Veríssimo: Querer igualar os dois lados na ditadura é invocar simetria que não existe

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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de O Globo

Os dois lados, por Luís Fernando Veríssimo

É desonesto não aceitar a diferença entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda a nação para os porões da tortura

Na reação ao relatório da Comissão da Verdade sobre as vítimas da ditadura, afirma-se que, para ser justo, ele deveria ter incluído o outro lado, o das vítimas da ação armada contra a ditadura. Invoca-se uma simetria que não existe. Nenhum dos mortos de um lado está em sepultura ignorada como tantos mortos do outro lado. Os meios de repressão de um lado eram tão mais fortes do que os meios de resistência do outro que o resultado só poderia ser uma chacina como a que houve no Araguaia, uma estranha batalha que — ao contrário da batalha de Itararé — houve, mas não deixou vestígio ou registro, nem prisioneiros. A contabilidade tétrica que se quer fazer agora — meus mortos contra os teus mortos — é um insulto a todas as vítimas daquele triste período, de ambos os lados.

Mas a principal diferença entre um lado e outro é que os crimes de um lado, justificados ou não, foram de uma sublevação contra o regime, e os crimes do outro lado foram do regime. Foram crimes do Estado brasileiro. Agentes públicos, pagos por mim e por você, torturaram e mataram dentro de prédios públicos pagos por nós. E, enquanto a aberração que levou a tortura e outros excessos da repressão não for reconhecida, tudo o que aconteceu nos porões da ditadura continua a ter a nossa cumplicidade tácita. Não aceitar a diferença entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda a nação para os porões da tortura é desonesto.

O senador John McCain é um republicano “moderado”, o que, hoje, significa dizer que ainda não sucumbiu à direita maluca do seu partido. Foi o único republicano do Congresso americano a defender a publicação do relatório sobre a tortura praticada pela CIA, que saiu quase ao mesmo tempo do relatório da nossa Comissão da Verdade. McCain, que foi prisioneiro torturado no Vietnã, disse simplesmente que uma nação precisa saber o que é feito em seu nome. O relatório da Comissão da Verdade, como o relatório sobre os métodos até então secretos da CIA, é um informe à nação sobre o que foi feito em seu nome. Há quem aplauda o que foi feito. Há até quem quer que volte a ser feito. São pessoas que não se comovem com os mortos, nem de um lado nem do outro. Paciência.

Enquanto perdurar o silêncio dos militares, perdura a aberração. E você eu não sei, mas eu não quero mais ser cúmplice.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

24 Comentários

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  1. GRANDE!

    Claro, lúcido e comovente. Depois de um texto assim, nada mais precisa ser dito sobre o assunto. Grande, grande Veríssimo ! Na próxima encarnação quero voltar escrevendo assim…

    Ah, assino embaixo:  também não quero mais ser cúmplice.

  2. Igualando diferenças

    Numa noite de verão, duas casas vizinhas ficam com suas janelas abertas. Nelas moram dois irmãos. Passando pela rua, dois ladrões – por coincidência, irmãos também – decidem assaltar aquelas residências.  Eles entram e são ouvidos dois tiros, um em cada casa.  Na primeira, o ladrão atirou no dono que ameaçava reagir; na outra, o morador foi mais rápido e atirou no ladrão. Temos dois assaltos iguais, dois mortos em circunstâncias idênticas.  Só que no primeiro houve latrocínio; no segundo, uma ação de legítima defesa.  Na ditadura, os assaltantes  do poder devem responder pelos crimes que cometeram; os que reagiam contra ela exerciam um direito reconhecido nas democracias há mais de dois séculos.

  3. Aqui cabe uma correção

    Aqui cabe uma correção indispensável ao belo artigo de Veríssimo. McCain, o senador republicano, que pode ser moderado, dependendo das expectativas que se tenha do degenerado mundo político norte-americano, não foi torturado durante sua estadia no famoso Hanoi “Hilton”, como os pilotos militares prisioneiros o chamavam enquanto lá estiveram. De fato, chega a ser admirável a preocupação dos combatentes vietnamitas em assegurar a melhor alimentação aos seus agressores, mesmo quando não havia o bastante para seu heróico povo.

  4. Mesmo assim, gostaria de

    Mesmo assim, gostaria de conhecer os crimes dos rebeldes…não vejo que mal há nisso. A verdade precisa ser conhecida em sua totalidade.

