A dubiedade das perguntas da pesquisa Datafolha, por Janio de Freitas

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

da Folha

Os outros números, por Janio de Freitas

A dubiedade da pergunta sobre a responsabilidade de Dilma na Petrobras leva a interpretações diferentes

Os 43% que de fato atribuem “muita responsabilidade” a Dilma “sobre o caso” Petrobras, na sondagem Datafolha, não proporcionam à oposição uma base informativa sobre as perspectivas de sua atual ação, nem ao governo oferecem uma noção dos efeitos do escândalo em sua imagem. Dados indiretos dão melhor ideia, talvez surpreendente para os dois lados, da situação do confronto no que mais lhes interessa: a opinião pública, ou do eleitorado.

A dubiedade da pergunta tornou possível uma quantidade indefinida dos que a interpretaram com um sentido e dos que lhe deram outro. “Responsabilidade SOBRE o caso” pode ser a de quem, detentor de uma posição hierárquica –chefe de família, dirigente de empresa, governante– deve as providências para o melhor e correto andamento do que está sob sua responsabilidade. É admissível, para não dizer certo, que muitos terão recebido a pergunta nesse sentido.

Mas a “responsabilidade SOBRE” também podia ser entendida como implicação NO caso, responsabilidade como parte, em alguma medida, da ocorrência.

As duas interpretações levam a respostas com profunda diferença, estando, porém, embaralhadas tanto nos 43% subscritos em “muita responsabilidade” de Dilma, como nos 25% de “um pouco” de responsabilidade. Índices que, somados de maneira discutível, fizeram a notícia de que 68% responsabilizam Dilma por corrupção.

Na confusão induzida pelo próprio noticiário, bastante caótico, a esta altura ninguém sabe em que período de governo houve na Petrobras tal ou qual golpe de corruptor e corrompido. O beneficiário da ausência de clareza é o governo Lula, no qual se deram a compra da refinaria de Pasadena, o consequente processo judicial desastroso para a Petrobras, os contratos para construção da refinaria de Abreu e Lima, inúmeros reajustes e compensações. Relegadas essas e outras clarezas, o tipo de noticiário do escândalo contribui, e não pouco, para que o governo de Dilma apareça na pesquisa como o segundo pós-ditadura em que “houve mais corrupção”, com 20% das opiniões seguindo os 29% dados a Collor.

Apesar disso, e aí com muito interesse para a oposição, 46% consideram que o governo Dilma é o que mais investigou a corrupção. O segundo, longe, é o de Lula, com 16%. (Outro caso de deformação por pouca informação: foi no primeiro mandato de Lula que o então ministro Márcio Thomaz Bastos preparou e destinou a Polícia Federal para as investigações de corrupção, com escândalos cujo ineditismo os tornou históricos, como o da Daslu).

A pergunta que complementa a anterior é ainda mais expressiva, embora o percentual menor, para a aferição da atividade oposicionista concentrada no escândalo da Petrobras. “Em qual governo os corruptos foram mais punidos?”. No de Dilma: 40% das opiniões colhidas. Parte dos que votaram em Aécio Neves ou dos sem votos válidos, ou de ambos, estão contribuindo para esse índice recordista, que é maior até do que o contingente, no eleitorado total, que elegeu Dilma.

O investimento agressivo que a oposição faz para responsabilizar Dilma Rousseff pela corrupção na Petrobras, como também por assuntos menos gritantes, reproduz (com menos brilho, é verdade) mais de um período caracterizado pela mesma linha de oposicionismo. O resultado a que chega também reproduz o de seus inspiradores.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. Nassif, ia sugerir a inserção

    Nassif, ia sugerir a inserção da análise do Jânio de Freitas no Blog, mas, antes que o fizesse… Não entendo como um jornalista como Janio de Freitas continua nesse jornal e ainda mais no conselho editorial, se não me engano. Será porque a maioria que ainda lê jornais se ocupe apenas das manchetes? Toda noite, penso: amanhã não vou me conectar à internet para preservar minha saúde mental e o coração. Fazer como avestruz. Mas isso é quase impossível diante da dúvida – para onde vai nosso país? 

