Sobre identidade racial e racismo, por Cristiane Alves

Sobre identidade racial e racismo

por Cristiane Alves

Dois fatos me tiraram o sono nos últimos dias. Um foi a morte do menino Marcos Vinicius, o outro foi o insight de Fernando Feriado sobre sua identidade racial e racismo.

Antes de tudo gostaria de lembrar a importância dos sentidos. animais que somos, nos valemos dos muitos meios de percepção do entorno, desses reconhecemos cinco ou seis. Mas são muitos mais, a ciência um dia vai ter coragem de afirmar isso, então enquanto não, culpemos os cinco sentidos por nossas percepções.

Compreendemos o mundo pelo cheiro, pelo gosto, pelo tato, pelo que vemos e ouvimos, mas o comprendemos também pelo que falamos e pelo que raciocinamos. Esse conjunto complexo de informações recebidas e processadas por diferentes caminhos é que nos convence que tudo é como cremos.

Então pensei em como somos enganados por nós mesmos, pensei na relatividade de todas as coisas, na capacidade que temos de nos projetar nos outros e na empatia.

Uma percepção comum e amplamente difundida é que negros são potencialmente mais violentos, perigosos, sujos, feios, pobres e bandidos. Essas são percepções construídas por séculos, mas falar sobre essa construção hoje é rapidamente relacionada à mimimi, o que remete ao choramingo, à manha, ao tentar convencer pela vitimização. Mas, pela ótica de quem habita a pele negra, ciente disso ou não, não é.

A questão é profunda, se ramifica e sugere subtemas os quais não se encerram. Importante mesmo é pensar o pensar e suas origens. Deveríamos sempre questionar nossas certezas, rever nossas percepções. Apenas como exercício de sermos mais flexíveis.

Quando um homem pergunta em público qual a vantagem de ser homem, por exemplo, não quer apenas dizer que homens são vítimas da sociedade e, convenhamos, homens também são vítimas, lobos de si mesmo que são

Ao trazer a pergunta ao debate público está na verdade mostrando um ângulo particular onde o privilegiado, cercado que está nesse privilégio, não percebe mais nada nem que seja privilegiado. 

Já falei sobre isso, mas pessoas brancas vivem no mundo como brancos, homens e mulheres, pobres ou ricos, dentro de suas particularidades passam por alegrias, tristezas, vícios e privações. A pergunta recorrente é se há vantagem em ser branco num mundo de brancos, ou ser homem num mundo dominado por homens. A vantagem é apenas ser. Vantagem de ser branco, num mundo dominado por brancos é ser humano. Ser normal.

Do mesmo modo é ser homem. É ser. O não ser causa estranheza, desconforta. Produz o olhar enviezado, a dúvida, o preconceito e as dificuldades.

Isso vale para tudo onde as relações de poder são desiguais, vale tanto mais quanto mais o for a desigualdade.

Por outro lado o sentido não é a realidade, é somente um ponto de vista, um ângulo. Pensemos um mundo onde todos são negros, violentos e pacificos, homens e mulheres, pobres ou ricos. Onde o fato de ser negro não seja requisito para a desconfiança, onde ser negro é apenas ser. Um homem negro na África é um homem, não um homem negro.

Uma mulher em Atlântida seria apenas uma pessoa. 

Talvez nunca cheguemos a ver um mundo inclusivo, de fato, onde nem tudo tenha que ter uma vantagem para ter valor. Talvez não consigamos mudar essas coisas. Mas pensar as nossas certezas sempre pode nos tornar livres de nossos preconceitos.

Então chegamos ao Marcos Vinicius, menino negro morto por bala encontrada, num lugar onde muitos acreditam ser o reduto de toda violência, a favela.

Do ponto de vista da classe média branca, não causa estranheza ser assassinado aos 14 anos quando se é negro e favelado, não comove como fosse um menino loiro do Leblon. Então olham o uniforme e pensam que poderia ser QUALQUER CRIANÇA (como se ele não fosse qualquer criança). Para justificar o direito de assassinarmos crianças negras e estudantes alguém tem a brilhante idéia de editar uma imagem onde um corpo negro armado serve como complemento para o rosto daquele que era só um menino. Em um único toque e a dor de ser atravessado por uma bala, a dor da mãe, que por 14 anos criou esperança e sonho, a perda, o choro, em apenas um dedilhar tudo se justifica. 

