Crescimento de Lula coloca luta de classes no centro da conjuntura, diz André Singer

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O crescimento da candidatura de Lula recolocou a luta de classes no centro de debate novamente, avalia o cientista político André Singer. Em artigo na Folha deste sábado, Singer apresenta os números de pesquisas de opinião que mostram o auge da impopularidade de Lula e retomada da boa avaliação entre os eleitores das classes mais pobres, motivados pela crise do governo Temer, enquanto a rejeição se mantém entre os mais ricos. Ele aponta que é por isso que Jair Bolsonaro, que encarna o discurso anti-Lula, tem crescido em pesquisas (o que não significa que será o escolhido no dia 7 de outubro de 2018). E destaca que “rara vez o popular e o antipopular se confrontaram com tanta nitidez na história do país.” 

Por André Singer

Lulismo e Antilulismo

Na Folha

O crescimento da candidatura Lula recolocou a luta de classes, ainda que refratada pela forma “ricos versus pobres”, no centro da conjuntura. Em vinte meses de acusações, denúncias e condenação –multiplicada incessantemente pela mídia–, o ex-presidente duplicou as intenções de voto. Para desespero dos que planejavam sacá-lo de cena de uma vez por todas.

Em março de 2016, no auge da campanha feita para tirar Dilma do Planalto, Lula alcançou o máximo de rejeição e o mínimo de adesão. Recusado, desde 2002, por cerca de um terço do eleitorado, o líder petista chegou, então, a ter 57% contra si. Era o momento em que as gravações divulgadas por Sergio Moro alcançavam o grande público e as manifestações pelo impeachment reuniam multidões.

De lá para cá, contudo, Lula começou, de novo, a crescer. É como se, lenta e continuamente, a insatisfação causada pelo governo Temer tivesse escoado em direção àquele que simboliza um período de melhora, sobretudo para os mais pobres. É deles que veio a ressurreição do lulismo.

No ponto álgido do antilulismo, apenas 23% dos que estavam na base da pirâmide de renda continuavam fiéis ao criador da Bolsa Família. Agora, 45% dos que recebem até dois salários mínimos familiares mensais voltaram a depositar esperanças no ex-mandatário. O índice não está longe dos 55%, nessa faixa de renda, que optavam por Lula contra Alckmin às vésperas do primeiro turno de 2006, quando o realinhamento se fixou.

Em paralelo, a rejeição a Lula, que havia atingido 49% da população mais sofrida em março de 2016, mostrando que a onda antiDilma contaminara, também ali, a figura do antecessor, refluiu, agora, para 27%. Para que se tenha uma ideia da diferença, entre os mais ricos a rejeição é hoje de 63%!

Isto é, se conversarmos com três pessoas da faixa de renda superior, duas dirão que não sufragam Lula em hipótese alguma. Se repetirmos a experiência com o escalão mais baixo, não é certo que encontremos um com a mesma certeza.

Devido à resistência lulista, Jair Bolsonaro, que se coloca como o campeão do antilulismo, tem crescido. Ao vocalizar o “Lula nunca mais”, o ex-militar radical atrai, neste momento, os dois sujeitos de renda mais alta que, na conversa fictícia acima, dizem as piores coisas do antigo presidente. Não significa que votarão no parlamentar carioca em 7 de outubro de 2018, mas dado o horror ao lulismo, prestam atenção às atrocidades que ele diz a cada dia.

Rara vez o popular e o antipopular se confrontaram com tanta nitidez na história do país. A próxima batalha terá por cenário, em janeiro, o Tribunal Federal Regional da Quarta Região. Só que lá, os pobres não votam. 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. A Globo é a lei e que se foda o TSE e o mundo

    PARA BANIR LULA, GLOBO PÕE A FACA NO PESCOÇO DO TSE

     

    Na guerra entre a Globo e o povo brasileiro, que hoje elegeria Lula presidente da República mas pode ter seus direitos cassados por um império midiático construído na ditadura militar, as pressões já chegam ao Tribunal Superior Eleitoral; em reportagem deste sábado do jornal O Globo, ministros do TSE teriam garantido à publicação da família Marinho que Lula estará inelegível após a condenação no TRF-4, prevista para ocorrer no dia 24 de janeiro; segundo a presidente Dilma Rousseff, deposta também por pressão dos Marinho, a Globo sequestrou o Poder Judiciário no Brasil e o instrumentaliza para atingir seus interesses políticos e econômicos

    Fonte: Brasil 247

  2. Como não há fora de

    Como não há fora de pauta…

    Uma crônica favorável ao Lula, mas antes disso, leiam essa sacada :

    ”Lula é culpado? O veredito político, que cabe aos eleitores, só requer a constatação de que, na Presidência, ele coordenou (ou, no mínimo, facilitou) a captura do Estado –e, notadamente, da Petrobras –por máfias partidárias associadas a empresas privadas. Nesse plano, a crença na inocência de Lula exige um exercício hercúleo de hipocrisia ou um alheamento da realidade digno de mestres da arte zen.

       D.M.

    Justitia, a figuração escultórica da justiça, surgiu na Roma Antiga e seus olhos ganharam uma venda na Berna do século 16. A venda assinala o ideal de imparcialidade em relação ao status social e, nas democracias modernas, também em relação à política. A tão celebrada Lei da Ficha Limpa ameaça removê-la, violando a separação entre justiça e política. O processo de Lula no TRF-4 lança luz sobre esse risco.

    Lula é culpado? O veredito político, que cabe aos eleitores, só requer a constatação de que, na Presidência, ele coordenou (ou, no mínimo, facilitou) a captura do Estado –e, notadamente, da Petrobras –por máfias partidárias associadas a empresas privadas. Nesse plano, a crença na inocência de Lula exige um exercício hercúleo de hipocrisia ou um alheamento da realidade digno de mestres da arte zen.

    Já a sentença judicial solicita uma coleção de provas exibidas segundo os cânones do Direito. Além disso, tal sentença submete-se a revisões judiciais e só se conclui na instância recursal derradeira. Nada haveria de aberrante na hipótese de Lula ser declarado culpado pelos eleitores, mas inocente pelos juízes. O contrário, porém, indicaria um avançado estágio de putrefação de nosso tecido social.

    A Lei da Ficha Limpa nasceu de uma articulação de advogados e ONGs. Segundo a sua lógica implícita, só a tutela do Judiciário sobre os eleitores conseguiria reduzir os níveis de corrupção. Sua aprovação pelo Congresso e sanção presidencial (ironicamente, por Lula), em 2010, indicam que nossa elite política, acuada por sucessivos escândalos, renunciava à defesa do princípio da soberania popular. A passagem do tempo mostrou que corrupção e Ficha Limpa convivem em harmonia: o “petrolão”, recorde-se, operou a todo vapor durante a sua vigência.

    A Ficha Limpa sabota duplamente a separação entre justiça e política. De um lado, oferece estímulos vitais, existenciais, para os políticos estenderem sua influência no Judiciário, articulando pela nomeação de juízes amigos nos tribunais estaduais e nos tribunais federais regionais. De outro, confere aos magistrados o poder excepcional de configurar os quadros de candidatos às eleições municipais, estaduais e nacionais. Na “república dos juízes”, o voto torna-se menos livre e a justiça, menos isenta.

    O caso do tríplex do Guarujá mobiliza as paixões dos antilulistas profissionais, que enxergam a oportunidade para afastar o ex-presidente da disputa de 2018 e, no limite, enviá-lo à prisão. Simetricamente, ajusta-se aos propósitos gerais do PT, que vê a chance de popularizar o discurso da perseguição judicial, esvaziando a dura narrativa emanada das sentenças sobre o “mensalão” e o “petrolão”. Contudo, para além das torrentes de insultos fabricadas nas trincheiras militantes, deveria servir a uma reflexão crítica sobre a Ficha Limpa.

    Estamos dispostos a subordinar os direitos políticos do eleitorado de Lula a um veredito provisório de três juízes federais do Rio Grande do Sul, sobre o qual pesará a suspeita (fundada ou não) de atropelo dos prazos judiciais costumeiros? O caso do tríplex é a mais fraca das acusações contra Lula. Na sua convoluta sentença, Sergio Moro admitiu não possuir provas da contrapartida específica oferecida pelo então presidente à OAS. A transação, concluída ou esboçada, parece pertencer menos à esfera propriamente criminal e mais aos fétidos arranjos patrimonialistas tradicionais.

     

    Os fins justificam os meios? Justitia deve perder sua venda em nome da política? O “mercado”, que foi fanaticamente lulista até converter-se ao antilulismo, acha que sim. Putin e Maduro concordam, utilizando-se habitualmente do Judiciário para esculpir cenários eleitorais vantajosos. As democracias discordam. Nelas, só uma sentença definitiva exclui o condenado da arena eleitoral. O Brasil precisa escolher o seu lado.

     

  3. A Globo é a lei

    Quem sabe a população não comece a pensar que a existência de Justiça Eleitoral, com poder de preparar eleições, chancelar candidatos, realizar pleitos, apurar os votos, declarar vitória, analisar recursos, punir os ditos crimes eleitorais, é algo exdrúxulo em uma democracia. Estabelecer as regras, jogar e fazer o gol, anular o do adversário parece império demasiado, não? Quero crer que essa instância única e múltipla de poder é exclusividade do Brasil. Sigamos as maiores democracias do mundo!

  4. Falta pouco

    Os parlamentares do PT, PCdo B e outros comprometidos com o Brasil devem organizar com bastante antecedência o deslocamento de tanta gente até Porto Alegre. Devem colocar algum do próprio bolso, assim como incentivar desde já uma vaquinha para que todos possamos contribuir.

    O Brasil é muito grande, atravessar o País de ônibus é muito cansativo e dispendioso, tem qua haver muita organização e solidariedade para que tudo corra da melhor forma possível. 

    Lula somos nós todos.

    Somos todos Lula!

    1. Gostaria de contribuir para a ida do máximo de pessoas possível

      Vamos invadir Porto Alegre. Gostaria de contribuir. Se tiverem uma conta bancária onde se possa fazer um depósito bancário, informem.

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