Quando 500 anos de dados dão razão a Marx, por Rogério Maestri

Marx postulou a sua Lei da Tendência de Queda da Taxa de Lucro especificamente para o capitalismo industrial

Quando 500 anos de dados dão razão a Marx

por Rogério Maestri

Há algum tempo artigos sobre a “Lei da Tendência de Queda da Taxa de Lucro” de Marx começa a ser divulgada mais intensamente e discutida de forma mais consistente tanto pelos economistas marxistas como os não são adeptos de Marx, aparece um trabalho no início desse ano feito por um pesquisador sênior do Banco da Inglaterra, Paul Schmelzing, oriundo da Escola de Administração da Universidade de Yale escreveu um artigo intitulado “Eight centuries of global real interest rates, R-G, and the ‘suprasecular’ decline, 1311–2018.” Que intriga todos os economistas de todas as origens, salvo os marxistas, porque o pesquisador depois de mergulhar em fontes primárias desde o final da Idade Média até os dias atuais e obtém uma evolução surpreendente da taxa de juros primários médio equivalente à 74% do PIB do mundo da época até os dias atuais.

O gráfico obtido por Schmelzing que começa em 1317 e segue até 2018 é de uma regularidade irritante depois do período que começa em 1494 vai aumentando a sua declividade a medida que o capitalismo progride, tendo picos curtos que representam eventos extraordinários para depois de retomar a sua tendência secular, a medida que nos aproximamos mais dos dias atuais (1820) a queda se acentua para chegar em juros primários em torno de zero no ano em que ele termina a série.

O gráfico é irritante, principalmente para os economistas liberais, monetaristas, keynesianos e mais toda a plêiade de economistas não marxistas, simplesmente porque independente das crises, das guerras, das grandes fomes e mais interessante de padrão ouro ou outro tipo de lastro, o juro real de longo prazo (descontando a inflação) SEMPRE CONTINUA A CAIR.

Marx postulou a sua Lei da Tendência de Queda da Taxa de Lucro especificamente para o capitalismo industrial, onde ele demonstra que com o aumento da composição orgânica do capital, (COC=c/(s+v)) onde COCé a composição orgânica do capital, c é o capital constante (máquinas, prédios) e v é o capital variável (mão de obra), como pela teoria marxista a única coisa que agrega valor é o trabalho, com a diminuição da COC e com a diminuição da mão de obra diminui-se a mais valia retirada dessa, as fábricas diminuem a sua lucratividade.

Como para os para os economistas marxistas (começando por Marx, é logico), os juros sempre foram uma dedução dos lucros do capital produtivo, se com o aumento da COC e a razão entre o capital que rende juros e o capital produtivo permanecesse constante, as taxas de juros reais de longo prazo também devem cair.

A teoria da “tendência de queda da taxa de lucro” tem sido continuamente criticada, até mesmo por falsos economistas marxistas, porém os dados empíricos calculados da taxa de lucro mostram que as atividades produtivas tem uma tendência de queda mostrada por dados empíricos, ou seja, certa ou errada a teoria é a única explicação que foi levantada nos últimos 100 anos.

O problema de aceitação da Lei da Tendência de Queda da Taxa de Lucro é que para aceitá-la tem que aceitar junto a teoria do Valor de Marx, que é uma verdadeira assombração para os economistas liberais, pois aceitando essa teoria, aceita-se que a tecnologia, a ciência e o desenvolvimento humano exercessem uma influência profunda na capacidade do capital de extrair mais valia do trabalho do proletariado e ao mesmo tempo da capacidade dos financistas de extrair juros tanto dos capitalistas quanto dos trabalhadores.

“O desenvolvimento das forças produtivas, ocasionado pelo próprio capital em seu desenvolvimento histórico, a certa altura abole a autovalorização do capital”, escreveu Marx em 1857.

Os economistas não marxistas acreditam que existe uma taxa de juros “natural”, que é determinada pelas expectativas de crescimento de longo prazo das pessoas, coisa que é demonstrada que nos últimos 500 anos não é verdade.

Como Paul Schmelzing não é um economista marxista, mas simplesmente chegou a um resultado que confirma a Lei da Tendência de Queda da Taxa de Lucro há dois caminhos, ou aceitar a teoria de Marx ou tentar desesperadamente procurar uma outra explicação que até hoje não chegaram.

