Perdoar o nazismo? Por Marcelo Uchôa

O Brasil precisa saber que seu presidente disse ao mundo uma frase que, em termos de política exterior, atentou contra a seriedade do país

Por Marcelo Uchôa*

Perdoar o nazismo?

Em cem dias de governo o presidente da República já deu mostras de que é capaz de dizer qualquer tipo de veleidade. Nenhuma delas, porém, pode ser tão grave como a proferida em recente encontro com lideranças evangélicas, em que, segundo amplamente noticiado, teria afirmado que os crimes do nazismo até podem ser perdoados, não podem ser esquecidos.

Não há dúvidas de que os crimes do nazismo não podem ser esquecidos. É exatamente por isso que são conservados na Alemanha, Polônia, bem como em outros países, intactos e com visitação aberta, campos e mais campos de concentração e de extermínio nazistas, assim como são mantidos mundo afora um sem número de memoriais do holocausto. A questão que o presidente talvez não entenda é que o nazismo, em si, também não pode ser perdoado.

Sem contar as mortes decorrentes dos conflitos da Segunda Guerra, em que capitularam cerca de 50 milhões de pessoas (30 milhões só na ex-União Soviética), o nazismo, faceta da extrema direita alemã das décadas de 20 a 40 do século XX, foi responsável pelo extermínio meticulosamente programado de milhões de pessoas, dentre aquelas consideradas perigosas ao sistema, como comunistas, anarquistas e opositores em geral ao regime, e aquelas consideradas imprestáveis à sociedade ariana, isto é, homossexuais, pessoas com deficiência, crianças de primeira infância e idosos, especialmente de etnias avaliadas como impuras, a exemplo de ciganos e, principalmente, judeus, os quais não apenas buscou apagar do mapa, como, também, eliminar da história, através da supressão da memória.

O nazismo exterminou seres humanos em massa em câmaras de gás situadas em campos específicos, onde trabalho escravo, execuções sumárias, estupros, torturas, experiências médicas com pessoas, espoliação de dignidade exortada em aprisionamento inumano, sucediam à retirada da nacionalidade, ao roubo do patrimônio, ao deslocamento para guetos putrefatos, à separação forçada de famílias e às viagens em trens da morte (de carga bovina) até o destino final.

Se há algo na humanidade que não pode ser perdoado é o nazismo. O presidente brasileiro, que há menos de um mês visitou o comovente museu do holocausto (Yad Vashem), em Jerusalém, sendo inclusive honrado com o crédito de plantar uma árvore no Jardim dos Justos, deveria ter aprendido essa lição. Se não aprendeu, duas hipóteses são possíveis: não entende nada sobre o tema nazismo ou, de fato, conseguiu perdoá-lo.

Independentemente de como seja, saiba que os nazistas capturados após a Segunda Guerra, levados a julgamento por vinculação direta com a Solução Final (holocausto), foram condenados à morte, não só por crimes de guerra (incluindo incitação contra paz e agressão), mas por crimes contra a humanidade, pela prática de incontáveis delitos cometidos contra a pessoa humana, a exemplo de genocídio, racismo, maus tratos, só para citar alguns. Os que não foram condenados à morte, pegaram prisão perpétua. E mesmo os que não participaram diretamente da Solução Final, mas ajudaram a sustentar o regime, foram condenados a longas penas de prisão. Alguns foram absolvidos por insubsistência de provas e outros pela concepção de que por haver se limitado a simpatizar com o regime, movidos pela propaganda hitlerista e sem conhecimento da Solução Final, faziam jus ao benefício da clemência. Mas é aquela coisa: perdoar um simpatizante nazista é muito, mas é possível; já perdoar o nazismo (ou seus crimes) é algo absolutamente inconcebível.

O Brasil precisa saber que seu presidente disse ao mundo uma frase que não se diz, que sequer deve ser considerada factível. Que, em termos de política exterior, atentou contra a seriedade do país. Assertivas assim não são aceitas em Israel, na Alemanha, em lugar algum. É pelo modo enfático de condenar o nazismo que a Alemanha demonstra diariamente que não pode ser eternamente rotulada de forma negativa pelas aberrações indignas que uma geração específica e segmentada de alemães, outrora no poder, vergonhosamente cometeu. Torça-se para que as nações acreditem que o presidente brasileiro é apenas um ponto fora da curva no Brasil de hoje, que um dia passará, assim como o próprio Hitler, cujo propósito era fazer durar mil anos o 3° Reich, também passou.

*Advogado e Professor Doutor de Direito Internacional na UNIFOR

Redação

8 Comentários

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  1. O Bozo não sabe o que falou.
    Não sabia o que falava.
    Não sabe o que fala.
    Não sabe falar.
    Mas, fala e aí …. é esse lixo sempre.
    A bolsinha dele já foi arrancada e o conteúdo voltou pra cabeça.

  2. Ora, um cara que discursa metralhar “petralhas”, matar bandidos (bandidos?), que apoia e nomeia o desMoronado como desministro, que se acerca do que há de pior, que quer acabar com os povos indígenas, que quer explorar as terras indígenas e quilombolas, que aplaude os ustras da vida, obviamente que gostaria de perdoar a sim mesmo, ou seja, o nazista que o habita desde sempre.

  3. “Caro Bolsonaro, você pôs os árabes contra seu país quando disse que transferiria a embaixada brasileira para Jerusalém. Mas os árabes são importantes para nós, empresários brasileiros. Então sugerimos que você, agora, diga algo anti-semita. Isso confirmaria a fama que você tem conseguido de completo idiota, o que, a propósito, o alinharia mais ainda ao nosso presidente, Trump: nada do que vocês fazem surpreenderá pelo absurdo já que tudo que têm feito é absurdo. Daria, assim, um “perdido” tanto em quem te apoia quanto em quem lhe faz oposição, ou em uma palavra, acertaria mais um balaço no coração do estado. Com isso mais e mais pessoas se sentirão inseguras e, você sabe, insegurança é a base para a acumulação de capital. Instaure o caos no estado, caro Bolsonaro, continue e aprofunde esse diversionismo que, enquanto o povo distraído te xinga, a gente continua a destruir a confiança do povo de seu país na Política, o medo, a raiva e o ódio a tudo o que é público, como já conseguimos fazer no nosso.

    Vitória ao caos! Pelo fim das leis! As leis somos nós!

    Forte abraço dos operadores do dólar.

    x.x.x.”

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