    1. maria cecília, a cereja dos bolos do PIG,

      (vc como não cadastrada talvez não receba email automátio sobre comentários que fazem sob outro comentário). Eu tb acho parecido com voce, era viciado em jornal, uma revsita, e ainda este blog GGN (onde eu escrevo algums besteiras na pressa ou por maneira de pensar, além de digitar raidamente, tento mas não consigo superar essa falha minha). Graças ao Blog (o melhor que reúne não só notícias de outros veículos, mas de paricipantes e de conivdados fixos, Aldo Fornazieri, efventualmente o grande Wanderley G. dos Santos, etc). Jânio (uns poucos já saíram ou foram “saídos” da FSP, Marilene Felinto maravilhosa, Daniel Piza do Estadão faleceu tão jovem era o que eu gostava esporadicamente quando via o Estadão, apesar de gostar mais do papel, mas tempos modernos ainda não me aadaptei). A Folha, como toda a iprensa (a grande) tá em crise, e conservam um ou outro como enfeites para não descambar de vez pra um público seleto, pelo menos em coluna do Jânio), este mesmo blog (apesar de brincar ou cutucar, sou tido por troll mesmopelo próprio blog, mas tenho meus defeitos, claro qu tento, e fico mais nas seções demúsia O Hortêncio maravilhoso, e outros e no yutube e vejo os psots-títulos, entro nalguns). Em crise, a imrpensa conservadoríssima e safada tem que manter um Jânio, o escândalo seria multiplicadfor na faixa do pessoal de senso mais crítico e influente – este blog e participantes, visitantes, cadastrados ou não). até, Humberto (entre Recife e Porto Alegre).

  2. Não importa se são 40 ou 60 %

    Não importa se são 40 ou 60 % que ligam o governo a corrupção.

    O que interessa e muito é que o assunto não sai mais das conversas nos bares, escritorios ou fabricas.

    Enquanto isso o governo continua surdo e mudo.

    Não aparece um porta voz, um ministro da justiça, um lider politico para explicar que essa roubalheira começou nos tempos de Pedro Alvares Cabral e que so não acaba porque são os proprios politicos que acusam o governo, que não deixam a lei de financiamento de campanhas mudar.

  3. Como a Folha usa o jornal como outdoor em bancas

    Como a Folha usa o jornal como outodoors em bancas, o mancheteiro dá um jeito de esconder a manchete que deveria ilustrar o conteúdo

  4. Como a Folha usa o jornal como outdoor em bancas

    Como a Folha usa o jornal como outodoors em bancas, o mancheteiro dá um jeito de esconder do leitor de manchetes o contéudo do ótimo artigo de Jânio

  5. Quase diariamente o

    Quase diariamente o jornalista Jânio de Freitas cumpre, tal qual

    cirurgião exímio o dever de lancetar as principais notícias e expor

    as vísceras purulentas da Folha, nodando as luvas com as

    imundícies que extirpa.  Um nódulo aquí, um tumor mais adiante

    vai, assim, rompendo e higienizando os locais por onde transita,

    como se fôra, ele próprio, um ombudsman cioso.

    Não se associa à leniência.  Por razões inimagináveis Jânio

    é o Específico Número Um que a Folha utiliza homeopáticamente.

    Há anos sem contraindicações.

     

     

  6. não é bug, tem virótico phishing p/aqui pelo posts recentes

    Lamento a falta de respostas pelo Contato interno por parte da equipe. dei motivos de sobra até pra ser excluído. Grato por suportar. Reitero que há uma pessoa q tá espalhando um tipo de virus, já comuniquei, o nome dele numa postagem aparece, noutra com uma falta de dígito e, então, é que fica claro que é virótico. Analu já manifestou publicamente. Não são falhas bugs. é , tudo indica, ataque, do qual sugiro máxima proteção (e paranóia minha com ótimos recursos de antivírus e outros). A essa altura não so eu, outras pessoas devem ter lhes avisado (não são problemas de pc, cookies, como alguém já me disse).

  7. pessoal,e a equipe , Manifestos X Golpismos

    só agora há 5 minutos recebi de um amigo a newsletter de carta maior com os vários manifestos que estão correndo contra isso tudo que Saraiva e outros estão divulgando aqui. Se eu fosse assinar newsletter ou ir a outros blogs (eventualmetne vou) iria me entupir. Ao contrário do Blog e de muita gente (a quem peço desculpas) pelo meu jeito chato é melhor eu ficar mais pelo multimidia, hortencio, youtube, Cruvinel posta, jns, Válber – e não ser, ou talvez eu seja, sei lá, troll (detesto esse adjetivo)  são um dos que postam músicas por uma seção (não fiz blog dentro do blog, por praticidade e agonia, pressa,e  seria uma redundãncia. (ontem, Johnny Guitar , curiosidades q eu não sabia sobre o filme, como ontem).

