Star Wars 9, a força segue ignorando Chewbacca, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A função de Chewbacca não é empunhar um sabre de luz para reequilibrar a força, mas apenas emoldurar as disputas que ocorrem entre personagens considerados dignos de ocupar o centro do palco.

Star Wars 9, a força segue ignorando Chewbacca

por Fábio de Oliveira Ribeiro

O novo filme da série Star Wars repete alguns temas da trilogia inicial. As escolhas continuam determinando o sucesso ou o fracasso dos heróis e dos vilões ou dos vilões. A força sempre favorece as melhores escolhas. No mundo real, entretanto, as piores escolhas políticas têm desfavorecido a esmagadora maioria das populações sujeitas às tiranias financeiras neoliberais.

Numa galáxia muito distante as regras definidas pela força são impessoais e, apesar das adversidades, acabam sempre se impondo. No universo em nós que vivemos confinados as finanças deformam o jornalismo e as eleições para solapar a democracia, reduzir o espaço da política e sabotar a soberania popular.

A saga cinematográfica termina de maneira previsível. A rebelião contra o império comandado pelo Sith é bem sucedida. Desde os anos 1990 as únicas rebeliões possíveis são aquelas que destroem as democracias, derrubam governantes legitimamente eleitos e instalam governos pós-democráticos que se recusam a atender as necessidades das maiorias populacionais.

Nesse momento e em nosso país, o abismo entre a realidade e a mitologia que orienta Star Wars 9 é imenso. Os negros e índios brasileiros que forem ao cinema sairão de lá com uma certeza: após a destruição dos programas sociais e educacionais criados pelo PT eles e seus filhos foram condenados a cumprir o mesmo destino de Chewbacca.

No mundo real existe uma tensão entre igualdade e hierarquia. Quando a igualdade predomina a democracia se torna uma realidade vibrante que possibilita a mobilidade social. O fortalecimento da hierarquia realça as diferenças (sociais, econômicas, culturais, raciais, religiosas, sexuais etc…) entre os cidadãos e os confina em espaços definidos arbitrariamente pelo mercado.

Se nos determos na trajetória do personagem Chewbacca somos obrigados a reconhecer que essa tensão rompe a barreira entre a realidade e a ficção. Ao longo de toda a saga o Wookiee que se tornou amigo e companheiro de Han Solo participa das mesmas batalhas e corre os mesmos riscos que os personagens principais. Ele é ferido e preso. Todavia, Chewbacca não é tratado da mesma maneira.

Ao fim do primeiro filme da saga (Star Wars: a New Hope, 1977) Luke Skywalker e Han Solo são premiados pela princesa Leia. Chewbacca não recebe uma medalha e fica alguns degraus abaixo dos companheiros. Felizes ou infelizes, alguns protagonistas da série tiveram seus casos amorosos e filhos. Chewbacca nunca ganhou uma namorada. Mais importante: apesar de seus grunhidos, ele nunca se rebelou contra o sistema injusto de distribuição de riscos e de prêmios que orientou a construção da saga.

No mundo real, a força da grana que ergue e destrói coisas belas penetra todas as instituições para manter a democracia sitiada ou em suspensão com a finalidade de privar de dignidade humana imensos contingentes populacionais (negros, índios e mestiços no caso do Brasil). Na saga Star Wars a força que penetra e envolve todas as coisas parece ignorar as necessidades narrativas, sociais e afetivas dos Wookiees. A função de Chewbacca não é empunhar um sabre de luz para reequilibrar a força, mas apenas emoldurar as disputas que ocorrem entre personagens considerados dignos de ocupar o centro do palco.

Uma revolução nessa dinâmica cinematográfica que produziu o confinamento dramático de Chewbacca não será possível se os excluídos que apreciam a série não perceberem que eles mesmos devem revolucionar a sociedade em que vivem. Mas a força deles para fazer isso tem sido drenada pela cultura em geral e pelas religiões evangélicas em especial.

Fábio de Oliveira Ribeiro

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador