Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Tom, Vinícius e as Eleições de 2018, por Armando Coelho Neto

Tom, Vinícius e as Eleições de 2018

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Entre todas as motivações que encontramos para agir, com as variáeis consequencias de nossas escolhas, há um consenso sobre a finalidade última de nossos atos: a satisfação de nossas paixões, a realização plena de nossos objetivos, a meta utópia e, quase certamente, inalcançável em sua plenitude, mas que deliberamos perseguir e que convencionamos denominar a “felicidade”. A tristeza, ninguém quer, embora ela possa advir de nossas desgraçadas opções. 

O conceito de felicidade não é de fácil apreensão. Pode ser vista como um estado de espírito duradouro, cujos requisitos para que possa ser atingido variam de um indivíduo para outro. Indubitavelmente, contuo, a esperança é uma das dimensões da felicidade humana. Pois nossa alma complexa precisa sonhar. Sem perspectivas de uma amanhã melhor, não haverá como ser feliz.

Na quadra histórica em que nos econtramos, vislumbramos no horizonte a disputa entre as visões de realidade que nos ofertam, de um lado, a ausência total de perspectivas (Davos), e, de outro, a promessa de que um outro mundo é possível, como no lema do Fórum Social Mundial.

 
É nesse contexto que a África do Sul recebeu, recentemente, os representantes enviados pelos países em desenvolvimento na reunião do BRICS. No evento, foram discutidas alternativas ao cenário de protecionismo deflagrado pelos EUA. Sob a liderança da China, a diversificação no plano da integração econômica avança de maneira firme com a criação do Banco do BRICS, bem como com a Nova Rota da Seda.
Sobre a colossal iniciativa chinesa que pretende recriar a antiga rota leste-oeste percorrida por comerciantes do Oriente e da Europa, o presidente chinês Xi Jinpeng anunciou uma nova injeção de quase US$ 70 bilhões (US$ 14,5 bilhões do Governo e US$ 55 bilhões em empréstimos de dois bancos nacionais) para o ambicioso projeto global de transportes e telecomunicações planejado por Pequim.
 
É curisoso e muito simbólico que os países que buscam, hoje, uma alternativa desenvolvimentista induzida pelos estados nacionais, estão promovendo não apenas um discurso, mas sobretudo práticas mais inclusivas, defendendo justiça e igualdade nas trocas comerciais, além de solução pacífica de conflitos, autodeterminação dos povos. Ao passo que nações outrora personificadoras dos valores da liberdade estão protagonizando a guerra, sob a forma bélica, híbrida ou comercial.
 
O neoliberalismo, imposto nesse conflito mundial, como receita econômica e política para os países em desenvolvimento, prega a privatização de empresas estatais, precarização das relações de trabalho, perda de direitos sociais, flexibilização do fluxo de capitais, congelamento dos investimentos públicos, extinção de regimes previdenciários públicos e exploração privada do ensino e da saúde. No senda das “primaveras” e outros movimentos de desestabilização interna dos paises, no plano da guerra híbirida (que na América do Sul tem sido implementada via cooptação dos órgão persecutores), a neutralização de governos populares e a implementação do recituário neoliberal recoloca tais nações nas trevas da estagnação e do empobrecimento.
 
Mas a brutalidade desse contraste no Brasil parece não ter paralelo em lugar algum do Planeta. Particularmente por que o país trilhava o rumo do progresso e, após um golpe midiático-jurídico-parlamentar, expermentou uma reversão total de expectativas. De uma Nação altiva no plano das relações internacionais, passou a ser desprezada. De sexta economia planetária, baixou para décima. De exemplo mundial de inclusão popular, reingressa no mapa da fome, vendo aumentar os índices de evasão escolar e mortalidade infantil. Doenças há muito erradicadas voltam a infectar a população. Endividamento, violência urbana, desemprego, falta de confiança na empregabilidade e no futuro economico e social fazem com que os jovens emigrem em massa para outros países, como EUA e Portugal.
 
Neste cenário, sucessivos levantamentos de intenção de voto, para incredulidade dos setores golpistas, constatam a vastidao do apio recebido pelo maior lider popular da América Latina, Luís Inácio Lula da Silva. Com efeito, recente pesquisa encomendada pela CUT e realizada pelo instituto Vox Populi mostra que Lula, mesmo preso, prossegue imbatível como o favorito no pleito eleitoral de outubro de 2018, com mais que o dobro dos votos do segundo colocado. O ex-presidente que é preso político em Curitiba há mais de 100 dias, tem 41% das intenções de voto, contra 12% de Jair Bolsonaro (PSL). Ciro Gomes (PDT) vem em terceiro com 5%, seguido por Marina Silva (REDE) e Geraldo Alckmin (PSDB) que têm 4% cada. Álvaro Dias (Podemos) e Manuela D’Ávila (PCdoB) têm 1% cada.
 
Talvez a razão subjacente à supresa do chamado “mercado”, no Brasil, em relação a tais perfis de comportamento do eleitorado brasileiro, seja a certeza do elevado grau de esforços empreendidos para destruir o Estado Democrático de Dirieto e alquebrar o espírito de povo. Esforços estes que incluíram difundir o ódio e o medo na Socidade, neutralizar a verdade pelo filtro manipulador da grande mídia, difundir a mentir através de uma rede de fake news disfarçada nas redes sociais. Uma campanha gigantesca, conduzida com tanta eficiência que atingiu o ponto de arrebentar a economia do País, derrubar um governo eleito com base em um crime de responsablidade inexistente, simular uma farsa processual para condenar Lula sem provas e promover o seu ilegal encarceramento.
 
Honestamene, contudo, penso não haver surpresa alguma. As pessoas apenas possuem a memória de tempos melhores e não suportam as tenebrosas perspectivas que lhes ofertam: um futuro de estagnação, doença, humilhação e pobreza. Nossas classes abastadas, já chamadas alhures de “elite do atraso”, em sua latifundiária ignorância, desconhece a cultura nacional. Bastar-lhes-ia ter ouvido a Tom e Vinícius, em “Felicidade”.
 
*Este texto é uma colaboração da Associação Artigo 5° – Delegados e delegadas da Polícia Federal para a Democracia

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

3 Comentários

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  1. Todos os dias me pergunto:
    Se

    Todos os dias me pergunto:

    Se somos a grande maiorira de prejudicados por bandidos togados/midiáticos e empresariais, porque não os matamos todos?

    Tenho absoluta convicção de que esta gente que destruiu o Brasil em dois anos não nos fará NENHUMA FALTA.

     

     

    1. A(s) resposta(s) é(são) muito simples

      Com quem estão as armas e TODO o aparelho repressor do Estado? Se preciso for, já estão chegando reforços da metrópole, como os dois aviões da Força Aérea Estadunidense, que pousaram em Manaus nesse fim de semana que passou.

      E as FFAA brasileiras, como têm se portado? Elas estão defendendo a sobernaia e os interesses nacionais? O estão sabujas, submissas e serviçais aos imperialistas colonizadores?

      Note que a Presidenta Dilma Rousseff foi eleita por 54.501.118 brasileiros (na pior das hipóteses, pois há indícios e evidências fortes de que tentaram fraudar a eleição presidencial de 2014 em favor do tucano Aécio Cunha, que chegou a comemorar a vitória de forma antecipada), mas foi deposta por 367 deputados canalhas, 60 senadores idem; além disso, o STF conduziu e chancelou o golpeachment, mais falso e fraudulento que uma cédula de R$7,00.

      O Ex-Presidente Lula, se concorrer numa eleição democrática e sem fraudes, consegue hoje 60 milhões de votos, no mínimo. Quanto mais perseguido e vilipendiado for, mais aumentarão as intenções de voto nele, que podem ultrapassar 65% e atingir incríveis 70% dos votos válidos, dando-lhe consagradora vitória em 1º turno. 

      Mas numa ditadura midiático-policial-judicial-parlamentar como a vigente no Brasil, não bastam o apoio e voto de milhões, nem mesmo que esses milhões vão as ruas, pois desarmados e indefesos perante o aparelho repressor do Estado. Digo e escrevo isso porque estamos no mais ANTI-REVOLUCIONÁRIO momento da História. Fazer levante ou revolução exige enfrentamento do aparelho repressor, sem se dispor de armas; milhares ou milhões têm devem estar dispostos a morrer pela causa. A fome, a miséria, a repressão, a carência(…) tudo isso teria(terá) de aumentar muito e haver uma grande politização das massas, para que algum levante revolucionário pudesse(possa) ocorrer. Infelizmente NADA disso está num horizonte próximo; é por isso que o golpe e os golpistas se consolidam e a reação propalada ou exigida do povo pelos acadêmicos, teóricos e escribas não ocorre.

      1. Quem clama pela reação –
        Quem clama pela reação – anseio por ela também – parece não compreender ou se recusa a entender: é exatamente isso. Quem detém as armas? E o poder de aniquilar?

        Anseio, sim, e também me encolho. Quem quer ser esmagado, apartado, agredido? No campo das ideias é árduo, apesar de estimulante, o debate. Mas repressão é um buraco muito mais embaixo!

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