Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Violência nas ruas de Barcelona, por Andre Motta Araujo

Os catalães se consideram diferentes dos demais espanhóis por serem mais voltados ao trabalho e aos negócios, mas parte disso é lenda.

Foto G1

Violência nas ruas de Barcelona

por Andre Motta Araujo

O chamado movimento independentista da Catalunha é uma relíquia histórica. Não tem sentido econômico ou geopolítico racional. Uma Catalunha como País é inviável, não tem escala para ser um novo País europeu e não seria aceito pelo União Europeia. Trata-se de um golpe político-mediático de grupos que não são majoritários na Catalunha, ao contrário do que aparece na mídia. Há um sentido de ambição de políticos serem mandatários de poder que beneficiaria mais a eles do que a população catalã.

Há uma propaganda viciosa de que a Catalunha, sendo a região mais rica da Espanha, “sustenta a Espanha”, o que é completamente falso. A Catalunha é a região mais industrializada da Espanha, MAS o seu mercado é o resto da Espanha, ela é industrializada porque tem o mercado espanhol para seus produtos e se fosse um País independente não teria essa primazia. A Espanha se beneficia da Catalunha, mas a Catalunha também se beneficia da Espanha.

Um País de 32 mil quilômetros quadrados e 7,5 milhões de habitantes seria hoje uma soberania sem peso no conjunto da Europa. A Catalunha é mais adiantada que a Espanha como um todo, mas como País independente seria mais atrasada que outros pequenos Estados europeus como Suíça, Bélgica, Noruega, Áustria e Suécia.

Além disso, a independência tem custos próprios, que hoje a Catalunha divide com a Espanha maior. A Catalunha teria Embaixadas em todos os países da América Latina? Quanto isso custaria?

Teria Exército, Marinha e Aeronáutica? Teria Banco Central? Independência para qual finalidade, o que ganharia com isso que hoje não tem?

A Catalunha antes do fatídico e ilegal “plebiscito” de Carlos Puigmont tinha grande autonomia, dada pela Constituição espanhola da redemocratização.

Perdeu essa autonomia POR CAUSA do plebiscito e da declaração de independência afrontosa ao Estado espanhol. O plebiscito NÃO TEVE VALORfático porque não seguiu nenhuma regra de controle, não se sabe quem votou e quantas vezes votou, os NÃO INDEPENDENTISTAS não foram votar porque achavam aquilo uma palhaçada, um plebiscito fora da lei.

Pesquisas de opinião anteriores e posteriores ao “plebiscito” indicaram que os INDEPENDENTISTAS são minoria na população catalã, que não é só Barcelona, tem mais três províncias que são historicamente mais ligadas à Espanha (Tarragona, Girona e Lérida) e menos interessadas em independência, Barcelona não é toda a Catalunha.

As raízes recentes do “independentismo” estão no “pujolismo”, seguidores do cacique político Jordi Pujol, que dominou a política da região por décadas, até ser afastado por corrupção e lavagem de dinheiro da ordem de 70 milhões de Euros. Pujol foi afastado, mas continuou como força nas sombras.

Além disso, o “Independentismo” não é uno, há facções de esquerda e de direita dentro do movimento, há luta de grupos na causa.

O CARÁTER CATALÃO

Os catalães se consideram diferentes dos demais espanhóis por serem mais voltados ao trabalho e aos negócios, mas parte disso é lenda.

Os bascos, que hoje estão firmemente integrados à Espanha, têm cultura própria ainda mais distinta do que os catalães, a língua basca não tem nenhum parentesco com a língua espanhola, ao contrário da língua catalã, que é da mesma família do espanhol. Os bascos têm um dos maiores bancos do mundo, o Santander, e são também ótimos operadores de negócios.

Os catalães se orgulham de sua arte, especialmente seus pintores, Picasso, Dali, Miró, mas a Espanha tem a glória de um Goya, de um Velasquez e de um El Greco e nem por isso são tão convencidos como os catalães, que se julgam muito superiores aos demais espanhóis, há uma espécie de “salto alto” catalão em tudo. Além disso, são famosos por seu amor ao dinheiro, bem superior aos espanhóis do centro e do sul.

A FORÇA DA ESPANHA

A Espanha é o país mais fraco entre os grandes europeus, Alemanha, França, Reino Unido e Italia. A Espanha não pode suportar a perda da Catalunha e é perfeitamente explicável a forte reação de Madri a essa tentativa de separatismo.

A Catalunha está hoje muito melhor politicamente do que esteve ao tempo da ditadura de Franco, que castigou a Catalunha com mão férrea, proibiu falar catalão nas ruas e ensinar catalão nas escolas. A Catalunha deveria ser parceira da redemocratização e apoiar um Estado hoje super democrático, onde a Catalunha está bem representada (47 deputados e 16 senadores)  e não seguir um idiota de franja, como Puigmont, parceiro de outro idiota de franja, Boris Johnson, que causou imensos danos à economia britânica com seus caprichos de autonomia, para quê?

O separatismo catalão JÁ CAUSOU IMENSOS PREJUÍZOS ao turismo em Barcelona, aos negócios e à economia da Catalunha. Esse INDEPENDENTISMO é um suicídio geopolítico e econômico. Mas países, às vezes, cometem suicídio. Está o Reino Unido em estado ruinoso por causa do BREXIT. Se há uma lição da História é: CUIDADO COM PREBISCITOS, podem ser a porta do inferno.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

6 Comentários

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  1. A mensagem parece uma de bolsomínions, com maiúsculas inúteis, e idéias idem. Nâo conheço muito as outras províncias citadas, mas a de Girona é mais e não menos independentista do que Barcelona. Lã não há muitos barulhos, pois não há quase oposição à independência.

