PT assistiu ao desmantelamento da EBC da mesma forma que reagiu ao golpe, diz Ricardo Melo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Ricardo Melo

Grito parado no ar

No Conversa Afiada

Foi preciso um ator de renome, num momento de rara altivez nos dias de hoje, para que o drama brasileiro viesse a público sem disfarces. Convidado para um programa na TV Brasil, da Empresa Brasil de Comunicação, Pedro Cardoso rasgou o verbo literalmente. A empresa está em greve, e ele não fora avisado. Ao vivo, disse desconhecer a fundo as reivindicações dos funcionários, mas soube que o movimento era contra um governo golpista, o que, para ele, já dizia o suficiente.

Pior ainda: por aqueles dias, o interventor nomeado para dirigir a EBC, Laerte Rímoli, divertia-se reproduzindo memes infames de cunho racista contra a atriz Taís Araújo. Cardoso reagiu como a maioria do povo brasileiro gostaria de reagir, mas não consegue ou por descrença ou por falta de quem lhe ofereça alternativas viáveis para derrubar a quadrilha que assaltou o Planalto. Aposta-se tudo no pleito de 2018, que ninguém pode assegurar que vá ocorrer como eleições de verdade, se é que urnas serão abertas.

O que vem ocorrendo na EBC desde o golpe é um microcosmo do ambiente predominante desde a queda da presidente eleita Dilma Rousseff. Vale rememorar as semelhanças. Logo após o afastamento inicial de Dilma, a primeira medida do governo Temer foi investir contra a empresa de comunicação pública. O que mais desgostava os golpistas é que a empresa se mostrava na prática, num universo asfixiado pela mídia sob encomenda, numa ilha de liberdade, apartidarismo, pluralidade e diversidade –exatamente como havia sido proposto pelo seu documento de fundação em 2007/2008.

Durante a batalha do impeachment, de forma inédita vozes como os sem teto, sem terra, blogueiros, movimentos estudantis, feministas, oposicionistas tiveram espaço para se expressar fora de redes sociais e manifestos restritos a grupos específicos. Sem que, em nenhum momento, as portas da empresa fossem fechadas aos que defendiam o impeachment. Estes sempre tiveram assento garantido, quando quiseram, nas mesas de debate e programas de opinião nos diferentes veículos de comunicação da emissora: televisão, rádio, agência de notícias, portal. Foi um momento histórico na vida da EBC.

Tão histórico quanto insuportável para a camarilha de ladrões de votos e de dinheiro público. Fingindo civilidade, o ministro Eliseu “quadrilha” “fodão” Padilha chegou a oferecer ao presidente da EBC, Ricardo Melo, uma saída “honrosa”, com o mesmo aroma fétido exalado por todas as iniciativas desta gente. A proposta: que Ricardo Melo se afastasse em troca de algum cargo na diretoria da emissora ou mesmo no governo.

Qual não foi o susto de “quadrilha fodão” quando recebeu a negativa. Ricardo Melo havia sido indicado para um mandato de quatro anos recém-iniciado e tinha compromissos, todos estabelecidos no estatuto da EBC, com a defesa da comunicação pública. Sua saída do mandato seria uma traição a estes compromissos, firmados em sua posse ainda durante o governo da presidenta eleita.

Os golpistas registraram o fato, não sem antes demonstrar sua ojeriza ao descobrir que nem todos estão à venda em troca de empregos garantidos custeados pelo suado dinheiro do povo brasileiro. O ódio da máfia do Planalto só fez crescer. Diante da recusa, temer assinou por conta própria o afastamento do presidente da EBC e nomeou Laerte Rímoli como títere na empresa. Este “tomou posse” numa cerimônia clandestina e começou a distribuir canetadas contra quem não jurasse fidelidade à quartelada parlamentar. Voltaremos a Rímoli um pouquinho abaixo.

Como naquele tempo ainda se pensava haver algum resquício de justiça no Brasil, o presidente legítimo da EBC foi ao Supremo com a ajuda do advogado Marco Aurélio Carvalho e de colegas da diretoria afastada arbitrariamente. O ministro Dias Toffoli, encarregado do processo, deu razão a Ricardo Melo e o manteve no cargo. Seguiu-se então um período de resistência aos planos de desmontar de vez a primeira iniciativa de construir no Brasil uma rede de comunicação pública, como existe em diversos países do mundo onde vigoram democracias mesmo incipientes.

Para deixar claro que a defesa dos compromissos originais estava de pé, uma das primeiras medidas de Ricardo Melo foi levar ao ar uma entrevista da presidenta eleita Dilma Rousseff já afastada pelo Senado, mas ainda não golpeada de forma definitiva, realizada pelo jornalista Luis Nassif. O ódio dos golpistas, então, transformou-se em caça aberta, sem tréguas ou dignidade de instrumentos. Em reuniões, os representantes de temer propunham abertamente o fechamento da empresa. A torneira de recursos, já escassos, foi praticamente cerrada. Mas a resistência prosseguia.

Os golpistas então lançaram mão de seu arsenal conhecido de truculências. O elo mais frágil, no caso, situava-se justamente no judiciário. Toffoli era contra o afastamento? Então trata-se de incinerá-lo. Poucos dias depois, a revista Veja estampou em sua capa a figura do ministro acusando o escritório da mulher dele de negócios escusos. Em seguida, temer baixou mais uma medida provisória afastando de novo o presidente Ricardo Melo, dissolvendo o conselho curador –encarregado de zelar pelos princípios de fundação da EBC—e transformando as nomeações da diretoria em assunto exclusivo do Planalto, com direito a demissão sumária, trocas ininterruptas e alinhamento automático com os golpistas.

Após a capa de Veja, Toffoli roeu a corda rapidinho. Os motivos têm que ser perguntados a ele. O fato é que tudo aquilo que o ministro meses antes considerava aberração, inconstitucional e fruto do arbítrio transformou-se em direito “legítimo” de temer e seus bandoleiros. Alguma semelhança entre esta atitude e a de agora, quando Toffoli pediu vistas providenciais no processo de foro privilegiado, e isso poucos dias depois de uma visitinha a temer no jaburu sem qualquer motivo aparente? A resposta vai de cada um.

Aqui voltamos a Rímoli. O cidadão sempre teve fama de ecumênico e amigo do peito de todos os chamados “coleguinhas”. Promovia festas em Pirenópolis, nas cercanias de Brasília, onde não faltavam fantasias carnavalescas, performances esquisitas, bebida farta e um ambiente em que a falsidade dos sorrisos traía a vontade de chamuscar tais amigos à primeira oportunidade. O amigo dos amigos, a esta altura, já havia abandonado há tempos qualquer atração por jornalismo sério ou honrado. Depois de pular de galho em galho por campanhas políticas tucanas e assessorias de políticos encrencados, seu último cargo antes de virar interventor era o de homem forte de comunicação da câmara sob comando de… Eduardo Cunha!

Não estranha, assim, que Rímoli tenha exibido esta verdadeira face desde que assumiu de novo o comando da EBC. A censura a notícias “desagradáveis” tornou-se mandamento obrigatório. Demitiu sem dó nem piedade figuras como Tereza Cruvinel, jornalista política consagrada e responsável maior pela criação da EBC, além de ser a mais notável e preparada defensora da comunicação pública no Brasil. Tereza foi afastada com um bilhete entregue por um motoqueiro. Detalhe: Rímoli, em suas baladas de Pirenópolis e nas noitadas em Brasília, fazia questão de destacar sua amizade inquebrantável com Tereza quando esta dispunha de algum poder.

A qualidade destes laços e do caráter de Rímoli pode se medir pelo que aconteceu com Tereza e dezenas de outros funcionários que dedicaram quase uma década em defesa da EBC. Como pode se aferir também pelos meses de salário recebidos por Rímoli mesmo enquanto esteve afastado da empresa. Recebeu sem trabalhar. Alega que a lei prevê este escárnio –como é fato, assim como prevê auxílio-moradia a procuradores e juízes que não precisam disso, farras de passagens aéreas, auxílios-paletó e outros do gênero e, vamos e venhamos, lei que agasalha até golpes de estado desde que os justiceiros de momento assim o desejem por “convicção”.

A lei só não consegue mascarar o caráter dos indivíduos. Rímoli fez questão de deixar isto claro com sua última boutade de mau gosto. Em pleno horário de trabalho, deleitou-se a disparar posts racistas ridicularizando a atriz Taís Araújo. Fez isso usando o próprio computador da emissora, pago com dinheiro público assim como seu salário que ele próprio elevou ”com base na lei” após assumir (importante: a diretoria anterior havia congelado os vencimentos dos diretores e do presidente em razão das dificuldades da empresa e em respeito às demandas salariais do conjunto dos funcionários.) O “amigão” Rímoli revelou-se apenas um temer em miniatura, se é que pode haver algo ainda menor que o personagem vestido de golpista-chefe.

