Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Os militares e o governo Bolsonaro, por Aldo Fornazieri

Os militares fizeram uma boa escolha ao embarcar de cabeça no governo Bolsonaro? A resposta é não. E seria não mesmo que Bolsonaro fosse um presidente que se comportasse de forma razoável.

Os militares e o governo Bolsonaro

por Aldo Fornazieri

É certo que os principais generais que integram o governo Bolsonaro não participaram diretamente do golpe militar de 1964, mas a maior parte deles cursou os colégios e academias militares durante o regime. Sua formação militar, portanto, inscreve-se sob a égide da cultura política e das orientações ideológicas e educacionais que conformavam aqueles tempos. Em que pese isto, não há razões para duvidar dos compromissos democráticos desses generais. O que há, contudo, são evidentes ressentimentos entre setores militares e setores civis que o período de redemocratização não conseguiu desfazer.

A forma como se deu a superação do regime militar, particularmente a Lei da Anistia, e as críticas que ela sofreu pelos setores progressistas e de esquerda da sociedade criou ressentimentos mútuos. Por um lado, esses setores políticos e sociais alimentaram desconfianças em relação aos militares e, por seu turno, os militares alimentaram ressentimentos e animosidades com os setores progressistas e democráticos. O proselitismo da violência e da tortura que alguns militares, incluindo Jair Bolsonaro, promovem só ajuda a alimentar essa tensão. Os governos do PT representaram uma oportunidade impar para a superação desses ressentimentos, desconfianças e animosidades, mas a ocasião foi desperdiçada pelas débeis iniciativas que foram promovidas.

O fato é que no pós-regime militar, os militares carregavam como que uma espécie de marca, de mácula, de desconfiança, por parte de setores políticos e sociais. Assim, os militares viram no governo Bolsonaro uma chance de desfazer esta mácula e de se integrarem plenamente à vida nacional num ambiente de normalidade e sem exclusões, esposando a defesa da democracia e uma doutrina mais liberal na visão da economia. Embora na oficialidade superior, ao que se sabe, especialmente no Exército, Bolsonaro fosse visto com reservas, parece que os generais acreditaram que seria possível que ele se conduzisse por parâmetros de razoabilidade e de racionalidade na função de presidente da República. Não é isto o que tem se visto até agora.

Bolsonaro, de forma crescente, vem emitindo sinais de que não tem preparo emocional, psicológico, intelectual e político para exercer a mais alta magistratura do país. A postagem do vídeo obsceno no Twitter foi a manifestação mais alta de desequilíbrio. Em quase todos os pontos em que Bolsonaro interveio depois da investidura, o fez de forma negativa, desde as relações internacionais (China, Árabes e Venezuela) até os mais comezinhos assuntos internos a exemplo de cartilhas de educação sexual de jovens. Todas essas intervenções desastradas, somadas à ascendência de seus filhos radicais sobre o que ele pensa e como ele age e as suspeitas de envolvimento de sua família com milicianos no Rio de Janeiro, jogam uma pesada nuvem sobre o futuro de Bolsonaro na presidência. De forma prematura, o seu capital político vai se deteriorando e crescem as desconfianças acerca de sua capacidade e equilíbrio para governar.

Então, cabe a pergunta: Os militares fizeram uma boa escolha ao embarcar de cabeça no governo Bolsonaro? A resposta é não. E seria não mesmo que Bolsonaro fosse um presidente que se comportasse de forma razoável. Com isso não se quer dizer que alguns generais ou oficiais não pudessem vir a ocupar cargos importantes no governo e mesmo serem ministros. O problema é que a forma e o número de como oficiais da reserva e da ativa entraram no governo – mais de 100, ao que se sabe – conferiam a ele uma fisionomia claramente militar. E em sendo assim, a impressão que fica é a de que os militares querem se resgatar em relação à supracitada mácula pela via da política e isto constitui um grave erro. Registre-se: não que ex-militares não possam participar da vida política. Isto é comum em outras democracias, destacadamente nos Estados Unidos. O que não podem fazer é participar da vida política como  força militar que é a impressão que fica com o governo atual.

