Relembrando 11 de setembro: A evolução da luta contra o terror, por Luis Nassif

Coluna de 6 de abril de 2002, publicada na Folha de S.Paulo

Coluna de 6 de abril de 2002, publicada na Folha de S.Paulo

A evolução da luta contra o terror

por Luis Nassif

Em 15 e 16 de setembro do ano passado, em duas colunas escritas sob o fragor dos atentados ao World Trade Center, tentei alguns exercícios de cenário em cima do episódio -que foi um divisor de águas na globalização.

Naquele momento, pareceram-me claros os seguintes desdobramentos do episódio:

1) Qualquer ataque indiscriminado a países islâmicos conferiria um novo fôlego ao terrorismo.

2) Para combater o terrorismo, haveria que se entender o que o legitima. Na raiz de grande parte do terrorismo político existem conflitos políticos e regionais não resolvidos, existem povos injustiçados sem canal para expressar suas reivindicações. Crie-se esse canal e se tirará do terrorismo a legitimidade que detém em meio a algumas comunidades.

3) É impossível pensar em um mundo sem os EUA, assim como é impossível pensar na paz americana sem a paz mundial.

4) É hora de fortalecer ou de criar novas instituições internacionais que comecem efetivamente a mediar os grandes conflitos regionais. O direito dos israelenses e dos palestinos à sua própria terra virou definitivamente uma questão da humanidade.

Ao mesmo tempo, foram previstos dois movimentos da política externa norte-americana. Em um primeiro momento, o endurecimento e a prevalência dos falcões.

No segundo momento, a constatação de que, nessa nova guerra -em que as armas são “homens-bombas”-, fracassariam rotundamente os esquemas convencionais de repressão.

Iria se seguir um período em que a ficha cairia e se constataria o óbvio: que a luta contra o terrorismo teria que ser um concerto entre nações, com o fortalecimento de instituições multilaterais, o combate à miséria internacional e a solução definitiva da questão palestina.

No terceiro momento, iria se ingressar na nova etapa de criação das instituições e de apresentação de soluções políticas para a crise palestina.

Aparentemente -e muito mais rápido do que se previa-, começa-se a entrar na penúltima etapa desse processo.

Sobre os analistas-bomba

Os “jovens-bomba” palestinos estão causando danos irreparáveis não apenas a civis inocentes de Israel, mas, aparentemente, a um certo tipo de cartesianismo ocidental. Confira-se:

De Willliam Safire, em “The New York Times”: “Os homens-bomba subvencionados por Saddam Hussein não têm nada a perder, exceto suas vidas”, as quais, obviamente, não têm nenhum valor na Quinta Avenida.

De Thomas L. Friedman, em “The New York Times”: “O mundo precisa entender que os palestinos não optaram pelos bombardeios suicidas por causa do “desespero” decorrente da ocupação israelense. Isso é uma enorme mentira (…) Os palestinos estão cegos por sua raiva narcisista”. Não se sabe o que o mundo respondeu. Provavelmente, que assistir a parentes e amigos sendo mortos, cidades invadidas, símbolos nacionais conspurcados, mortos nem sequer tendo direito a um enterro condigno são pequenos detalhes perto da interpretação freudiana do preclaro personagem de Tom Wolfe, discorrendo sobre temas banais, como a morte.

De um colunista brasileiro, no dia seguinte a Friedman: “Os pretensos “martírios” são, provavelmente, paroxismos narcisistas, gestos desesperados para agradar e entrar no clube. Na frente de uma loja, uma dondoca fala de sapatos: “Esse aí é de morrer”. Pois é, o martírio também é de morrer (…) O mecanismo psíquico é o mesmo”.

Provavelmente, depois de mortos, inspirados no figurino do filme “Um Lobisomem Americano em Londres”, os rapazes vestirão seu melhor traje de zumbi e desfilarão pelas ruas de suas cidades, despertando olhares gulosos das “minas” palestinas. E todos os pensadores, literatos e poetas dos últimos milênios revirarão no túmulo e recorrerão a médiuns para revisarem postumamente tudo o que foi escrito sobre a figura do soldado em campo de batalha.

Afinal, morrer pela pátria, ainda que de modo estúpido, virou “out”.

3 Comentários

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  1. Nassif, você é ótimo e bem informado, mas em geopolítica, para você ficar ainda melhor, acho que, de vez em quando, deveria dar uma lida no que estão dizendo no site http://thesaker.is/
    ou no http://smoothiex12.blogspot.com/ São dois russos com passado militar que moram nos Estados Unidos. Há comentadores também de alto nível (outros totalmente malucos). Pepe Escobar, que escreve no Asia Times tem seus textos constantemente reproduzidos no The Saker também. E Pepe Escobar, repórter da Folha décadas atrás, se transformou num baita analista internacional. Não são sites de “esquerda”. O cara que comanda o The Saker, por exemplo, tem um fanatismo obscuro pela Igreja Ortodoxa e nos dois sites os temas LGBT não são bem vindos, mas… são muito bem informados nas jogadas internacionais. São opiniões amplamente admitidas por lá, por exemplo:
    Que o eixo EUA/Israel/Grã Bretanha são os maiores patrocinadores do terrorismo mundial;
    Que o 11/09 foi um incidente de falsa bandeira (para justificar o início da “guerra mundial ao terror”);
    Que a obsessão EUA/Otan e do eixo acima é acabar com a Rússia, China e a Nova Rota da Seda; etc. etc.
    E muitas outras discussões, bem fundamentadas, com as quais a gente pode discordar ou não mas não se pode desconhecer.
    Sobre o 11 de setembro, veja o texto de hoje do Pepe Escobar: http://thesaker.is/9-11-a-u-s-deep-state-insider-speaks/
    E o texto do dono do The Saker, Andrei: http://thesaker.is/9-11-twenty-years-later/
    Abraço

  2. Desculpe, Nassif, só depois de escrever o comentário acima, eu atentei PARA O IMPORTANTE DETALHE que você escreveu isto em 2002. Realmente previu muito bem o que viria a acontecer. Saudações.

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