Por que te cálas, Luis Roberto Barroso, por Luis Nassif

Assim como seu colega Luiz Edson Fachin, da noite para o dia adaptou suas convicções aos tempos de intolerância que se avizinhavam

E, agora, Barroso? Caiu a ficha geral. Até o Estadão de hoje, em editorial, reconhece os retrocessos da economia brasileira. No bojo da bandeira anticorrupção, destruíram-se setores relevantes da economia brasileira, embalou-se a mais antissocial das políticas econômicas, iniciada por Michel Temer e aprofundada pelo governo Bolsonaro. E todo o processo foi defendido visceralmente por Luis Roberto Barroso, pegando carona no punitivismo para se mostrar simpático aos setores mais atrasados da economia.

Na base de tudo, a destruição do sistema político, transformando uma guerra pelo poder em um desmonte geral da economia e das instituições, submetendo o país a um fundamentalismo religioso contrário a todos os avanços da ciência e dos valores democráticos, um verdadeiro vendaval anti-iluminista. 

Nesse desmonte, nenhum personagem foi mais deletério que o Ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal).  Conferiu à Constituição o mesmo sentido utilitarista dos economistas que colocam suas posições ideológicas acima do interesse do país. Barroso fez o mesmo com a Constituição, depois de ter jurado defende-la. Transformou um dos princípios centrais, o da posição contra-majoritária, em palco para se exibir para suas plateias.

Assim como seu colega Luiz Edson Fachin, da noite para o dia adaptou suas convicções aos tempos de intolerância que se avizinhavam. Fachin teve o pudor de circunscrever nos autos sua nova militância. Barroso, pelo contrário, desfraldou duas bandeiras assíncronas – punitivismo e liberalismo econômico – e se tornou o porta-voz da refundação do Brasil.

Manipulou estatísticas, utilizou as diferenças de tratamento entre ricos e pobres, não como bandeira para reduzir as arbitrariedades na base da pirâmide, mas para impor o direito penal do inimigo. A cada retrocesso, recorria a bordões de auto-ajuda política, tipo o velho morreu e o novo não nasceu, então haverá um curto período de adaptação.

E de adaptação em adaptação ajudou Dilma Rousseff a inviabilizar seu governo, entronizou em seu lugar um governo fundamentalmente suspeito e negocista e, depois dele, a essa mescla de fundamentalistas, espertos e fundamentalistas-espertos.

Deve-se, mais do que a qualquer um, a Barroso o espetáculo de uma Ministra de direitos humanos que confessa, em plena coletiva da ONU, que tinha um discurso para ludibriar fiéis; um Ministro do Meio Ambiente que falsificava laudos técnicos; um Ministro das Relações Exteriores que teima em jogar o Brasil na guerra; um Ministro da Educação cuja última ordem foi para cada escola começar as aulas com o Hino Nacional e um slogan do governo Bolsonaro – e gravar em vídeo e remeter ao MEC, para conferir se cumpriram o que lhes foi ordenado.

E nesse caos, o Ministro que conseguiu entrar no rico mercado de palestras pagas com seus discursos de auto-ajuda, calou-se. Antes, bradava seu otimismo mostrando como o Brasil avançou da Constituição para cá, ao mesmo tempo em que estimulava a destruição diuturna dos instrumentos que garantiam os avanços. Criminalizou partidos políticos, atropelou a Constituição com seu ativismo oportunista irresponsável.

E agora, Luis? A festa acabou, a tormenta chegou, os fantasmas criados, como bandeira política, ganharam vida e assumiram o protagonismo. E agora Luis? Luis que se intimida com o primeiro toque de clarim, que teme as bestas nas ruas, depois de tê-las cultivado com denodo, que, com seus discursos irresponsáveis, ajudou a destruir as leis trabalhistas, a ampliar a bandeira da repressão na segurança pública, a incrementar o caos nas organizações judiciais.

Não bastou liquidar com as instituições políticas, mas, com seus discursos irresponsáveis, ajudou a destruir o sistema de freios e contrapesos. Estimulou novas instituições informais, como os procuradores da Lava Jato, os juízes da Lava Jato. Fomentou a radicalização na base, ao mesmo tempo em que desmoralizava o topo, o STF.

Agora, os abusos acontecem diariamente, em cada reload da família de tuiteiros enlouquecidos. Mas a palavra sábia e corajosa de Barroso só se fará ouvir quando o governo Bolsonaro estiver caindo pelas tabelas. Aí Barroso corajosamente cumprirá o mesmo papel desempenhado até agora: do soldado incumbido de executar os adversários feridos no campo de batalha.

Luis Nassif

60 Comentários

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  1. Os onze morcegões do STF permitiram e incentivaram preso político. Preso político é coisa que só existe em ditaduras. O povo não aceita e no acampamento Mariza Letícia condena o STF todos os dias em que Lula permanece preso.
    A bem da verdade o Juiz Marco Aurélio de Melo emitiu ordem para reverter essa ditadura. Foi rapidamente traído e atropelado por um moleque e seu soldadinho de estimação.
    Democracia, aonde?

  2. Mas tem também o Ministro Entortador De Cano, a Ministra que saiu sorridente do encontro com os Marinho 01, 02 e o 03, tem o que sentou na nomeação do Lula e o que se espantava com tudo isso mas, podendo, falava mas não reagia e o resto todo que resultou no novo stf que um soldado e um cabo resolvem. Barroso sozinho não tem talento para produzir tal destruição. Foi uma obra coletiva, um samba enredo de onze autores.

  3. O Brasil em mãos inábeis e em mentes retrógradas o que fizeram foi a AFUNDAÇÃO do Brasil.
    Que chato para estes senhores entrar na história das páginas manchadas

  4. Agora que o Posseidon está com o casco para cima, ele se cala. Portanto eu só diria uma coisa a mais para o ilustre ministro: não é “refundação”, é a re-afundação do Brasil. Vocês afundaram de vez o Brasil!!! Preparem-se senhores(as) ministros(as) por que a viagem até o fundo será longa e dolorosa.

  5. Prezado Nassif;
    Texto lúcido e impecável. A mais pura verdade sobre esse “senhor” que se intitula um ministro. (minúsculo mesmo)
    Um forte abraço aqui da querida Vargem Grande do Sul SP.

  6. E agora José?
    José, para onde!
    Apesar do Mourão o Brasil vai rachar…
    Com Bolsonaro é certo…
    Os loucos experimentaram o gosto do poder…
    Nada os farão recuar…
    Afinal de contas é assim que vive a loucura…
    De acreditar que tudo pode…
    Quem tem moral para mudar tudo?

  7. Nacif, muito bem! Empolgante até. O uso do cachimbo faz a boca torta. Os caras não deixam de ser advogados!
    Por isso defendo que para ser um juiz(a) a pessoa deve conhecer as leis, mas não necessariam.ente, ser advogado .. Eles continuam sofistas, como um vício neurótico, uma histeria.

  8. Barroso, vai enfiar seu hino nacional horroroso no cu, ta?
    E voce continua mais androgino que eu, gilmar mentes, e Divaldo Franco colocados juntos, viu?

    (referencia a comentario de antes de ontem. Que foi cortado de publicacao.)

  9. Ué… na prática, tomando todos os exemplos que temos – e não os discursos belos e mentirosos – punitivismo e liberalismo econômico não são bandeiras assíncronas. Já viu a população carcerária nos EUA, por exemplo?

    Na prática – e não na teoria – liberalismo econômico significa pobre na cadeia.

    Parece aquele delírio de Mises: o Capitalismo liberal é ótimo e dá certo desde que ninguém, agrida ninguém, a Paz é um dos cinco (só tem cinco, hein?) pilares de suas fantasias…

  10. “Sua indicação não foi um favor da Presidente a ele; foi um favor dele às instituições, especialmente a uma instituição ameaçada, como o STF.”
    Nassif, 2014

    “A indicação de Barroso repõe o critério do notório saber aos candidatos ao Supremo.”
    Nassif, 2013

    Bastava o trabalho investigativo de conversar com alguns de seus alunos e colegas docentes para não cair nessa esparrela… Recordar é viver. Barroso é o que sempre foi.

    1. Pois é. Me baseando nas avaliações de quem eu considerava conhecedores do tema. Achando que tinham conversado com alunos e colegas dele. Fui, fomos enganados pela falta de discernimento dos que o nomearam.

  11. Muita gente de esquerda bacana e bem intencionada (muitos amigos meus) forma opinião a partir das suas colunas, Nassif. Acho que cabia um “erramos” quando ocorrem erros tão drásticos de avaliação. Não repita a mídia patronal, que muda de posição sem maiores explicações ou retratações.
    Era só perguntar a um Afrânio da vida, na época, e ele te explicaria quem era o Barroso. Vale o cuidado.

    1. Só rindo. O formidável “descobriu” que as impressões do jornalista acerca de um recém indicado ao STF são diferentes da análise sobre o mesmo ministro passado período de tempo e depois de ser posto à prova.
      Se estão te pagando pra “bombardear” de onde nasce o contraditório à narrativa bandida que a República de Curitiba quer impor….viva! Isso mostra que além de criminosos são trouxas

  12. Discordo, sr. Nassif; o povo elegeu o Bolsonaro para desmanchar mesmo o que vinha sendo feito.
    O governo Lula foi uma _tchutchuca_ com os banqueiros, com os donos do nosso subsolo, com algumas grandes empresas ungidas e covidadas para participarem das maracutais feitas com o Estado brasileiro. Infelizmente inclui-se ai, como carro chefe desse assalto ao povo brasileiro, a estatal Petrobrás, umas das fartas tetas onde cevou o “moralizador” petismo.
    Pena!; ao desmoralizarem a empresa, criaram argumentos para os entreguista advogar a sua privatização.

