Porque recordar é viver, por Cristiane Vieira

A revolução está descentralizada, voltou às mãos do povo, e quando estas mãos se juntarem conheceremos o que é democracia. Vamos renascer como humanidade.

Foto Araquém Alcântara

Porque recordar é viver, por Cristiane Vieira

Comentário feito neste GGN em 27/11/2018. Porque recordar é viver. E porque o tempo voa.

“GGN, nosso repres/te no debate mundial sobre o meio ambiente?

Nassif e GGN, parabéns por terem começado a pautar o tema da mudança climática global de maneira frequente, mas como se vê, o pensamento raso e desinformado que marca a política recente e o crescimento da influência do barbarismo da extrema-direita em questões sociais e econômicas também atinge, e de maneira mais drástica porque o assunto é mais complexo e sujeito a mistificações que outros mais ao alcance da/o cidadã/o comum, a discussão sobre o novo desafio mundial da sobrevivência planetária – e nem falamos do perigo nuclear.

Assim, não vejo outro caminho senão o próprio Nassif fazer o papel não só de mediador mas de instrutor, com sua capacidade de análise conjuntural e sistêmica, e fazer algumas pautas do Xadrez sobre o tema e sua importância para o país, não apenas do ponto de vista do desenvolvimento sócio-econômico e ambiental mas como um novo eixo de projeto de país, com a oportunidade de tomar a dianteira na nova economia que necessariamente deverá ser pensada para evitar a destruição e sobreviver ao colapso do capitalismo como o conhecemos – e a sobrevivência está necessariamente vinculada à superação do capitalismo, ou seja, só uma revolução nos salvará.

Há algum tempo anexei no blogue um vídeo de uma palestra de um economista nem um pouco de esquerda, Jeremy Rifkin, em que ele fala de uma consultoria que fez para o governo alemão sob a chanceler Angela Merkel sobre mudança de estrutura produtiva e de infra-estrutura energética, colocando o país na dianteira da economia limpa, enquanto o Brasil, rico em recursos naturais, não sabe explorar seu potencial para distribuir desenvolvimento e preservar o meio ambiente. Já imaginaram uma Alemanha ou países nórdicos no seu atual estágio de desenvolvimento – que me parecem menos predatórios pelas lições da história e da escassez – com o potencial de biodiversidade e recursos naturais que o Brasil?

Nassif, onde estão os acadêmicos da área, cientistas e pesquisadores brasileiros, os ativistas, os povos nativos? – uma mobilização na cidade litorânea de Peruíbe impediu a construção de uma termelétrica no ano passado, e tudo com um movimento da sociedade civil de lá, pessoas pobres, estudantes, professores, ativistas ambientais e indígenas, estas pessoas têm muito a dizer e nos ensinar (o assunto teve cobertura do blogue Nocaute do jornalista Fernando Morais e equipe, em 2017). Imagino que deve ter muita gente boa com excelentes reflexões e projetos para o (ainda) nosso país e que precisa de espaço para divulgar suas ideias; por outro lado, como o GGN noticiou dias atrás, há um deserto de informação no país – dá para entender porque um/a cidadã/o dessas regiões, certamente com acesso ao celular, deu a vitória a um fascista, talvez para eles desconhecido e portanto, menos ameaçador que a esquerda fantasmática de redes sociais e de TV e jornais. Então, é juntar a fome com a vontade de comer e se lançar nesse espaço vazio de informação que é a presa para os comportamentos predatórios, políticos e ambientais.

Essa deve ser a pauta a ser prioritária nos blogues progressistas, e o caminho mais inteligente, porque os assuntos estão interconectados, para combater o neofascismo tupiniquim e mundial – não se engane, o projeto escola sem partido é tão importante para eles porque as escolas conjugam dois elementos revolucionários e que podem barrar o caminho da catástrofe: jovens ou pessoas conhecendo como o mundo funciona, e com tempo e vocação para a transformação.

Como bem disse, como sempre aliás, a professora Marilena Chauí, o trabalho da resistência deve ser como o da toupeira, e é o que a Natureza está fazendo: a revolução está se formando – e como disse Gil Scott-Heron, não será televisionada (mas pode ser por stream da mídia alternativa, rs) – de lugares e situações improváveis: os povos nativos que lideram o combate a construção de termelétricas (Brasil) e gasodutos (pipelines nos USA); migrantes que buscam asilo nos países ricos e colocam na pauta a exploração colonialista e seu resultado em violência e pobreza; trabalhadores hiperexplorados de grandes redes de comércio como Amazon, que estão fazendo greves em todo o mundo e com uma visão convergente de que o que os atinge também explica a marginalização de migrantes, pobres, negros e pessoas em geral, ou seja, a ganância corporativa dos bilionários que mandam no mundo e controlam governos.

