nessa faixa de renda.

Por fim, por distribuição geográfica, pouco a influência evangélica pode representar. Os evangélicos se distribuem de modo bastante uniforme pelas regiões do Brasil – algo em torno de 30% da população. 36% no Norte e Centro-oeste. 31% no Sul e Sudeste. 27% no Nordeste.

Aqui até talvez exista alguma vantagem para Bolsonaro que tinha 68% das intenções de voto no Sul e Sudeste, contra 39% de Haddad. Enquanto Haddad tinha 45% de intenção de votos no Nordeste, onde a porcentagem de evangélicos é menor, contra 16% de Bolsonaro. Mas isso claramente se dá muito mais pela polarização Sul-Sudeste em relação ao Nordeste do que pela religião. No Norte e Centro-Oeste, onde a porcentagens de evangélicos é maior – 36% – há empate entre Haddad e Bolsonaro; algo como 15% dos eleitores de cada um dos candidatos e 11% de nenhum dos dois.

O apoio de líderes das igrejas neopentecostais a Bolsonaro é púbico e explícito – os neopentecostais são parte do estrato evangélico – mas talvez tal apoio não se reflita nos fieis. Pelo menos, é o que os dados comparados das duas pesquisas parecem mostrar.

Sintomático que Lula tenha percebido entre os evangélicos um espaço para atuação do PT.

 

Oficina de Concertos Gerais e Poesia – em algum lugar sempre em frente e à esquerda.

Redação

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