Série “Sl⌀born”: a pandemia é uma profecia autorrealizável?, por Wilson Ferreira

As coisas ficam mais assustadoras quando sabemos que a série foi rodada e produzida no ano passado – em todos os detalhes, os episódios parecem antever a pandemia COVID-19.

Série “Sl⌀born”: a pandemia é uma profecia autorrealizável?

por Wilson Ferreira

Uma pandemia global avança pelo planeta. Numa comunidade em uma pequena ilha no Mar do Norte as telas de TV mostram o drama que avança pelo mundo. Mas todos estão indiferentes, imersos em seus próprios problemas pessoais. Até que um veleiro abandonado encalha em uma das praias, mudando para sempre o destino da ilha: traz a cepa do vírus que fará aquela ilha fazer parte de uma crise sanitária global sem precedentes. A primeira temporada da série alemã “Slborn” (2020-) descreve de forma precisa e detalhada todas as consequências que estamos vivendo nos últimos meses – políticas, sociais e econômicas. Porém, as coisas ficam mais assustadoras quando sabemos que a série foi rodada e produzida no ano passado – em todos os detalhes, os episódios parecem antever a pandemia COVID-19. Ao lado do “Event 201” de 2019, vazamentos de informações da comunidade de inteligência do EUA e de outros filmes como Contágio (2011), “Slborn” seria mais uma peça de uma gigantesca profecia autorrealizável? Peça de um “Grande Reset” do Capitalismo? 

“A vida imita a arte”. Quem escreve e lê sobre cinema e audiovisual já está acostumado com essa máxima a cada produto fílmico que parece antever acontecimentos políticos ou econômicos.

Por exemplo, em postagem anterior esse Cinegnose um conjunto de dez filmes e séries que estranhamente parecem terem previsto o futuro – clique aqui. E, é claro, a série os Simpsons está entre ela com a previsão da vitória de Donald Trump em março de 2000.

Indo além do clichê da “coincidência” (em um mundo altamente midiatizado não existem mais coincidências, mas, no mínimo, sincronismos), discutíamos duas hipóteses:

(a) Sincromisticismo: as relações entre a realidade e as narrativas ficcionais midiáticas sobre a realidade são mais complexas do que o velho provérbio de que “a vida imita a arte”. Haveria uma complexa relação entre os conteúdos midiáticos sedimentados em memes e arquétipos e os acontecimentos sociais, econômicos e políticos. A onipresença dos meios de comunicação criaria um “contínuo midiático atmosférico” que apresentaria estranhas contaminações da ficção na realidade.

(b) Engenharia social: num movimento contrário, é a realidade influenciando a ficção, de forma que os produtos audiovisuais se tornam peças de uma agenda (agenda setting) política ou econômica mais ampla. Estratégia de engenharia de opinião pública para criar verossimilhança ou credibilidade em acontecimentos que irão impactar a sociedade. Em outras palavras, quanto mais os acontecimentos ficarem supostamente parecidos com a ficção, mais serão críveis e aceitos pela opinião pública como acontecimentos “reais”.

A pandemia do novo coronavírus vem até aqui apresentando uma estreita ligação com o mundo ficcional, ao ponto de os críticos especializados falarem em um subgênero em ascensão: a “covid exploitation”. Esse conceito pode muito bem ser aplicado na produção audiovisual em meio à pandemia: como Corona Zombies, A Casa da Praia ou curtas como The Ultimate Quarantine Film ou 19 Covid Lane.

Mas então o que dizer de filmes como Contágio (2011), o mais verossímil vírus do cinema, elogiado por virologistas e epidemiologistas, que descreve em detalhes uma pandemia iniciada na China. Como se a pandemia atual seguisse o roteiro descrito pelo filme.

Em 2014, o então presidente Barack Obama alertava: “Tivemos sorte com o H1N1 que não se mostrou mais mortal do que o esperado. Não podemos dizer o mesmo do ébola, porque obviamente está tendo um efeito devastador em África, mas não se transmite pelo ar. É muito provável que chegue uma doença que se transmita pelo ar e seja mortal“.

