Uma carta aos senhores procuradores da Lava Jato, por Eduardo Ramos

Se houver entre os senhores, alguém que sinta ter se equivocado ao acreditar em todo esse horror, alguém que se sinta "um jabuti colocado na árvore" por interesses mesquinhos e politiqueiros, a hora de desfazer seu erro, é agora!

Uma carta aos senhores procuradores da Lava Jato, por Eduardo Ramos

No tosco filme de propaganda escancarada a favor da Lava Jato, uma cena destoa, lembro do susto que tive ao assisti-la, chegando a pensar: “isso foi um cochilo do diretor, ou uma forma que ele encontrou para tentar demonstrar que os delegados da Polícia Federal faziam “exames de consciência” de tempos em tempos durante as investigações…”

Falo, obviamente, do: “Federal, a Lei é para todos” – onde um Moro cândido e justo, procuradores mais honestos que os discípulos de Jesus e delegados movidos “unicamente pelo combate aos corruptos” (sic…), surgem na telona como os heróis de um novo tempo… – mais surreal, farsesco e caricato, impossível.

Voltando à cena de que falo, trata-se de um diálogo brevíssimo entre dois delegados federais em um bar. Transcrevo abaixo partes do diálogo:

Ivan – Sabe aquela história do jabuti?… E se a gente for o jabuti?

Ígor – Você tá maluco, Ivan! Ninguém colocou a gente aqui não. A gente é concursado!

Ivan – Tá, tá tudo bem. Agora, esse pessoal sai e entra quem? Com que interesses? Com que poder de negociação? A GENTE ESTÁ AJUDANDO QUEM…?

Ígor – Eu quero acreditar que a gente está ajudando o Brasil…

“E se a gente for o jabuti” refere-se a uma metáfora que os delegados usaram no filme, falando de uma pessoa colocada especialmente em um cargo para ATENDER ÀS DEMANDAS DE ALGUÉM em tê-lo ali, naquela posição. No filme, é usada a expressão bem conhecida, “Jaboti não sobe em árvores, para estar ali, alguém o colocou lá…”

No contexto do filme (a cena se dá próximo ao fim, depois da condução coercitiva de Lula), os personagens já intuíam o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, ou seja, a deposição do governo do PT e o encarceramento de sua principal liderança. Caminho aberto para Temer no poder e a destruição parcial do maior partido de esquerda da América Latina. Verdadeiro ou não, o diálogo havido entre os dois delegados no filme faria todo o sentido para alguém que, ciente que por suas ações toda uma força política estava sendo esmagada, se fizesse essas perguntas, por um “dever de consciência”, por assim dizer: “E se NOS COLOCARAM nesse processo, a Lava Jato (os “jabutis na árvore…”), justamente pra gente fazer esse serviço? E se fomos apenas “alienados úteis” de uma força maior que não conseguimos enxergar? A quem serve nossas ações e suas terríveis consequências? A gente ESTÁ AJUDANDO QUEM, AFINAL…?”

Quando se envolve em um processo jurídico-político-social-midiático de dimensões ÉPICAS como a Lava Jato, as pessoas comuns que dele participam, um dia percebem a grandeza do evento. É, na verdade, “a chance de suas vidas”. 99,9999% das pessoas seguem um cotidiano onde “nada fora do comum” as espera na vida profissional. Ela tem costumeiramente a característica da repetição tediosa, anônima e desprovida de “grandes e eloquentes feitos”, fama, sucesso, reconhecimento nacional. Nos damos por satisfeitos se nosso pequeno entorno social nos enxerga como bons profissionais e somos valorizados por isso.

Imaginemos as sensações psíquicas de êxtase, senso de oportunidade de fama e reconhecimento, o tornarem-se celebridades e o PODER EMBRIAGADOR com que foram agraciados servidores públicos concursados que “até ontem”, eram anônimos trabalhando em um cotidiano absolutamente comum? Não é pouca coisa!…

Alguns, os fracos de caráter e com lado político definido – Janot, Moro, Deltan, Carlos Fernando dos Santos, Érika Marena e seus assemelhados… – VESTIRAM a nova capa de justiceiros-celebridades, com gosto, com fúria, tornaram-se mesmo em pessoas sádicas, cínicas, sem pudor e sem limites éticos, jurídicos, constitucionais – quando perceberam que NÃO HAVERIA OPOSIÇÃO DE QUALQUER ESPÉCIE às suas ações. Achando-se protagonistas da História, nem enxergaram alguns destes, talvez, o quanto eram MARIONETES dos interesses dos EUA e das grandes oligarquias brasileiras, os realmente poderosos, como a família Marinho, para citar apenas um exemplo.