Redação

5 Comentários

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  1. Maestri tem razão. É a lei do valor-trabalho que explica a queda da taxa de lucro e esta, por sua vez, é a explicação para o baixo crescimento e o baixo apetite do grande capital para o investimento produtivo. Apetite que vem caindo desde o início do milênio e que se acentuou desde 2008.
    Os keynenianos acham que é a demanda que gera investimento e crescimento. Os neoliberais acham que é a “fadinha da confiança” e o equilíbrio fiscal. Ambos estão errados e está demonstrado empiricamente. Desde 2008 jogou-se rios de dinheiro na economia mundial que supostamente criaria demanda e puxaria o crescimento. A receita keynesiana fracassou porque a lucratividade está baixa. E décadas de austeridade também não fizeram a a economia mundial crescer.
    A China cresce porque cobra pouco imposto, tem moeda desvalorizada e mão de obra boa e barata, ou seja, oferece custo baixo, principalmente porque superexplora o trabalho e, em consequência, aumenta as margens de lucro industrial.
    Os economistas e pessoas bem informadas não veem que Marx está certo porque, no fundo (no inconsciente) não querem, Como disse Maestri, admitir que a lei da queda tendencial da taxa de lucro está certa implica em admitir a quase totalidade da teoria marxista (exceto, talvez, a ideia de que luta de classes é emancipadora), inclusive em seus aspectos críticos ao capitalismo. Significaria questionar a própria sociedade e cultura capitalistas, inclusive a identidade dos sujeitos e suas perspectivas, sua visão de mundo, valores e modos de vida.
    Questionamento de tal magnitude era insuportável para a maior parte dos primitivos e bárbaros. Pelo jeito ainda é para nós – ainda tão primitivos e bárbaros como os povos pré-capitalistas (ou seriam estes tão civilizados quanto nós?).

    1. Caro Wilton, eu não cairia na armadilha em dizer que a China continua crescendo pelos motivos que colocas, pois temos que levar em conta que Marx disse com razão, que os capitalistas com ganhos de tecnologia sempre se mantém na frente dos outros por vantagens competitivas e o que o governo chinês faz é que a bicicleta nunca para, pois se ela para ela cai. Por esses motivos o PCC colocou um representante em cada empresa privada, ou seja, para elas não entesourarem os lucros, ou seja, quanto mais eles investem mais eles ganham vantagens competitivas por ganhos tecnológicos. Veja os salários chineses continuam crescendo e nem por isso eles perdem a velocidade de crescimento.
      Temos que levar em conta que o que Marx escreve é para a média das empresas capitalistas, onde umas ganham outras vão a falência e outras ficam paradas.
      Os Chineses estão com o problema das “empresas zumbis”, que é característico de todo o capitalismo atual, mas eles a mantém por uma questão de emprego.
      Em resumo, a China é outro mundo que é regido pelas leis do capitalismo mas com controle rígido do Estado, não caindo na armadilha da antiga União Soviética onde o controle de custos não existia, o sistema capitalista na China serve mais para isso, ou seja, empresa sem lucro fecha.

    1. Desculpe, pois esqueci de colocar o que é o s e não é direto a compreensão porque vem de “surplus value”.
      Ou seja, Marx, como até economistas não marxistas colocam separado dos salários a taxa de mais valor.
      É importante para muitos cálculos quando inclusive se está numa condição de superexploração.
      Esse termo que é utilizado correntemente como uma exploração da força do trabalho acima do “normal” é definido da primeira vez por Marini em (MARINI, Ruy Mauro. 1972 Dialéctica de la dependencia. 5. ed. México: Era, 1981.) como
      “… característica essencial é dadapelo fato de que se nega ao trabalhador as condições necessárias para repor o desgaste de sua força de trabalho: nos dois primeiros casos, porque o obriga a um dispêndio de força de trabalho superior ao que deveria proporcionar normalmente, provocando-se,assim, seu esgotamento prematuro; no último, porque se retira dele inclusive a possibilidade de consumir o estritamente indispensável para conservar sua força de trabalho no estado normal.”
      Acho uma explicação meio enrolada, talvez o melhor seria algo como tal: “… o excesso de exploração que não permite ao próprio operário manter a sua situação de classe, ou seja, nem recebe ao ponto de sobreviver como operário.”
      Quando se separa o valor trabalho em salário e mais valia, para uma sociedade que não é escravocrata e sobrevive como sociedade capitalista, há um limite inferior de salário v que abaixo disso não há como o assalariado se sustentar, logo a mais valia fica limitada por esse valor.

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