  8. citação de autor q não li,

    “Onde está o conhecimento que perdi na informação,  e onde está a sabedoria que perdi no conhecimento?”- T.S. Eliot., citação de autor q não li, foi através de um cara tri culto daki de recife. Sou bem menos pernóstico do que já me disseram. G. Freyre tem um artigo do tempo q escrevia tb pra jornal sobre preferi analfabetos do que semicultos (como sou). Ourtras citações, digo a fonte, sempre. Outras é de fonte direta.

     

  9. El País na OPERAÇÂO LAVA JATO

    … serviço alternativo de notícias nacionais do GGN-Nassif para nossos leitores habitués que, infelizmente, tem crises de pruridos e vômitos e urticárias ao ler reportagens e notícias da Veja, Estadão, Folha, Globo…

    do El País – Brasil

    http://brasil.elpais.com/brasil/2014/12/08/politica/1418062496_458476.html

    OPERAÇÃO LAVA JATO Investigação na Petrobras começou com um estranho presente de luxo

    Operação Lava Jato surgiu de monitoramento de especialistas em lavagem de dinheiro

    No início, agentes envolvidos nem suspeitavam que apuração levaria ao grande escândalo

    PEDRO CIFUENTES Curitiba 1 DIC 2014 – 20:19 BRST

    Na sede regional da Polícia Federal em Curitiba, onde trabalham os agentes que deram início à Operação Lava Jato, o ambiente é de prudente satisfação. “Jamais imaginamos um caso tão grande… Nem em sonho”, admite Marcio Adriano Anselmo, o delegado que iniciou a maior investigação por corrupção na história brasileira. Anselmo tampouco imaginaria que uma modesta investigação contra três especialistas em lavagem de dinheiro, em Brasília e São Paulo, acabaria por conduzi­lo a Londrina (sua cidade natal, a 400 quilômetros de Curitiba), feudo do contrabandista Alberto Youssef, um velho conhecido da PF, cujas confissões acabariam detonando um escândalo de ressonância mundial.

    Há 16 meses, em julho de 2013, Anselmo havia voltado seu foco para Carlos Habib Chater, um doleiro que havia anos operava em Brasília. Chater havia sido recentemente vinculado a um polêmico ex­deputado de Londrina, José Janene (PP­PR), morto em 2010. Mantinha uma rede de lavagem de dinheiro criada por seu pai (preso, como ele, há dois meses), e a PF sabia que fazia contatos em São Paulo com outro doleiro, Raúl Henrique Srour, que havia sido condenado em 2005 na chamada Operação Banestado, mas já terminara de cumprir pena. A partir de agosto, quando a Justiça autorizou escutas telefônicas, descobriu­se também que Chater trocava continuamente mensagens telefônicas sobre suas atividades com um desconhecido. “Era uma operação de pequena para média”, diz Anselmo. “Não tínhamos nem ideia do que iríamos encontrar.”

    A equipe de Anselmo era formada por mais dois agentes. A investigação prosseguiu de forma discreta durante várias semanas. Depois de analisar milhares de operações bancárias, os três policiais vislumbraram um esquema com empresas fantasmas e transferências injustificadas.

    Avançaram lentamente, até que no começo de outubro o caso teve seu primeiro ponto de inflexão: a pessoa que tantas mensagens trocava com Charter via smartphone era Alberto Youssef, o mesmo especialista em lavagem de dinheiro que, num acordo de colaboração em 2004, havia se livrado de uma pena muito mais longa na Operação Banestado – por coincidência, o primeiro caso financeiro importante julgado pelo jovem juiz Sergio Moro, da 13ª. Vara Criminal Federal de Curitiba.

