Todo poder emana do povo, por Paulo Teixeira

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A frase acima é forte, bonita, assertiva. Faz gosto ouvi-la no meio de um discurso. Em sua versão original, ocupa posição de destaque na Constituição de 1988, logo no Artigo 1º, parágrafo único: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Talvez por pressa ou distração, ou porque a frase lhes parecia extensa demais, deram de abreviá-la. O primeiro passo foi surrupiar o advérbio “diretamente”, mais por capricho fisiológico do que em atenção aos anseios do eleitor. Para que plebiscito, diria o legislador, se fui eleito para exercer a democracia em seu nome? Em seguida, institucionalizou-se a falsa ideia de que “representantes eleitos” são exclusivamente aqueles escolhidos a cada dois anos nas eleições de outubro. Questiona-se a legitimidade dos conselhos municipais e das conferências, muito embora os conselheiros sejam igualmente eleitos, segundo os mesmo princípios de democracia participativa citados pelos parlamentares.

Ao derrubar o decreto 8.243/2014, que instituía a Política Nacional de Participação Social, na terça-feira, a Câmara dos Deputados age como o dono da bola que, incapaz de emprestá-la, sai com ela debaixo do braço para que ninguém mais possa usá-la. Esquecem-se, os parlamentares, que nós, deputados, existimos para representar o povo, e não o contrário. Somos nós os servidores. É legítimo o direito do povo de se fazer representar por outras instâncias, por outros representantes eleitos. Cabe a nós, pivôs da democracia, apoiar os mecanismos que garantem a participação social, das audiências públicas aos plebiscitos.

Resistir ao fortalecimento dos conselhos populares e limitar o uso de consultas não tem nada a ver com preservar a Constituição. Tampouco se opor a um decreto do Executivo pelo simples fato de ser um decreto. É sabido que nenhum governante pode se utilizar de decreto para criar órgão público ou aumentar despesas. Ora, o referido decreto não cria novas estruturas, tampouco se contrapõe a lei anterior. O que ele faz é aproximar a administração pública e a sociedade civil, estimulando e regulamentando a atividade de conselhos, comissões, ouvidorias, conferências nacionais, fóruns interconselhos, audiências e consultas públicas ou ambientes virtuais de participação. Isso tudo sem jamais conferir a essas instâncias poder decisório. Sua função continuaria sendo meramente consultiva, ampliando a interação, a troca de experiências, o papel das sugestões, das críticas e da tomada de decisões em conjunto, num espaço de discussão extremamente saudável para a democracia.

A movimentação à direita deflagrada na Câmara coíbe e desestimula a participação popular e o interesse do povo pela política, contrariando os anseios manifestados nas ruas em junho de 2013. Também vai na contramão da tendência mundial de aumento da transparência e de controle social sobre o Estado. O que houve não foi uma derrota do Governo Federal ou do PT, como alardeou a imprensa, mas uma derrota da sociedade, uma decisão anacrônica que revela o conservadorismo do nosso Congresso e se mostra cega e surda para a mensagem enviada pelas urnas. O que os eleitores nos pedem é mais democracia, e não menos. Mais poder ao povo, e não menos. Bola parada não faz gol.

* Paulo Teixeira é deputado federal pelo PT de São Paulo.
** Artigo publicado originalmente em CartaCapital.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Diz a mim Teixeirinha porque

    Diz a mim Teixeirinha porque deixou nosso coração em luto ao não votar pela instalação da CPMI da Privataria Tucana.

    Como diria minha finada vózinha:-Petistas assim o diabo caga aos montes.

  2. Frase bonita, impactante mas no Brasil, mero discurso.

    Basta ver que mesmo na época da ditadura, com a visão repressiva vigente a frase era muito mais propositiva e proativa. Dizia que “TODO o poder emana do povo e EM SEU NOME É exercido”. Se lida como era apresentada, mostrava claramente que a maior autoridade da nação era o povo, logo o abuso de autoridade era dos que exerciam o poder em nome do povo.

  3. Opinião bem fundamentada

    Paulo Teixeira, em que votei, colocou com muita clareza a defesa dos conselhos. Pena que a presidência e a mídia não tenham feito o mesmo, discutido e exposto o tema com veemência e frequência. Perdeu o povo e o nosso dispendioso  Congresso, mais uma vez, demonstrou o seu fisiologismo, a sua alienação social, o seu desejo de manter-se distante do povo. 

  4. È Paulo Teixeira, sou seu

    È Paulo Teixeira, sou seu admirador, mas a postagem de Luiz Mattos tem lógica.

    Ficamos defendendo o governo petista, aí vem Paulo Teixeira e seus pares ajudarem a engavetar a CPMI da Privataria Tucana. Enquanto isso os tucanos deitam e rolam pela omissão.

    A CPI do Banestado, o relator do PT compactuou (lógico que não estava só) com o encerramento daquela CPI.

    O PT e igual a mulher de malandro, gosta de apanhar (a mídia golpista está aí como exemplo), bate arma mentiras e só agora parece que começam a reagir.

    Fiquei sabendo que cortaram a propagande da Veja, mas só da Veja?  Folha, Época, Globo, SBT, Band e outros.

    Quase fomos derrotados desta vez e culpados, foram o PT em geral e a presidenta Dilma, que abandonou seus parceiros após tomar posse: Movimentos sociais e até o proprio PT.

     

  5. se não fzer tabelinha com o

    se não fzer tabelinha com o povo, o cara tá danado.

    esses caras retrógrados do  congresso vão acabar furando

    a bola de tanto  chutá-la nas cercas de arames farpados

    do seu patrimonialismo ancestral.

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