Uma história que não pode ser escrita com palavras, por João Pedro Stédile

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por João Pedro Stédile

No Brasil de Fato

Perdemos Fidel. Ganhamos uma história de exemplos e de sabedoria.

A história de Fidel é indescritível, não podemos descrever apenas com palavras. Então gostaria apenas de dar um testemunho.

Ele usou toda sua sabedoria, conhecimentos, liderança e dedicação para construir, ao longo de 60 anos, um povo unido e organizado, que se transformou imbatível, enfrentando as forças econômicas e militares mais poderosas do século 20: o capital dos Estados Unidos.

Durante todos esses anos, o povo soube enfrentar as piores adversidades, seja da natureza, nos seus furacões, vendavais e nas perdas de colheita. Enfrentou um bloqueio econômico inaceitável. Enfrentou uma guerra permanente, inclusive com uma invasão militar em 1961 na Baía dos Porcos.

Enfrentaram as dificuldades de uma sociedade com limites na produção de bens materiais, uma herança colonial de extrema desigualdade, do trabalho escravo, da monocultura da cana e da subserviência cultural.

Enfrentaram os piores momentos de um país periférico, dependente da geopolítica mundial.

Venceram todas as batalhas.

Construíram uma sociedade que busca intensamente a igualdade de direitos e oportunidades entre todos os cidadãos.

Derrotaram a ignorância e se transformaram no país de maior índice de escolaridade do mundo.

Produziram uma medicina preventiva, humanitária e solidária que enviou mais de 60 mil médicos a quase todos países do mundo, superando todos os países e organismos internacionais juntos. E nos enviaram 14 mil médicos para que 44 milhões de brasileiros pudessem conhecer pela primeira vez atendimento médico preventivo e de qualidade.

Foram sempre solidários com todos os povos do mundo que lutaram contra a opressão e exploração, sobretudo na América latina e na África.

Nosso movimento, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), recebeu a solidariedade permanente e o apoio do povo cubano, com suas escolas técnicas, na Escola Latino-americana de Medicina (Elam), onde se formaram centenas de jovens pobres brasileiros. Recebeu a experiência e o método de alfabetização de adultos (Sim, eu posso!). Construímos juntos as articulações internacionais de movimentos: Via campesina; Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba); Encontro Mundial com o Papa; com os camponeses cubanos da Associação Nacional de Pequenos Agricultores (Anap) e seus técnicos de agroecologia da Associação Cubana de Técnicos Agrícolas e Florestais (ACTAF); com a Central de Trabalhadores de Cuba (CTC); o Centro Martin Luther King, etc. Mas, sobretudo, aprendemos muito com seu exemplo de luta e de persistência.

Participamos ativamente com o povo cubano da campanha anti-Alca (Área de Livre Comércio das Américas ) e contra o domínio do império sobre a América latina.

E Fidel foi sempre o organizador e inspirador de todo o povo.

Não cabe aqui, agora, ficar enaltecendo as qualidades pessoais dessa figura ímpar, de estadista, sábio e estrategista político.

Queria apenas reforçar para nossa militância o seu exemplo em dois aspectos fundamentais da vida.

O amor ao estudo.

Fidel foi um propagandista permanente da importância do estudo, do conhecimento científico, da educação libertadora. Estudou sempre, desde jovem até seus últimos dias. Afirmava sempre: “Só o conhecimento liberta verdadeiramente as pessoas!”, repetindo o seu inspirador Jose Martí.

Esteve sempre junto, com seu povo, em todos os momentos, sendo o primeiro da fila, em todas as situações de dificuldades: na guerra, na organização da produção e do conhecimento. Não mediu esforços e deu exemplo do espírito de sacrifício.

Fidel foi um homem genial, por suas ideias e sua coerência.

Nos deixou um legado fantástico, como exemplo a seguir.

Viva Fidel! Fidel viverá para sempre!

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

16 Comentários

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  1.  
    Para homens e mulheres de

     

    Para homens e mulheres de todo os países, excluindo-se naturalmente, suas burguesias mais rançosas. O Grande Comandante Fidel Castro, permenecerá vivo na enorme memória coletiva dos Povos do mundo.

