Psol e PT traíram o Rio de Janeiro, por Roberto Bitencourt da Silva

Ambos os partidos não fizeram qualquer esforço coletivo para gestar uma candidatura plausível e com chance de chegar ao 2º turno, senão mesmo competir com possibilidades.

Psol e PT traíram o Rio de Janeiro

por Roberto Bitencourt da Silva

O segundo turno da eleição na cidade do Rio de Janeiro foi lamentável. Eduardo Paes e Marcelo Crivella, dois candidatos reacionários, satelizados pelo bolsonarismo, são personagens políticos amplamente comprometidos com a agenda neoliberal, lesiva aos trabalhadores e vende pátria, patrocinada pelo golpismo de 2016.

Os números finais, contudo, tendem a demonstrar o cansaço e a racionalidade de faixas significativas do eleitorado carioca, o desprezo com líderes, esquemas e processos políticos que tanto têm causado estragos à qualidade de vida no município. As abstenções alcançaram 35,5% dos eleitores, número superior ao obtido pelo eleito, Eduardo Paes. Se somarmos com votos nulos e brancos, o conjunto da alienação eleitoral chegou a quase 50%.

A maioria do eleitorado carioca revelou não se identificar com as duas sombrias candidaturas. Também demonstrou rejeitar os esquemas políticos inconfessáveis e alheios que contribuíram para essa parelha nefasta no 2o turno, esquemas sobretudo oriundos de certas paragens das esquerdas. De fato, uma “vitória” estrondosa da rejeição e do desprezo.

Psol e PT têm muita responsabilidade no desenho do 2º turno, que terminou por ser moldado por campanhas ultraconservadoras e nocivas aos interesses populares, dos servidores públicos, dos estratos médios da sociedade, das populações trabalhadoras, marginalizadas e residentes nas áreas periféricas e faveladas.

Ambos os partidos não fizeram qualquer esforço coletivo para gestar uma candidatura plausível e com chance de chegar ao 2º turno, senão mesmo competir com possibilidades. Boicotaram a candidata do PDT, Martha Rocha, que possuía boas chances segundo as sondagens eleitorais. Desqualificaram-na, com insistência.

Martha estava longe de ser uma candidatura ideal, mesmo consensual, mas serviria para ao menos arejar a disputa, com uma circulação de lideranças e grupos políticos. Todavia, encerrado o 1º ato, Psol e PT cerraram fileiras enviesadas e às vezes despudorados apoios em favor de Paes. Saltou à vista, o Rio esteve longe de encontrar-se no raio de suas atenções.

A respeito, ver artigo publicado no apagar das luzes do primeiro turno: https://jornalggn.com.br/artigos/um-cheque-em-branco-para-eduardo-paes-por-roberto-bitencourt-da-silva/

Em 2018, a cúpula do Psol abdicou da democracia interna na escolha para presidente da República e impôs o nome de Guilherme Boulos. O candidato do beija mão no Lula, que não apresenta qualquer visão consistente sobre os desafios brasileiros, pouco se distanciando da agenda e dos infecundos esquemas de percepção do petismo. Foi a pior votação já alcançada pelo partido em uma corrida presidencial. Sofrível. Até hoje o partido não ofereceu uma avaliação criteriosa sobre o ocorrido e o desempenho eleitoral de então.

O Psol tem as suas principais bases sociais, eleitorais e organizacionais na cidade do Rio. Mas, preferiu esvaziar as possibilidades alternativas na cidade para, uma vez mais, apostar no jovem paulistano, agora em uma eleição municipal. Foi uma verdadeira traição ao Rio. Exatamente a cidade em que, eleição presidencial após eleição, sempre, sempre, os candidatos menos conservadores e mais divergentes do poder alcançam as votações mais significativas no Brasil.

Entretanto, isso foi desprezado pelo Psol. Em regra, é algo absolutamente desvalorizado nos arranjos eleitorais da cidade e do estado, promovidos pelo PT. Sejamos francos: informalmente, o PT articulou-se, no beijo da morte e da desesperança. E sempre foi um inimigo do Rio.

Sempre. Desde a tanguinha do Gabeira, contra Darcy Ribeiro, passando pelos Jorge Bittar da vida, que faziam coro com a Globo contra os CIEPs, chegando aos afagos carnais e gostosos com o PMDB de Sergio Cabral, Eduardo Paes, Jorge Picciani. Nos cálculos políticos, secretarias de governo no estado e na prefeitura. A cadeira de vice-prefeito com Paes. O petismo alegava que a governabilidade nacional exigia esse preço. O povo do Rio em holocausto para benefício de esquemas eleitorais e partidários em outras praças.

O Rio é sempre tratado, pelo PT, como item de transações negocistas e, não raro, espúrias. Procura-se fortalecer outras localidades, especialmente São Paulo, em prejuízo da cidade. O Psol nesta eleição resolver seguir os seus passos. Uma iniciativa esdrúxula, porque o PT ainda pode argumentar que São Paulo é a sua casa de origem e demanda maior atenção. Não é o caso do Psol.

