Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Trump derrete, por André Motta Araújo

O problema não é o desfecho do impeachment e sim o poder estendido de investigação que o processo permite. Espera-se muita coisa desse inquérito e é isso que perturba Trump

Ap Photo/Sputnik/Greg Allen

Por André Motta Araújo

O processo de impeachment aberto ainda em forma preliminar na Câmara dos Representantes contra o Donald Trump está velozmente criando uma onda negativa para o presidente, algo não previsto pelos Republicanos que o apoiam no Senado, que não são todos, mas ainda são a maioria na Casa.

O balanço até agora mostra que o impeachment pode ser aprovado na Câmara, mas será barrado no Senado. Não há no horizonte sinal de mudança nesse balanço, parece ser muito difícil Trump perder sua folgada maioria no Senado, apesar de lá sentarem alguns de seus mega inimigos.

Mas o processo sendo vitorioso na Câmara pode afetar as chances de reeleição de Trump. O simples início do processo já afetou a opinião pública contra ele. A cobertura só pode ser negativa e há o risco presente de novas revelações sobre a biografia tumultuada do Presidente.

O ENIGMA DO PARTIDO REPUBLICANO

O perfil histórico do Partido Republicano jamais permitiria, dez anos atrás, pensar que o partido de Lincoln apoiaria um tipo como Trump, que nunca foi Republicano de raiz. Os Republicanos têm seu núcleo duro na elite empresarial e financeira americana e Trump jamais foi dessa elite, como grupo social.

Trump é e sempre foi visto como um aventureiro sem escrúpulos operando individualmente e não como parte de um sistema corporativo. O currículo e o cadastro de Trump mostram um  pirata do sistema político, que invadiu e tomou a cidadela na mão grande e como conquistador é temido pelos dominados.

Há décadas conheço muitos Republicanos, alguns amigos até hoje. Fui consultor do Partido Republicano para o Brasil na década de 90 e promovi o primeiro encontro entre a cúpula do PT, representada pelo seu presidente José Dirceu, e o governo Republicano dos Bush, representado por Otto Reich, então Subsecretario de Estado, em almoço na minha casa, que só foi revelado recentemente pelo Wikileaks.

Esses Republicanos da Era Bush NÃO são os Republicanos de Trump, são tribos completamente diferentes, a ponto dos Bush, pai e filho, terem votado na última eleição em Hillary Clinton, super inimiga do Partido Republicano mas, para eles, melhor solução para a Presidência do que Trump. Isso mostra a diferença de escala e de grupo
no Partido.

DOIS CASOS DE TRUMP

Apenas dois exemplos, entre muitos, do “modus operandi” de Trump.

A compra do iate NABILA, de 281 pés, construído a um custo de US$100 milhões (hoje equivalente a US$ 304 milhões), em 1980, pelo estaleiro Benetti para Adnam Kashoggi, bilionário saudita lobista de armamentos, depois vendido ao Sultão de Brunei que revendeu a Donald Trump em 1987.

Trump rebatizou como Trump Princess MAS só pagou a entrada de US$ 19 milhões, depois não pagou mais nada, MAS não devolveu o barco, ao contrário, continuou a usá-lo. O vendedor conseguiu a ordem de retomada judicial mas Trump levava o iate de porto em porto com toda a artimanha de malabarista experiente, nunca devolveu mas conseguiu revendê-lo para o Principe Al-Waled bin Talal, recuperando o dinheiro pago na entrada, deu um cano no Sultão de Brunei e usou de graça o iate por dois anos e meio.

Al-Waled esteve em São Paulo na década de 90 para ver um terreno da CESP na região da Av. Paulista, oferecido à rede de hotéis Four Seasons, que ele controla até hoje.

Na ocasião eu era consultor da Four Seasons e recebi o Príncipe, hoje preso na Arabia Saudita pelo seu primo, o herdeiro do trono.

O outro caso foi o edifício Trump Tower de San Diego, Califórnia. Os investidores puseram todo o dinheiro para construir a torre e Trump ficou com US$ 30 milhões como cachê pela cessão do nome Trmp, quando os investidores tentaram processá-lo viram que era impossível. O empreendimento era de Trump mas ele não era responsável pela entrega do prédio, só emprestava o nome e não respondia por nada. Esse golpe foi aplicado várias vezes até o esquema ficar queimado.

Até ser eleito Presidente dos EUA, algo que ele pensou nunca ser possível até o ultimo instante, Trump já não tinha crédito em bancos americanos há 20 anos. Se financiou no Deusche Bank em Frankfurt, depois se queimou nesse banco e passou a operar com bancos de 3ª linha em Chipre, controlados pelos oligarcas russos amigos de Putin. Ninguém até hoje sabe quanto ele deve nesse paraíso fiscal, visto que a Organização Trump não publica balanços e suas declarações de renda nunca foram exibidas. Talvez agora sejam com o inquérito do impeachment na Câmara.

O IMPONDERÁVEL NO INQUÉRITO DO IMPEACHMENT

Trump está visivelmente incomodado pelo inquérito de impeachment na Câmara e demonstra isso em seus contatos com a imprensa. O problema não é o desfecho e sim o poder estendido de investigação que o processo permite. Espera-se muita coisa desse inquérito e é isso que perturba Trump.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

14 Comentários

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  1. Pra mim, o impeachment de Trump está ligado totalmente a economia. Se ela estiver com o desemprego baixo até próximo da eleição, ele tem grande chance de ganhar novamente . Se não, é possível até que, mesmo não sofrendo impeachment, os republicanos disputem com outro candidato. Agora o que acho quase impossível é que, se reeleito, Trump termine o segundo mandato, pois a conduta da política econômica que faz, na base da guerra comercial, tem tudo pra estourar e aí o único pilar que o segura, o econômico, acaba. Aliás, um roteiro parecido com o de Nixon = em 72 ele ganhou de forma implacável (creio que até hoje uma das maiores diferenças de votos ) e também em 72 começou a publicação do WP do escandalo Wateragate – mas em 74 ele renuncia pra evitar o impeachment, pois nesse ano o Watergate se somou a uma queda grande da economia americana devido o choque do petróleo, além da saída humilhante da guerra do Vietnã.

    1. O emprego não está tão bem como nas estatisticas. Um vice-presidente da antiga HP, empresa de informatica, que eu conheço,hoje é recepcionista de restaurante, operarios bem pagos na industria automobilistica hoje fazem limpeza noturna de aviões. Todos são empregados nas estatisticas mas estão 3 ou 4 niveis abaixo de suas capacidades e pretensões, essa é uma realidade ameicana.

      1. Sim, André, eu conheço essa realidade graças aos seus posts. E essa realidade ajudou muito Trump a ser eleito. A questão é saber se na próxima eleição, daqui um ano, mantido esse quadro de desemprego baixo mascarando empregos de baixa qualidade, os americanos vão escolher entre ficar do jeito que está ou se arriscar em outro candidato. Tudo indica que será Elizabeth Warren, já que Sanders, na minha opinião, não terá chances com o problema de saúde que teve agora e Biden tem essa questão do filho envolvido em negócios na Ucrânia. E sei quase nada sobre Warren ainda.

        1. “Biden tem essa questão do filho envolvido em negócios na Ucrânia”:

          Nao, nao tem essa “questao”. Existem ZERO indicios disso em todos esses anos. Trump os inventou.

          (Nao sei se falei hoje mas meu voto vai ser pra ele de novo: ele EH o governo norte americano que eu conheco, nada mais justo que um representante que nem se preocupa em disfarce.)

  2. Muinha leitura sobre o affair é diferente.
    Não acredito no impedimento de Trump,principalmente porque é publico e corrente que a famiglia Biden é mais suja que pau-de-galinheiro.
    Trump vai ganhar de novo pois o povo americano não suporta mais a corrupção dos democratas e suas ligações perigosas com o “Deep State”,o casal da guerra Hillary e Bill, George Soros e sua miríade de pautas identitárias que são as alavancas da “guerra hibrida”.

    1. A questão não é pessoal Trump versus Biden, a questão é o uso do Estado para beneficio pessoal do Presidente. Biden pode nem ser e provavelmente não será o candidato Democrata, isso em nada muda o fato que gerou o pedido de impeachment, que foi a conduta do Presidente no cargo.

  3. O que está por detrás deste impeachment só saberemos depois..
    O mercado vai subir ou cair?
    Jerome Powell relutou em baixar os juros e em implementar outro QE por “oposição ao Trump ( razões políticas)?
    É a guerra comercial do Trump com a China o seu “tiro no pé”?
    Enfim…
    Apenas fazendo uma observação: Trump tem tido uma postura contra as guerras…
    Segundo Thierry Meyssan, Rede Voltaire, o Trump quer acabar com a guerra na Síria e pensa em “dividir a hegemonia mundial” com China e Rússia.

  4. Caro sr. André, o problema não é Trump. O problema não é Bolsonaro. Estes, são apenas consequência de um Estado que não mais representam a População que dizem defender. Hillary era a Máquina do Estado. Dizendo-se não ser. Trump vencerá novamente. E a Oposição a Trump é o Poder Judiciário. Poder Judiciário não é Poder Político. Somente na Política se reinventa novas realidades e novas leis. Trump manda levantar muros na fronteira com o México. É o cúmulo da desumanidade. Sabemos. Mas onde estão os assassinatos em massa em Tijuana? Sumiram? E as levas de Guatemaltecas? Agora precisam parar no México? Não é que ‘ a corda ‘ obrigou a uma mudança de rumos e de realidades? Bolsonaro não é solução de nada. É a Nação que não suporta mais 9 décadas de Estado Ditatorial Absolutista Caudilhista Assassino Esquerdopata Fascista. A resposta deste Estado é lançar Maia, como novidade e seus 4 bilhões de reais de Fundo Partidário? Ou Lula como a milésima reencarnação de Dom Sebastião? E depois? Mesmo nos seus textos, continuamos a usar outras Nações para construirmos Nossa realidade. O Brasil precisa construir a sua própria. Até os anos de 1930, os EUA arruinados e a Europa caminhando para o abismo. E o que fizemos? Perdemos a maior oportunidade na História da Humanidade. A culpa é de quem? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  5. No Rio Trump envolveu-se na construção de um hotel na Barra da Tijuca junto com um neto do ex-ditador general Figueiredo. O neto acabou preso em Miami acusado de pagar propina a diretores do BRB (Banco do governo do Distrito Federal) em troca do banco investir no hotel. Quando o escândalo surgiu, Trump saiu do negócio tirando seu nome do hotel.

  6. Me surpreendi ao ver a reação agressiva de Trump com um jornalista na última coletiva. A agressividade desproporcional, recusando-se a responder, é muito significativo. Reação semelhante teve Bolsonaro à pergunta de um cidadão: “Cadê o Queiroz ?”. Tudo muito revelador dos bastidores…

  7. Clinicamente complexado, mentiroso, ladrao, usa e descarta pessoas, clama meritos e creditos alheios, finta, ninguem sabe suas dividas, sadico, psicopata, megalomaniaco, etc…

    Trump nao cai. Ele eh a cara do governo!

  8. Por sinal, Andre… eu ouvi quase 20 anos atraz, logo depois de uma visita de Trump ao Brasil, que um galho da familia salvo-engano Matarazzo tinha explodido uma mansao historica em SP porque Trump tinha mostrado interesse na propriedade para um de seus hoteis.

    Eh verdade???

    1. Eles realmente demoliram a mansão para poder vender o terreno mas não conheço essa estoria envolvendo o Trump, no terreno foi construido um shopping com torre de escritorios.

  9. Trump EH o governo norte americano. O que eu vi com os proprios olhos.

    E merece a reeleicao. Vou ser o primeiro da fila pra votar nele de novo.

    Canalha so merece a luz do sol, beeeeemmmm exposto ao sol. Aa luz plena do sol. Pra todo o mundo ver. Eh exatamente o que o governo norte americano que me estracalhou por 10 anos diretos merece.

    Testemunhas. So preciso de testemunhas.

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