A revolução está descentralizada, voltou às mãos do povo, e quando estas mãos se juntarem conheceremos o que é democracia. Vamos renascer como humanidade. Precisamos ser como crianças novamente, nos encantar com a formosura da natureza, e brincarmos de mudar o mundo. POR QUE NÃO? (Se Jesus, Buda, Marx, Sócrates e Nossa Senhora Maria da Concepção estivessem sobre o planeta nesse momento, a questão planetária e ecológica seria seu eixo de reflexão e ação sobre o mundo, pois todos a seu modo vieram para cutucar: de onde viemos, para onde vamos, qual a finalidade de nossa existência e passagem por esta inexplicável condição temporária de estar-no-mundo?).

Paul Jay – editor-chefe do canal The Real News Network, que juntamente com o Democracy Now!, faz a melhor cobertura da mídia mundial sobre a questão ambiental, e com o enfoque que no Brasil ainda é toscamente incompreendido, da sua relação direta com a exploração capitalista.

Gil Scott-Heron – I’m new here (“não importa quão longe você foi no erro, você sempre pode voltar atrás e mudar de rumo”)

Canal Vice –

A Terceira Revolução Industrial: Uma nova e radical economia de partilha

Sampa/SP, 27/11/2018 – 14:40 (alterado às 14:42, 15:03 e 15:11). ”

Sampa/SP, 06/05/2019 – 22:48

Redação

1 Comentário
  1. Apesar de falhas graves de redação e passagens obscuras (como na referência “dessas regiões” sem a menção anterior que as explique), quando escolhi republicar este comentário e sem fazer reparos, tive a intenção de ressaltar o conteúdo principal: a percepção de que o mundo está mudando rapidamente e que, apesar ou talvez mesmo em decorrência da generalizada descrença na democracia (segundo pesquisas de opinião) como é hoje praticada ou vendida, o sentido de democracia como exercício de poder compartilhado pelo povo está sendo resgatado por interessantes formas de protesto permanente que estão se tornando comuns mundo afora, ainda que sejam totalmente independentes entre si – será possível, e produtivo, um dia de protesto mundial unificado? se sim, sob qual bandeira? justiça e paz é um bom começo…,”capitalistas, tremei”, rs -:
    1 – o primeiro, mais dramático, violento e menos destacado pela mídia nacional e internacional, começou em março de 2018, a Grande Marcha de Retorno do povo palestino na região de Gaza, em Israel. Movimento de desobediência civil não violento que tem exposto ao mundo – para quem não vira o rosto – a crueldade, covardia e petulância do governo de extrema-direita de Israel. Acontece todas as sextas-feiras sob intensa repressão militar israelense, já declarada pela ONU como violação de leis internacionais e princípios humanitários, com ataque deliberado a civis desarmados (jovens em sua maioria) e até contra equipes de jornalistas e profissionais de ajuda médica, devidamente identificados como é comum em regiões de conflito mas ainda assim alvejados estrategicamente.
    2 – os coletes amarelos na França fazem manifestações todos os fins de semana desde novembro de 2018, e mudaram o rumo do debate no país para colocar a desigualdade como pauta. Assim como a Grande Marcha de Retorno, têm exposto a repressão violenta do Estado, ainda que sob o cinismo do governo de direita de Macron que não assume no discurso a tensão que explode nas ruas, o que só a reforça.
    3 – a terceira manifestação que merece muita atenção começou em agosto de 2018, com uma única adolescente, então com 15 anos, que se sentava com uma placa em frente ao Parlamento sueco, pressionando para que o país aderisse ao Acordo de Paris, e que para tanto iniciou uma greve escolar solitária. Ela se chama Greta Thunberg, “já” está com 16 anos, e se tornou a liderança jovem mais importante do mundo, tendo discursado nos Parlamentos Europeu, britânico e italiano, entre outros eventos públicos, civis e políticos com figuras eminentes, onde não poupou críticas diretas, contundentes e profundas ao público presente neles (criticou a obsessão pelo Brexit e a total indiferença à crise climática no Parlamento Europeu, e constrangeu celebridades “ativistas” que fazem yoga mas vivem com luxo e se lixam para a questão ecológica, num evento com… celebridades da TV e cinema na Alemanha – a-dor-oh!). A greve agora é todas as sextas-feiras, e tem levantado milhões de jovens e adultos na Europa e alguns outros países em todo o mundo. A primeira Greve Escolar Mundial pelo Clima (School Strike for the Climate) aconteceu em 15/03/2019 e a segunda ocorrerá em 24/05/2019 (para mais informações, vá ao site fridaysforfuture.org). Ao mesmo tempo em que Greta ressuscitava a mais antiga forma de protesto que perdura entre nós, a greve, ativistas de todas as idades do Extinction Rebellion (https://rebellion.earth/the-truth/about-us/) iniciavam sua saga de desobediência civil ao velho estilo punk não violento, e recentemente fizeram um protesto-ocupação de duas semanas nas ruas, com apoio popular e de celebridades, em que Greta participou (as pessoas estão se juntando… porque solidariedade é um afeto reivindicado em todos estes movimentos e em suas pautas) e de cuja união de forças resultou uma moção, ainda que simbólica, do Parlamento britânico para declarar a mudança climática uma emergência.
    Apenas as greves escolares não foram reprimidas pelo Estado, até agora – que eu tenha informação. Mais de mil ativistas do Extinction Rebellion foram presos nas últimas duas semanas de protesto não violento no Reino Unido, e entre os palestinos, mais de 300 mortos e 29 mil feridos, e aumentando. (https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/mundo/55569/primeiro-ano-de-protestos-da-grande-marcha-do-retorno-e-marcado-por-sangue-na-palestina)
    Ou seja, no tempo da fugacidade, da superficialidade e da virtualidade, estes movimentos estão recuperando o estar-junto-nas-ruas, com prazo de rebeldia indeterminado, sem recurso à violência e sem medo dela quando ameaçados, de maneira organizada, horizontal, solidária, com discurso forte de recuperação do poder pelo povo e de transformação radical do mundo para o bem comum, eco-logicamente coletivo e compassivo, pacíficos em atos e palavras, ainda que a maioria severamente reprimida pelo Estado, e através das demandas, coerentemente postas em prática de antemão na forma de atuar dos movimentos, de conscientização permanente sobre os assuntos de interesse público e de participação das pessoas em todos os processos decisórios: não é esse o significado original de democracia, tão assustador para o capitalismo e para os sistemas de desigualdade?
    Isso para não falar da marcha dos migrantes das Américas em direção aos USA, das ocupações populares e de indígenas para impedir construção de gasodutos (pipelines) em toda a América do Norte há pelo menos 3 anos, da discussão sobre refugiados em toda a Europa que se reflete no avanço da extrema-direita e na renovação do discurso e prática das esquerdas no continente (vale conhecer o DiEM25 e o European Spring), dos protestos no continente africano (no Sudão, um ditador já caiu depois de meses de povo-na-rua e a junta militar promete eleições; na Argélia, um presidente adoentado desistiu de concorrer à reeleição e como a pressão das ruas não refluiu, renunciou ao mandato e o povo já avisou que a pressão continua até ocorrerem eleições livres e democráticas; e são apenas dois exemplos mais recentes e simbólicos dos levantes populares que varrem o continente).
    E isso é apenas uma pequena fração dos 99%, mas já está colocando em marcha a máquina de destruição de reputação e de lavagem cerebral paga pelos bilionários quando sentem ameaça real aos seus privilégios – se não fosse por outro motivo, esse já seria suficiente para OUVIR e VER Greta: a jovem impecável, que tem síndrome de Asperger (espectro autista), tem sido atacada por publicações bancadas pelos Koch Brothers (se receberem feed da revista Spiked, deletem!, é um panfleto de extrema-direta), e já o fora por políticos de direita na Europa quando respondeu com a assertividade inexpugnável que a caracteriza e mantém imune no jogo sujo do poder no mundo.
    Espero que em breve a mídia dita independente e progressista do Brasi… deste lugar, acompanhe o ritmo do que acontece de bom no mundo, e dê espaço proporcionalmente menor aos imbecis predadores, e se quiser mesmo denunciá-los, é só mostrar quem, como e por quê, os está enfrentando pra valer.