CIA e “Event 201”

Desde 2018, a CIA alertava: os Estados Unidos e o mundo permanecerão vulneráveis ​​à próxima pandemia de gripe ou surto em grande escala de uma doença contagiosa que poderia levar a índices massivos de morte e incapacidade afetam gravemente a economia mundial, esgotam os recursos internacionais (…) uma “nova cepa de um micróbio virulento que é facilmente transmissível entre humanos continua a ser uma grande ameaça especificamente um coronavírus”.

E por último, e não menos importante, bancado pelo Big Money (Fórum Econômico Mundial) e a Big Pharma (Fundação Bill e Melinda Gates) no John Hopkins Center for Health Security, em Baltimore, realizou-se uma simulação cuidadosamente projetada de uma epidemia de coronavírus chamada nCoV-2019, intitulado “Event 201 – A Global Pandemic Exercise”. Foram simulados cenário de colapso nos mercados financeiros, econômicos e as abordagens midiáticas nos telejornais, redes sociais etc. Um a um, cada evento real está batendo com os cenários de simulação daquele evento – clique aqui.

Fizemos essa longa introdução para contextualizarmos a série alemã Slborn (2020-), mais uma produção que entra na atual cena da Covid exploitation na qual um vírus fatal toma sorrateiramente conta de uma ilha do Mar do Norte chamada Sl⌀born.

A série Sløborn, encomendada pelo canal alemão ZDFneo, descreve em oito episódios como um vírus se alastra – em âmbito mundial, e de repente também dentro da própria casa. O que torna emblemática essa série (criada pelo diretor Christian Alvart) é que ela foi escrita e filmada ANTES da eclosão do coronavírus (em novembro de 2019 ela já estava pronta) e agora se beneficia de forma sincrônica com a verdadeira pandemia, com altos índices de audiência.

O teórico do cinema Eckard Pabst, da Universidade de Kiel, Alemanha, é um dos críticos que se diz impressionado com a “clarividência” do filme: “Muitos detalhes me lembraram a realidade que estamos vivendo”. Para ele, os paralelos entre filme e realidade revelam um certo padrão: “Os espectadores veem: o processo não é caótico, as medidas seguem um plano”.

A Série

Slborn conta com uma temporada composta por oito episódios de 45 minutos em média. O drama de uma ilha do Mar do Norte que foi invadida por um vírus foi criado junto com uma equipe de consultores virologistas: projetaram uma “gripe do pombo”, uma mutação agressiva da gripe aviária que mata nove em cada dez pessoas.

Aqueles que são contaminados rapidamente apresentam sintomas de uma gripe comum que evolui para uma forte tosse e sangramento pelos olhos. Pelos olhos? Claro, para as câmeras as doenças somente assumem gravidade quando é mostrado sangue. Muito sangue…

A gripe começa na Ásia, avança para a América do Sul até bater nas portas da Europa, através da Alemanha.

Mas as notícias não abalam o bucólico cotidiano da ilha de  Slborn, cujos personagens são descritos ao estilo Stephen King – há adolescentes sensíveis, outros desagradáveis que praticam bullying na escola local.

Enquanto os adolescentes são abertos e confiantes (a ponto da adolescente Evelin – Emily Kusche -, de 15 anos, ter um caso com um professor e engravidar). Enquanto isso, os adultos são durões – por exemplo, um ex-presidiário tenta se reabilitar com a sociedade trazendo para ilha um grupo de jovens delinquentes condenados para dar uma chance a eles, num programa de reabilitação em uma fazenda bancada pelo governo.

Outros com problemas conjugais, pequenas traições. E a esposa de um pastor, a livreira Merit (Laura Tonke), fã de um escritor dândi e viciado em cocaína chamado Nikolai Wagner (Alexander Scheer) e que o convida a vir para Sl⌀born e ser a principal atração em um sarau literário.

Chegando na ilha, logo Merit conhecerá a verdadeira face do seu ídolo, criando uma situação que se assemelhará à estória de Louca Obsessão (1990), adaptação de um livro de Stephen King.

Continue lendo no Cinegnose.

Redação

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