A pessoa que transformou Marcos Vinicius em um delinquente perigoso e todos os que compartilharam a imagem e seus sentidos, todos foram igualmente culpados, bandidos, violentos e perigosos. Matam a criança, a mãe e a mulher viúva de uma história de 14 anos.

Então pedem desculpas, vazias. No próximo negro morto tudo novamente. Porque é mais fácil aceitar que o que crêem é a verdade do que questionar essa verdade. Não atoa pedem ditadura, sabem que ali as verdades são construídas e impostas, não precisam produzir nada, apenas propagar. A vida do mínimo esforço onde alguém sempre terá que se esforçar dobrado, mas nunca será visto.

O mundo onde Fernando Feriado é misericordiosamente selecionado para provar que sim todo negro é problemático, mas com esforço, com vontade, com determinação podem se tornar negros melhores. Negros que acreditam que a dificuldade da maioria é vitimismo, que torcem pela manutenção dos privilégios de quem sempre teve. Negro que persegue o semelhante por não ver semelhança. Por olhar o outro com as lentes que não são suas, que nunca será o dono da casa grande por isso se contenta com manusear o chicote e guardar a senzala. Pra esse todo choro e lamento vindo do esfomeado, do agredido, do massacrado, é vitimismo. Fossem como ele seriam livres e fortes. Mas não faz questão de notar que se todos fossem iguais ele mesmo seria desnecessário. 

Então penso que nossos sentidos nos dão o mundo, mas eles nos aprisionam.

 

Cristiane Alves

16 Comentários

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  1. LACAIOS DE DITADURA MILITAR FASCISTA

    Já tivemos uma época aúrea no Brasil construída sob as Catedras da Faculdade de Direito do Largo São Franscisco, onde nossas Elites Republicanas, Democráticas, Liberais eram Machado de Assis, Castro Alves, Lima Barreto, Cruz e Souza, Luiz Gama,… Quando ter um Presidente Negro como Nilo Peçanha era algo normal. Por que Todos iguais. Não havia a institucionalização do racismo e suas cotas. Nem as Elites que precisam de tal racismo para sobreviver, perpetuando-o. Era um Governo Democratico de Voto Facultativo. Algo inimaginável para nossas Elites Esquerdopatas que ascenderam com Ditador Caudilhista e Fascista num Golpe Militar nos anos de 1930. Não à toa reverenciam a memória do fascista mantendo Voto Obrigatório, Contribuição Sindical Obrigatória, Código Civil, Policia Militar e outros tantos resquicios ditatoriais até os dias de hoje. Como a perpetuação do Racismo e Vitimização, por exemplo. O Brasil é de muito fácil explicação.    

     

    1. “Republicanos??”

      A República Velha não tinha nada de democrática… O voto era sensitário, e a ´bico de pena´. Menos de 20% da população tinha direito a voto. Era a República dos latifundiários apenas preocupados com a imigração para substituir a mão-de-obra escrava recém liberta pela Princesa. O fim da escravidão foi a motivação política para a derrubada do Império e proclamação da República. 

      Foram os republicanos que edificaram o racismo a fim de impedir a integração dos pretos e pardos na sociedade brasileira e impuseram ao estado as ideologias do branqueamento e as eugenistas, com leis e decretos para só admitir a imigração européia, a fim de melhorar a ´raça brasileira´, conforme os ideais da eugenia.

       

    2. Ô ze sergio, desculpa a indiscrição, mas…

      … você já tomou no seu c# hoje? Quer dizer que a República Velha com votos de bico de pena eram governos democráticos? Acho que você é saudoso do voto censitário ( ser homem, com mais de 25 anos e com uma renda financeira anual de no mínimo 100 mil réis) do Império.

      1. kkkkkkkkkk!!!!!!
         

        Pô Almeida,

        pega leve.

        Pode ofender o rapaz!

        Ah! você esqueceu o mais importante  sobre o voto censitário: ser homem, branco, maior de 25 anos e ter uma renda financeira superior a cem mil réis.

         

         

        1. Tava implícito naquela época, preto nem era considerado homem.

          Não ofendi, não. O cara tava carente quando fez o comentário, se tivesse relaxado, não diria tamanha asneira. 

          1. Na verdade
             

            o direito a voto tinha fundamentos do direito de cidadania, que por sua vez, assim como no direito romano, do qual o nosso direito se origina, impunha severas exigências para seu reconhecimento.

            Só tinha direitos humanos quem era considerado cidadadão, e para ser cidadão deveria, antes de tudo, ter origem nobre e posses .

            Segundo a tradição, a cidade de Roma foi fundada em 753 a.C. e caracterizou-se desde as origens pela diversidade de povos e costumes. A bipartição social foi transferida da sociedade etrusca a Roma na posterior consolidação de dois grupos sociais, os patrícios (detentores da “nobreza de sangue”, hereditária) e os plebeus. Outra característica da cidadania legada pelos etruscos foi o relevante papel feminino na sociedade.

            Os patrícios formavam uma oligarquia de proprietários rurais e mantinham o monopólio dos cargos públicos e mesmo dos religiosos. Eram, assim, os únicos cidadãos de pleno direito. O restante da população romana era formada por subalternos excluídos da cidadania. Pouco a pouco, foram adquirindo um nome próprio, “povo” (populus). Em grande parte, a história de Roma pode ser vista como uma luta pelos direitos sociais e pela cidadania entre aqueles que tinham direitos civis e os demais grupos.

            Grandes proprietários rurais, os oligarcas romanos desprezavam as atividades urbanas e mesmo o fruto do trabalho na terra que não fosse feito por escravos ou agregados subalternos. Entre o restante da população, havia o “povo” e a “plebe”, palavras que se ligam à ideia de multidão, massa. A noção de plebe como grupo surgiu no processo histórico de luta contra os privilégios dos patrícios. Na sua base estavam os camponeses livres de poucas posses, aos quais se juntaram os artesãos urbanos e os comerciantes. A plebe incluía também descendentes de estrangeiros residentes em Roma.

            Para além da dicotomia entre patrícios e plebeus, havia mais dois grupos: os clientes e os escravos. Os clientes, “aqueles que obedecem a um patrício”, mantinham relação de fidelidade ao patrono, a quem deviam serviços e apoios diversos e de quem recebiam terra e proteção. Já os escravos, até o século III a.C., eram basicamente domésticos. Integravam o conjunto de propriedades do patriarca e faziam parte da família. A pobreza de camponeses e trabalhadores urbanos levava-os à escravidão.

            As consequências sociais da expansão imperial romana, na primeira metade do século II a.C., foi o aumento do número de escravos e das propriedades fundiárias, com resultante crise na pequena agricultura que transformou parte do campesinato livre em proletários – aqueles cidadãos cujos bens resumiam-se à prole. A riqueza de alguns levava à pobreza de muitos, o que não tardou a gerar novas lutas pelos direitos civis.

            O período da República romana testemunhou um grande avanço nas possibilidades de iniciativas jurídicas dos cidadãos. Por exemplo, segundo uma lei datada de 122 a.C., os cidadãos comuns podiam recorrer dos abusos de autoridade cometidos pelos poderosos. Foram estabelecidos dois princípios basilares da cidadania:

            https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2014/01/23/cidadania-romana/

            No Brasil, assim como em Roma os escravos eram objetos de direito, coisas, portanto, e as mulheres casadas eram incapazes. Os menores de 16 anos, os índios estavam entre os loucos de todo gênero e os ausentes.

            O DIREITO A VOTO NO BRASIL

            O voto é a mais antiga ferramenta do brasileiro para exercer sua cidadania e escolher seus representantes. Da fundação da Vila de São Vicente, em 1532, até a reabertura democrática da Constituição de 1988, esse direito já sofreu diversas restrições, como a exigência de uma renda mínima e a exclusão feminina. Conheça dez momentos dessa história no Brasil.

            1555 – VOTO CENSITÁRIO

            Da Colônia até quase o fim do Império, só podiam votar (e ser votados) nobres, burocratas, militares, comerciantes ricos, senhores de engenho e homens de posses, mesmo analfabetos. Em 1555, a vila de Santo André da Borda do Campo tinha juiz, vereador, inspetor e procurador eleitos. Só o alcaide-mor, espécie de prefeito, era indicado pelo rei.

            1821 – CORTE LUSA

            Em 1820, clero, nobreza e exército se revoltaram, exigindo a monarquia constitucional em Portugal. D. João VI convocou eleições em março de 1821 para a nova corte – 72 vagas para a elite brasileira. Após seis meses, uma junta escolheu 68 brasileiros – apenas 50 assumiram.

            1881 – LEI SARAIVA (http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3029-9-janeiro-1881-546079-publicacaooriginal-59786-pl.html)

            Aprovado em janeiro de 1881, um decreto do primeiro-ministro do Império José Antônio Saraiva estabeleceu eleições diretas para câmaras e assembléias. Províncias foram divididas em distritos e eleitores com renda mínima anual de 200 mil-réis foram cadastrados. Em 1882, foram excluídos os analfabetos, já que era preciso assinar um documento.

