Um falso dilema: curto x longo prazo, por Rodrigo Medeiros

Um falso dilema: curto x longo prazo

por Rodrigo Medeiros

No final de 2016, o Brasil se deu efetivamente conta de que a rápida recuperação econômica prometida por alguns não se concretizaria. A persistente recessão, os incômodos do desemprego crescente e uma alta inflação de serviços conspiraram contra as expectativas otimistas de então. Tais fatos colocaram pressão sobre os agentes políticos, em um complexo contexto de incertezas da operação Lava Jato.

A “Carta de Conjuntura”, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, traz, neste janeiro, instigantes reflexões de Luiz Guilherme Schymura. Segundo ponderou o economista, “as projeções de mercado para o crescimento em 2017 caíram de 1,4% em setembro para 0,6% em dezembro. Considerando-se que a trajetória do desemprego, que já atingiu 11,8% em outubro, é defasada em relação à atividade, criou-se uma situação em que os custos sociais e políticos da grande recessão tornaram-se quase insuportáveis”.

Há quem estime o desempenho da economia entre zero e 0,3% de crescimento para 2017. Nesse contexto, as pressões sociais sobre a política não costumam respeitar os ciclos econômicos. Para Schymura, “a política econômica não é decidida num compartimento técnico estanque, e dificilmente consegue ficar indiferente às urgências das demandas sociais e políticas”. Espera-se, portanto, que se tente antecipar e adotar medidas de estímulo à economia. Desburocratizar procedimentos, por exemplo, é uma medida saudável para a redução de custos de transação.

 

Medidas permanentes e temporárias fazem parte das opções dos formuladores de política econômica. Em tempos de recessão prolongada, medidas temporárias de estímulo não devem ser descartadas por conta de preferências ideológicas, que apenas focam em um longo prazo sempre incerto e não claramente definido. 

Citando colegas, Schymura alerta para os riscos do falso dilema entre reformas estruturais e estímulos de curto prazo. De acordo com o economista, “o primeiro tipo de agenda é importante para reduzir gargalos, aumentar o potencial de crescimento da economia e melhorar a utilização dos recursos disponíveis. Já os estímulos de curto prazo suavizam os impactos dos ciclos econômicos e são importantes em situações de depressão econômica, quando o custo do desemprego se torna demasiado alto”. Períodos prolongados de recessão ou baixo crescimento reduzem a produtividade, sendo que recessões profundas aumentam o custo do ajuste fiscal e afetam o produto potencial.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).

Rodrigo Medeiros

2 Comentários

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  1. Como já disse Keynes, no

    Como já disse Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos.

    O  setor industrial está operando 30 % abaixo de sua capacidade instalada. O setor automotivo está talvez operando com 50% de capacidade ociosa. Muitas empresas estão falindo.

    Um conceito básico para as empresas é o break even point, ponto de equilíbrio, em que as receitas cobrem apenas os custos, sem deixar margem de lucro. Quando a produção e venda caem abaixo desse ponto, as empresas se endividam, passando a ter um custo adicional com juros. A produtividade cai. É isso que aconteceu com a maioria das empresas. Para muitas empresas, a receita não consegue cobrir o custo dos juros.

    Só há uma saída para isso, o aumento da utilização da capacidade instalada, acima do break even point, de modo que as empresas passem a ter lucro e se livrar da dívida e dos juros.  

    E isso só é possível através do aumento da demanda agregada, a curto prazo. Sem isso, não há longo prazo.

    1. Não concordo com essa interpretação
      A citação do Keynes que melhor retrata essa situação é que “o lomgo prazo é uma sucessão de curtos prazos.” Na verdade o longo prazo neoclássico é diferente do longo prazo marshalliano.

      Adotando o receituário mercadista (novo clássico ou novo keynesiano) aumentar a utilização da capacidade instalada acima do ponto de equilíbrio é ineficaz porque os custos marginais são crescentes. Isso geraria inflação somente!

      Para Marshall (e Keynes) o longo prazo é quando os parâmetros da podem mudar. Ou seja, só existe uma curva de custo marginal crescente no curto prazo. No longo prazo os custos marginais são constantes ou há economias de escala em toda a produção!

      As conclusões das duas abordagens é completamente diferente porque diminuir a escala faz as empresas perderem eficiência. É o que estamos vendo… As empresas que investiram nos últimos anos estão precisando pagar dívidas e as receitas não cobrem esses custos. E ainda há necessidade de diminuem os preços porque não há demanda.

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