    Mais grave é a “informação”: A Catalunha antes do fatídico e ilegal “plebiscito” de Carlos Puigmont tinha grande autonomia, dada pela Constituição espanhola da redemocratização. Perdeu essa autonomia POR CAUSA (sic) do plebiscito e da declaração de independência afrontosa ao Estado espanhol.

    Com os proverbiais dois cliques, vemos na Internet:
    O movimento moderno de independência começou quando o Estatuto de Autonomia de 2006, acordado com o governo espanhol e aprovado por um referendo na Catalunha, foi contestado na Suprema Corte de Justiça da Espanha, que determinou que alguns dos artigos eram inconstitucionais ou eram para serem interpretados restritivamente.

    Ou seja, a radicalização começou quando o governo espanhol declarou que não iria cumprir o acordo, e não o contrário, como diz o new-fake colunista. Já basta as que temos que aguentar todo dia dos olavistas!

  2. O André está querendo fisgar a audiência de esquerda para a posição contrária aos catalães. Esses motivos egoístas que ele expôs (“pago muito imposto”) não movem o movimento catalanista, muito menos põe pessoas na rua pra protestar.

    O que está acontecendo é que a transição lenta, gradual e segura que vinha ocorrendo tendo como marco a Constituição de 1978 emperrou na virada da década de 2010 por motivos muito parecidos com os que nós vemos no Brasil. Foi nessa época que o PP (direita) ganhou a eleição não só por conta da crise de 2008/09 que explodiu no colo do PSOE, mas também usando e abusando da retórica anti-catalanista (qualquer semelhança ao José Serra de 2010 não é mera coincidência), porque o PSOE tinha apoiado a aprovação do “Estatut de Catalunya”, que mal traduzindo para a nossa realidade, seria uma espécie de Constituição Estadual da Catalunha.

    Esse Estatut tinha alguns pequenos avanços na autonomia da região, mas não representava nenhuma novidade em relação ao que outras regiões já tinham conseguido (como País Vasco ou Andaluzia).

    O PP conseguiu não só derrubar o Estatut no Tribunal Constitucional (qualquer semelhança com nosso STF não é mera coincidência), como também escalou um Ministro da Educação tresloucado (um Weintraub light) que começou a anunciar a torto e a direito que ia acabar com o xodó dos catalães, o seu sistema de ensino em sua própria língua, para “espanholizar” o ensino primário na região.

    Foi a partir daí que o independentismo, que desde o fim do governo Franco nos anos 1970, era uma corrente relativamente marginal da política, que nunca tinha ido além de 25% da população, passou a ser um sentimento de metade dos catalães e em franco crescimento.

    O PP continuamente vem jogando gasolina nessa fogueira nos últimos 10 anos, a ponto de ter provocado o surgimento de dois partidos, o Ciudadanos e o VOX, alimentados pela raiva e oposição à Catalunha, que quase o devoraram.

  3. Se os Catalães se consideram diferentes dos demais Espanhóis por serem mais voltados ao trabalho e aos negócios, mas parte disso é lenda, então os Espanhóis, à exceção dos Catalães, se consideram diferentes dos Catalães por serem MENOS voltados ao trabalho e aos negócios.

    Parte disso é lenda, Sr. André Araújo?

    Eu tenho um Amigo da Catalunha que vive aqui na América Latina. Ele me disse que seus pais não são originários da Catalunha e, tal qual Nordestinos em São Paulo, as pessoas que não são originários da Catalunha são discriminados, vivem em pequenos apertamentos, etc. Por isso, ele é contra a independência da Catalunha.

    Catalão, kd tu, Hermano? Dá um sinal.

    1. Pelo contrário, em poucos lugares da Europa é mais fácil ser um cidadão “nacional”. Via de regra, em qualquer nação europeia, sempre há uma cobrança (velada ou direta) relacionada ao sangue/antepassados para você ser considerado um “local”. Na Catalunha, basta falar catalão, seja qual seja sua origem, que você automaticamente se torna catalão.

      Dois exemplos bem atuais:

      1) o líder do partido mais radicalmente independentista, a CUP, Antonio Baños, nasceu em Barcelona mas todos seus antepassados são imigrantes pobres de outras regiões da Espanha.

      2) as fake news mais “explosivas” que circulam na Espanha são as que falam do “horror” de haver imigrantes muçulmanos e africanos na Catalunha que aprendem catalão e não sabem falar espanhol.

  4. Quem olhar o mapa geofísico da Espanha verá que a Catalunha é a região mais verdejante do país, cujo sul, Andaluzia, segue em processo de desertificação. Daí o surgimento de uma elite com fortes raízes agrárias na região, que resultou em sua industrialização precoce em relação ao resto da Espanha. Essa elite, reacionária por definição, buscar tirar proveito político e financeiro do independentismo como pode. O fato inegável, digno de nota, é que, destarte o revisionismo histórico e toda opressão que a Catalunha sofreu durante a monarquia e o franquismo, nunca, em nenhum momento da história, a região foi independente, desde o império romano, passando pela idade média. Aliás, nem. Catalães de origem eram os decantados nobres da região, todos eles de origem franco-germanica, como de regra ocorreu com quase toda Europa após a queda do império romano e a tomada dos poderes feudalizados pelos nobres senhores da guerra nórdicos. Se por um lado, é preciso reconhecer o direito dos povos à autodeterminação, por outro lado não convém falsear a história nem esquecer que o internacionalismo é uma bandeira histórica do comunismo. O caso catalão, portanto, engendra seus dilemas.

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