Cesar Locatelli
César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.
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Stiglitz debate com o movimento Economia de Francisco, por César Locatelli

O prêmio Nobel, Joseph Stiglitz, ativo membro do movimento, falará, amanhã (12/12) em videoconferência para 20 países, sobre propostas de mudança no ensino de economia: “Uma nova educação para uma nova economia”.

O Prêmio Nobel de Economia de 2001 e professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Joseph Stiglitz, (Reprodução TV Brasil)

Stiglitz debate com o movimento Economia de Francisco

por César Locatelli

A partir da constatação das graves imperfeições do sistema econômico de nossas sociedades e de um convite do papa Francisco para discutir uma nova economia que seja mais justa, sustentável e includente, foi criado um movimento mundial de preparação para a reunião que acontecerá em março de 2020, na simbólica cidade de São Francisco de Assis. O prêmio Nobel, Joseph Stiglitz, ativo membro do movimento, falará, amanhã (12/12) em videoconferência para 20 países, sobre propostas de mudança no ensino de economia: “Uma nova educação para uma nova economia”.

Uma improvável unanimidade entre economistas parece estar tomando forma: a desigualdade e a mudança do clima indicam a necessidade imperiosa de encontrarmos novas soluções. Até mesmo a revista The Economist, obstinada defensora dos liberalismos, indicou o que deveriam fazer os reformadores liberais:

“Eles deveriam usar o 200º aniversário do nascimento de Marx para se familiarizarem com o grande homem – não apenas para entenderem as sérias falhas que ele, brilhantemente, identificou no sistema, mas para se lembrarem do desastre que os espera se não conseguirem confrontá-las.”

Também percebendo as graves imperfeições do sistema econômico, mas, certamente vislumbrando a construção de uma sociedade muito distinta daquela perseguida pela revista The Economist, o papa Francisco propôs uma reunião, para março de 2020, na cidade de São Francisco de Assis, em que anseia motivar jovens a discutir um novo tipo de economia “mais justa, mais sustentável e que confira proeminência aos excluídos”.

O movimento, que já produziu reuniões preparatórias por todo o mundo, ficou conhecido como “Economia de Francisco”. Diz o papa em seu convite:

“Escrevo para convidá-los a participar de uma iniciativa muito cara ao meu coração. Um evento que me permitirá encontrar jovens homens e mulheres, estudando economia e interessados em um tipo diferente de economia: que traz vida e não morte, que é inclusivo e não excludente, humano e não desumanizador, que cuida do meio ambiente e não o espolia. Um evento que ajudará a nos unir e permitir que nos encontremos uns aos outros e que, ao final, nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a economia de hoje e dar uma alma à economia de amanhã.”

Em “A economia desgovernada: novos paradigmas”, o professor Dowbor sugere 10 pontos que julga essenciais na discussão da Economia de Francisco.

1 Democracia econômica: “não haverá democracia política sem democracia econômica”.

2 Democracia participativa: “os processos decisórios (…) não podem depender apenas de um voto a cada dois ou a cada quatro anos”.

3 Taxação dos fluxos financeiros: “os sistemas tributários (…) devem servir ao maior equilíbrio distributivo e à produtividade maior dos recursos”.

4 Renda básica universal: “assegurar um mínimo para cada família”.

5 Políticas sociais de acesso universal, público e gratuito: “o acesso à saúde, educação, cultura, segurança, habitação e outros itens básicos de sobrevivência devem fazer parte das prioridades absolutas”.

6 Desenvolvimento local integrado: “o bem-estar da comunidade e o manejo sustentável dos recursos naturais deve ter raízes em cada município”.

7 Sistemas financeiros como serviço público: “bancos públicos, bancos comunitários, cooperativas de crédito e outras soluções (…) são essenciais para que as nossas opções tenham os recursos correspondentes”.

8 Economia do conhecimento: “temos de rever o conjunto das políticas de patentes, copyrights, royalties de diversos tipos que travam desnecessariamente o acesso aos avanços”.

9 Democratização dos meios de comunicação: “uma sociedade informada é absolutamente essencial para o próprio funcionamento de uma economia a serviço do bem comum”.

10 Pedagogia da economia: “a economia consiste essencialmente em regras do jogo pactuadas pela sociedade ou impostas por grupos de interesse. A democracia econômica depende vitalmente da compreensão generalizada dos mecanismos e das regras. Os currículos obscuros e falsamente científicos têm de ser substituídos por ferramentas de análise do mundo econômico real, de maneira a formar gestores competentes de uma economia voltada para o bem comum”.

Esse último ponto, de extrema relevância, deve refletir na formação dos economistas e na disseminação de conhecimento sobre a economia para a população em geral. Para agregar vozes à discussão sobre a mudança curricular dos cursos de economia a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED) sugeriu a inclusão da Associação Nacional de Graduação em Economia (ANGE), da Federação Nacional de Estudantes de Economia (FENECO) e do Conselho Federal de Economia (Cofecon).

A videoconferência, “Uma nova educação para uma nova economia”, promoverá o encontro simultâneo com 20 países, e será coordenada por Joseph Stiglitz. No Brasil, o ponto de transmissão será na PUC-SP. Todo u debate será em inglês e a PUC-SP providenciará tradutor – e acontecerá no dia 12 de dezembro, às 14 horas, no auditório 333. A conferência poderá ser acompanhada ao vivo pela TVPUC-SP.

Cesar Locatelli

César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.

2 Comentários

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  1. Intervenção do estado em resumo é isso. Liberdade e mercado já são por si só democráticos. E a escolha que promove esta democracia, Mas e o estado que gera a anti democracia, por privilegiar grandes empresas a JBS no Brasil é um exemplo claro disso.
    Não é novidade o que o Papa disse, e a doutrina social da Igreja Católica.
    O problema com a Doutrina Social da Igreja
    A principal dificuldade com boa parte daquilo que passou a ser chamado de ‘Doutrina Social da Igreja’ desde a publicação da encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII, é que tal conjunto de ensinamentos pressupõe que a vontade humana é o suficiente para resolver questões econômicas, e que os ensinamentos e as conclusões das leis econômicas podem ser tranquilamente ignorados. https://www.mises.org.br/article/1548/a-doutrina-social-da-igreja-catolica-e-o-capitalismo

  2. Espero que os economistas entendam o que o papa está propondo. Acho que Dowbor, com suas dez propostas, está equivocado. O papa não quer salvar o capitalismo. Outra economia para o papa é outra forma de organização da sociedade. Em resumo, uma sociedade sem classes sociais, a qual, evidentemente, é a única possível. O que, aliás, em grande medida, confirma o título do seu livro.

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