Ou Bolsonaro ou a vida
por Fabianna Freire Pepeu
Como é público e notório, não tenho nenhuma simpatia por quem foi contrário ao programa Mais Médicos e optou, na carreira de saúde, pela medicina privada misturando isso a mandatos legislativos clientelistas, com evidente desinteresse pelo SUS.
Em relação à torcida formada por oportunistas sem nenhum caráter que envergonhados pelos atos assassinos de Bolsonaro, seu presidente, resolveu transformar ministro de governo fascista em herói — apenas pra se sentir menos desconfortável pela tragédia da qual é corresponsável —, todo meu desprezo no atacado e no varejo.
Apesar dessas duas ponderações — e a vida não é filme e você não entendeu —, a saída de Mandetta, supostamente por conta da reportagem do Fantástico no domingo passado — obviamente, uma inverdade, pois Bolsonaro apenas vem adiando a picada de escorpião —, sempre me pareceu favas contadas, mais cedo ou mais tarde, com ou sem entrevista, porque Bolsonaro é invejoso e paranóico, então não tinha possibilidade de acordo.
Agora, discordo que Bolsonaro e Mandetta sejam iguais e que tudo não passava de um jogo de cena.
Os dois não são iguais. Em terra de cego, já dizia o ditado popular, quem tem um olho é rei. Assim sendo, Mandetta compreender que o isolamento social é, na falta de vacina e remédio (testado, aprovado e disponível em larga escala), o único instrumento pra evitar o colapso hospitalar, como já está em curso, no estado do Amazonas, por exemplo, já é digno de reverência.
Pois é. Fazer o quê? As coisas são o que são. Em certas situações, é isso ou é isso mesmo e as coisas são dinâmicas e eu não vejo nenhuma contradição em apoiar, em um determinado momento, a permanência de um maloqueiro porque é o que há de menos trágico numa situação excepcional como a que estamos vivendo de pandemia.
É por isso que a saída dele hoje — ou amanhã ou mesmo na próxima sexta-feira — é muito ruim. É a tragédia dentro da tragédia que já é tragédia há muito tempo e muito mais que apenas um par de anos e só tem piorado vertiginosamente.
Não é ruim a troca de Mandetta porque ele é insubstituível. Todo mundo é substituível no sentido prático das tarefas do mundo.
É muito ruim porque, claro, pode vir alguém ainda mais alinhado à perversão de Bolsonaro (e também a de militares muito próximos que apenas simulam não ser do mesmo time por pura conveniência), mas também porque a mudança de um ministro implica em alteração de técnicos com efeito cascata por toda administração, entre muitas outras implicações burocráticas. E essas alterações todas podem significar mais atrasos nas decisão, negociações de compra de insumos e equipamentos de saúde e mais mortes pela Covid-19.
Seja quem for o substituto do atual ministro da Saúde, e é pouco provável que gente realmente séria de fora do governo tope ser subordinado a Bolsonaro, a mudança é sinônimo de mais uma queda. Caímos todos porque nada relativo a Bolsonaro e suas performances perversas visam o bem, a saúde, a vida.
Enquanto houver Bolsonaro e seus anjos do mau, estaremos, com ou sem vírus nos contaminando o corpo, rumando para a morte.
Fabianna Freire Pepeu é jornalista
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Está noite, tive um pesadelo, acordei é não consegui mais dormir. Sonhei q o Bozo havia demitido Weintraub só pra colocá-lo como ministro da saúde. Estou rezando, para q tenha sido um pesadelo é não premonição. Peço a todos inclusive aos ateus para q se unam nessa oração.
Nossa, isso é a treva!