    Para quem ficou interessadx, vou finalizar a legenda de um vídeo feito por terceiros, com edição de discursos de Greta, e divulgar em comentário neste GGN hoje ou amanhã: é simplesmente tão poderoso quanto tudo que de melhor as revoluções já produziram. Para quem apenas valoriza a luta de classes ou identitária e despreza a causa ambiental, por isso ignora o que ela fala ainda que a conheça como celebridade, saiba que Greta declarou que a primeira mulher que a impressionou foi a ativista negra por direitos civis dos USA, Rosa Parks, e recentemente em sua página na rede social, se juntou a protesto numa cidade sueca, “por democracia e contra o nazismo”, além de denunciar repetidamente a desigualdade e o padrão de vida dos abastadxs como algo a ser erradicado. Quem ainda não a conhece e não está interessadx, não sabe o que está perdendo.

    Caetano Veloso – Qualquer coisa
    https://www.youtube.com/watch?v=iNUsnjV3FIc
    https://www.youtube.com/watch?v=Zu1TVYd2atU

    “Esse papo já tá qualquer coisa
    Você já tá pra lá de Marraquesh
    Mexe qualquer coisa dentro, doida
    Já qualquer coisa doida dentro mexe
    Não se avexe não
    Baião de dois
    Deixe de manha, deixe de manha, pois
    Sem essa aranha! Sem essa aranha!
    Sem essa, aranha!
    Nem a sanha arranha o carro
    Nem o sarro aranha a Espanha
    Meça: Tamanha!
    Meça: Tamanha!

    Esse papo seu já tá de manhã
    Berro pelo aterro, pelo desterro
    Berro por seu berro, pelo seu erro
    Quero que você ganhe
    Que você me apanhe
    Sou o seu bezerro
    Gritando mamãe.
    Esse papo meu tá qualquer coisa
    E você tá pra lá de Teerã”

    Sampa/SP, 08/05/2019 – 17:03

Comentários fechados.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador