Violência e religião nos EUA, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Um dos temas do filme “O nome da rosa” é a reunião entre franciscanos, dominicanos e membros de outras ordens monásticas para um debate no Monastério onde estranhos assassinatos ocorrem. A discussão crucial para a cristandade é feita em torno da seguinte questão:

Jesus tinha ou não uma bolsa e a considerava como sua?

Os franciscanos defendem que Jesus não tinha uma bolsa e que se a tivesse certamente não a consideraria sua, pois ele havia compartilhado pão, vinho, milagres e sabedoria sem nunca exigir nada em troca. Um opulento clérigo encerra o debate irritado dizendo que o que está em questão não é a pobreza de Jesus e sim a riqueza dos Bispos e que seria um absurdo a Igreja renunciar às suas propriedades.

Dois personagens do filme (e também do livro homônimo de Umberto Eco) são presos. Eles são acusados de bruxaria, sob tortura um deles grita PENITENZIAGITE revelando que ele pertencia a seita de Fra Dolcino https://pt.wikipedia.org/wiki/Frei_Dolcino, monge herético do século XIV que recorria à violência para impor sua idéia de renúncia às riquezas mundanas e, segundo o autor do livro, privava o clero das mesmas.

A violência em nome de Jesus foi a regra de ouro durante toda a Idade Média. As cruzadas movidas contra os infiéis na Palestina, contra os cátaros e outras seitas heréticas na Europa eram consideradas justas pelo Papa e garantiam perdão àqueles que as empreendessem. A guerra santa dos cristãos originou seu duplo islâmico (a jihad).

Em suas origens, a Reforma Protestante questionou a violência católica, considerando-a estranha ao cristianismo. Mas ao invés de pacificar a Europa, a Reforma apenas multiplicou a violência espalhando novos conflitos por todos os reinos europeus. Na Inglaterra as guerras religiosas duraram décadas e acarretaram diversos êxodos. Muitos dos colonos que chegaram aos EUA queriam paz. Em pouco tempo, contudo, os norte-americanos estariam em guerra contra os índios e, depois, entre eles.

A violência construiu os EUA e os governos norte-americanos tem espalhado dor e destruição desde as guerras contra os mexicanos e espanhóis no século XIX. Todas as guerras norte-americanas foram feitas em nome de Deus. O presidente dos EUA não é apenas um chefe de estado, ele é objeto de adoração como se fosse o líder de uma violenta seita cristã. A influência perigosa da indústria armamentista norte-americana na política interna e externa daquele país é um fato bem conhecido.

Hoje um amigo meu compartilhou a seguinte notícia no Facebook: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/09/fuzil-com-citacoes-biblicas-e-simbolos-cristaos-causa-polemica-nos-eua.html?utm_source=facebook&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar

A notícia só causa estranhamento a quem não conhece os EUA. De fato, se um debate como o que ocorre em “O nome da rosa” fosse realizado entre religiosos norte-americanos neste momento o tema provavelmente seria:

Jesus carregava ou não doze granadas, duas pistolas Desert Eagle 0.765 e 568 cartuchos em sua bolsa?

A resposta dos norte-americanos a esta indagação teológica é previsível. Mas não me parece que encontre qualquer justificativa no Novo Testamento. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

12 Comentários

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  1. na abadia da memória existe
    na abadia da memória existe um Ecoque repete coisas que vivi.me entrega flores de papiroscultivadas no venenocorpos despencando no serenoinvestiga-dores e Guilhermes de Gui. esse som faz vento ao tempoe frente a história cruaum buquê de angústias se perpetua:por mais que a voz persista/sintaa Rosa da sabedoria tem mais fomedo que a pobre multidão faminta.

  2. Que coisa

    Fábio de Oliveira Ribeiro, o teu texto, não merece ser chamado de artigo, é uma falsidade monstruosa, uma mentira colossal e só um ignorante abissal poderia escrevê-lo: 

    A violência em nome de Jesus foi a regra de ouro durante toda a Idade Média. As cruzadas movidas contra os infiéis na Palestina, contra os cátaros e outras seitas heréticas na Europa eram consideradas justas pelo Papa e garantiam perdão àqueles que as empreendessem. A guerra santa dos cristãos originou seu duplo islâmico (a jihad).

    Não sabes que a expansão islâmica nasceu com a jihad? Ainda durante a vida do meu ancestral Abu al-Qasim Muḥammad ibn Abd Allah ibn aAbd al-Muṭṭalib ibn Hashim. 

    A conquista de Jerusalém pelo islã ocorreu pela primeira vez no ano 638, quando mesmo partiu a primeira Cruzada? Se não estou enganado no ano mil e qualquer coisa, quase 1.100.

    A destruição do Império Persa e da sua religião, o Zoroastrismo, deu-se também no Século VII.

    Quando ocorreu a invasão da Península Ibérica? Os muçulmanos foram derrotados em Poitiers em qual ano?

    É muita cara de pau dizer que a jihad foi uma reação às Cruzadas. Vou considerar que é fruto de profunda e arraigada ignorância, fica melhor… 

    1. Sua interpretação da história
      Sua interpretação da história não é a que os historiadores fazem. A razão é simples: os conquistadores árabes não obrigaram os novos súditos a se converterem ao islamismo e toleraram a existência de comunidades cristãs e judias no Levante, Norte da África e Espanha. O mesmo não ocorreu com as guerras santas dos católicos, que matavam quem não admitia a autoridade papal ou não abandonava a heresia. A jihad só passou a ter o conteúdo que tem hoje depois das Cruzadas e em razão da influência do conceito de guerra santa dos cristãos.

      1. Quais historiadores?

        Os povos do livro, judeus e cristãos, deveriam pagar a jizya, um tributo exclusivo de não muçulmanos, e aceitarem o status de dhimmi, pessoas inferiores, ou melhor, não-pessoas, para serem tolerados nas regiões dominadas pelo Islã. Estes e apenas estes. Para com os considerados pagãos o tratamento era diferente… imagines como. Que tal ler um pouco sobre o que fizeram na Pérsia, na Índia e nas estepes.

        O cristianismo não tem um conceito de guerra santa, tem o de guerra justa, que é muito mais político e filosófico que religioso. Como todos os princípios está aberto a deturpações, mesmo assim não existem registros de conflitos militares institucionalizados pelo catolicismo até o Século XI. 

        Alguma vez lestes as Sunnas? Se não, leias. Verás quando e como praticar a jihad, com tudo o que é permitido fazer com o infiel e principalmente as infiéis.

        Antes que eu me esqueça, nas regiões do Oriente Médio dominadas pelo Cruzados, tais quais os islâmicos, permitiam após o término da conquista sobrevivência do outros, neste caso, dos muçulmanos. Quanto as conversões forçadas ocorreram na Península Ibérica, após o século XIII.

         

        1. Ok, já notei que você está
          Ok, já notei que você está numa Cruzada contra os infiéis islâmicos. Ha, ha, ha… seu anacronismo é muito engraçado. Em que século você está vivendo? No século XXI ou um pouco antes disto?

  3. Também não entendi a citação

    Também não entendi a citação ao jihad mesmo porque o termo jihad não signifca guerra santa. Guerra santa é um termo relacionado apenas ao cristianismo, tem a ver com as cruzadas que, por sua vez, tem a ver com estabelecimento de domínio geopolítico usando religião como desculpa. Jihad significa “esforço”.

    Mas sobre o ponto principal do texto… é interessante ver como as religiões se adaptam ao poder. Se a ICAR, apesar de não praticar, pregava a pobreza como salvalção, coube aos protestantes dar uma ajeitada para que cristãos rentistas e capitalistas (nesse tempo o capitalismo já é embrião), não achassem que iam direto para o inferno.

    Agora que o pessoal dos EUA não tem a menor vergonha em usar o nome de deuses para justificar ações violentas contra outros países, isso é claro e nem precisava ser explícito para ser sentido. Mesmo assim o candidato republicano à presidência daquele país Mitt Romney, na tentativa de ganhar votos sendo simpático, país explicitou:

    “Deus não criou esse país para ser uma nação de seguidores. A América não é destinada a ser uma das várias potências globais igualmente equilibradas. A América precisa liderar o mundo, ou alguém tomará a frente.”

    Essa “crença”, sendo sincera ou não, é alinhada com o chamado Destino Manifesto, igualmente “religioso” e que também impõe (ou reserva) aos estadunidenses o papel de xerifes do mundo.

    Cada um tem os deuses que quer…

    1. Desabafo estúpido

      Fiquei pensando… será que os homens do poder dos EUA, do dolar us based, precisam mesmo usar de tanta violência (atacar unilateralmente outros países e chamar de “guerra” a esses ataques), tantos recursos espúrios (subornar líderes locais, espionar atividade puramente pessoal ou mesmo empresarial, provocar golpes no mercado mundial como em 2008), causar tanta dor, tanto sofrimento  inclusive contra cidadãos de seu próprio país! Precisam? Quantos estadunidenses estão vivendo em favelas, as tend cities, só porque esses beligerantes decidiram que o capital estava se espalhando demais, que precisava se concentrar de novo?

      Ô gente atrasada, primitiva, selvagem mesmo, o tempo mundial da imposição de poder de povos sobre povos ficou lá atrás… até a Inglaterra devolveu a Índia, a China, hoje a gente tem até um Google Earth, já estamos carecas de saber o tamanho do mundo e conhecer quem mora aonde. Não dá mesmo para conviver com as diferenças, as diversidades? Mudar para outro planeta – fantasia recorrente –  ainda vai ser inviável por muuuito tempo (se é que vai ser viável algum dia).

      Não é nem questão de grana: quanto custa o sofrimento dos povos árabes desde que se formou a OPEP? O menino que morreu na praia é (como se fosse pouco) apenas um… Pô, os árabes são donos do petróleo, engulam isso e negociem com eles mas não subornem líderes locais e menos ainda destruam um povo inteiro… genocidas.

      Será que em nenhum momento ocorre a esses estadunidenses a possibilidade de ganhar muito mais do que dinheiro imediatamente mas o reconhecimento por interromper a escalada de violência que vem promovendo faz uns 200 anos, no máximo? Olha que esse reconhecimento, com humildade, pode até se reverter em bons negócios, hein? E com certeza o mundo ficará melhor sem esse seu jeito de atacar a todo mundo. E, como eu falei, não tem um outro mundo, não, só tem esse…

    2. O conceito de jihad empregado

      O conceito de jihad empregado e difundido pelos fundamentalistas islâmicos na atualidade é igual ao da guerra santa dos cruzados medievais. Dai a referência e sua pertinência.

  4. ” Nobiscum Deo “

     ” Deus está conosco ”  – Lema das Legiões Romanas ( após Constantino ) e bizantinas, o qual gerou da Idade Média ( Carlos Magno / está inclusive na “Canção de Rolando” ), até o final da 2a Guerra Mundial, o lema germanico: “Gott Mit Uns”.

        Utilizar religião e/ou crenças, para ludibriar ou galvanizar povos, para operações politicas e de guerra, tanto internas como externas, é tão velho como o conflito entre assirios e egipcios, a mensagem “religiosa” significa, sendo constantemente martelada para uma sociedade, não que “Deus” ( seja ele qual for ) está do seu lado, mas que a luta que será enfrentada é “santa”, um dominio da verdade, e nações extremamente “religiosas” ( manipuladas ), jamais irão por em duvida a seu “Deus” .

         Recordações do Libano: //mediastore.magnumphotos.com/CoreXDoc/MAG/Media/TR6/5/3/1/qPAR287968.jpg ( a foto do fuzil M-16 de Nossa Senhora ), tb. caso alguem se interesse o endereço de um Tanque M-41 de “Jesus Cristo”, em modelo de escala, que participou do Massacre de Sabra e Chatila.

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