É bom que se reflita sobre tudo isso, a começar dos próprios petistas. Apesar da resistência da diretoria anterior, deposta ditatorialmente, os petistas assistiram ao desmantelamento da EBC da mesma forma atordoada como reagiram ao golpe contra a presidente eleita. Golpe que foi tramado às escâncaras por meses e meses, sob olhares desorientados dos então governistas.

Chegou-se ao ponto de, na véspera da votação decisiva sobre o impeachment, gente graúda do PT considerar que o golpe seria barrado com folga pelo parlamento bastardo. O resto já se sabe. No caso da EBC, iniciativas como uma ação direta de inconstitucionalidade ou o questionamento da medida provisória –ilegal sob todos os aspectos, inclusive no quesito de urgência e interesse público que rege a legislação sobre MPs—foram deixadas de lado. A toalha foi jogada ao chão para desalento de quem acreditava na combatividade dos representantes do governo legítimo.

Sem esse balanço sobre a atuação daqueles que hoje se dizem oposição, a revolta de Pedro Cardoso, assim como de todo o povo, ficará apenas como um grito parado no ar.

 

Ricardo Melo é ex-presidente da EBC

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

22 Comentários

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  1. Golpe de estado

    O Ricardo o país sofreu um golpe de estado, o que o sr queria que o PT fizesse para salvar nao so a EBC mas o Brasil inteiro ? 

  2. EBC

    Não concordo com a posição do Sr. Ricardo Melo de culpar o PT pelo desmantelamento da EBC.Fiz parte de uma manifestação que foi prestar solidariedade a EBC e um único artista da EBC fez parte da manifestação.Depois assisti um debate no MINC ocupado(ficou ocupado por 3 meses) entre uma funcionária da EBC que defendia a nova Diretoria e Frarnklin Martins que falou sobre o histórico das empresas públicas de comunicação na Europa pós guerra.Eu assistia diariamente a EBC e vários de seus programas.E me surpreendi de que funcionários e jornalistas da EBC não terem se juntado a nós na manifestação em protesto contra a nova Diretoria.Nesta manifestação falaram políticos não só do PT como de outros partidos de esquerda.Vários blogs falaram sobre a mudança brusca da Diretoria da EBC e palestras que assisti também .Houve sim, programas e atos de solidariedade a EBC.

  3. país solto na raia

    Nassif,

    Noves fora o combate exemplar à campanha do ¨Fora Dilma¨, desde há muito tempo que o partido vem acertando na mosca em termos de omissão, haja vista o comportamento da bancada na CPI do CCachoeira.

    Aquela turma teve os Marinho e Civita nas mãos, mas preferiu rocar o dever de casa pela possibilidade de aparecer no JN, passou a imaginar que aquela vida boa era eterna, que não mais precisavam combater o lado de lá, taí o resultado.

    Por falar em preferência partidária, nisto, quem é o candidato viável do partido, o Grande Lula que já governou durante oito anos, sofreu intervenção cardíaca e está doze anos mais velho, é isto ? Querem fazer de Lula, o maior presidente da história do país, um semi-deus, um salvador da pátria? Muito bem. Um país com mais de 200 milhões de pessoas que não conseguiu, nos últimos 15 anos, produzir um político decente, ( fosse ele de esquerda, direita, centro, do alto ou debaixo, tanto faz) que pudesse exercer a sua presidência por oito anos, não pode vir a colher bons resultados, e isto é o que vem acontecendo a cada dia que passa sem que o partido se manifeste com relativo vigor.

    Hoje, as críticsas mais contundentes a esta quadrilha estão nos jornais estrangeiros, são matérias quase que diárias fazendo aquilo que a turma daqui ( entidades, grupos organizados, sindicatos, etc…) é incapaz de fazer, turma que deixa a Petrobras e Eletrobras irem pro vinagre sem dar um pio.

  4. Mas um texto culpando a

    Mas um texto culpando a vítima pelo estupro, se o senhor não percebeu tambem derrubaram a legislação trabalhista, engessaram o investimento público por 20 anos, estão loteando e vendendo todas as riquezas nacionais e tão para aprovar uma “reforma” em que o trabalhador só se aposentara no pós vida, é por isso que se chama Golpe de Estado, senão como forçar goela abaixo essa enxurrada de arbitrariedades?

    1. A culpa do PT é outra, é seu distanciamento as bases.

      Meu caro Aristóteles, quando começou o processo de golpe contra a Dilma ela já estava derrubada, ou seja, a sua queda era inevitável.

      A queda de Dilma não foi porque ela fez ou deixou de fazer em termos de administração ou da continuidade de projetos sociais, mas sim pela completa e total existência de uma base organizada para apoia-la.

      Base organizada não falo de base parlamentar, mas sim de POVO, de militância de base, não dezenas, nem centenas, mas milhões.

      NUNCA a não ser na cidade de Porto Alegre, o PT procurou levar o povo para as decisões, povo significa a dona Maria e o seu João. As donas Marias e os seus Joãos iam as reuniões do orçamento participativo e decidiam a onde iam ser feitos os investimentos em Porto Alegre, isto ocorreu até que a Prefeitura de POA, pressionada pela RBS (afilhada da Globo), começou as suas grandes obras na cidade como a Terceira Perimetral e o malfadado conduto Álvaro Chaves que consumiam grande parte do orçamento municipal e o dinheiro reservado as demandas do Orçamento Participativo eram uma fração do orçamento das grandes obras. Com isto e com o domínio de uma burocracia municipal que conduziam as reuniões deste orçamento ele simplesmente perdeu a sua importância.

      O PT sempre preferiu lidar com as cúpulas, as cúpulas sindicais, as cúpulas patronais e as cúpulas burocráticas do que as massas. O governo do PT foi o que podemos caracterizar um governo populista no mal sentido da palavra, não um governo em que o povo levava o governo, mas que o governo levava o povo. Na realidade a burocracia partidária e os eleitos pelo partido tem medo de perder poder quando a vontade popular assume a responsabilidade.

      Outro problema é que o PT jamais deixou que a própria administração pública fosse controlada e dirigida pelo povo em geral, no mesmo tempo do orçamento participativo da prefeitura de Porto Alegre haviam corporações públicas que dominavam determinadas áreas e simplesmente não deixavam que aqueles que eram objetos de sua administração e quem pagavam estes funcionários decidissem algo sobre elas, por exemplo a rede municipal de ensino, após passar por aquilo que se chamou constituinte do ensino (ou nome semelhante) fechou-se as reivindicações e dentro das chamadas reuniões setoriais, nas quais participei de algumas, nas setoriais de ensino e cultura, somente eram discutidos assuntos sobre a cultura, que era uma fração do orçamento. Como resultado disto, o município de Porto Alegre há dois anos eram os professores com a melhor remuneração e treinamento das capitais de todo o país e a de pior desempenho.

      Os golpistas são o que são, vigaristas, oportunistas, reacionários e uma lista de atributos nada louváveis, porém o completo distanciamento do povo permitiu que o governo Dilma eleito fosse derrubado com um sopro.

      1. Heresia

        Meu caro Rodrigo, teu comentário soa como uma heresia para quem defenda a volta de Lula como o Salvador da Pátria, mais um exemplo de sebastianismo no Brasil.

        O PT se afastou do povo, se é que algum dia esteve realmente próximo, logo depois que chegou no poder. O conforto de gabinetes com ar condicionado e as mordomias dos cargos públicos são muito mais agradáveis que o cheiro do povo.

        Lula sempre foi um ótimo negociador, com uma sensibilidade social muito grande, mas nunca teve um pingo de ideologia. O mote dele sempre foi que o pobre queria ter acesso às mesmas coisas que o rico, queria ter seu carrinho, sua casa, coisas importantes sem dúvida, mas sem nenhum questionamento da estrutura social subjacente. Por isso que depois que Dilma caiu, a reversão de todos os ganhos dos anos PT foi rapidíssima: em menos de 2 anos retrocedemos para onde estávamos em 2002, ou até mais.

        Invocar o Lula, o pai dos pobres, como solução para o Brasil, é viver do passado e na esperança que os ganhos da década anterior voltem, o que não acontecerá: a conjuntura mundial é diferente, não há boom das commodities para garantir o crescimento espantoso do período 2004 a 2010. Qual é o projeto do PT se Lula puder se candidatar e ganhar as eleições? Qual é o projeto de governo do Lula?

        Como você bem colocou em outro comentário, caudilhismo em estado puro…

        1. Heresia….

          Nicolas Crabbé : seu comentário não poderia ser mais perfeito. Lula deu todos estes ganhos à Sociedade? Parabéns e bola pra frente. O Estado Brasileiro deveria seguir adiante e o Cidadão Brasileiro ter aprendido que a opinião e pessoa mais importante nesta República é este elel mesmo. E sua Família. E seus Parentes. E seus Vizinhos. E sua Comunidade. Ou seja o Povo Brasileiro. ‘uem precisa de Salvador, não merece ser salvo’. “Do Povo, pelo Povo, para o Povo”. Que qualquer um se submeta a esta máxima.   