            1891 – VOTO DE CABRESTO

            Com o presidencialismo, a Constituição de 1891 ratificou as votações diretas, embora Deodoro da Fonseca tenha sido eleito presidente pela Assembléia. Em 1904, a Lei Rosa e Silva estabeleceu que, além da cédula que ia para a urna, outra seria preenchida, datada e rubricada por fiscal eleitoral – intimidação que duraria toda a Primeira República.

            O código civil brasileiro e a cidadania (Lei 3071 de 01 de janeiro de 1916) o primeiro da República e pós escravidão.

            PARTE GERAL

            Disposição preliminar

            Art. 1. Este Código regula os direitos e obrigações de ordem privada concernentes às pessoas, aos bens e ás suas relações.

            LIVRO I

            Das pessoas

            TÍTULO I

            Da divisão das pessoas

            CAPÍTULO I

            DAS PESSOAS NATURAES

            Art. 2. Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil.

            Art. 3. A lei não distingue entre nacionais e estrangeiros quanto à aquisição e ao gozo dos direitos civis.

            Art. 4. A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro.

            Art. 5. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

            I. Os menores de dezesseis anos.

            II. Os loucos de todo o gênero.

            III. Os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade.

            IV. Os ausentes, declarados tais por ato do juiz.

            Art. 6. São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, n. 1), ou à maneira de os exercer:

            I. Os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos (arts. 154 a 156).

            II. As mulheres casadas, enquanto subsistir a sociedade conjugal.

            III. Os pródigos.

            IV. Os silvícolas.

            Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar, estabelecido em leis e regulamentos especiais, e que cessará à medida de sua adaptação. (Vide Decreto do Poder Legislativo nº 3.725, de 1919).

            Art. 6º São incapazes relativamente a certos atos (art. 147, nº I), ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962).

            I – Os maiores de 16 e os menores de 21 anos (arts. 154 e 156). (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962).

            II – Os pródigos. (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962).

            III – Os silvícolas. (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962).

            1932 – VOTO FEMININO

            Estabeleceu-se voto secreto e obrigatório para “cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo” em 1932. Assim, mulheres podiam votar. A médica paulista Carlota de Queiroz foi eleita deputada. Em 1934, a idade mínima para votar passou a ser de 18 anos

            https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-voto-no-brasil/

            Pelo andar da carruagem, se em 2 anos voltamos 20, em 20 anos teremos voltado 200 e considerado o nosso passado “nobre” será um ato de bondade não deixar descendência.

             

  2. Lembrei do poeta: “Deve ser

    Lembrei do poeta: “Deve ser legal ser negão no Senegal.”

    E quanto a “Talvez nunca cheguemos a ver um mundo inclusivo”, cara Cristiane, “nunca” é muito tempo, e a vida das pessoas dificilmente é maior do que, sei lá, uns 100 anos. Se te serve como alento, tenho certeza de que pouquíssimas coisas pelas quais teimo em brigar, pessoalmente verei realizadas. Mas se eu não for teimoso, mesmo que não seja eu quem vai ter um mundo melhor, demora mais para quem vem depois de mim.

    Parabéns pelo texto e mais ainda pela ideia!

  3. Identidade, pertencimento racial e Fernando Feriado…. rsss

    “Então penso que nossos sentidos nos dão o mundo, mas eles nos aprisionam.”, o título da Cristiane não condiz com essa conclusão magnífica. Entendo, pelas lições de FANON, LUTHER KING e MANDELA que a luta deve ser contra a ideologia do racismo e não contra as pessoas.

    Abomino essa construção de identidade racial que tem sido um esforço de nos impor  a crença em pertencimento racial igual nos EUA, e amplamente financiado por centenas de milhões de dólares em projetos, bolsas de estudos e amplo apoio acadêmico a defensores de políticas raciais através das Foundacion´s norte-americanas desde os anos 1980. E essa identidade racial é que tem alimentado ódios raciais e o sucesso do discurso de denúnica do vitimismo pelo Fernando Holliday ´Feriado´ do MBL/DEM.

