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Presume-se que sabia, que participou, que se beneficiou… por Percival Maricato

Presume-se que sabia, presume-se que participou, presume-se que se beneficiou…

por Percival Maricato

Após desgastarem Dilma e o PT, de um lado decorrência lógica de como se disputa o poder do governo no país (um dos poucos centros de poder disponível para disputa por toda  a população) e do amplo campo de ação do fisiologismo, de outro  graças à soma de erros que cometeram a Presidente e o partido, somado ao escândalo do Lava Jato, o foco da direita agora é liquidar com o prestígio do ex presidente Lula.

A tática é a mesma com que foi agravada a crise política: um delator fala algo, um procurador ou delegado abre um procedimento com base em uma cadeia de presunções, a mídia e a oposição repercutem, o foco fica no caso até que outro seja elocubrado. Denúncias e procedimentos podem ser desmentidos no futuro, alguns são claramente infundados, mas interessa o efeito político, o fogo continuado que impede o adversário de reagir. Quando este consegue demonstrar que uma denúncia é falsa, ou um tribunal a desmente, já há outra nas manchetes.

Nos combates políticos acirrados, inexiste o direito de defesa, o outro deixa de ser ouvido, prevalece a versão de quem tem poder e interesse em difundi-la, o objetivo de por na lona o adversário. O PT fez isso contra Covas, durante todo o governo do tucano, com a única diferença de usar então seu próprio poder de fogo, persistente e contínuo, a mídia repercutia da forma que lhe interessava.

Dizia-se quando Lula disputava a presidência que se eleito, iria obrigar a classe média a dividir seus apartamentos com os sem teto, que o dólar explodiria, que imporia o comunismo (extrema ironia para quem desenvolveu tanto o potencial do capitalismo, cuja prioridade é o aumento do número de produtores e consumidores dentro de determinado mercado). No momento as acusações são mais sofisticadas.

O melhor que faria o denunciado nesses casos de presume-se, o de Lula é exemplar, não seria esperar que o STF decidisse se é justo ou não o pedido da Polícia para ouvi-lo, mas apresentar-se no dia seguinte à mesma para responder a acusação, evitando-se que servisse de repasto midiático por vários dias, com uma única versão, baseada em o delator disse ou teria dito, ou do que teria dito pode-se presumir que….  Quando a suspeita é levantada pelo político de oposição sobre um episodio concreto, deveria pedir imediata e pública acareação. E depois pedir indenização por dano moral em juízo cível, o que permitiria discutir o episódio em outra sede, onde as oportunidades são bem mais equivalentes e o acusador viraria acusado. O risco é que elas se multipliquem, vez que não falta gente atrás de prestígio.

Em outros tempos, ou nos tempos atuais, mas com outras pessoas, jamais se poderia abrir processos inquisitoriais contra personalidades de prestígio interno e internacional, baseado em tanto presume-se (da autoridade, é claro, pois totalmente subjetivo). Muito menos difundi-las de forma escandalosa, quando qualquer efetividade depende de apreciação de instituição de hierarquia superior.

A abertura de procedimentos inquisitoriais contra Lula, o próximo alvo,  único obstáculo a que a oposição vença a eleição de 2018, tende a se multiplicar. Tanto bombardeio, certamente conseguirá algum efeito, difícil saber se decisivo, pois as fontes desse tipo de denúncias também se desgastam. Uma pena para as próprias instituições, que deveriam defender prestígio, imagem e poder, tão importantes em momentos como o que passamos, junto a toda a população do país.