        2. Os 21 anos de ditadura tornou a esquerda sem capacidade de …..

          Os 21 anos de ditadura tornou a esquerda sem capacidade de refletir corretamente.

          O Partido dos Trabalhadores e Lula, duas coisas praticamente indissociáveis criadas nos trilhos dos vinte e um anos de golpe militar de 1964, e considerando as distorções do foquismo teorizado por Régis Debray a partir da figura de Che Guevara, levaram a um ambiente de esquerda completamente acrítico e com distorções teóricas violentas.

          A saída para a luta armada e seus líderes que a sobreviveram mais interessados na discussão de táticas de guerrilha do que uma análise política correta. Derrotada a luta armada em todo o continente e após a redemocratização, mais imposta pelos movimentos operários e a crise que a ditadura havia entrado, fez que no momento que várias frações da esquerda ao estarem em contato com um verdadeiro líder de massas, como Lula, grande parte da esquerda simplesmente entrou no PT para ver se adquiriam mais quadros.

          Apesar de me arriscar de levar pau por todos os lados vou dizer que a entrada destes grupos, principalmente Trotskistas, continuaram a agir como nos centros acadêmicos, com centenas de discussões sobre a revolução permanente e a cada dois meses cada grupo criando uma fração e ninguém pensando no que realmente fazer.

          Devido a esta confusão, os setores mais ligados ao sindicalismo e a igreja, tomaram conta do PT, expurgando ou simplesmente vendo a saída da maior parte dos quadros de esquerda, restando mais quadros sem nenhuma formação teórica e somente com a prática. Não é que se estes quadros mais a esquerda tivessem ficado adiantaria algo, mas a discussão teórica ou mesmo teórico-prática se esvaziou restando alguns quadros que por características pessoais não agrupavam muito.

          Lula não pode ser acusado de ter uma formação ideológica fraca, pois simplesmente ele não tem nenhuma, porém todos aqueles que orbitavam em torno do mesmo, nunca tentaram agrupar-se e criar um programa real de governo. Tudo foi feito na base da tentativa e erro e baseado também no instinto de Lula.

          O problema do PT não é que o mesmo nunca esteve próximo ao povo, muito ao contrário a origem de grande parte do PT, exatamente a mais a direita teve origem nos quadros sindicais dirigentes, quem estava como sempre esteve longe do povo foi a esquerda do partido.

          A esquerda do PT devido ao discurso ser claramente contra o Stalinismo, confundiu a necessidade do centralismo democrático como algo demoníaco, e enfraqueceu se retirando aos poucos do partido ou mesmo sendo expulsos por maior confusão do que contribuição.

          O que restou ideologicamente no PT foi um programa reformista num país atrasado que precisava bem mais do que oferecer três refeições por dia aos famintos do país.

          Em Porto Alegre, no início dos governos do PT na prefeitura, apesar terem feito muitas intervenções que foram verdadeiros desastres, com a introdução do orçamento participativo por bastante tempo a participação popular dividiu os ônus dos erros com o partido, coisa que não foi reproduzida nem no governo do estado do Rio Grande do Sul nem no governo nacional. No estado nos dois governos não foi conseguida a reeleição, só voltou porque realmente os governos de oposição ao PT foram muito piores. Já em nível nacional o que segurou os governos do PT foi somente a popularidade de Lula.

          Não devemos crucificar Lula, pois realmente as pessoas que estão em torno do mesmo, que poderiam teoricamente se tivesse algo nas suas cabeças é ajuda-lo, mas ficam todos amarrados ao carisma de Lula achando que ele sozinho será a solução de tudo. 

      2. E o que aconteceu em Porto Alegre

        Ou no RS? Cadê o PT? A Luciana Genro?  Cara não condene um partido quando o povo beneficiado por este partido não se envolveu. Não jogue a culpa no partido se o povo não presta. Acredita piamente na mídia e chama o PT de ladrão mesmo sendo o beneficiado por suas políticas. Quantos alunos bolsistas escumlhambavam a Dilma, Lula e o PT. Se reclamaram, agora aguentam. E sem Lula quem você acha que tem capacidade de mobilizar para nos tirar desta joça?

  5. Nunca houve uma visão de quem era o poder no Brasil pelo PT.

    A visão estratégica com capacidade de projeção ao futuro nunca houve no PT, simplesmente porque o PT aceitou o Estado como ele é há séculos.