    “Não podíamos acreditar que fosse Youssef”, conta Anselmo. “Foi um momento inesquecível.” Além de levar o caso para Curitiba, a descoberta significava que o doleiro e contrabandista havia violado seu acordo de delação premiada; estava novamente na ativa. Continuaria em operação o esquema supostamente desbaratado anos antes? A palavra Petrobras, até então, não aparecia nem remotamente no caso. Mas o reaparecimento de Youssef aproximava os policiais de outro foco importante da investigação: a escorregadia figura de Nelma Kodama, “a Dama do Mercado”, influente doleira paulista que, além do mais, era amante de Youssef. Kodama havia se safado do caso Banestado porque “foi a única pessoa a quem Youssef não delatou”, segundo os policiais, “seja por amor ou para que continuasse o negócio”. “Ela sempre havia movimentado grandes quantias de dinheiro, somas muito elevadas vinculadas a grandes comerciantes do setor de importação e exportação. Mas até aquele momento havia conseguido se livrar. […] Era uma pessoa muito complicada, considerava­se inalcançável, mostrava muita confiança em si mesma.”

    “Continuávamos sendo uma equipe muito pequena, mas mesmo assim continuamos puxando o fio”, recorda outro agente. Mas faltavam as provas… “Era possível que se tornasse um caso maior do que o esperado, mas nem isso.” A palavra ‘Petrobras’ só apareceu pela primeira vez nos autos da Operação Lava­Jato em janeiro deste ano. Foi, como tantas vezes, por um descuido: especificamente um presente. Os agentes comprovaram que Youssef acabava de comprar um carro de luxo (300.000 reais) em nome de Paulo Roberto Costa, ex­diretor de Abastecimento da empresa petroleira de capital misto. “Achamos isso muito estranho”, afirma um agente. “O salário de um diretor da Petrobras pode superar os 100.000 reais (40.000 dólares) mensais.” Com um meio­sorriso, Anselmo relembra que “foi aí que a temperatura começou a subir de verdade”. Os policiais se lembraram de que o falecido ex­deputado Janene, sócio de Chater, havia sido o responsável por colocar Paulo Roberto Costa à frente da Diretoria de Abastecimento da empresa, em 2004. E ampliaram o campo de atuação: “Começamos a investigar outras pessoas e, pela primeira vez, compreendemos que podia se tratar de um caso histórico”.

    O carro dado por Youssef a Costa era justificado como sendo o pagamento por supostos “serviços de consultoria”. Havia milhares de notas fiscais por “serviços de consultoria”. Poucas semanas depois, veio à tona uma gigantesca máquina de lavagem de dinheiro. Os suspeitos transferiam somas elevadas ao estrangeiro, usando uma rede com mais de cem empresas de fachada e centenas de contas bancárias que remetiam milhões de dólares para a China e Hong Kong. As companhias, pura cosmética financeira, simulavam importações e exportações com o único propósito de receber e mandar dinheiro, sem comércio algum de produtos ou serviços reais. As autoridades judiciais calculam que a quantia desviada chega a 10 bilhões de reais. O dinheiro provinha principalmente do tráfico de drogas, do contrabando de diamantes e do desvio de recursos públicos (nesse caso, como seria posteriormente revelado, em obras encomendadas pela Petrobras a grandes empreiteiras, com orçamentos de bilhões de reais, dos quais eram sistematicamente desviados pelo menos 3% em subornos). Posteriormente, e independentemente da origem do dinheiro lavado, os valores eram reintroduzidos no sistema mediante negócios de postos de gasolina, lavanderias e hotéis.

    O chamado Petrolão veio a público em 17 de março, quando a Polícia Federal deteve 24 pessoas (entre eles os doleiros mencionados nesta reportagem) por evasão de divisas em seis Estados. A imprensa brasileira ainda não citava o nome da Petrobras no noticiário. Ele só apareceria três dias depois, quando Paulo Roberto Costa foi detido, após a comprovação de que estava destruindo documentos relativos à sua longa relação com Youssef. Ambos chegaram a um acordo de colaboração com a Justiça e se tornaram delatores em troca de uma redução da pena. “Aí é que o caso explodiu”, admite Anselmo. Os três policiais passaram a ser quinze (cinco delegados e dez agentes). A investigação ganhou proporções gigantescas, com suspeitas crescentes sobre a implicação de altos executivos de empresas e políticos que eram citados nos depoimentos dos arrependidos.

    Youssef, Costa e um diretor da empresa de engenharia Toyo­Setal, Julio Camargo, revelaram a existência de um clube de 13 empreiteiras que dividiam entre si os contratos com a Petrobras. As revelações indicavam que parte do dinheiro pago em subornos durante 10 ou 15 anos se destinava aos cofres de vários partidos políticos. Um duro golpe no establishment empresarial, político (e possivelmente bancário) do Brasil: as construtoras investigadas são responsáveis por oito das dez maiores obras do país. O presidente do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, afirmou com preocupação que o caso tem potencial para parar o Brasil, caso as nove maiores empresas sob suspeita sejam finalmente declaradas inidôneas para assinar contratos com o setor público. Há pouco mais de duas semanas ocorreu o segundo momento que o delegado Anselmo e sua equipe (e também muitos brasileiros) jamais irão esquecer: a detenção, na sexta­feira, dia 14, de 21 diretores de nove grandes empresas que juntas somavam contratos no valor de 59 bilhões de reais com a maior empresa da América Latina.

    Batizaram a operação de Juízo Final. O sábado, dia 15, como lembraram com orgulho na sede da PF em Curitiba, era o Dia da República. E no domingo, dia 16, o aniversário da Polícia Federal. Nesse mesmo dia, 16 meses depois de o delegado Anselmo voltar seu foco para a casa de câmbio que Carlos Chater mantinha num posto de gasolina em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff declarou, na Austrália, que a Operação Lava­Jato “poderia mudar o Brasil para sempre”.

    CORRUPÇÃO NA PETROBRAS

    Alberto Youssef: o doleiro que arrastou todos em sua queda. “Ele teve sua grande oportunidade para abandonar o mundo do crime, mas a desperdiçou”

    PEDRO CIFUENTES Londrina 8 DIC 2014 – 16:14 BRST

    “Todo mundo conhece Alberto Youssef em Londrina. Pode ser que não saibam quem é o prefeito, mas sabem quem ele é”. O policial que fez esse comentário em Curitiba é imediatamente respaldado pelo taxista que leva o correspondente no aeroporto de Londrina. “Aqui sabemos tudo de Youssef”, afirma divertido Roberto. Sua irmã era seu braço direito até morrer”, diz. “Sempre foi um contrabandista, um bandido. Agora ficamos sabendo sobre sua vida nos jornais”. Londrina, a bonita cidade paranaense de meio milhão de habitantes que viu nascer o cambista mais famosos do Brasil, vive há um ano no coração da Operação Lava Jato. O adolescente que vendia salgados nas ruas de Londrina é hoje, com 47 anos, “um homem destroçado” (segundo um de seus advogados de defesa). Cardíaco com um histórico de ameaças de infarto, Alberto Youssef perdeu vinte quilos desde que entrou na prisão de Curitiba, em março, e teve de ser internado quatro vezes desde então. Não se parece em nada com o homem algemado que sorri nas fotos de suas primeiras prisões, por volta de 2003, quando mentia com total desembaraço (“Sou apenas um ex­cambista, nunca lavei dinheiro”, assegurou meses antes de confessar seus crimes para o juiz). Youssef é antes de tudo um reincidente. “É um delinquente profissional […] Teve sua grande oportunidade para abandonar o mundo do crime, mas a desperdiçou”, argumentou o juiz Sérgio Moro há dois meses ao manter a condenação de quatro anos de meio de prisão pelo ‘caso Banestado’ (inicialmente suspensa por conta de sua colaboração).

    Dois meses atrás Youssef voltou assim mesmo a se converter em delator da polícia, transformando o ‘caso Petrobras’ em um barril de pólvora que afeta em cheio o ‘establishment’ empresarial, político e financeiro brasileiro. “Está muito deprimido”, conclui seu advogado. A polícia confirma o diagnóstico. “Sim, é um delinquente crônico, uma pessoa calculista, mas tem sangue. E família. E filhos. Ninguém gosta de estar todos os dias nos jornais”. Foi justamente a família de Youssef quem o persuadiu para chegar a um acordo de colaboração com a Justiça e colocar-se no olho do furacão do ‘Petrolão’. Com sua delação premiada anterior cancelada, preso, seus bens bloqueados, com alguns de seus principais sócios detidos e seus familiares acossados por ordens de busca e apreensão, lhe restava essa opção ou passar os próximos 20 anos de sua vida na prisão.

