Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Sejumoro sabe quantos quilos de carne os leões estão comendo?, por Armando Coelho Neto

O senhor, vai sair derrotado, mais cedo que imagina, pois não se faz omelete sem quebrar os ovos e, como diz seu amigo Coiso, “entrou ali tem que dar carne aos leões”.

Sejumoro sabe quantos quilos de carne os leões estão comendo?

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Caro Sejumoro. Eu não entendo de política, coisa que o senhor deveria entender como político, até então enrustido e hoje assumido. De minha parte, sei ou suponho saber o suficiente pra compreender a política como a arte do possível no trato do interesse do Estado. Estado como realizador do bem comum, com isonomia e equidade. Para isso, é preciso “homem de Estado”, gente que nem a gente, mas não tão gente assim, pois às vezes é preciso ser um pouco máquina. Afinal, gestores de Estado governam pra todos de forma republicana, e não para os que os elegeram. É assim ou pelo menos deveria ser, por meio de ações gerais aplicáveis a todos, tipo, a “lei é para todos” – de verdade, e não como título de filme vagabundo inspirado numa farsa. 

O senhor não leu e se leu finge bem não ter lido. Imagino que esteve enfiado até o pescoço com o golpe em curso contra o povo humilde. Mas, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma entidade formada pelas economias mais robustas do capitalismo mundial. O Brasil da era Lula/Dilma ao adaptar sua legislação àquela entidade concretamente estava se alinhando com o bloco capitalista. Portanto, esse papo de comunismo era e é terrorismo ou lero-lero pra desavisados, promovido pela camarilha que hoje o senhor integra. Aliás, camarilha é eufemismo, já que o termo adequado seria outro, por melhor definir o laranjal do presidente Coiso – seu aliado. Honestamente, no meu PowerPoint nem sei em que laranjinha o senhor apareceria.

Falo da mesma OCDE que se digladiava com economês de baixo clero, na base do “a corrupção lubrifica economias”. O senhor leu? Gosto de lembrar que até 1999, a Alemanha (tão festejada pelo seu parceiro Dallagnol) permitia que a propina paga aos políticos do Brasil, fosse deduzida no imposto de renda das empresas alemãs. Que maravilha, não? Contingências político-econômicas, daquilo que o senhor apoia. O senhor sabe que na sua cultura dinheiro fala mais alto.

Quero dizer, pois, que, a corrupção que o senhor fingia e finge combater lubrifica economias. Já o exercício do poder ou de gestão é lubrificado pela política, e isso exige composição no bom sentido. Ao mesmo tempo, a política se lubrifica com cargos e ou troca de favores. Algo assim: um deputado pede votos pra aprovar X, em troca de votos pra outro aprovar Y. Afinal, meus eleitores e financiadores são tão importantes quanto os teus. Por falar em financiadores, estes, por sua vez, fazem “doações” quase republicanas: escondem suas preferências e doam pros melhores colocados e nem sempre o mesmo valor.

O senhor sabe e ou finge que não sabe, que política sempre foi assim ou tem estado assim. Com essas regras sua trupe se elegeu e vai governar. Não foi o Partido dos Trabalhadores que inventou isso. Eu não aprovo isso, apenas constato. Mas isso explica o lixo onde o ex-presidente Lula da Silva entrou e hoje é onde o senhor se encontra. O senhor já entrou na política com troca-troca, e nem venha com retóricas pra dizer que não está no lixo. Vovó dizia que, quem com porco se mistura farelo come ou diz-me com quem andas e te direi quem és. Sem essa de perdão. O senhor está cego, surdo e mudo, bem no epicentro de escândalos que fingiu combater, a serviço sabe-se lá de quem, ainda que eu suspeite, pois acompanho o tabuleiro do xadrez internacional.

No momento em que escrevo, estou aqui na terra de Trump – esse cabeça de manga chupada que inspirou a quadrilha do Coiso. Terra na qual Abraham Lincoln pra acabar com uma Guerra fratricida nos Estados Unidos e por fim, pelo menos legalmente, à discriminação racial, comprou votos e fez negociatas. Às vezes os fins justificam os meios (ou não). É como ser contra a violência e ter que empregar a força pra neutralizar o inimigo, perder luvas e salvar dedos. Existem bens “maiores e menores” a serem preservados. No meu caso defendo a vida, o fraterno, o social e o coletivo. Eis o que moral e espiritualmente me distancia dos que defendem interesses corporativos.