    Não adianta defender o PT da sua miopia política em se distanciar daquilo que garantia a sua força para cair nos esquemas tradicionais da política burguesa. O povo durante os governos do PT era mais uma claque que servia para aplaudir as benesses que eram a eles distribuídas, nunca o povo foi protagonista nos governos, e pior hoje em dia Lula com as suas caravanas está caindo no mesmo erro. São multidões que os aplaudem mas que no momento que ele for condenado e não puder se candidatar estas massas ficarão sem o seu Dom Sebastião.

    Mesmo elementos que deveriam ser mais ideológicos, como José Dirceu, se perdeu na política tradicional da Oligarquia brasileira, e simplesmente Lula tem intuição mas carece a ele qualquer visão a longo prazo, as políticas do PT podem ter seu equivalente as políticas da Igraja Católica em fornecer apoio aos mais pobres desde que eles fiquem assistindo a missa em latim e sem entender o que acontece na liturgia.

    O PT nunca reagiu a nada, nem ao mensalão, nem ao golpe nem a nada, simplesmente assumem uma posição de partido parlamentar e discursam, discursam e discursam, neste caminho os melhores discursos serão feitos na cadeia quando forem todos eles atingidos pelo golpe militar.

  6. concordo com o autor do

    concordo com o autor do texto. só não ver quem não quer…olha ai o Lula paz e amor falando em reconciliação. cadê o ex-presidente do PT, Rui Falcão, que deixou Dilma queimar na fogueira? aquele salafrário, não engana mais ninguém… como diria Ciro Gomes, será que o PT não aprendeu ainda? e como se não bastasse, colocam a Gleise como presidente do partido…realmente, o PT tem que perder amargamente nas urnas, assim como já perdeu nas eleições municipais, pode ser que assim aprendam. o PC do B já se afastou, lançando candidatura própria, espero sinceramente que o Boulos também se lance, mostrando ao Lula que a época dele já passou, chega de dinossauros na política. 

  7. E mais: Tio Lula nunca se empenhou em formar uma bancada do PT

    Pegue todas as falas do tio Lula nas caravanas do Nordeste e Minas, acompanhe a do Rio, era para ele abrir as falas pedindo “pelo amor de deus e ao Lula” para que votem nos candidatos do PT. Em 2018, se houver eleição nos moldes tradicionais, a situação da bancada do PT no Congresso tende a resultar dramática. Tio Lula nunca se empenhou nisso. Após 40 anos, já dá para saber como funciona a cabeça do tio, que confia cegamente no seu charme, no seu carisma irresistível, todos os deputados e senadores são “amigos”, ele bate na barriga de cada um, dá um abraço e boa. Na caravana de MG, era para ele apontar para a presidenta que foi chutada na bunda ao seu lado no palanque e dizer: “foram os deputados vagabundos que vocês votaram que chutaram essa pessoa e o partido fora do governo”. De forma didática. Alguém acha que o eleitor médio (povo) – detesto a expresão ‘povão’ – sabe da importância de eleger deputados, e como se dá o jogo político em BSB? Nunca, votam no Lula e num deputado que vai cravar facas nas costas do PT por 4 anos. Tio Lula quer ficar em paz com todo mundo, não dá a mínima para a bancada, acredita que tudo se resolve com seu charme. Impossível, completamente impossível, a História está aí. 

    1. Na verdade Lula está agindo como um caudilho!

      O que Lula passa ao povo nos seus discursos é o seguinte:

      No MEU GOVERNO vocês ganharam isto.

      No MEU GOVERNO vocês ganharam aquilo.

      Se EU voltar para o governo EU vou dar isto.

      Se EU voltar para o governo EU vou dar aquilo.

      …..

      Jamais ele pediu para o povo se organizar para fazer ISTO ou AQUILO.

        1. Não senhor, exatamente ao contrário.

          No último discurso de Getúlio Vargas no primeiro de maio antes do golpe e seu suicídio ele diz claramente:

          “- Trabalhadores do Brasil ! Se hoje vocês estão com o governo, amanhã vocês serão o governo.”

          Ou seja, o sentido do movimento das posições políticas de Getúlio Vargas eram exatamente ao contrário de Lula.

      1. O Caudilho tem uma “cauda”.

        O Caudilho tem uma “cauda”. Essa é a etimologia da palavra.

        Essa “cauda” é de gente armada, de empregados armados, capangas, gente de armas.

        Getúlio venceu os caudilhos, as pessoas que matavam seus adversários se alguém de fora resolvesse ir fazer comício pelo interior de Minas ou São Paulo.

        Era impossível uma eleição ser honesta antes de Getúluio, cada oligarquia local a roubava e as maiores oligarquias de todas, a paulista associada à mineira, roubavam as demais.

        Agora, o que sobrou de ojeriza à Getúlio entre os que ele venceu? 

        Sobrou esse par de palavras rancorosas, populismo e caudilhismo, que seria prometer, MAS SÓ SE FOR PARA O POVO. Como se Aécio não tivesse em sua campanha cruzando o país ao lado de Armírio Fraga prometendo ao empresariado mais desemprego e menores salários. Aí promessa para ricos não é populismo, não é caudilhismo, se for para os oligarcas está liberado.

        Prometer para empresários é Ok, prometer para as massas é populismo ou caudilhismo.

        É um portanto um conceito mal alinhavado, mal discutido e mal empregado.

         

    2. E mais…..

      O Brasil se explica. Noticia que não é notícia não é noticia mesmo. Onde está Microcefalia? Foi extintadepois que a Dilma caiu? E FEBRE AMARELA? Os Parques da cidade de São Paulo fechados. E vacinação, infestações e mortes todas sumiram? Que mágico !!! 

  8. A virtude não nasceu do crime

    Talvez neste momento é preciso entender o golpe a partir do  “Materialismo Dialético”.

    Sem isso a sociedade vai comprar gato por lebre na Black Friday da elite / psdb / pmdb!

    No século XIX o volume de escravos no Brasil chegou a ser 10 vezes maior do que o dos EUA!

    Isso gerou lucro, poder além do sadismo que isso pode trazer.

    Este modelo dá o tom do atraso de nossa sociedade, enquanto a americana reafirmava ainda que timidamente valores mais avançados.

    A libertação dos escravos não foi acompanhada de revolução cultural, ao contrário resultou num golpe de poder, cujo nome foi dado de “proclamação da república”!

    Isso distraiu a nação por um tempo, tempo suficiente para que o trabalho escravo ganhasse novas conotações até chegar a Getúlio Vargas e sua CLT!

    A revolução cultural que deveria ter ocorrido em 1888 nos costumes da nação brasileira, veio através da lei de 1943 de um governo militar!

    Os que estavam vivos em 1943 e detinham o poder financeiro e cultural, em parte não compreenderam a necessidade de reparação histórica da necessária humanização na luta entre capital e trabalho, por isso a herança obsessiva de se acabar com direitos da CLT – vendo na CLT tão somente entraves econômicos, viram puramente a redução de lucros que deveria ser alcançada novamente com a utilização da mão-de-obra com sub-emprego, sem enxergar a guerra social que existia na escravidão e no trabalho sem regras que antecedeu a lei!

    A CLT é o resultado de um processo histórico da relação entre os donos do capital e a sociedade – reação específica contra atos degradantes na relação patrão / empregado!

    CLT e escravidão são os dois lados de uma mesma moeda que estão na sociedade como a relação entre capital e trabalho.

    Outras nações já comprenderam isso!

    A lei não surgiu pelo benefício em si, mas para equilibrar a relação entre capital e trabalho!

    Houve exageros desde então?

    Com certeza houve!

    A extinção da CLT sem a “revolução cultural” que não está acontecendo novamente – basta ver quantas declarações racistas estão acontecendo – nos levará a precarização do trabalho.

    O mesmo ocorreu no setor financeiro para os juros a partir da doce caderneta de poupança e seus juros mínimos de 6% ao ano garantidos pelo governo – jabuticaba brasileira, onde hoje depois da PEC 55 coloca o Brasil além da luta entre capital e trabalho – o Brasil defende os juros como forma superior de valor na economia ao dizer que primeiro pagará os juros, o que sobrar irá para os investimentos que nortearão a economia gerando empregos e o que sobrar desta sobra irá para pagamentos de aposentadoria, saúde, educação!

    Disto podemos entender que o golpe nasceu no setor financeiro, quando um banco recebeu uma multa da receita de 15 bilhões e mais 25 bilhões de outros débitos – azedou totalmente que a vaia contra Dilma na copa saiu de lá.

    Ele deve ter conversado com colegas bilionários – que colocaram seus intelectuais para pensarem um plano – e disponibilizaram pessoas que tinham acesso a embaixada dos EUA que faziam monitoramento de empresas e pessoas do governo através da NSA. 