O problema, portanto, é esta investidura militar do governo e isto o conecta com a história do Brasil marcada pelo pronunciamento dos militares na vida política.  Isto não fez bem nem para o Brasil e nem para os militares. A Questão Militar no final do Império, a Proclamação da República, os primeiros anos da República Velha, os movimentos tenentistas na década de 1920, a Revolução de 1930, a Era Vargas, a redemocratização de 1945, as tentativas de golpe contra Vargas e Juscelino e o golpe militar de 1964 são os episódios mais agudos da presença dos militares na política.

Todas essas intervenções representam ações desviantes das funções dos militares numa democracia. A função central dos militares é a de se preparem para a guerra, definindo as estratégias e os meios para executá-las, observando sempre os princípios constitucionais que regem as Forças Armadas nas democracias. Em todas as democracias a função principal das Forças Armadas se volta para a garantia da soberania em face de ameaças externas. Como instituições permanentes do Estado podem cumprir várias outras funções complementares relevantes. Mas o princípio da separação do poder militar do poder político e da subordinação do poder militar ao poder civil é um princípio inquebrantável das Repúblicas.

Como consequência dessas intervenções desviantes dos militares brasileiros o fato é que eles nunca se preparam bem para a guerra e para a defesa da soberania. De fato, para um país continental como é o Brasil, portador de imensos recursos naturais estratégicos, não é possível dizer que as Forças Armadas possuem suficientes capacidades dissuasivas e de combate ante a possibilidade de ataques de potências mais fortes.

Compare-se, por exemplo, os investimentos e as capacidades militares do Brasil, não com Estados Unidos, Rússia, China e Europa, mas com a Índia, o Paquistão, o Irã, Israel etc.. É evidente que o Brasil não tem um suporte militar suficiente para que se apresente como uma potência média significativa no jogo do poder global. O Brasil não tem um respaldo militar compatível com o seu território e com a necessidade de defesa de seus recursos naturais. E, aqui, o problema e as responsabilidades não são apenas dos militares, mas também dos governos civis que nunca tiveram projetos estratégicos dignos desse nome, dos partidos políticos, das universidades e da sociedade civil.

Durante o regime militar e depois dele, foi feito um esforço de ocupação territorial no Centro-Oeste e no Norte, com o apoio do Exército. Daí derivou a força do agronegócio que é um ativo estratégico importante para o Brasil. Mas o Brasil nunca se tornará uma potência significativa se depender apenas do agronegócio, de comodities.

Os Estados Unidos se tornaram uma grande potência, primeiro, se expandindo territorialmente para o Oeste, no século XIX; segundo, conquistando os mares no século XX; e terceiro, buscando conquistar o espaço no século XXI. O desenvolvimento agrícola, industrial, tecnológico e científico daquele país se interliga com esses ciclos expansionistas. Comparativamente, o Brasil não foi capaz de pensar em nenhum projeto estratégico que sequer chegasse à sombra do modelo norte-americano. Os Estados Unidos dotaram o Pentágono com verbas públicas vultosas para a corrida tecnológica na segunda metade do século XX, visando não fazer frente apenas à Rússia, mas também ao Japão e à Europa e a outros polos de desenvolvimento tecnológico.

Nenhum país será militarmente forte se não for tecnologicamente desenvolvido. Neste ponto, o Brasil está perdendo largamente a corrida do século XXI. Onde ocorreram vultosos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento Militar (P&DM) houve também desenvolvimento tecnológico da indústria civil. Indústria civil e indústria militar sempre se retroalimentaram. Desgraçadamente, o Brasil não investe nem em P&D civil e nem em P&DM.