    Youssef sempre foi um homem de família. Sua irmã Maria foi sua primeira provedora de bens: trazia eletrodomésticos do Paraguai de ônibus e os entregava para seu irmão para que os vendesse na rua. Mas foi sua outra irmã, Olga Youssef, mais conhecida como Flora (também condenada no ‘caso Banestado’), quem o introduziu no turbulento mundo das casas de câmbio. “Alberto confiava em poucas pessoas, ela era sua principal aliada”, disse Henrique, um empregado de banco que conheceu o cambista em seus dias de glória. “Sempre se dedicou ao contrabando”, afirma taxativamente um agente da polícia: fundamentalmente bens eletrônicos, mas também drogas e joias ilegais. Mais tarde, dedicou­se “a transportar dinheiro, que é ainda mais lucrativo”. Braço direito do poderoso ex­deputado de Londrina José Janene (PP), acusado no ‘caso Mensalão’, a morte deste em 2010 o alçou para o topo de uma gigantesca trama de desvio e lavagem de dinheiro ilegal. Após alguns anos de experiência em operações menores à frente de sua agência de câmbio, a morte de Janene transformou Youssef em um ‘lobista’ total.

    Era a engrenagem do sistema: fazia as ligações, entregava as maletas de dinheiro, ordenava as transferências, organizava a criação de empresas de ‘fachada’, negociava com as empresas contratantes, ‘cuidava’ dos agentes públicos, resolvia problemas entre as diferentes partes do negócio e, se era necessário, entrava em um avião privado para transportar uma soma elevada para o outro lado do país. Seus tentáculos chegaram até em algumas obras da Copa do Mundo. Calcula­se que Alberto Youssef chegou a movimentar 2,08 bilhões de reais no ‘caso Banestado’. Agora, estima­se que a quantidade desviada na ‘Laja Jato’ é de 10,4 bilhões de reais. “Ele se movia como um peixe na água entre as empresas”, disse outro advogado. “E não somente agora; já desde jovem, na década de 1990”. Abriu outro escritório em São Paulo e tinha acesso em Brasília a figuras políticas muito conhecidas. Apesar de tudo, não foi fácil para a polícia rastreá­lo; utilizava sete telefones móveis diferentes, com sistemas para detectar escutas. Seu reaparecimento causou uma comoção nos agentes da Polícia Federal que investigavam um caso aparentemente pequeno em Curitiba. Um ano depois de se transformar em um arquivo vivo, uma fonte de dores de cabeça monumentais para dezenas de empresários e parlamentares. Explicou o funcionamento da trama de lavagem de dinheiro e revelou a existência de um ‘clube’ de diretores de grandes empresas que dividiam uma porcentagem de cada obra da Petrobras com destacados políticos. Youssef intermediava o pagamento de subornos e doações ilegais para partidos: a Polícia Federal guarda como se fosse ouro um documento descoberto em seu escritório que registra os pormenores de 750 contratos realizados sob sua supervisão.

    Incomunicável e isolado desde março, os testemunhos de Alberto Youssef são a coluna vertebral do maior caso de corrupção da história do Brasil. Não parece exagerado, pois, que seus advogados se preocupem com “a segurança” de seu defendido: em outubro, quando foi internado por uma crise cardíaca, a Polícia Federal teve de desmentir oficialmente que teria sido envenenado. Alguns dias antes, em um ataque de raiva, quebrou um vidro de separação durante uma conversa com seu advogado na prisão. Em seu conhecido escritório da rua Pará, no centro de Londrina, fechado há dois anos, antigos companheiros de edifício sorriem à menção do seu nome. “Quem tudo quer, nada tem”, diz Sérgio. “O senhor não pode imaginar o poder que esse cara tinha aqui… E olhe agora… Para quê?”.

     

     

  10. Mais uma do PIG?

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/199260-o-petroleo-era-nosso.shtml

    “…A dívida da estatal já chega aos US$ 240 bilhões, equivalente a cerca de quatro vezes o chamado Ebitda (indicador da capacidade de geração de caixa). Não por acaso, as agências de classificação de risco têm reduzido a nota de crédito da Petrobras, que pode perder o grau de investimento em breve.

    Se o preço baixo permanecer, e se o governo não quiser quebrar a empresa, precisará repensar a estratégia. Rever planos de investimento, abrir a exploração para mais parceiros –quem virá, nesta altura?– e elevar preços internos de combustíveis para recompor o caixa são pontos cruciais…”

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