    1. É só consultar os autos dos processos judiciais

      Os rebeldes foram punidos, e não foi só com julgamento e prisão – teve tortura, estupro e morte. O projeto Brasil: Nunca Mais traz a história da tortura, e se baseia exclusivamente em processos judiciais da época, nos quais a tortura foi repetidamente denunciada pelos torturados – que estavam sendo julgados pelos seus ditos crimes.

      Tem foto da Dilma sentada no tribunal, respondendo pelo que ela fez. Agora me mostra uma foto dos tarados que a torturaram, sendo julgados por isso. Mostra aí, vai!

      1. “Tem foto da Dilma sentada no

        “Tem foto da Dilma sentada no tribunal, respondendo pelo que ela fez. Agora me mostra umafoto dos tarados que a torturaram, sendo julgados por isso. Mostra aí, vai!”

        Mas peraí. Trata-se de uma “Comissão Nacional da Verdade” ou de uma “Comissão Nacional da Revanche”? Ao que me consta há uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, conforme desejada por todos, em pleno vigor, e com validade assegurada pelo STF. Ou não?

        1. E é justamente essa anistia que está sendo questionada

          Essa anistia só valeu pra um dos lados. Os rebeldes foram presos, torturados, estuprados e assassinados, cumpriram pena na cadeia, perderam seus empregos, são até hoje chamados de “terroristas” pelos bestialógicos da Direita, com suas bocas esgoeladas e olhos vemelhos e arregalados, e depois foram “anistiados”. Anistiados de quê? Tem anistia pra pau-de-arara, pra choque elétrico, pra espancamento, pra aborto provocado por sevícia, pra estupro, pra desemprego, pra carreira arruinada, pra parente morto de desgosto e tristeza?

          Já os repressores torturaram, mataram, estupraram, fizeram tudo que a bestialidade deles permitiu imaginar, e saíram anistiados, com seus empregos garantidos e suas reputações intocadas. É justo?

          1. Agora é a minha vez de

            Agora é a minha vez de perguntar. Teve pau-de-arara, choque elétrico, espancamento, estupro, carreiras arruinadas e parentes mortos de desgosto e tristeza apenas em um dos lados daquela guerra suja? Você realmente acredita nisso?

            Quanto à anistia ampla geral e irrestrita não fui eu quem a pediu, foi a nação inteira. E a Suprema Corte do país a homologou. Os que tentam agora revê-la são os mesmos “bons-moços” que apoiam a contabilidade tétrica dos “seus agentes foram muito mais malvados do que os meus”…

  5. Finalmente um texto que fala

    Finalmente um texto que fala sobre essa idiotice de equiparar quem lutou contra a ditadura com os ditadores.
    É o equivalente a colocar no mesmo balaio o ladrão que invadiu sua casa cheia de crianças e você que reagiu para sua proteção e de sua família.

  6. Os ‘rebeldes’ já foram

    Os ‘rebeldes’ já foram punidos com tortura, estupro, morte e exílio, o que mais eles devem sofrer, por ter lutado pelo restabelecimento da ordem democrática !?! A meu ver eles deveriam ter os seus nomes colocaddos em nossas ruas, praças e avenidas em lugar do nome dos Ditadores ignominiosos e monumentos deverism ser erguidos em sua memória. É o mínimo que podemos fazer pelo reconhecimento desses verdadeiros HERÓIS da Pátria Brasileira.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

    1. Mesmo que os “rebeldes” já

      Mesmo que os “rebeldes” já tenham sido punidos com tortura, estupro, morte e exílio, se não se divulgarem os crimes que certos “tribunais revolucionários” cometeram, seria mais adequado mudar o nome da “Comissão Nacional da Verdade” para “Comissão Nacional da Meia-Verdade”. Afinal o que se quer investigar? A verdade total ou a verdade parcial?

       

      1. O objetivo da Comissão não era esse

        O objetivo da Comissão era esclarecer violações aos direitos humanos (vida, liberdade, consciência), e não apurar crime comum. Os crimes dos “tribunais revolucionários” (em proporção infinitamente menor do que as bestialidades da tortura, com as quais você parece concordar…) são crimes comuns, e assim devem ser tratados e investigados.

        Nada impedia a polícia e a justiça da época de investigar isso, não investigaram porque não se importavam com a morte de “terroristas comunistas”; Mas havia impedimento legal e constitucional para investigar tortura e assassinato cometido por agentes do Estado. Esse é o objetivo da Comissão Nacional da Verdade: apurar o que nunca se permitiu ser apurado.