É na elaboração de um projeto estratégico de desenvolvimento, integrando civis e militares, que as Forças Armadas deveriam concentrar seus esforços e seus objetivos. Isto implicaria que a formação dos militares tivesse um conteúdo exclusivamente profissional e que, do ponto de vista político e ideológico, elas ficassem suspensas, adotando o papel de o “grande mudo”, como se dizia no passado, se submetendo ao governo civil e obedecendo a Constituição. As Forças Armadas ajudarão o Brasil e o seu povo se se dedicarem às suas funções precípuas. Os governos civis podem e devem incorporar militares da ativa e da reserva em funções técnicas e escalões técnicos do Estado e até mesmo em cargos políticos, desde que tenham aptidões para tal.

Mas ao conferirem uma fisionomia militar ao governo Bolsonaro, as Forças Armadas correm um grande risco de incorporarem uma nova mácula e de proporcionarem uma nova politização dos militares.   Elas se associaram a um governante que vem se mostrando desastrado, despreparado, desagregador e que prejudica os interesses do Brasil. Mesmo que Bolsonaro sobreviva a ele mesmo, aos seus filhos e ao setor lunático que integra seu governo, será um governo fraco, de baixo desempenho.

Ocorre que Bolsonaro não é um líder político autêntico, não tem força popular, nem força política no Congresso e nem habilidade para manejar essas dificuldades. Será um governo dependente de vontades alheias, sem autonomia. Se conseguir fugir do fracasso, no máximo, será um governo mediano. Definitivamente, não será pela via da política, e menos ainda se tornando escudo e espada do governo Bolsonaro, que as Forças Armadas encontrarão um ponto de reconciliação definitivo com a sociedade brasileira, independentemente de ideologias.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

16 Comentários

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  1. Os militares deixaram Moro acabar com o programa nuclear prendendo Othon, deixaram macular a compra dos caças e a venda da Embraer acontecer, quando o VLS foi sabotado e explodiu em Alcântara, nada fizeram, aliás estão deixando uma potência estrangeira tomar Alcântara, tomar o pré -sal, tomar a Petrobras, conspiraram contra Dilma, tutelaram Temer é o STF, você quer que eles desfaçam a desconfiança COMO?

  2. Acho que o pesadelo dos militares é que Bolsonaro seja o Galtieri deles. A sorte do Brasil é que a Argentina nunca conseguiu se firmar como uma potência econômico-militar; caso contrário, o Brasil hoje seria uma província tamanho família dos argentinos.

  3. E quem disse que aos militares que aí estão a embasar os bolsonazislunáticosmilicianos da vida interessa – ou, interessaria – qualquer ensejo estratégico em função do país? E se estão a compor esse desgoverno apenas pelo interesse pelas benesses e o mandonismo inerente ao “pudê”. Afinal, veja-se a atuação circense e desprovida de qualquer estratégia razoável ao bem estar educacional do dito (des)ministreco da (des)educação, oriundo das chefias dos colégios olivais: seriam somente os “caroços”.

  4. Apenas leiam…
    Em https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2019/03/o-ponto-cego-dos-militares-brasileiros-por-jose-luis-fiori/

    José Luís Fiori (*)

    “A riqueza é o grande objetivo. E a riqueza só pode ser obtida através de um notável desenvolvimento econômico, desenvolvimento esse que não pode ser atingido em isolamento. Os capitais e os produtos industriais ou agrícolas precisam preferências e nessas preferências há concorrentes”.
    Editorial da Revista de Defesa Nacional, “Paz”, junho de 1919, p. 342

    A história comparada das grandes potências capitalistas ensina que o crescimento do seu poder político e de sua influência mundial dependeu do grau de sucesso do seu desenvolvimento econômico. E o sucesso do seu desenvolvimento econômico dependeu – em grande medida – da capacidade de esses países responderem com eficiência aos desafios colocados por seus concorrentes e inimigos externos. Por isso, em todos os casos, a questão da “defesa” e de “preparação para a guerra” funcionou como uma bússola estratégica de suas economias vitoriosas. [1] Foi o que aconteceu, por exemplo, na relação entre Portugal e Espanha, nos séculos XV e XVI; entre Holanda e Inglaterra, no século XVII; entre França e Inglaterra, no século XVIII; entre Grã Bretanha, Rússia e Alemanha, no século XIX; entre EUA e URSS, no século XX; e agora de novo, entre EUA, China e Rússia, no século XXI. E o mesmo aconteceu na América do Sul, com a competição entre a Argentina e o Brasil, pela hegemonia da Bacia do Prata, entre 1870 e 1980. Nesse período, a Argentina se transformou no primeiro “milagre econômico” da América do Sul, entre 1870 e 1940; e, logo em seguida, o Brasil obteve o mesmo sucesso, entre 1930 e 1980, completando 100 anos de crescimento sequenciado e contínuo, dentro de um mesmo tabuleiro geopolítico.

    A aceleração econômica da Argentina começou logo depois da Guerra do Paraguai e seguiu uma estratégia clara e bem determinada de aliança com a Inglaterra e de competição com o Brasil, pela supremacia do Cone Sul. No início do século XX, a Argentina estava muito à frente do Brasil e já havia se transformado na sexta ou sétima economia mais rica do mundo. Mas logo depois da “crise de 30”, a Argentina “entrou em pane” e sua sociedade nunca mais conseguiu se unir em torno de alguma estratégia de inserção dentro da nova ordem mundial liderada pelos EUA. Ao contrário da Argentina, o Estado e as Forças Armadas brasileiras entraram em colapso, e quase se desintegraram, depois da Guerra do Paraguai. E só vieram a se recuperar no século XX, seguindo uma estratégia igual e contrária de competição e superação da Argentina, que começou a ser desenhada na época de Rio Branco e Hermes da Fonseca, mas só se transformou na política oficial do Estado brasileiro depois de 1930.

    Manteve-se a partir daí, de forma mais ou menos constante durante os 50 anos em que a economia brasileira cresceu a uma taxa média anual de 7% – crescimento responsável pela ultrapassagem da Argentina, já na década de 50, e pela transformação do Brasil na principal potência da América do Sul, já pelos anos 80.

    Essa inversão de posições no tabuleiro do Prata foi uma obra complexa, envolvendo muitos grupos e forças políticas, mas não há dúvida de que os militares tiveram papel decisivo na formulação e execução desse projeto desenvolvimentista. Não é fácil separar as coisas, mas é perfeitamente possível analisar a participação dos militares de forma separada, para compreender seu papel no passado, mas sobretudo para entender melhor sua divisão e impotência atual, no momento em que iniciam sua sexta intervenção direta no processo político brasileiro, a contar do golpe militar de 24 de outubro de 1930.

    As grandes linhas da estratégia seguida pelos militares brasileiros durante o século XX foram traçadas e sistematizadas na década de 30, por Mario Travassos e Góes Monteiro. [2] Desde então, suas ideias e objetivos fundamentais se mantiveram praticamente os mesmos, até a década de 1980, a despeito das mudanças que sofreu logo depois da II Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, propostas por Lysias Rodrigues, Golbery do Couto e Silva, e pelo corpo de professores da Escola Superior de Guerra, criada em 1949 sob inspiração norte-americana. Em particular, depois da Revolução Cubana de 1959, quando a Doutrina de Segurança Nacional dos militares brasileiros redefiniu o velho conceito de “inimigo interno”, que foi perseguido de forma implacável pelos governos militares que se sucederam depois do golpe de 1964.