    Quem pagou as bolsas família, bolsa gás, bolsa camisinha etc etc etc foi o empreendedor da classe média que só fez trabalhar durante os governos do PT.
    Perguntem ao dono da serralheria, ao dono da padaria, o da oficina mecânica etc etc se ganharam dinheiro no tempo do Lula. Fizeram só para pagar impostos e taxas sem fim.

    O Lula, sem ter nada com isso, se beneficiou em seu governo ainda dos preços altos das commodities, as minerais e aquelas ligadas ao agronegócio. Essas benesses caíram de graça no colo dele. Aliás o lulismo se pudesse acabar com esse moderno e competente setor brasileiro o faria em atendimento ao seu estreitíssimo raciocinio de tontos.

    Nada fizeram de diferente com a educação básica, nossas escolas primárias continuando aos frangalhos, entregues aos municípios, o elo mais fraco e empobrecido entre as três esferas do poder.
    A insegurança pública chegou a niveis intoleraveis; o banditismo multiplicou e a classe média empreendedora, geradora de emprego e renda, repito, foi quem pagou o pato.
    O governo Dilma não carece comentários.

  13. Simplesmente fantástico. Esse ministro parecia uma donzela pura e sem mancha, para quem não o conhecia, parecia-nos virtuoso. Infelizmente fomos ludibriados e aí está o resultado. Um pulha.

  14. O judiciário brasileiro sempre foi o departamento jurídico da elite medieval tupiniquim para os momentos difíceis de perda de controle e ameaça às suas mamatas seculares.

    E nunca faltará um pseudo progressista para ocupar um posto vago no lado reacionário desde que se pague bem.

    Ótima análise!

  15. Preferia antes, alunos agredindo professores, destruindo salas de aulas, grupos separados de gêneros e raças.
    Totalmente sem graça esse negócio de organização nos colégios.
    Para que saber o valor do patriotismo ao nosso país?
    Para que aprender, que o Brasil vem primeiro e está acima de tudo?
    Para que aprender a ter fé em Jesus Cristo nosso salvador e achar que ele e superior e está acima de todos?
    E o principal… Se achar que tem que aprender isso, tem lugares mas dignos, e não na escola!
    Por isso temos tantos presídios.

    1. Pra justificar o teu fundamentalismo religioso, julgas correto usar slogan do governo nas escolas? Antes dizias que a bandeira jamais seria vermelha (coisa que nunca se cogitou – a não ser na cabeça de vocês), mas agora acha tudo normal? Os presídios abarrotados de gente têm outros motivos. Vai te instruir antes de postar bobagem e não acredita em tudo que os bozos te contam. Ou tu também acreditas na mamadeira de piroca?

    2. Sou professor. Grande parte dos alunos valentões são bolsonaristas. E outra parte, com grave deficiência intelectiva é evangélica. Patriotismo nada tem a ver com bandeira nem com fé. Patriotismo é defender a riqueza da nação. A material e imaterial. O bolsonarismo está destruindo a ambas porque ao inves de cultivar a inteligência, a cultura e informação apela a burrice, ignorância e mau caratismo disfarçado de patriotismo.

    3. Patriotismo a que ou a quem? A um bando de celerados que assumiram o poder? A uma ignorância abjeta dos ministros? Patriotismo com uma reforma que pune justamente a base da pirâmide? Religião não deve se misturar com Estado e Governo. Eu por ser Católico não tenho o direito de impor o meu credo a quem não o seja. A verdade é que nos jogaram num verdadeiro hospício institucional.

  16. um dos melhores textos jornalísticos dos últimos tempos. Me lembrei do auge do jornalismo brasileiro (tempos da grande Jornal do Brasil e da FSP de Abramo). Lembra muito a verve de Paulo Francis (nos bons tempos) e Ivan Lessa.
    A propósito, onde andam as platitudes da senhora Carmen Lúcia??

  17. Nassif;
    Perfeito, corajoso e contundente.
    Se este hipócrita não se pronunciar depois de uma “chamada” desta, reforça a idéia de ser um parlapatão.
    Bravo Nassif, por favor vamos continuar até a exaustão a desnudar este oportunista.
    Genaro

  18. Depois de ler seu belo artigo,outra coisa não me ocorre senão a sugestão para o senhor editor mudar de nome.Mas pelo adiantado da hora,acho a tarefa impossível.Esse Ministro Barroso é efetivamente uma praga.Um cretino.Um parlapatão.Um cínico.Desprovido de amor próprio,e aos seus.Disparadamente,o mais despudorado Ministro desta caverna de fracos e acovardados chamada de STF.Um pavão descorado.Um ser humano absolutamente despresível.Guardadas as devidas proporções,esse STF d’agora,disputa com o Clã Bolsonaro o Troféu Bezerro de Ouro.

  19. Nassif, sempre acerta na mosca! PHEI! Só acho uma coisa, caro jornalista: vc e sua elegância com esta corja de capas pretas de rapina, chega a ser até carinhoso em suas lindas palavras…vc pode usar sim de maior dose de acidez e panfletarismo !

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