Esse caldo seria os gestores e suas circunstâncias. Seu inimigo pessoal Lula da Silva viveu as circunstâncias dele. Mas, o senhor, fingindo nada entender de política, fez política negando a política e criminalizando a política. Encarnou seu ódio ao povo no Lula. Criou a farsa para a judicialização da política e vender a falsa ideia de gestores. Ao que tudo indica, o senhor desautorizou Álvaro Dias (PODE) a usar seu nome como possível ministro da Justiça dele, por que já tinha se comprometido com o Coiso, chefe do Laranjal. O Coiso é, suspeito de Caixa 2, mas isso não vem ao caso. Lembra do ex-crime de pedalada?

Dilma quis criminalizar o Caixa 2 e ninguém tanto quanto Lula – pessoa contra quem o senhor ultrapassou todos os limites da ilegalidade, clamou por outro modo de fazer política. No fundo Lula sabia, sentia cheiro de podre, mas tapava o nariz e seguia em frente. Afinal, o estorvo da cultura a qual o senhor se alinha estava no caminho dele, que tentava levar pão ao povo, estimular uma sociedade inclusiva, senão mais justa, por baixo menos injusta. Como soldado numa guerra inevitável, Lula pode ter dado algum tiro, se sujando de lama ou sangue, mas saiu vitorioso. Já o senhor, vai sair derrotado, mais cedo que imagina, pois não se faz omelete sem quebrar os ovos e, como diz seu amigo Coiso, “entrou ali tem que dar carne aos leões”.

Pois é, Sejumoro. Se a censura já imposta ao COAF não se alastrar, o povo vai saber por que só após as eleições a família Coiso foi denunciada. Vamos saber do golpe com voto comprado, supremo e tudo, WhatsApp/Caixa 2, quem financiou o “fake” da facada. As milícias, candidaturas fantasmas de seus aliados, quem matou Marielle, por que Michel Temer e Aécio Neves estão soltos e os mistérios do STF – tudo isso vamos saber. E, se a censura imposta ao COAF não se estender a outros órgãos e a imprensa, e ainda sobrar Brasil no conflito insano contra a Venezuela, a gente vai saber até quantos quilos de carne os leões estão comendo – se é que não comeram antecipado…

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

8 Comentários

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  1. Os procuradores da Lava Jato encontraram um meio para manter as ilegalidades, das quais recorreram para manter a operação e Sergio Moro poder condenar a Lula e outros petistas; colocaram ministros do Supremo sobre chantagem. Eh isso que denuncia Gilmar Mendes em sua entrevista na Epoca. Eh escandaloso o que ocorre com o Supremo Tribunal Federal de todos os pontos de vista que olhe, mas ninguém diz claramente que esta na hora de dar um basta no MPF e que alguns ministros deveriam, como ocorreu com Joaquim Barbosa, pedir afastamento do cargo ocupado no Supremo.
    Quanto ao Sergio Moro, que também não hesita em usar de meios extra-legal para seus fins, esperamos o decorrer deste inenarravel 2019 para sabermos se o Brasil bate no fundo do poço.

  2. O Sejumoro fez e faz acordos políticos no mesmo modelo que ele, da boca pra fora, tanto critica.

    A parceria que ele celebrou com os Banqueiros e as empresas de mídia é na base do TOMA LÁ, DÁ CÁ, mais abjeto e fisiológico, porque vai contra o interesse e o direito supremo da população.

    As mercadorias negociadas são IMPUNIDADE e IMUNIDADE penal, que é o TOMA LÁ e o DÁ CÁ,

    porque vcs subestabeleceram o poder de denunciar e julgar para a imprensa bandida que julga e condena quem incomoda o MECANISMO (O VERDADEIRO)

  3. Que maravilha de texto. Acertou em tudo. Aplausos de pé por 5 minutos para o articulista.
    O sujeito é muito pior do que todos a quem julgou e condenou, alguns até com razão.
    Quanto ao Presidente Lula, até as pedras sabem que foi injusto e covarde ao condenar um inocente para atender a interesses puramente políticos.

  4. De tudo o que disse o articulista, por verdadeiro, nada se compara à expressão:
    “cabeça de manga chupada que inspirou a quadrilha do coiso”, para descrever o mandatário americano.

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