    Depois da grande crise econômica internacional do início dos anos 70 e da mudança geopolítica que se seguiu à derrota americana na Guerra do Vietnã, foi o próprio Golbery do Couto e Silva – o mais americanista de todos esses estrategos – que ajudou a repensar e redefinir a nova estratégia internacional visando à criação de uma “potência intermediária”, que foi seguida pelo governo Geisel e boicotada pelos EUA durante os anos 70 e 80. Assim mesmo, deve-se reconhecer que os objetivos especificamente militares da estratégia seguida nestes 50 anos foram alcançados, em grande medida: com a ocupação e a integração de grande parte do território nacional; com a competição e superação da Argentina, no Cone Sul; com a conquista da hegemonia econômica dentro da América do Sul; com a obtenção de altas taxas médias de crescimento econômico; e com uma industrialização que deu acesso, aos militares, de alguns avanços tecnológicos indispensáveis à sua concepção de defesa nacional. E foi o compromisso com esses objetivos, exatamente, que obrigou os militares a se distanciar – recorrentemente – de seus aliados de primeira hora, os empresários e economistas liberais, assumindo a reponsabilidade direta pela criação das principais empresas estatais e estratégicas do país. De qualquer maneira, como já dissemos, este projeto foi interrompido e abandonado na década de 80, e os próprios militares brasileiros perderam seu protagonismo depois do fim da Guerra Fria.

    Trinta e cinco anos depois da sua retirada de cena, os militares brasileiros estão de volta, em 2019, e parecem decididos a governar de novo. Mas se for o caso, terão que se enfrentar e responder aos novos desafios do Estado brasileiro: como é o caso da ocupação e integração plena demográfica, social, e econômica da Amazônia; como é o caso da defesa da costa brasileira e da bacia do Atlântico Sul, agora com a riqueza do pré-sal; como é o caso da indispensável expansão econômica do país na direção do Pacífico; como é o caso da construção de alianças e de pontes diplomáticas no “entorno estratégico” do Brasil, incluindo a costa ocidental da África, e como é caso, finalmente, da projeção internacional do país para fora do seu próprio continente e do chamado hemisfério ocidental. Tudo isto reconhecendo que o mundo está atravessando uma gigantesca transformação geopolítica e geoeconômica, em pleno curso nesta segunda década do século XXI.

    Frente a este cenário e a este conjunto de desafios, soa absolutamente ridículo falar do “marxismo cultural” como se fosse um inimigo sério de alguma força armada que se respeite. E soa tão ou mais absurdo querer transformar a mudança de um governo da Venezuela num objetivo do governo e de suas forças armadas, uma coisa que o Brasil jamais fez e que pode transformar o país – depois de passada esta onda de extrema-direita – numa potência “sub-imperialista”, odiada pelos seus vizinhos menores e menos ricos, os mesmos que já se encontram neste momento sob a égide hegemônica e pacífica do Brasil.

    Para piorar esse horizonte dos militares, a economia brasileira não cresce há cinco anos, o investimento segue caindo, a infraestrutura está aos pedaços, o desemprego em alta e as perspectivas internacionais cada vez mais pessimistas. Aqui não há como tapar o sol com a peneira: os novos dirigentes políticos e econômicos do país saíram da sarjeta do governo Temer, considerado, pela maioria dos brasileiros, como o pior governo da história republicana. Suas principais lideranças participaram diretamente do golpe de Estado de 2016 e compartilham as mesmas ideias econômicas liberais do governo Temer, que já vêm fracassando há quatro anos. E não há a menor possibilidade de que a tão falada “reforma da Previdência” possa alterar o rumo desses acontecimentos. Ela não foi concebida para reativar a atividade econômica, e por isso, mesmo que seja aprovada, não terá o menor impacto sobre o crescimento real da economia brasileira.

    Por isso, concluindo, é possível afirmar, neste momento, que os militares brasileiros caíram ou se meteram numa armadilha, e estão colocados numa verdadeira “sinuca de bico”: ou se destroem como instituição e como poder, como já aconteceu no final do século XIX, só que, agora, por conta do fanatismo ideológico de seus economistas ultraliberais e do delírio belicista da ultradireita norte-americana; ou então procuram reencontrar o caminho do crescimento econômico acelerado e soberano, para poder cumprir suas funções institucionais e seus objetivos estratégicos. Mas para seguir esta segunda alternativa, teriam que fazer escolhas “heroicas”, a começar pela redefinição dos termos de sua aliança tradicional com os Estados Unidos, o verdadeiro “dono” do Hemisfério Ocidental. E talvez seja este, exatamente, o verdadeiro ponto cego dos militares brasileiros: sua impotência frente aos Estados Unidos.

    (*) Professor permanente de Economia Politica Internacional do PEPI/UFRJ,; coordenador do GP do CNPq “Poder Global e Geopolítica do capitalismo” e do Laboratório “Ética e poder global”, do Nubea/UFRJ. Pesquisador do Instituto e Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (INEEP). Publicou recentemente o livro “Sobre a Guerra”, Editora Vozes, Petrópolis, 2018.

    Notas

    [1] Fiori,J.L., “História, Estratégia e Desenvolvimento”, Editora Boitempo, São Paulo, 2014.
    [2] Zortéa Vieira, R.Lembrai-vos da Guerra. Tese de doutoramento, PEPI/UFRJ, Rio de Janeiro, 2013 (mimeo).

  5. Tem razão professor. Será que a questão dos militares tem a ver com passarmos por governos comandados por ex militantes contra o regime militar, como Lula e Dilma e o próprio PT? Uma raiva enrustida e mais selvagem que racional. Problema é resolver o automático alinhamento antinacional com o Trump. As vezes parece que o Mourão se transfigurou depois que assumiu como vice. Ou seria só impressão mesmo, e eles estão realmente entregando o país para os EUA.

  6. Penso que a questão dos militares apoiando o traste eleito é mais simples. Não se pode falar em militares apoiando esta trupe. Só tem gente do exército e assim mesmo limitado a oficiais que de alguma forma já se relacionavam com o tenente promovido a capitão para ir pra reserva.

    Os comandantes ativos e as outras forças, Marinha e Aeronáutica, não estão embarcados na aventura.

    Esta turma de funcionários públicos, militares também o são, só querem ter o acesso a privilégios que tantos outros funcionários tem. Estamos carecas de saber que os juízes e procuradores ficam putos nas calças com o que ganham os advogados que com eles se confrontam. Dão um jeito com aulas, palestras e divisão de comissão com advogados, quando não vendem sentenças mesmo. Os da áreas econômica vivem passando pela porta giratória das consultorias e cargos na iniciativa privada.

    Os militares abusaram disto no passado ao acumular cargos públicos junto com os soldos ou aposentadorias. Foram barrados nos governos democráticos por questão de lógica. E também por ser necessário gente capacitada para a administração pública, coisa que nunca foram.

    O governo acidental só lhes escancarou a mamata de volta e estão se lambuzando. Acreditar que algum mourão ou heleno aí vai nos levar a algum lugar é delírio.

  7. Muito interessantes as reflexões do professor Aldo, que tive a satisfação de conhecer na minha juventude (já um tanto distante…) no Rio Grande do Sul. Penso, no entanto, que há algumas ponderações fundamentais para o campo progressista, as esquerdas que deveriam projetar e agir concretamente no sentido de uma sólida união, preparada desde agora, consolidada em 2020:

    1) A vitória eleitoral da extrema direita também é reflexo tardio de um triunfo, talvez subestimado, da ditadura militar, quando encaminhou uma transição conservadora, que resultou na Nova República. Não se pode menosprezar o efeito na cultura política, na memória histórica do país, do fato de que os agentes criminosos de Estado, praticantes de assassinatos, torturas, sevícias e atos terroristas, ficaram impunes ao final do regime. Isso se soma à lembrança de que setores das camadas médias foram beneficiados no período do chamado “milagre econômico,” não obstante a concentração de renda gerada pelo processo.

    2) Então, minha hipótese é de que no texto, aparentemente, o autor subestima o prestígio que o estamento ainda conserva junto à metade da população, pelo menos. Fomenta o senso comum a ideia – logicamente falsa – de que houve menos corrupção entre o golpe de 1964 e a obtenção de maioria pró-Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985, na comparação com o presente.

    3) O aprofundamento do choque de selvageria no capitalismo liberal periférico do país é apoiado pelas cúpulas das forças armadas. Nada indica o contrário. Outra discussão consiste na possibilidade de provocar dissidências ali pela construção de outra perspectiva para o Brasil, que contemple o que o artigo lembra muito bem: a necessidade de um salto tecnológico, capaz de impulsionar a nação a outro patamar, igualmente nas atividades civis.

    4) Por último, e só um pouco menos importante: ontem, sintomaticamente, no programa Fantástico, a frase do presidente catastroficamente escolhido sobre a democracia como “dádiva” da caserna foi comparada a outros raciocínios acerca do tema, em discursos de Obama e Mujica, durante o quadro “Isso a Globo não mostra”. Como o Nassif já demonstrou, (aliás, já joguei milhares de partidas de xadrez pela Internet, e imagino que este grande colega aprecie e pratique esse “esporte mental”….) tudo tende a se desenhar para Mourão assumir o cargo.

    Em essência: PT, PSOL, PC do B e, salvo melhor juízo, o PDT, além da parte melhor do PSB, têm que se voltar para suas bases e avançar no sentido de organizar uma Frente Ampla, conforme já alertou o intelectual português Boaventura dos Santos, também para enfrentar a questão militar.

  8. O aparelhamento no comando do Brasil por Militares , se deu por conta da grave e iminente ameaça da implantação do regime socialista , comunista bolivariano.
    … Foro de São Paulo..!! URSAL ; isso sem contar que é u mió qui tá tendo , diante da corrupção institucional Instalada no Brasil ; desemprego , falta de segurança , a Saúde na UTI . Ou seja , você não analisou como estava o País , antes de Bolsonaro . Então volte , estude mais e faça uma análise contestual . Se não tivéssemos elegido Bolsonaro , hoje seríamos uma Venezuela . Você não pode fazer esta análise , pois não tem as informações que tivemos e temos como Militares.
    Att.
    SGT. F. SANTOS.
    FORÇA AÉREA BRASILEIRA.

    1. Pelamordedeus!!! A ignorância vai muito além de onde a vista alcança!Que pobreza de posicionamento, em se tratando de um sargento Garcia da FAB!

  9. Sinceramente. É um texto muito tendencioso Passivo agressivo e que tenta desconstruir aquilo que os brasileiros que amam as forças armadas pensam sobre a mesma, e que os eleitores que votaram em Bolsonaro acreditam. Tentar ridícularizar um(a) presidente foi como a Dilma sofreu um impeachment, não se enganem lendo o que está acima, pois a intenção dos opositores é fazer o mesmo com Bolsonaro . Errado está o texto em dizer que as Forças Armadas devem ser chamadas só para a guerra (o Brasil não vive uma guerra declarada ao exterior), nos dias atuais e em grande parte da nossa história nós brasileiros militares somos chamados para fazer missão de paz e não de guerra, para construir estradas em lugares inóspitos, levar água a lugares carentes e somos exímios administradores, líderes, o nosso nível de organização é perfeito para a bagunça que estava o governo anterior regido pelo PT e pela ideologia esquerdista, estava sem freios a falta de ordem. Não importa quantos esquerdistas manipuladores escreverem abrobrinha contra o atual governo, pois nada pode apagar o que o PT fez de ruim ao Brasil.

  10. Boa noite!!!!! Devemos acreditar no novo governo; assim como acreditamos no antigo e só levamos ferrada. Acredito que com tempo as nuvens negras serão dissolvidas e a claridade poderá nos mostrar um caminho melhor!!! As melhorias poderiam ser dadas para ambos os lados tanto civil , militares E federais. Para os militares e federais poderiam cortar o imposto de renda já que ñ temos um aumento apropriado e ñ podemos fazer greve. Para os civis um aumento no salário é melhorias na educação ,saúde e segurança.

  11. Pois é, narciso acha feio o que não é espelho…..alem dos lojistas os verdinhos……..

    Ea pátria segue sendo vendidam bem baratinho, como povo…..ah, em troca de uns cacarecos que essa turma aceita de bom grado……….

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