Para a maioria dos trabalhadores, a recessão é uma experiência nova, por Emilio Chernavsky

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto – G1
 
Para a maioria dos trabalhadores, a recessão é uma experiência nova
 
por Emilio Chernavsky

Em meio à maior recessão da história do país, os números do mercado de trabalho mostram que desde o fim de 2014 a taxa de desocupação e o número absoluto de desocupados, que vinham caindo de forma contínua nos dez anos anteriores e se encontravam então nos mínimos históricos, mais que duplicaram. O salário real médio, que havia subido de forma consistente naquele período, passou a cair, e a aprovação no Congresso da retirada de limites à terceirização deve acelerar essa queda. O tempo que as pessoas gastam procurando trabalho, por sua vez, disparou. Cada vez há mais gente em busca de um emprego que paga menos, é mais instável e que, mesmo assim, é mais difícil de encontrar. 

Com menos dinheiro, a população têm cortado seus gastos e consumido menos. O volume de vendas no comércio varejista, que havia crescido mais de 50% entre 2003 e 2014, inverteu a tendência e caiu cerca de 15% nos dois últimos anos. Mesmo as vendas nos supermercados que, ao conter os itens básicos de consumo popular, inclusive alimentação, tendem a ser mais estáveis, caíram quase 10%. Com a queda no consumo, diminui o bem-estar das pessoas, claro, mas também a atividade e os lucros do comércio e da indústria que, com isso, demitem seus funcionários e aprofundam o círculo recessivo. Logo, não surpreende que, mesmo satisfeitos com o discurso do governo, os empresários não invistam e que a retomada da economia, cujo início era prometido para os meses seguintes à mudança de governo, continue a ser adiada.

Nesse contexto, não é apenas o tamanho da recessão que é inédito. A população que sofre e sofrerá seus efeitos também é. Essa população é muito mais urbanizada que a que suportou as recessões anteriores, mesmo a última no início dos 1990’s. E, diferentemente do que ocorreu naquela ocasião, quando a recessão sucedeu a uma década de estagnação, hoje ela se abate sobre o país após um período em que grande parte dos trabalhadores experimentou uma prosperidade sem precedentes, em que suas condições de vida e capacidade de consumo, ainda que insatisfatórias, cresceram substancialmente. Se abate sobre trabalhadores cujas perspectivas passaram a incorporar as possibilidades de melhora duradoura e estável e de acesso a bens e serviços e espaços de socialização anteriormente interditados para a grande massa. Se abate sobre os jovens que terão dificuldade em repetir a experiência bem-sucedida do irmão, amigo ou vizinho apenas poucos anos mais velho que conseguiu ganhar sua própria renda e expandir sua formação. A recessão se abate sobre aqueles trabalhadores que hoje têm até 29 anos de idade e compõem 30% da população economicamente ativa e que, em 2003, antes do início do último ciclo de crescimento, em geral sequer haviam entrado no mercado de trabalho. Se abate sobre aqueles que hoje têm entre 30 e 39 anos e representam mais 25% da população ativa e que, em 2003, mal começavam ou haviam entrado há poucos anos nesse mercado. Ou seja, a recessão atual atinge em cheio uma população economicamente ativa que vivenciou o progresso e ampliou como nunca seus horizontes e que, em sua maioria, nunca viveu uma recessão e não conheceu por experiência própria ou tem lembranças apenas limitadas do que é um mercado de trabalho desfavorável, uma maioria da população ativa que não sofreu, em sua idade adulta, a deterioração das condições de vida.

Conforme essa população conheça as angústias da recessão e a percepção dessa deterioração se generalize, ela se sentirá cada vez mais enganada por aqueles que prometeram a solução dos problemas econômicos com a substituição do governo. Não é claro como esse sentimento será canalizado. Saídas violentas individuais podem se mostrar a única solução para alguns, e construções autoritárias coletivas sedutoras para outros, mas um discurso que reivindique a volta a elementos do passado recente pode se tornar cada vez mais atraente para a maioria.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Comentário.

    Recessão, para a maioria dos trabalhadores?

    Bom, depende.

    Claro que precisaria fazer uma análise da população economicamente ativa e ver a constituição da faixa etária e tal.

    Mas tem aquela parcela que passou, por alguns planos econômicos além do Real.

    Mas duvido que entraria na análise algo chamado memória. Embora algumas perguntas, se formuladas de acordo com a idade do sujeito, poderiam verificar a memória da pessoa.

    Pessoalmente, vivi a crise da dívida, momento em que os milicos, depois de verem o choque do petróleo e a taxa de juros dos empréstimos externos brasileiro ir para as alturas, deram a massa falida para os civis (bem, nem tão civis, tinha o Arena-PFL) administrarem.

    Quer dizer, de crise, inflação, recessão etc., se não tenho pleno conhecimento, tenho alguma memória.

    Mas se História desse sabedoria real, talvez não tivesse acontecido o que aconteceu conosco.

    Não devia escrever, pois dá pra perceber que tô com uma baita vergonha disso tudo.

  2. E não é preciso ter

    E não é preciso ter conversado com Deus para saber que, de acordo com o roteiro traçado na tal “Ponte para o Futuro”, a coisa vai piorar, porque o objetivo não é resolver os problemas econômicos do país, mas drenar a riqueza da sociedade em beneficio do sistema financeiro.

    Quando aconteciam as passeatas da classe média coxinha imbecil vestida com a camiseta da CBF eu imaginava que, por serem pessoas “cultas”, “esclarecidas”, “informadas” e “conscientes” este bando de estúpidos soubessem o que faziam quando pediam o “FORADILMA”, “FORAPETE”, etc, etc. Nunca souberam. São estúpidos e arrogantes demais para ter compreensão mínima do que fazem, São burro midiotizados e teleguiados pela Globo.

    O resultado não podia ser outro: quem teve emprego e renda agora perde, não sabe porque, tem que tomar remédio pra depressão e chorar as mágoas.

    Mas nem tudo está perdido para essa gente estúpida: ainda existe a Globo para dizer que tudo está bem, tem o programa da AnaMariaBraga e da FátimaBernardes que ajudam a encontrar ideias para fugir da crise, tem o programa do Datena pra mostrar que nossa vida não é uma merda, porque na periferia é pior…  e sempre existem os remédios para depressão… Depressão constante no caso dos estúpidos analfabetos da classe média coxinha imbecil…

    … Já a cura para a burrice é bem mais complicada… Tem que estudar a história do Brasil, coisa que essa gente estúpida nem sabe que existe….

     

     

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