Uma onda vermelha?
por Ricardo Cappelli
O levante popular no Chile e a importante vitória na Argentina impulsionaram um conjunto de comparações com a situação brasileira.
Uma onda vermelha estaria cobrindo a América Latina? A chegada ao Brasil é iminente?
O mundo está passando por turbulências e instabilidades. Sintomas clássicos de uma era de transição de hegemonia. A Ásia, liderada pela China, está reconfigurando o globo.
Soma-se a este movimento histórico – colocando em confronto duas superpotências que consideram seus valores universais e únicos -, as contradições inexoráveis da atual fase de acumulação capitalista, cada vez mais excludente e concentradora de riqueza.
Para completar, a revolução 4.0, que tem seu epicentro nas tecnologias comunicacionais, vem forjando novos padrões de sociabilidade, reconfigurando o conceito de tempo, espaço e paciência para as respostas. No mundo instantâneo, a política parece andar de camelo.
Estes vetores e suas múltiplas consequências estão assando as democracias liberais em praça pública. O caldeirão está fervendo. Para o povo, pouco importa o modelo, desde que funcione. O sistema ocidental não está conseguindo responder.
A onda não é vermelha nem azul. Ela é antissistema e traga todos aqueles identificados com o status quo. Ela está em disputa.
O crescimento da extrema-direita nestes momentos não é novidade. Hitler parecia um grande revolucionário para seus compatriotas após a crise de 29. Levou tempo até a ficha cair.
No Brasil, a situação é complexa. Quando a onda passou por aqui em 2013, o país era governado pela esquerda. A representação do establishment era a bandeira vermelha. O país afundou, com duas quedas violentas do PIB e dois dígitos de desempregados, nas mãos de Dilma e Joaquim Levy.
Bolsonaro foi um competente surfista desta onda, apesar de, até hoje, ter gente achando que ele é uma espécie de Forrest Gump, um idiota que saiu correndo de casa e acabou, por obra do acaso, subindo a rampa do Planalto.
O presidente bate no PT, na Globo, no STF e em qualquer instituição que represente o sistema. Segura firme em suas mãos a bandeira do “anti”. Pouco importa se suas ações estão em sintonia com o velho. Na política, os símbolos são valiosos.
Para não dar colher de chá para o azar, o Capitão anunciou o décimo terceiro do Bolsa Família e vai lançar um programa de geração de empregos.
É pouco provável que o fanatismo ultraliberal de Guedes produza resultados. Uma catástrofe humanitária parece estar a caminho. Quando? Se o Brasil crescer um pouco nos próximos anos, o projeto pode ter folego ainda até se desmoralizar.
A questão do momento é que a bandeira do “novo”, dos que trabalham para tirar o país do caos lutando contra o sistema corrompido, continua nas mãos do presidente.
Neste contexto, qualquer tentativa de conexão Chile-Brasil, ou mesmo Brasil-Argentina, não passa de contorcionismo ilusionista.
Para a oposição, o desafio parece ser a construção de um campo político em torno de um programa inovador, ousado, capaz de disputar o sentido do “novo antissistema”.
Não parece inteligente subestimar a extrema-direita. Muito menos dar ouvidos à nossa herança judaico-cristã depositando todas as esperanças na liderança de algum messias. O Jair, Messias, já está no poder.
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“A questão do momento é que a bandeira do “novo”, dos que trabalham para tirar o país do caos lutando contra o sistema corrompido, continua nas mãos do presidente.”
Ler esse tipo de despautério é simplesmente chocante!
Com toda a corrupção praticada em larga escala pelo governo Bolsonaro e os do seu entorno, pelos desmandos, autoritarismo e desprezo aos Direitos e Garantias Individuais e, ao próprio Normativo Constitucional, pelo desmonte de toda e qualquer política pública que beneficie os desvalidos, econômica e socialmente, enfim, por todo o mal que está vicejando em larga escala no Brasil, atualmente, como pode alguém, proferir uma assertiva eivada de tanto cinismo?
Discussion on Brasil 247 0 comments
Uma onda vermelha?
André-Kees Schouten
André-Kees Schouten 10 minutes ago
Pending
Sobre o conceito de história, de Walter Benjamin (1940)
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Conhecemos a história de um autômato construído de tal modo que podia responder a
cada lance de um jogador de xadrez com um contralance, que lhe assegurava a vitória. Um fantoche vestido à turca, com um narguilé na boca, sentava-se diante do tabuleiro, colocado numa grande mesa. Um sistema de espelhos criava a ilusão de que a mesa era totalmente visível, em todos os seus pormenores. Na realidade, um anão corcunda se escondia nela, um mestre no xadrez, que dirigia com cordéis a mão do fantoche. Podemos imaginar uma contrapartida filosófica desse mecanismo. O fantoche chamado “materialismo histórico” ganhará sempre. Ele pode enfrentar qualquer desafio, desde que tome a seu serviço a teologia. Hoje, ela é reconhecidamente pequena e feia e não ousa mostrar-se.
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Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como ele de fato foi”. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.
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“Precisamos da história, mas não como precisam dela os ociosos que passeiam no jardim da ciência.”
Nietzsche, Vantagens e desvantagens da história para a vida
O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida. Em Marx, ela aparece como a última classe escravizada, como a classe vingadora que consuma a tarefa de libertação em nome das gerações de derrotados. Essa consciência, reativada durante algum tempo no movimento espartaquista, foi sempre inaceitável para a socialdemocracia. Em três decênios, ela quase conseguiu extinguir o nome de Blanqui, cujo eco abalara o século passado. Preferiu atribuir à classe operária o papel de salvar gerações futuras. Com isso, ela a privou das suas melhores forças. A classe operária desaprendeu nessa escola tanto o ódio como o espírito de sacrifício. Porque um e outro se alimentam da imagem dos antepassados escravizados, e não dos descendentes liberados.
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“A Origem é o Alvo.”
Karl Kraus, Palavras em verso
A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de “agoras”. Assim, a Roma antiga era para Robespierre um passado carregado de “agoras”, que ele fez explodir do continuum da história. A Revolução Francesa se via como uma Roma ressurreta. Ela citava a Roma antiga como a moda cita um vestuário antigo. A moda tem um faro para o atual, onde quer que ele esteja na folhagem do antigamente. Ela é um salto de tigre em direção ao passado. Somente, ele se dá numa arena comandada pela classe dominante. O mesmo salto, sob o livre céu da história, é o salto dialético da Revolução, como o concebeu Marx.
Apêndice
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O historicismo se contenta em estabelecer um nexo causal entre vários momentos da história. Mas nenhum fato, meramente por ser causa, é só por isso um fato histórico. Ele se transforma em fato histórico postumamente, graças a acontecimentos que podem estar dele separados por milênios. O historiador consciente disso renuncia a desfiar entre os dedos os acontecimentos, como as contas de um rosário. Ele capta a configuração, em que sua própria época entrou em contato com uma época anterior, perfeitamente determinada. Com isso, ele funda um conceito do presente como um “agora” no qual se infiltraram estilhaços do messiânico.
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Certamente, os adivinhos que interrogavam o tempo para saber o que ele ocultava em seu seio não o experimentavam nem como vazio nem como homogêneo. Quem tem em mente esse fato, poderá talvez ter uma idéia de como o tempo passado é vivido na rememoração: nem como vazio, nem como homogêneo. Sabe-se que era proibido aos judeus investigar o futuro. Ao contrário, a Torá e a prece se ensinam na rememoração. Para os discípulos, a rememoração desencantava o futuro, ao qual sucumbiam os que interrogavam os adivinhos. Mas nem por isso o futuro se converteu para os judeus num tempo homogêneo e vazio. Pois nele cada segundo era a porta estreita pela qual podia penetrar o Messias.
A Argentina viu a catastrofe que é o Forrest Gump brasileiro e decidiu pular fora do barco macrista antes que seja tarde. Pelo menos a Argentina esta menos chamuscada internacionalmente que em 11 meses de governo bolsonaro.
A onda vermelha podera vir também com Chile, Equador, Uruguai e até o Libano e enquanto isso como nos no Brasil vamos fazer para acabar com esse pesadelo? Mais três anos de bolsonarismo e não sobrara pedra sobre pedra…
Discordo bastante do artigo. Embora concorde com o diagnóstico de uma “ilusão”, discordo completamente de sua caracterização.
Primeiro, no preâmbulo a China é caracterizada como uma “superpotência”. Isso é falso, pois apesar da China ter um poder econômico gigantesco e um projeto nacional de desenvolvimento, está profundamente comprometida com as exigências do imperialismo mundial. Dizendo de forma gráfica, a China não é Cuba nem a União Soviética dos primórdios, não desafia o regime político mundial. O imperialismo não é uma “luta de países”, mas um regime político internacional orquestrado por forças transnacionais, as quais não são repelidas em absoluto na China. Portanto, a China é uma força no máximo reformista do sistema-mundo contemporâneo.
Segundo, o artigo não caracteriza o problema. É dito que o modelo político tem que “funcionar”, “dar respostas”. Mas em momento algum se diz que “funcionamento” é esse e quais as questões que exigiriam “respostas”. Isto é, do ponto de vista lógico, o artigo é nulo porque vago – sobre o nada tudo se ergue. Tudo muda se caracterizarmos as revoltas sociais da década como a revolta contra o empobrecimento, a exclusão social, o custo de vida, a repressão estatal. No fundo, não é um movimento contra a democracia, mas a favor de uma democracia popular. A favor de um regime político verdadeiramente democrático. E nesse ponto nós encontramos Lênin: numa sociedade de classes, a democracia é sempre a democracia de uma classe social, configurando-se em ditadura para as demais classes. Tendo em vista esse raciocínio, só um cego não enxerga: a “democracia burguesa” configurou-se em uma ditadura insuportável para a classe trabalhadora.
O “anti-establishment” na verdade é a revolta contra a ditadura burguesa, chamada eufemisticamente de “democracia liberal”. A esquerda só é alvo da revolta na medida em que se identifica com o regime político burguês. Uma esquerda de movimentos populares e partidos que não estão paticularmente interessados em associar-se ao regime político burguês é a “esquerda da solução”. A esquerda que está interessada em eleições e em um lugar ao sol no regime burguês é a “esquerda do problema”.
A extrema-direita é exatamente a arma da burguesia para situações de instabilidade do regime político. Quando a ditadura burguesa passa a ser questionada, ou os interesses de classe ficam ameaçados (caso de uma crise financeira mundial ou de uma agitação proletária) é necessário endurecer a ditadura com um governo fascista. Mas não se enganem: o regime político é “propriedade” de uma classe social. Inclusive, as “Tábatas do Amaral” são a expressão mais bem acabada da privatização da política. Bolsonaro é menos direitista que as famílias Marinho, Setúbal, Lehmann. Certamente, muito menos direitista que as famílias Rothschild e Rockfeller. Ele é só um tampão improvisado. O objetivo é preservar os interesses de classe da burguesia. Bolsonaro não empunha bandeira nenhuma. Ele também não tem base popular. A base dele é um extrato de classe média histérica e a burguesia. O povo odeia o Bolsonaro. As pessoas do campo popular que votaram nele são um setor mais atrasado, que não entende bulhufas de política. Não são militantes. E na verdade, Bolsonaro é uma “solução” extremamente problemática para a burguesia, pois é um improviso, e como tal sujeito à instabilidade intrínseca, cheio de pontas soltas e fios desemcapados, um verdadeiro ninho de contradições.
“A questão do momento é que a bandeira do “novo”, dos que trabalham para tirar o país do caos lutando contra o sistema corrompido, continua nas mãos do presidente.”
Este fato é a prova CABAL de que o brasileiro não passa de um BURRO.
Se depois do queiroz, moro como ministro da justiça, fake news, a quantidade insana de besteiras que este idiota profere todos os dias, a completa falta de ação para enfrentar a crise econômica, social e ambiental que o país vive, as rachadinhas dos filhos e do próprio, etc etc ainda há alguém que acredite este sujeito ser contra a corrupção e representar o “novo”, este alguém é um completo e total imbecil.
Não me conformo de que quase todos os analistas que leio, seja de direita ou de esquerda com raras exceções se “esquecem” de citar em suas análises o fator, Aecinhodopó com sua não aceitação dos resultados da eleição que durou 6 meses as “Pautas Bombas” do Cunha que durou aproximadamente um ano e o desgoverno do Temer, que nunca é citado..é como se não tivesse existido, como se Dilma tivesse governado por 4 anos, é incrível essa falta de coerência inclusive do Ricardo. Todos se comungando ante o falso consenso de denegrir o segundo mandato da competente e respeitável Presidenta Dilma Russef. Não aceito essa omissão e essa forçação para mudar os fatos históricos, como faz agora o governo neofascista do Bozo. Essa farsa não passará a história como verdade.
Esses analistas, seguem o script da midia hegemônica : a culpa e do Pt, pt errou, Lula errou, etc. Não entend ou aceita que o Pt nunca teve o conto lê do Congresso. Nem o povo, jamais escolheu maioria a esquerda.
Os preto, o pobre, o gay elegeram Bolso. Mas isso os intelectuais não aceitam!