Outros, se jogaram de cabeça no que sabiam a partir de certo tempo TER SE TORNADO UM GOLPE DE ESTADO CONTRA O PT e a favor da direita no poder, a eliminação do INIMIGO POLÍTICO e as blindagens aos aliados… – ao ponto de Eduardo Cunha ser preservado por ser um agente essencial à articulação no Congresso do impeachment da presidente Dilma.

Dirigindo-me finalmente aos senhores procuradores da Lava Jato, transformados talvez à sua revelia em títeres de Sérgio Moro pela submissão de seu líder, Deltan Dallagnol ao ex-juiz, eu lhes pergunto:

“E se entre vocês, os que forem honestos nas suas consciências, HOJE, à luz de tudo o que está sendo revelado, não mais no contexto da paixão febril do auge da Lava Jato, mas no contexto do que vemos e apreendemos pelo andamento das coisas em nosso país, houver alguns que se perguntam: “E se a gente for o jabuti colocado na árvore, por Moro, pela Globo, pelo Departamento de Justiça dos EUA…?”

“Porque um de vocês, anonimamente RECONHECEU JUNTO AO CORREIO BRASILIENSE a veracidade do diálogo vazado naquele jornal, recuperando em seu próprio celular o teor das conversas…?”

“E se era coerente e lógico o temor de alguns de vocês, sobre o fato de Moro largar a magistratura para se lançar na aventura política ao lado do homem que ELE E VOCÊS AJUDARAM A SE ELEGER PRESIDENTE DO BRASIL?”

“E se essa ação de Moro SIGNIFICA exatamente o que algum de vocês se perguntam, à semelhança do delegado Ivan, no filme sobre a Lava Jato: “A gente está ajudando quem com essa operação…?” – E se não foi ao Brasil, apesar das boas intenções INICIAIS havidas na lava Jato? E se essa boa intenção foi DESVIRTUADA, pelo chefe de vocês, Rodrigo Janot, pelo herói de vocês, Sérgio Moro, e pelo líder de vocês, Deltan Dallagnol?

E se vocês, CEGOS PELA FAMA E O AMBIENTE HISTÉRICO dos últimos anos, seguiram o script que era o de Moro desde o início, e colocaram um senhor septuagenário, INOCENTE DOS CRIMES DE QUE FOI ACUSADO, na cadeia, sim, e se vocês foram cúmplices dessa imundície ética, essa injustiça?

Por fim, eu lhes pergunto:

“Quando há dúvidas na consciência, elas não devem ser investigadas por um coração e uma mente abertos à verdade, ao que é digno, correto e justo?”

Prefiro acreditar que alguns dos senhores não estavam e não estão atrás de “palestras para ganhar milhões”, que apesar de antipatias por Lula e pelo PT, não se sujariam usando as delações de modo político, como o chefe de vocês, Rodrigo Janot fez tantas vezes, inclusive, como demonstrou o jornalista Luís Nassif, usando à revelia de vocês a delação primeira do Léo Pinheiro, vazando-a para a Veja para torná-la NULA, porque era, toda ela, contra os líderes tucanos… – e o alvo, era Lula, afinal.

Como seria bom, como seria “de lavar a alma”, se apenas UM dos senhores, num rasgo de coragem e honestidade moral, viesse a público, confirmasse o teor dos vazamentos, e esclarecesse os pontos obscuros, em que a Lava Jato, LONGE DE SER UM INSTRUMENTO DE JUSTIÇA, foi, na verdade, um instrumento POLÍTICO nas mãos de um juiz psicopata, que usou os senhores para servir aos interesses dos EUA, destruindo as nossas empreiteiras e levando à prisão o maior obstáculo de seus alvos pessoais…

Se houver entre os senhores, alguém que sinta ter se equivocado ao acreditar em todo esse horror, alguém que se sinta “um jabuti colocado na árvore” por interesses mesquinhos e politiqueiros, a hora de desfazer seu erro, é agora!

Redação

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