    Em ´Raízes do Brasil´ (1936), Sérgio Buarque de Holanda afirma a nossa condição dos brasileiros do ´ser nacional´, e não um ´ser racial´. A mesma conclusão das pesquisas de Gilberto Freyre, em ´Casa Grande e Senzala´, da mesma década de 1930 que identificou a nossa condição do encontro dos três povos, por imposição do colonizador, que miscigenado nos legou uma democracia cordial nas relações sociais. Oracy Nogueira, na USP, em 1953, ´Tanto Branco Quanto Preto´, sua tese de doutorado, documentava a diferença entre EUA e Brasil (origem x marca). Para os norte-americanos prevalecia a jus sanguineo ´racial´ (a origem). No Brasil a fluidez do racismo e das discriminações se dava pela cor (marca).

    Sérgio Buarque destacava que essa nossa grande vantagem de não ´ser racial´, nos outorgava uma vantagem competitiva para a edificação de uma nação brasileira. O´Ser nacional´ era uma condição livre, de base cultural e dos costumes, a liberdade que outros povos não tinham. Ter e zelar por um pertencimento ´racial´, por uma identidade ´racial´, era uma prisão perpétua. Os povos que tinham a crença racial estavam condenados a viver e morrer com tal crença, dizia em ´Raízes do Brasil´.

    FANON, em 1956, num encontro de intelectuais africanos e europeus, em Paris, na condição de primeiro grande ativista contra o racismo afirmava: “Numa sociedade com a cultura de raças, a presença do racista será, pois, natural.”

    Por isso gostei da frase final e espero que trilhemos o caminho da liberdade e não do aprisionamento: Então penso que nossos sentidos nos dão o mundo, mas eles nos aprisionam.

    1. JRM SE NÃO COMPACTUA COM A INDUSTRIA DA POBREZA SERÁ EXPURGADO

      Caro sr. Militão, talvez por suas idéias progressistas, de solução dos problemas, de vanguarda e não aquelas de vitimização, de continuidade eterna de diferenças, de Indústria da Pobreza, do Coitadismo, da Desigualdade, do Racismo é que o sr. tenha tão pouco espaço. Destituido até deste minimo espaço em que difundia suas idéias. Mas é só uma Teoria, uma discussão, nada mais. Um Negro contra a Industria do Racismo? Contra o Racismo Legislado, Institucionalizado, Estatal? Pensei. Pensar ainda é Livre, não é mesmo? Quanto à 1.a República, se o VOTO de Homens com tal Renda, então não eram os tais “Coitadinhos” submetidos à vontade do Coronel num fantasioso Voto de Cabresto. Eram Homens Livres votando na Polítivca nacional que lhes interessava. E LÁ SE VAI MAIS UMA FARSA !!! A 1.a República foi construída pelo Partido Repúblicano, fundado e estruturado muito antes do fim do Império. Dentro da Faculdade de Direito do Largo São Franscisco, de onde floresceu Elite Política e Intelectual Negra, como nunca mais tivemos na história deste país. Querem dezenas de exemplos novamente? Nilo Peçanha, o primeiro e único Presidente Negro? E LÁ SE VAI MAIS OUTRA FARSA !!! Estamos falando de mais de 1 século atrás. O Brasil é um País Republicano de Voto Direto e Facultativo. Como é a Estrutura Política da maioria dos países pelo Mundo? Principalmente daqueles que se tornarão Desenvolvidos, 1.o Mundo, Civilizados após a 2.a Guerra? Famintos, desnutridos, perseguidos, doentes, sarnentos, analfabetos, que chegavam deseperados ao Porto de Santos buscando um País Progressista, Liberal, Livre, Igualitário. Até 1930.  Tinham que ficar de querentena no Porto de Santos até se livrarem de tantos parasitas e doenças. Falem para Nós, caros Alemães, Russos, Japoneses, Suiços, NorteAmericanos, Italianos,… Como eram seus países e a estrutura política da qual vocês fugiam? O que mudou no Mundo e no Brasil depois de 1930 e o fim da 1.a República? A Indústria da Vitimização, da Pobreza, da Ignorância, do Racismo implantada por Ditadura Militar Caudilhista e Fascista que destroi esta tal República Democrática juntamente com sua Elite da Faculdade de Direito do Largo São Franscisco. Nunca mais Castro Alves. Nunca mais Rui Barbosa. Nunca mais Nilo Peçanha. Nunca mais Machado de Assis. Nunca mais Cruz e Souza. Nunca mais Voto Facultativo. Nunca mais Brasil Desenvolvido, Liberal e Progressista. E MAIS UMA FARSA CAI POR TERRA. Menos xingamentos e ataques pessoais, caros srs. Mais argumentos, por favor. Tenham um Bom Dia.    