Das esquerdas partidárias, o Rio de Janeiro requer ações eleitorais as mais responsáveis e rigorosas possíveis.  Atitudes que, no momento, estão longe de ganhar acolhida entre as esquerdas atuantes no Rio. Também é imperioso para a cidade a realização de iniciativas abnegadas, efetivas e sistemáticas de politização da nossa gente trabalhadora, humilde, favelada, periférica, no cotidiano.

Existe uma geografia do poder. Na cidade do Rio encontram-se as sedes da Globo, da Record, da Igreja Universal e das milícias – a nova e emergente lumpemburguesia criminosa da acumulação primitiva e sanguinária do dia-a-dia. Convenhamos, não é pouca coisa. Tratam-se de vetores e instituições centrais no exercício do poder no Brasil de hoje.

Enquanto se fazem futricas, traquinagens táticas em torno de votos, de apoios e de cadeiras em governo e parlamentos, enquanto proliferam disputas egóicas de vaidades, o tempo está para se esgotar. Se os comportamentos e as escolhas das esquerdas não se modificarem, a consolidação da barbárie será irreversível no município. Com óbvias e cada vez mais nítidas, terríveis e traumáticas repercussões para o País.

Roberto Bitencourt da Silva – cientista político e historiador.

Redação

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Concordo com a linha geral mas há que se frisar a responsabilidade de Marcelo Freixo nessa derrota no RJ. Tivesse ele sido candidato, seria naturalmente o agregador dos votos e estaria no segundo turno. Não quisesse ser candidato, deveria trabalhar para uma frente de apoio maior que o próprio partido. PSOL_RJ errou feio demais nessa eleição.

  2. O problema do Rio são os evangélicos e as milicias. Eles dominaram a cidade. Pode fazer a campanha que for, a lavagem que o pastor faz sempre é maior. Para ter chance no Rio, primeiro precisar combater esses dois fatores, ou se alinhar a eles.

  3. Como essa turma do PDT insiste em colocar o PT como seu inimigo, isso já é caso de terapia, o inimigo é a Direita que tirou a Dilma e quis eleger o Alkimin mas foram atropelados pelo Bolsonaro e eles voltaram como salvadores da Pátria , essa turma ganhou de lavada em : Porto Alegre, Curitiba, Florianóplis, São Paulo, Rio de Janeiro, et…
    Quero saber qual foi o voto que seu grupo tirou dessa turma ? eu respondo : NENHUM ! Então para com esse negócio de apontar o dedo e vamos a luta por que a coisa
    Tá difícil pra nós meu irmão !

  4. O problema é que sempre aparece um falso propedeuta, anti-hermeneuta, pretenso exegeta, pseudo esquerdista e amigo da onça para, com suas “análises isentas”, arranjar motivos para culpar o PT e a esquerda por todos os males de Pindorama. Tome tento, sujeito. Desça do pedestal, dispa-se da arrogância e assuma seu papel de sempre: direita enrustida. Sempre procurando um motivo para condenar a esquerda e justificar seus arroubos de falsa poranduba.

  5. A população do Rio de Janeiro é que vem traindo os que os ajudaram, e isso faz muito tempo.
    Tudo que é pior em nossa política sempre conseguiu se eleger no Rio.
    Agora, aguentem as consequências sem culpar os outros.

  6. O ‘cientista político e historiador’ que despejou esse caminhão de dedos indicativos ‘unhudos’, cá no GGN, tem a obrigação de saber ser o fato, matéria prima às lidas em que anuncia-se especialista, e ele, o fato, em relação ao caso, escancara que Freixo do PSOL, com grandes possibilidades de ser eleito para governar a cidade ‘sebastianista’, colocou-se como candidato, desde que representando a frente da esquerda.

    O PT topou de imediato, sem contrapartidas, mas a frente tornou-se fria com as recusas do PC do B, às voltas com as cláusulas de barreira, e do PDT, às voltas com os carros alegóricos ‘progressistas’, Delegada Martha, no Rio, e Márcio França, em São Paulo.

    Freixo então deu uma paradinha, retirou a bateria ‘frente única’ da passarela, tentou retornar a pedidos, quando a pista livre, mas a destaque substituta do PSOL de pronto impediu, e cada um botou o seu destaque pra desfilar e deu no que deu…

    Enquanto as destaques, Delegada e Benedita, enroscadas nos resplendores não evoluíam, mestre sala Paes e o porta-bandeiras Crivella alcançavam a praça da Apoteose, ovacionados pelo público, esplendidamente revelado por Orides no comentário: “A população do Rio de Janeiro é que vem traindo os que os ajudaram, e isso faz muito tempo.”

    E bota tempo nisso…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador