Privilegiado de verdade não precisa de aposentadoria para viver, por Adriano Corrêa

Privilegiado de verdade não precisa de aposentadoria para viver

por Adriano Corrêa

Personalidades públicas martelam diuturnamente que é preciso acabar com privilégios na previdência.

No governo Temer, o maior apologista da reforma da previdência foi Meirelles. No atual governo, Guedes assumiu o posto. Ambos fizeram fortuna no mercado financeiro.

Dia desses deparei-me com artigo do publicitário Nizan Guanaes intitulado ‘Vamos salvar a previdência’, publicado na Folha. Uma entusiasmada defesa da reforma. Tratava-se não de reformar, mas sim de salvar a previdência, dizia. Senão, não conseguiríamos sequer pagar os aposentados. Para Nizan, “Não é uma medida fria, liberal. É uma medida humana”.

A Istoé Dinheiro anunciou o primeiro bilhão de Nizan em novembro de 2015.

Já reparou no que os três têm em comum?

Meirelles, Guedes e Nizan integram o seleto clube dos multimilionários brasileiros.

Jamais precisarão de aposentadoria. Acumulam riqueza capaz de assegurar uma vida rica até a quinta geração, pelo menos.

Em tabelinha com a grande mídia, fazem das tripas coração para convencer incautos de que o sacrifício é necessário. Elegeram o privilégio como mote e o funcionário público como alvo.

O privilégio? Passar em concurso público, pagar 11% sobre o bruto, não receber a dupla contrapartida do governo – como empregador e como Estado, continuar descontando, mesmo aposentado, até morrer, para fazer jus à aposentadoria acima do teto, de R$ 5.839,45.

Desde 1988, ao menos cinco grandes alterações foram promovidas na Previdência Social, em especial no regime próprio dos funcionários públicos. Em 1998, fixou-se idade mínima aos 53 para funcionário público. Em 2003, a idade mínima foi ampliada para os 60 e extinta aposentadoria integral, a partir de 2004. Desde 2013, funcionário público se aposenta pelo teto do INSS.

Restou o direito adquirido à aposentadoria integral para quem ingressou no serviço público antes de 2004.

É o que pretendem fulminar agora, sem qualquer regra razoável de transição.

Arautos da reforma não descansam enquanto não cortarem na carne da classe média e dos mais pobres. Quem quiser ganhar acima do teto, que compre uma previdência privada, alardeiam.

Esfregam as mãos com a perspectiva de muito lucro com a brutal transferência de poupança pública para o capital privado, com o regime de capitalização, que transformou adultos de classe média em idosos pobres, no Chile.

Com desenvoltura, apregoam que é irresponsabilidade pagar salário mínimo aos mais vulneráveis. Para eles, BPC de 400 reais está de muito bom tamanho.

Os ricos do Brasil são muito mais ricos do que se imagina. São super-ricos. E ficam mais e mais ricos a cada dia que passa. Recente relatório da ONG britânica Oxfam a respeito da desigualdade social no Brasil revelou que os seis brasileiros mais ricos concentram a mesma riqueza que os 100 milhões de brasileiros mais pobres – metade da nação.

É essa gente do andar de cima, a nata que integra a lista de bilionários da Forbes, que detém o injustificável privilégio de não pagar um centavo sequer de imposto de renda sobre os milionários lucros e dividendos recebidos.

A Previdência Social brasileira é o maior programa de redistribuição de renda do mundo. Para eles, isso não importa.

Antes de mexer no sistema de proteção social, é fundamental fazer com que os ricos comecem a pagar a conta, por meio de uma reforma tributária solidária.

Não se deixe enganar.

A turma do dinheiro grosso é a verdadeira privilegiada.

E já passou da hora de convocá-los a comparecer.

Adriano Corrêa é auditor-fiscal da Receita Federal, diretor jurídico do Sindifisco Nacional no ES e integra o coletivo Auditores-Fiscais para Democracia.

 

Redação

Redação

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  • A previdência tem que ser igual para todos, mesmas regras,sem paridade, mesmo valor,mesmo tempo, etc isso deveria ser a reforma. PS texto bem ridículo acima proteger os que ganham uma fortuna de aposentadoria?

  • Tinha que ter ligação com SINDICATOS.
    Ò, Babaca. Em todos os países do mundo existem os que você chama de "privilegiados", ou seja, os ricos e milionários. Esses, excluindo-se àqueles que chegaram a essa condição de forma ilícita, não são bandidos e são os que propiciam emprego aos mais "desafortunados". O povo sem grandes recursos ou posses financeiras avantajados, sempre haverá em qualquer parte do mundo e, dependendo de quem ele elege para lhe representar, terá que sofrer as consequências malignas quando escolhe mal. É você é um desses "MALES" que existem e, quando surge um governante que tenta mudar o mal para o bem, vem com essas "hipocrisias" tentando iludir o povo, aliás, que é o que vocês fazem muito bem: mentir, iludir, seduzir, enganar os incautos e desapercebidos inocentes a se tornarem "idiotas úteis".

  • Diga-se que a EC 20/98 ainda estabeleceu um pedágio de vinte por cento sobre o tempo que restaria ao servidor para atingir os 35 anos de serviços...exemplo: para quem tinha vinte anos no serviço público faltariam quinze anos, portanto, tiveram que trabalhar mais três anos, além do tempo que lhe restava de trabalho! Posteriormente a EC 41/2003 combinada com a EC 47/2003, como profundo desrespeito às cláusulas pétreas constitucionais trouxe mais mazelas aos servidores com novas regras e nova transição, punindo os jovens que iniciaram sua fase laboral aos 14 ou 15 anos de idade...Em síntese, não há segurança jurídica em nosso país, o que há é epistemologia...

  • Concordo plenamente com o artigo, mas infelizmente vivemos ainda como se estivéssemos na idade média, os afortunados e os vivem a margem deles E o que é mais triste nessa história, agora no século 21, é de que quando alguém vislumbra caminhos diferentes, querem a mesmice de sempre, os poderosos endinheirados a frente de tudo e todos.

  • "... e são os que propiciam emprego aos mais “desafortunados”. "
    Dão emprego porque precisam de gente para produzir sua fortuna e não porque são "bonzinhos".

  • Que privilegiado não precisa, não precisa, isso é fato. Mas, isso não quer dizer que não queira usufrui-la prazeirosamente às expensas do povo.

  • É isso aí Juca e Gilberto Silva. Defendam com unhas e dentes seu dirito de sustentar os nababos deste país
    Que tal juntar às unhas e dentes um pouco de massa encefálica. É só uma sugestão.

  • A vida é justa e mais cedo do que esses bilionários pensam eles podem acabar a vida com um rendimento básico de salário mínimo, com já vi acontecer com banqueiros e industriais milionários.

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