  4. uma gota de sangue

    Alguém consegue me informar como uma bala “perdida” percebe a cor de sua vítima?

    O menino morto é um brasileiro, mestiço como todos nós, que trouxemos desde a Europa e a África sangues misturados, e aqui nos misturamos mais ainda com os nativos.

    Chamá-lo de negro é concordar com o princípio de “uma gota de sangue”, tão bem implantado aqui por FHC e seus acólitos, em mais uma das iniciativas para quebrar a nossa unidade.

    Como sempre avisa Militão, entrar nessa é uma fria, mesmo que beneficie os “negros” de maior renda e educação com as cotas. Se querem democracia, que tal sortear as vagas de cotas?

     

    1. Primeiro que não estamos
      Primeiro que não estamos falando de bala perdida. Falo claramente em bala encontrada. Quando as estatísticas demonstram claramente que negros são maioria esmagadora dentre as vítimas d balas perdidas é impossivel não perceber que não se trata de mero incidente.
      Segundo que não falei aqui de cotas raciais. Embora o tenha feito em outros textos.
      Considero desnecessário sortear as cotas, já são amostragem. Além de que, com cotas negros concorrem com negros e brancos com brancos. Me parece bastante democrático.
      Quanto a “se querem democracia”, creio que hoje são poucos no mundo que não a desejam. Me parece que quando se fala em democracia racial essa é uma vontade mais nossa do que deles, não é?

      1. Negros com negros. Brancos com brancos??

        Prezada Cristiane,

        com o devido respeito considero uma perversidade a defesa da segregação de direitos pela ´cor´ da pele, mesmo que não se fale em ´raças´. Em todo esse processo defendi sempre as ´cotas sociais´, em que, a cor da pele não signifique direitos segregados. Se 50% das cotas de universidades públicas forem reservadas pelo critério de renda familiar, e se 80% dos mais pobres são pretos e pardos, automáticamente, a disputa entre jovens pobres da mesma escola e ambiente social nos faculta até 80% das vagas sociais.

        MALCOLM X num de seus últimos discursos com a negação de luta racial, após a ´Carta de Meca´ dizia: “Não lutamos pela separação. Nem lutamos por direitos segregados. Devemos encaminhar a nossa luta pela reconstrução de nossa humanidade pois a estratégia do racismo foi nos sonegar a inteira humanidade. Lutamos por Direitos Humanos.” (de memória).

        LUTHER KING em seu histórico ´I have a Dream´, disse do sonho de ver seus “pequenos filhos serem considerados pelo seu caráter e não pela cor da pele.”.

        Portanto é um equívoco alimentador do racismo a outorga ou usufruto de direitos com base na ´cor´ da pele, embora essa possa e deva ser utilizada para ações afirmativas, no sentido amplo, e não para a segregação de direitos.

        Outra observação que faço, como advogado e ativista contra o racismo, é uma melhor consideração a respeito do genocídio dos pobres e não exatamente dos pretos e pardos. Se na população mais pobre temos cerca de 80% de pretos e pardos e se a polícia executa e o crime organizado mata mais os pobres, ´normal´ que mais de 70% das vítimas sejam pretos e pardos.

        Assim, percebo que o racismo no meu entender é fator preponderante para a pobreza mas não é o fator preponderante no genocídio da população afro-brasileira.

        Espero que você reflita sobre essas questões pois tua escrita é muito boa e prazeirosa. Mas o conteúdo vem contaminado pelo discurso da igualdade ´racial´. Oras, se não existem raças, não há por que se postular igualdade ´racial´.

         

  5. Identidade Racial

    Pelo o que entendi do que Militão tentou dizer é que, ter uma identidade, uma referência para os negros saberem quem são, de onde vieram, suas vidas e seu futuro é irrelevante? Viver com dignidade, de cabeça erguida,e, sempre unidos para lutar pelo respeito que nos é devido é errado? O que seria considerado do agrado do Militão como comportamento aceitável por parte dos negros deste país? Vivermos dispersos e sem qualquer coesão, a mercê de qualquer oportunista que se aproxima de nós para satisfação de seus próprios interesses, políticos ou não? Cuidar de nossos afazeres na cozinha entre as panelas e o calor do forno, e batucar em volume baixo pra não incomodar a “sinhazinha”? Os negros não podem ser sinônimo de subserviência e menosprezo. Se viver com orgulho, unidos e tratados com respeito por tudo o que a sociedade e a História nos negou ofende alguns,azar o deles e de que concorda com essa mentalidade.

     

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