    Os governos petistas transformaram a China no maior parceiro econômico e se o golpe fosse assumido pelos EUA poderia fazer a China trocar importadores, justamente onde o Brasil compete com os EUA e ai o golpe iria para o brejo.

    O caso Shell explica isso!

    Vão ter que dividir o espólio – o perigo da Venezuelização do Brasil foi mais uma mentira das muitas que sairam por ai.

    Os EUA ajudou, mas não vão carregar – não se colocarão como os “donos”, por que eles querem lucrar – não arrastar cachorro morto…

    Então o Brasil vai se transformar em dama da noite para os integrantes do G5!

    Todos eles vão beliscar um pedacinho.

    O golpe não trará a “revolução cultural” que precisamos por que as instituições estão dando um suporte ao saque a patrimonio brasileiro, que reultará em recolhimento de menos impostos, dando suporte a corrupçãp partidária e isso é crime!

    Hoje, mas do que nunca precisaríamos da justiça!

    O justo teria que ser a medida cotidiana de cada brasileiro e desgraçadamente o maior desvario hoje vem do judiciário e agentes da lei!

    O PT conseguiu a façanha, e que façanha de governar  –  e governar bem principalmente com o LULA – as jabuticabas que são a: escravidão vs CLT e a Usura vs (Capital / Trabalho)!

    Ele conseguiu o equilibrio que não existe mais!

    Sem essa “revolução cultural” iremos para o brejo…

    Mil perdões a quem acha que isso a que chamam de governo vai dar certo…

    O FHC era mais inteligente e não deu certo…

    Se a cabeça está perdida o corpo padece…

    Se um governante permite a privataria, nenhum projeto sai do papel!

    O LULA teve erros, mas projeto andaram – refletiu a confiança do corpo na cabeça!

    Esse governo agora está fundado na mentira, no erro e seus “donos” estão saqueando o Brasil!

    A virtude não nasce do crime…

  9. OU O PT RECEBEU BILHÕES EM PROPINA, OU É UM PARTIDO BANANA!

     

    Nem a CADEIA NACIONAL DE TVS foi convocada para denunciar o novo programa de governo do Temer, rompendo todos os compromissos de 2014. E a greve geral, por que não saiu? Se apenas 2% aderissem, teriam colocado 2 milhões de pessoas em volta do congresso…

    Uma autoridade pública não pode apanhar calada desse jeito, gerando ódio e desprezo na população por causa do silêncio diante de seus acusadores. A Dilma devia ter convocado a CADEIA NACIONAL DE TVS contra cada calúnia veiculada contra si nas TVs, jornais, e revistas. Achamos que ela estava tranquila sobre o processo de impeachment, que não oferecia risco algum, e tinha deixado para convocar tal cadeia nacional, e se manifestar sobre tudo apenas na véspera do impeachment. Mas isso não ocorreu, permitindo que o Temer governe sem oposição, já que 97% do povo ficou sabendo apenas o que a globo contou.

    O PT tem grana do fundo partidário, cabos eleitorais, militância voluntária e paga, programas de TV, blogs, carros de som, e uma lista de emails gigante. Eles colocaram 1 milhão na Av. Paulista durante o impeachment. Se não usam essa máquina contra as reformas do Temer, é porque não querem…

  10. Tantas críticas
    Diante de tantas críticas, muitas delas pertinentes, aos anos PT na presidência, primeira vez em que um partido popular dirige o país ao longo de 517 anos, me pergunto se tal experiencia no governo e a de haver sido apeado dele por um golpe servirá de aprendizado para as esquerdas quando nova oportunidade ocorrer. Vale aquela máxima da correlação de forças. Em democracias formais como a nossa, de baixíssimo impacto representativo, os votos precisam vir acompanhados de consciência política e participação cidadã. As esquerdas precisam sair de dentro do povo, ir ao povo e jamais arredar pé do povo. É um trabalho árduo esse. O grande fracasso dessa experiência está no fato de que o capital intelectual das esquerdas não foi compreendido pela massa de brasileiros explorados, enfim. Todos esses dispositivos regressivos colocados em prática pelos golpistas farão água em um curto prazo e não darão sustentabilidade às direitas, isso é certo. A atual geração, por maiores que sejam as forças reacionárias contrárias, terão parâmetros comparativos com os quais acertar contas a médio prazo. Qual será o papel das esquerdas nesse caldeirão? Uma das missões estratégicas das esquerdas será o de perseguir a quebra da espinha dorsal dos oligopólios midiáticos.

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