        1. Numa guerra ideológica como

          Numa guerra ideológica como aquela, com dois sistemas de governo lutando pela hegemonia, falar em crime comum é tentar adotar um “bom-mocismo” diversionista para puxar a brasa toda pra sua sardinha. Isto sim, chama-se desviar o foco. Quer-se passar a imagem de que os rebeldes não passavam de gente boa lutando contra um bando de torturadores malvados e desumanos. Com isso cria-se uma contabilidade mais tétrica ainda do que a mencionada pelo LFV: “os seus agentes foram muito mais malvados do que os meus”. 

          E o que dizer dessa estranha mania de querer atribuir a quem tem uma opinião diferente a pecha de apoiador de torturadores? Só vomitando… 

  7. Os ‘rebeldes’ já foram

    Os ‘rebeldes’ já foram punidos com tortura, estupro, morte e exílio, o que mais eles devem sofrer, por ter lutado pelo restabelecimento da ordem democrática !?! A meu ver eles deveriam ter os seus nomes colocaddos em nossas ruas, praças e avenidas em lugar do nome dos Ditadores ignominiosos e monumentos deverism ser erguidos em sua memória. É o mínimo que podemos fazer pelo reconhecimento desses verdadeiros HERÓIS da Pátria Brasileira.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

  8. Há na web 1 texto maravilhoso sobre isso…

    Acho que é o melhor texto que já li na web. Agora ficou meio complicado citá-lo, porque se revelou recentemente que o autor é meio mau caráter. Mas o texto continua genial. Vou postá-lo aqui assim mesmo, esperando que pelo menos alguns tenham a capacidade de separar o que diz o texto, que é ótimo, da pessoa do autor: 

    Glossário macabro da ocupação, 2: “equilíbrio”, “ponderação”, “ver os dois lados”
     

    Qualquer bom profissional da área de Letras, com um mínimo de formação em retórica, poderá lhe explicar, caro leitor, como seria relativamente simples escrever um panfleto racista que parecesse “ponderado”, uma monstruosidade pró-Apartheid que soasse “equilibrada”, uma justificativa do colonialismo mais bárbaro que parecesse estar “vendo os dois lados”. Basta ir fazendo um pingue-pongue pretensamente neutro entre verdugo e vítima, e você engana os incautos.

    No caso das discussões acerca da catástrofe que assola o povo palestino desde 1948 e, muito especialmente, desde 1967, esses termos, “ponderação”, “equilíbrio”, constituem a faceta mais perversa do glossário macabro. O nosso jornalista “ponderado” dirá: sim, é verdade que Israel usa força desproporcional, mas o Hamas provocou com os foguetes, omitindo que a “trégua” — e eu já expliquei aqui aqui porque uso aspas nesse termo – foi rompida no dia 04 de novembro por Israel, com uma invasão seguida de sete assassinatos. O jornalista “equilibrado” dirá: sim, é verdade que os israelenses estão bombardeando Gaza por motivos eleitorais, mas o Hamas não é muito melhor, omitindo o fato de que quando a liderança inconteste dos palestinos era a secular OLP de Arafat, a política de extermínio e desumanização de Israel era absolutamente a mesma. Ou seja, como já explicou a especialista Jenniffer Loewenstein, o Hamas não tem nada a ver com o bombardeio a Gaza. Qualquer liderança que os palestinos construíssem, e que não compactuasse com sua escravização, estaria sofrendo o mesmíssimo massacre.

    Nada tenho contra quem escreve sobre o tema com temperatura menos fervente que a minha. Mas não é essa temperatura que determina a forma como avalio o texto. Julgo-o, principalmente, por sua determinação em buscar a verdade. E o filistinismo da “ponderação” muitas vezes não está nem um pouco interessado na verdade, e sim em parecer “equânime” e bonitinho.

    Há muita gente bem intencionada que acredita nessa história de “ver os dois lados”. Em qualquer conversa minimamente civilizada, alguém que se propusesse a estudar o nazismo ou o Apartheid “vendo os dois lados” seria ridicularizado. Mas ante a catástrofe palestina, esse filistinismo pretensamente neutro tem ampla circulação. Há jornalistas que, presenciando o nosso horror ante a chacina em Gaza, falam de “indignação seletiva”. Ora, o que teríamos que fazer para que nossa indignação não fosse “seletiva”? Chorar pelos soldados israelenses que estão com as unhas encravadas?

    gaza11.jpg “um lado”

    Uma vez, convidei um defensor das chacinas israelenses a uma conversa sobre o monumental trabalho historiográfico de Ilan Pappé, que demonstra a expulsão, o confisco e a política explícita de limpeza étnica contra os palestinos, tudo exaustivamente documentado. A resposta dele foi que leria o livro de Pappé tendo ao lado um texto de Alan Dershowitz. Em qualquer Faculdade de História minimamente séria, tal justaposição seria motivo de gargalhada ou ridicularização. Você não justapõe o trabalho de um historiador que passou anos desenterrando os fatos aos escritos raivosos de um ideólogo pró-Ocupação. Se você nunca leu Pappé ou Dershowitz, imagine que um historiador brasileiro propusesse um curso sobre a ditadura militar, utilizando as pesquisas de Elio Gaspari e Jacob Gorender, e alguém dissesse que para que o curso fosse “equilibrado”, seria necessário incluir o Manual de OSPB da ditadura militar.

    É esse filistinismo pretensamente neutro que grassa sobre o sangue do povo palestino.

    gaza12.JPG “o outro lado”. (crédito)

    Por isso, o Biscoito Fino e a Massa trabalha com um axioma bastante simples:ante a barbárie inominável, ante o crime contra a humanidade, qualquer “ponderação” entendida nos termos acima é um gesto de cumplicidade com o verdugo. Por isso, aqui no Biscoito não há “ponderação”. Por isso, aqui não há “dois lados” porra nenhuma. Nós temos um lado: a busca da verdade. E em épocas de bárbarie, a verdade costuma estar do lado das vítimas.

  9. O que LFV não se dá conta é

    O que LFV não se dá conta é que ele tenta combater uma contabilidade tétrica com outra contabilidade tétrica. Não é pelo número de mortos clandestinos ou pela quantidade dos armamentos empregados na luta que se busca uma simetria no relatório – ou pelo menos se deveria buscar. Que a luta era desigual todos já sabem. Afinal era um exército inteiro lutando contra um bando de “rebeldes”. A verdade que se busca não é a de quem escondeu mais cadáveres, ou quem tinha mais armas. Essa é uma verdade por demais óbvia para ser incluída no relatório. A verdade que se busca não é apenas a verdade dos números, mas a verdade dos fatos. As atrocidades cometidas por um dos lados são por demais conhecidas. Afinal, fala-se em torturas ou “porões da ditadura” quase que tão logo ela começou. Mas estranhamente nenhuma palavra é dita a respeito dos “porões da luta armada”. Como agiam os muitos “tribunais revolucionários” que se estabeleciam para julgar os “traidores da pátria”? Que tipo de crime era cometido contra os “repressores” da “causa do povo”? Havia torturas também? Execuções sumárias? Paus de arara?

    É essa a simetria que o relatório deveria buscar. Mas é justamente essa a simetria que o Veríssimo condena, pois ele tenta, de certa forma, qualificar os crimes cometidos pela luta armada (“justificados ou não”, acrescenta ele) dizendo que afinal foram crimes de subvleção contra o regime, enquanto os crimes do outro lado foram crimes do regime, crimes da ditadura. Esquece-se que a ditadura foi nada mais que uma subvleção contra outro tipo de ditadura que queriam implantar no nosso país: a ditadura do proletariado. Ditadura por ditadura, ou subvleção por subvleção, não há como qualificar os crimes cometidos, seja por um lado seja pelo outro. São absolutamente simétricos.

    Mas a respeito dessa simetria nem o Veríssimo nem a comissão se pronunciam. Em vista disso não seria mais apropriado intitular o seu artigo de “Um lado apenas” e trocar o nome da comissão para “Comissão da Meia-verdade”?

    1. Não desvie o foco!

      Os “tribunais revolucionários” eram ações de pessoas comuns, não de agentes do Estado, estes sim protegidos e reforçados pelo poder do Estado. Se a polícia e a Justiça quisessem apurar os crimes dos “Tribunais Revolucionários” à época poderiam ter feito. Mas na época ninguém podia apurar os crimes de tortura e morte dos agentes do Estado (e não “fala-se” que esses crimes existiram, eles foram comprovados e confessados por seus autores!), havia proibição legal, baixada pelo Estado, de que tortura e morte praticada pelos agentes do Estado fosse investigada.

      Vá ler a Lei 12.528/2011, que criou a Comissão Nacional da Verdade, antes de escrever bobagens. O objetivo da CNV era apurar o que não pôde ser apurado na época, porque o Estado impediu!

      Esse papo de que a ditadura existiu pra combater o comunismo é uma estória da carochinha em que só acredita quem quer justificar a Ditadura e o Golpe Militar. Jango nunca foi comunista e nunca quis implantar nada de comunismo aqui. A ação dos grupos de esquerda começou justamente porque a Ditadura se instalou antes. Eles se rebelaram pra tentar sobreviver.