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6 Comentários

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  1. As capas das revistas semanais e seu tom monocórdio…

    Sou assinante ultra decepcionado, de mais de 20 anos, de uma delas e já comuniquei que não renovo assinatura nem que me paguem muitas propinas….aliás, Veja, Isto É ou Época, são todas elas farinha do mesmo saco, enfim servem apenas para se aproveitar como papel reciclável….e tem tido um odioso procedimento em comum: promover o ódio através de invenções de fatos, potencializando e divulgando inverdades a seu bel prazer…

    Entendo que o PT através de sua area jurídica já deveria ter entrado a justiça cobrando explicações sobre cada denúncia, exigindo provas cabais de jornalistas que as assinaram  e indo buscar reparação judicial dos danos…cada matéria, uma ação e não apenas do partido, mas também da pessoa atingida em sua reputação pessoal e profissional…

    Direito de resposta, via justiça, só se for imediato através de mandato de segurança ou outro caminho jurídico, de tal forma rápido que não se venha a repetir o caso Leonel Brizola x Rede Globo de Televisão, e mais, que o direito seja exercido pelo partido e/ou parlamentar atingido com o mesmo destaque da ofensa… 

  2. O homem que escreveu este

    O homem que escreveu este artigo é advogado; e dos mais renomados. Presume-se (para usar um verbo tão caro a delegado federal e procurador negligente, que se acham com o direito de indiciar, processar e encarcerar o ex-presidente Lula) que muito experiente e conhecedor profundo da Lei Brasileira.

    Assim como tem sido a tônica de vários ‘intelectuais’ que se auto-intitulam ‘esquerdistas’, cujos artigos são publicados neste blog (Wanderley Guilherme dos Santos e Aldo Fornaziere são dois exemplos clássicos, mas há outros), Percival Maricato tenta passar uma “neutralidade” que não convence os leitores atentos, experientes e bem informados que lêem o blog. Vou reproduzir o terceiro parágrafo do texto, antes de comentá-lo.

     Nos combates políticos acirrados, inexiste o direito de defesa, o outro deixa de ser ouvido, prevalece a versão de quem tem poder e interesse em difundi-la, o objetivo de por na lona o adversário. O PT fez isso contra Covas, durante todo o governo do tucano, com a única diferença de usar então seu próprio poder de fogo, persistente e contínuo, a mídia repercutia da forma que lhe interessava.

    Observem os leitores que o tópico frasal é aquele típico de quem criar no leitor uma forte expectativa para o desfecho. Mas esse desfecho decepciona não porque eu seja petista e não apenas aos petistas ou simpatizantes do partido. Decepciona porque compara instituições de natureza diferente. Ora, de um partido de oposição espera-se justamente que ele faça oposição firme, contínua, bem fundamentada, explorando os pontos fracos do adversário e não dando a este tempo de reagir aos ataques políticos. De uma oposição política espera-se exatamente isso. E nenhum leitor politizado, de boa índole, se mostra revoltado pelo fato dos peessebistas e demistas fazerem oposição política aos governos do PT. A indignação dos leitores democratas, ciosos dos deveres e direitos dos cidadãos, respeitadores das leis e das instituições é com o golpismo, é com a atuação político-partidária por parte de quem não recebeu mandato para isso. Nossa indignação é com a atuação político-partidária da mídia comercial, de intituições como a PF, o MP e o PJ, cujos servidores não são eleitos pelo voto popular e que não têm a prerrogativa de exercer funções políticas. Portanto a citação do PT e a forma como o partido atuava, quando era oposição, não pode, de forma alguma, ser comparada à descarada atuação político-partidária da mídia comercial, da PF, do MP e do PJ, atualmente. O PT é um partido político; é legítimo, portanto, que atue polìticamente; os atuais partidos de oposição têm, também, essa mesma legitimidae. Mas não a têm a mídia comercial, a PF, o MP e o PJ.

    Não me canso de enfatizar: a técnica de ‘uma no cravo, outra ferradura’ quer mostrar uma falsa neutralidade que não convence.

  3. Um democrata contra o impitmam

    Deputado pelo DEM do Mato Grosso do Sul, Luiz Henrique Mandetta tem chamado a atenção de seus pares pelas críticas que tem feito à proposta de impeachment. E não o faz por governismo, mas por achar que a oposição só perderia tirando a presidente Dilma Rousseff da presidência para ficar com sua cadeira e seus problemas. Leia sua entrevista concedida à jornalista Tereza Cruvinel, do 247.

    Leia a integra: http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/196779/Um-democrata-contra-o-impeachment.htm

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