    Orlando

  2. Atenuando a ditadura

    É impressionante. O brasileiro lutou pela democracia, vencemos duas ditaduras: a de Getúlio e a ditadura militar. Por isso, temos muito apego a democracia, a liberdade que ela nos proporciona para debater, questionar, votar, contestar, ter acesso de livre escolha às  manifestações das artes, ter acesso a todas as mídias. E nesse sentido, vivemos com total liberdade. Por isso, me causa espanto em pleno século 21 ver tantas loas ao ditador Fidel Castro. Em mais de 40 anos, privou duas ou mais gerações de ter acesso a liberdade, a internet, ao direito de ir e vir. Os homossexuais e os opositores políticos sofreram a brutalidade do radical Fidel. Como testemunharam fora de Cuba os escritores  Arenas e Paz Cabrera; ambos morreram no exílio. Não obstante alguns acertos (na saúde), é impossível atenuar a ditadura nos textos. JVai ser impossível esconder da História  a atuação cruel, autoritária e em alguns aspectos (no combate a pobreza) fraca do “comandante”. Ele tem lugar garantido ao lado de Franco, Mussolini, Getúlio, Garrastazu, Costa e Silva e outros de triste lembrança.Mas que choca ver essa reverência, essa babação, choca. Ditador é ditador.

    .

  3. Estranho é que, como Stedile

    Estranho é que, como Stedile disse, a grande marca de Fidel é o estudo e da educação libertadora.

    Sim, porque em Cuba você só é livre para concordar com o governo.

    Você não é livre para pensar.

    Você não é livre se expressar.

    Você nào é livre para criar um partido político.

    Você não é livre para participar de uma eleição.

    Que tipo de liberdade é essa que nega a pessoa os direitos e garantia individuais?

    Ah sim, você é livre para se submeter a um governo autoritário.

    E se você decidir exercer o seu direito de ir e vir, que morra tentando sair da ilha a nado. Afinal o maior legado de Fidel é a educação libertadora e sua morte por afogamento o transforma num martir da revolução.

     

     

    1. Jamais louvarei

      um país, por suas vitrines belíssimas, cheias de bugigangas para vender. Onde se louva a tal de meritocracia, jamais a solidariedade, e uma bela mansão ( “e até alguns anos atrás, um carrão) é um de seus  maiores sonho de consumo de seupovo, pois são a melhor forma de exibir suas “vitórias” na vida. Como nem todos conseguem, alguns compram armas e saem matando a torto e a direito .

      É lógico que alguns pensam diferente e anseiam por uma nova vida, assim como tem muitos americanos com outras idéias tb.

      Mas daí a achar que nos EUA tem plena democracia, é simplesmente desconhecer o papel que suas corporações exercem. nos governos deles e de outros países

      1. Democracia é apenas um modelo

        Democracia é apenas um modelo de governo, não há plena democracia em lugar nenhum, todas tem imperfeições especialmente a americana, mas lá voce pode entrar e sair a hora que quiser, pode falar mal do prefeito, do governador e do presidente, pode morar na cidade e estado que vc bem entender, em Cuba nada disso é possivel e o pior é que não há sequer o sonho da esperança, nenhuma esperança, é uma vide em condições primarias de subsistencia, um empregado oficial não recebe o suficiente para comprar um sapato por ano, todos precisam transgredir a lei usando os bicos, a prostituição, o contrabando para poder comer e vestir, é uma vida miseravel em todos os sentidos, exceto para a nomenklatura que vive nas mansões de Vedado, com seus Mercedes nas garagens.

        Se a a vida em Cuba fosse suportavel não haveria 2,5 milhões de cubanos exilados, inclusive a irmã e a filha de Fidel.

        1. AA

          Vc não leu o que escrevi ?

          Quais, em sua maioria de exilados não eram aqueles que submetiam seus empregados à escravidão em seus canaviais? Tanto é que vivem como milionários em Miami e outras paragens americanas.

          Vc os queria comunistas ??????

          Certa vez eu disseque a maioria da população de lá é composta por negros e vc imediatamente retrucou. Estarão os brancos todos em Miami ?

           

          1. Então os 2,5 milhões de

            Então os 2,5 milhões de exilados são todos milionarios? Claro que não, a maioria são empregados modestos, na Little Havana de Miami emt todos os restaurantes os garçons e cozinheiros são cubanos exilados, serão milionarios?

            Dos 2,5 milhões de exilados não tem mais que 500 milionarios e nenhum bilionario.

            Quanto a industria do açucar não existe mais, Cuba era a maior produtora de açucar do mundo e hoje não tem mais nada,

            todas as usinas viraram sucata, bela solução para  os “empregados em canaviais”.