      1. Se há alguém desviando algum

        Se há alguém desviando algum foco aqui, não sou eu. Repito o que disse: que era uma luta desigual todos nós sabemos. A começar pelo fato de que um dos lados era composto por agentes do Estado, como você bem frisou, com todas as implicações que isso acarreta em termos de desequilíbrio de forças. Que os “tribunais revolucionários” eram ações de pessoas comuns não se discute. Que os agentes do Estado fizeram de tudo para encobrir os seus crimes, não resta dúvida. Mas insisto: não é apenas nessa óbvia assimetria que a comissão deve se concentrar, se o objetivo é realmente restabelecer TODA a verdade, pois se é verdade que a assimetria de forças era gritante não é menos verdade que as maldades cometidas por ambos os lados foram semelhantes. Mas sobre essa tétrica simetria (para usar os termos do LFV) a comissão estranhamente silencia.

        O meu ponto é apenas este: que maldades atrozes os rebeldes cometeram, a ponto de a comissão sequer tocar no assunto? É ou não é estranho?

        Quanto ao Jango ser ou não comunista, ou ao fato de nunca ter querido implantar o comunismo por qui, pode ser que sim, pode ser que não. Quanto a isso os livros de história é que têm a palavra final. O que eu sei é que naquela época o país vivia num caos institucional muito propício a influências externas. É bom lembrar que aquela era a época da Cortina de Ferro, com dois sistemas de governo (o soviético e o norte-americano) lutando pela hegemonia mundial, cada qual com um punhado de países satélites girando ao seu redor. Num contexto desses dizer que a ação dos grupos de esquerda começou porque a Ditadura se instalou antes é claramente colocar a carroça adiante dos bois. Custa-me crer que algum general linha-dura acordou certo dia de mau humor e resolveu implantar uma ditadura militar no país, e que os grupos de esquerda se  rebelaram apenas para tentar sobreviver.

        Se há alguém contando histórias da carochinha aqui, não sou eu…

  10. Verissimo Querer igualar os dois lados na ditadura…

    Como não poderia ser novidade  lFV foi de uma clareza e lucidez em suas ponderações poucas vezes vistas em artigos e comentários sobre o relatorio da CNV. Pois bem, nesses ultimos dias tem se discutido sobre a mudança dos nomes em logradouros publicos referentes a personagens do Regime Militar. Estultices como não se fartam os saudosistas, não faz sentido a permanencia de nomes de assassinos que em nome do Estado Brasileiro praticaram toda sorte de barbarie e agora nominalmente responsabilizados seria minimamente esdruxula a permanencia desses nomes. Em nenhum lugar que se diga civilizado homenageia-se individuos que em nome do Estado praticaram crimes contra a humanidade. Os que através do direito internacional de resistência lutaram contra esses regimes, após suas quedas pos-se a historia no devido lugar e o que antes era terrorista passa a ser heroi e os responsaveis pelos horrores passam a constar do rol de crminosos contra a humanidade. Por fim, a historia revisada não confunde bandidos com mocinhos. 

     

     

  11. Verissimo Querer igualar os dois lados na ditadura…

    Como não poderia ser novidade  lFV foi de uma clareza e lucidez em suas ponderações poucas vezes vistas em artigos e comentários sobre o relatorio da CNV. Pois bem, nesses ultimos dias tem se discutido sobre a mudança dos nomes em logradouros publicos referentes a personagens do Regime Militar. Estultices como não se fartam os saudosistas, não faz sentido a permanencia de nomes de assassinos que em nome do Estado Brasileiro praticaram toda sorte de barbarie e agora nominalmente responsabilizados seria minimamente esdruxula a permanencia desses nomes. Em nenhum lugar que se diga civilizado homenageia-se individuos que em nome do Estado praticaram crimes contra a humanidade. Os que através do direito internacional de resistência lutaram contra esses regimes, após suas quedas pos-se a historia no devido lugar e o que antes era terrorista passa a ser heroi e os responsaveis pelos horrores passam a constar do rol de crminosos contra a humanidade. Por fim, a historia revisada não confunde bandidos com mocinhos. 

     

     

  12. Escreveu, escreveu e não

    Escreveu, escreveu e não acrescentou nada do que já foi exposto em diversos lugares. Só confimrou muitas das falácias que existem por aí e que nem sempre colunas assinadas por conhecidos escritores contém algo útil.

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