PSDB finge que não ouviu Lara Resende, por Paulo Moreira Leite

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Paulo Moreira Leite

Depois de ler as opiniões do economista André Lara Resende sobre a Operação Lava Jato, proferidas numa conferência em Nova York e registradas pela correspondente Taís Bilenky, da Folha, convém perguntar o uso que o PSDB e o DEM pretendem fazer delas. A pior atitude seria fechar os olhos, tapar os ouvidos e a boca, como têm feito até aqui. 

Um dos mais influentes cérebros do mercado financeiro, interlocutor frequente de Fernando Henrique Cardoso, Lara Resende aponta para um cenário de tragédia política e econômica no horizonte. Diz que impeachments  sempre são “traumáticos” e que o afastamento de Dilma Rousseff deve ser evitado. Não é só.

Enquanto o Ministério Público faz campanha para transformar a corrupção em crime hediondo, Lara Rezende deixa claro  que os indícios de corrupção “sistêmica” no país colocam a necessidade de se discutir uma pacificação entre as partes — e não a lógica da vingança e do conflito.

Lembrando o valor insubstituível de uma vida humana, vai um pouco mais fundo na crítica a campanha do MP. Faz questão de dizer que não acha corrupção “mais grave que assassinato.”

Rejeitado a noção de que o remédio infalível para mais crimes é mais punição, ele disse: “Minha impressão é que, quando você tem uma crise como a que temos no Brasil, a forma que podemos usá-la para provocar uma mudança é dizer: Vamos começar do zero, vamos superar o passado”, diz Lara Resende. 

Rompendo a melodia ufanista em torno do juiz Sérgio Moro e da Força-Tarefa do Ministério Público, diz que “alguns procuradores” fazem uma “oposição totalitária fascista”, sublinhando, numa observação que ajuda a entender a gravidade do que ocorre hoje, que o “clima emocional” do país  “está muito propício a esse modo de lidar”.  

Em resposta ao questionamento de uma estudante, Lara Rezende cita a “Mani pulite”, que investigou esquemas de corrupção na Itália, nos anos 1990. Seu balanço: “Deixou o país completamente desmantelado, causou o colapso dos dois principais partidos e o que veio depois? [O ex-premiê Silvio] Berlusconi.”

Cabe registrar que nenhuma observação de Lara Resende ganharia o prêmio de originalidade nos debates sobre a Lava Jato. Nem é isso o que importa.

O importante é sublinhar um ponto. Críticas que até há pouco eram descartadas como pura invenção de aliados do governo  começam a ser reconhecidas como verdade por vozes que se encontram do lado oposto do espectro político.

Lara Resende é um adversário assumido e rigoroso das principais linhas de política econômica implantadas no país a partir de 2003. Não custa lembrar que, como presidente do BNDES, esteve a frente dos programas de privatização de estatais no governo FHC.

Não é preciso concordar com a visão de mundo de André Lara Resende – a quem fiz críticas duras neste espaço ao longo da campanha de 2014 – para reconhecer o valor de sua conferência. Ela ocorre num momento em que o  país se encontra às voltas com permanentes demonstrações de desonestidade intelectual, que ajudam a alimentar uma crise em larga medida artificial.

Leia mais: Como a Lava Jato foi pensada como uma operação de guerra

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Fascismo Pós-Moderno

    Concordo com Lara Rezende: a operação Lava-Jato não tem por objetivo combater a corrupção.

    O objetivo é político e fascista, como qualificou Lara Rezende.

  2. Está certo em tudo?

     

    Parece que Lara resende está certo, quando se considera somente o lado econômico. A lava jato é ruim para a ecônomia.

    Sua opinião sobre a tipificação do crime de corrupção tem o mesmo peso de uma pessoa comum, pois ele é um economista. 

    Para a democracia a Lava Lato é excelente. Ver mega poderosos donos do capital na cadeia, como Marcelo Odebrecht, cria a esperança que o Brasil não coloca somente negros e pobres na cadeia. Essa é a realidade que a esquerda sempre pregou e agora repudia por conveniência política.

    O desafio agora é colocar políticos na cadeia com penas adequadas para os crimes.

    A aparição de Silvio Berlusconi após o “Mani Pulite” não serve como justificava para continuarmos sendo um pais permissivo e injusto.

    Conversava com um amigo italiano que me dizia orgulhosamente: “A justiça italiana não é subordinada aos politicos como a brasileira. Essa semana o vice gorvenador da região da Lombardia foi preso e algemado por corrupção pelos Carabinieri, ironicamente, quando entrava em uma conferência para discussão sobre o combate a corrupção”.

    Certamente a operação Mani Pulite foi traumatica, porém trouxe amadurecimento para aquele pais e contribuiu para uma sociedade mais justa.

    Moro age com indepêndencia. Esse é a postura correta.

    Atualmente, o grande problema para a melhoria da nossa democracia está na relação simbiótica entre os ministro do STJ e o governo. 

  3. Não precisar ter medo

    Se André Lara Resende fez essas declarações e não posso duvidar pela credibilidade de PML, ele André está tentando apagar o fogo dos seus parceiros tucanos, MP, juiz Moro, Gilmar Mendes insandecidos e esquisofrênicos, pode ficar tranquilo que essa turma não incomoda tucano, principalmentes os gordos.

    Pode continuar a transportar seus cavalos de avião da sua Quinta, de Portugal para Londres, sem nenhum problema.

    A sua riqueza as custas dos roubos do Plano Real, Privataria etc. em nada difere dos seus companheiros congressistas aqui no Brasil.

    Take easy!

  4. Imagino se essa seria opinião

    Imagino se essa seria opinião do PT se ele fosse a oposição e o governo do PSDB estivesse sendo investigado. Hipocrisia pouca é bobagem. Ora bolas!!!

  5. Lava jato: Lugar onde Juiz vira Político e Delegado vira Juíz

    Delegados chamam a Porca-Midia para sentenciar pessoas como fossem Juízes e estivessem num Tribunal.

    Juíz vai a Lide como estivesse no Cobgresso Nacional e defende projeto de lei de sua autoria.

     

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