            Fulgencio Baptista era um horror MAS a economia de Cuba em 1959 era das melhores da America Latina,

            Cuba tinha maior classe media em relação ao total da população do que qualquer outro Pais latino americano.

  4. Há os que choram a liberdade

    Há os que choram a liberdade de escolar, de ser analfabeto, de morrer por não  ter assistência pública de saúde ,  de possuir um IPod, de conspirar, de roubar, de linchar…Mas Fidel deu dignidade ao seu povo, deu exemplo de resistência e obstinação ,  de grandeza, de liderança.Fidel passou à  História pelas suas inegáveis  e exemplares qualidades. 

  5. Fidel

    Conheci Cuba e Fidel, durante um Congresso de Saúde Pública.

    Ele, que já não era tão novo e forte, jamais deixou de participar um dia siquer, prestando muita atenção e questionando os congressistas.

    Apesar de ver as belas praças cubanas sem pintura, envelhecidas, os carros antigos, o que me chamou mais atenção foi a gentileza do povo.

    Visitando os Postos de Saúde e Policlínicas, entendi como se pode manter um povo saudável sem grandes tecnologias, mas com carinho e atenção, muitos problemas de saúde são resolvidos, e c/ uma medicina mais barata e com uma educação tb de 1ª qualidade. Suas faculdades de Medicina e Enfermagem, são um exemplo para aqueles que verdadeiramente querem atender o povo em suas principais mazelas, e não viver sonhando c/ um Einstein da vida, onde poderá ganhar muito dinheiro. E o povo morrendo de desnutrição, vermes, “Nó nas tripas”, e outros mais.

    Sei que cada um, vê o que quer ver (tal como nosso juizeco), pois tem suas próprias réguas e regras.

    E nós, já vivemos em uma democracia alguma vez? ou apenas qdo “alguns” permitem.

    1. Outra sugestão

      Para começar, Cuba pode realmente ser ruim para mim, que sou de classe média alta, mas é para 100% de seus habitantes melhor do que o Brasil é para 90% dos seus. Esse não é um chute estatístico, mas uma estimativa conservadora. 75,9% dos brasileiros vivem com menos de U$10.000 ao ano enquanto 10% dos brasileiros abocanham 75,4% da renda nacional (1% abocanha 48%) (1). A renda per capita em Cuba ajustada por poder de compra é de 20.611 dólares internacionais (2), enquanto a do Brasil antes da depressão econômica era de 15.893 dólares (3). O povo daquela ilha rochosa bloqueada é mais rico que o povo do continente Brasil. Essa é uma realidade chocante e geralmente desconhecida.

      Leia mais em:

      http://www.revistalinguadetrapo.com.br/cuba-a-exata-medida-de-um-imenso-fracasso-por-gustavo-castanon/

       

      1. Você já foi a Cuba?

        Eu fui, e posso lhe dizer com tranquilidade que, do ponto de vista puramente econômico, os indicadores brasileiros são certamente melhores que os cubanos. O PIB per capita na fórmula PPP é distorcido em Cuba pelo fato do país ainda ter duas moedas diferentes – o peso cubano e o peso conversível. Tudo que é vendido em pesos cubanos é absurdamente barato, fato que “infla” o PIB PPP. O problema é que há muitas coisas que só são compráveis em pesos conversíveis, o que na prática faz com que esses produtos fiquem inacessíveis à maioria da população. O resultado disso é que os cubanos raramente pedem esmola em dinheiro – ao invés disso eles pedem sabonetes, produto que frequentemente não está disponível à venda em pesos cubanos.

        Cuba é um monumento vivo à ineficiência do modelo de economia planificada, que sempre precisou de um “padrinho” para sobreviver – no passado a URSS, mais recentemente a Venezuela. O grande mérito do regime castrista foi diminuir a desigualdade entre a cidade e o campo, de um lado, e entre Havana e o interior, de outro. Mas, talvez ironicamente, se você conversar com os cubanos eles vão dizer que o maior êxito da revolução foi ter acabado com a criminalidade na ilha – colocando os mafiosos no “paredón”, diga-se de passagem, algo não muito alinhado com o pensamento mainstream da esquerda brasileira.

        Talvez a revolução tenha seu mérito como inspiração para uma mensagem de mais igualdade e mais liberdade (no sentido de países pequenos se libertarem dos maiores, obviamente – não de liberdade interna). Mas ignorar as imensas falhas do modelo é ingenuidade, desconhecimento ou má fé para mim …

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