Sua filha ocupou uma escola? Parabéns, por Leonardo Sakamoto

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Leonardo Sakamoto

De seu blog

fernao

Gostaria de entender a cabeça de quem passa a vida inteira reclamando que “jovens” fogem da escola e não dão a devida importância à educação e, agora, tacha de “baderneiros” a molecada que ocupa unidades de ensino para protestar contra um projeto educacional que eles consideram descabido e pouco transparente.

Na noite desta quinta (12), em frente à Escola Estadual Fernão Dias, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, ocupada por estudantes, organizados e conscientes, e cercada por dezenas de policiais, pensei que, se fosse pai de um deles, sentiria um orgulho grande. Porque saberia que a educação que ajudei ele ou ela a construir valeu a pena.

Estudantes ocuparam, pelo menos, seis escolas públicas em São Paulo para protestar contra o projeto de reorganização da educação no Estado, que vai fechar 94 unidades e redistribuir milhares de alunos. O objetivo do governo é que as unidades seja dividas por ciclos. Independentemente das razões pedagógicas ou da razoabilidade da ideia, a ação não foi debatida com a comunidade e, portanto, nasce errada.

Algo que vai mudar profundamente a vida de tanta gente ser imposta de cima para baixo não faz sentido dentro de uma democracia. Ainda mais quando tratamos de educação.

Como aqui já disse, muitos de nós levam para a rua cartazes de “Mais Educação” de forma vazia. Pois quando se deparam com as reivindicações reais para uma educação que faça sentido aos envolvidos, rangem os dentes, torcem o nariz e insultam. Alguns gritam “vagabundos”. Outros pensam impropérios.

Educar por educar, passar dados e técnicas, sem conscientizar o futuro trabalhador e cidadão do papel que ele pode vir a desempenhar na sociedade, é o mesmo que mostrar a uma engrenagem o seu lugar na máquina e ponto final.

Uma das principais funções da escola deveria ser produzir pessoas pensantes e contestadoras que possam colocar em risco a própria estrutura política e econômica montada para que tudo funcione do jeito em que está.

Educar pode significar libertar ou enquadrar. Que tipo de educação estamos oferecendo? Que tipo de educação precisamos ter?

Em algumas sociedades, pessoas assim, que protestam, discutem, debatem, discordam, mudam são úteis para fazer um país crescer. Por aqui, são vistas com desconfiança e chamadas de mal-educadas e vagabundas.

Ironia? Não, retrato de um Brasil em que a democracia funciona desde que cada um saiba seu lugar. E fique quieto nele.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Então fica a pergunta ao

    Então fica a pergunta ao partidão do governo de São Paulo. Qual é o projeto para o futuro do país excluíndo a educação como ponte para este futuro?. Escroto, no mímino escroto com a educação de São Paulo esse governo. Mas o homem é o candidato forte do partidão em 2018 para a presidência do Brasil. Essas famílias envolvidas diretamente com a educação de seus filhos votarão neste candidato?.

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