A Grande Muralha Verde

Por Tamára Baranov

O grande plano de proteção das florestas chinesas

Depois que a China foi afetada por devastadoras inundações ao longo da bacia do rio Yangtzé, em 1998, que causaram o afogamento de mais de quatro mil pessoas e deixaram 15 milhões de desabrigados, as autoridades puseram em prática o que é de longe a maior operação de plantio de árvores no mundo, em uma tentativa de deter a lenta desertificação, enchentes e outros problemas.
 
 
O programa surgiu na forma de duas iniciativas nacionais, o Programa de Proteção da Floresta Natural e o de Devolução de Áreas Cultivadas para o Programa Florestal, também conhecidos como “Grãos-pelo-Verde” e “Conversão de Terras de Encostas”. Não chegaram muito a tempo. De acordo com dados do Greenpeace, somente 2 % da floresta original da China continua intacta e apenas 0,1% dessa área é oficialmente protegido. O desmatamento resultou em grande perda da biodiversidade e tem sido a causa apontada para todos os problemas ambientais, de deslizamentos de terra à pesada poluição em Pequim.

 
A situação é semelhante em várias partes da Ásia, incluindo gigantes em desenvolvimento como a Índia e a Indonésia. Ambientalistas dizem que recentes inundações e deslizamentos de terra em Java, que mataram pelo menos 19 pessoas, foram intensificados pelo desmatamento.
 
 
Verde comunista
 
Tanto a China como a Índia têm programas para reflorestar e “reverdejar” áreas que foram destruídas pela remoção da mata nativa, embora o da China seja  muito maior. A Grande Muralha Verde da China tem como objetivo deter o avanço dos desertos por meio do plantio de uma assombrosa quantidade de árvores.
 
Na Província de Shaanxi, o programa converteu 571 mil hectares de terras agrícolas e 427 mil hectares de terras improdutivas em florestas ou gramados entre 1999 e 2002, de acordo com um estudo de Edouard Vermeer para a Cambridge University Press. Outros 280 mil hectares de terras agrícolas e a mesma extensão em terras não cultivadas foram reflorestados em 2003. O Banco Mundial chamou atenção para o programa, dizendo que a China é um dos poucos países da Terra que está ampliando sua cobertura florestal.
 
Ao criar a maior floresta formada pelo homem no mundo, o Partido Comunista diz que já teve êxito em cobrir 20% do país com florestas. Seu objetivo é ter 42% até 2050. Parece até que a maior arma da China – e a menos reconhecida internacionalmente – contra a mudança climática é o plantio de árvores.
 
Os cidadãos de modo geral plantaram cerca de 56 bilhões de árvores por toda a China na última década, de acordo com estatísticas governamentais citadas pelo jornal “The Guardian”. Somente em 2009, a China plantou 5,88 milhões de hectares de floresta. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e Prêmio Nobel da Paz, Al Gore, disse que a China planta duas vezes e meia mais árvores a cada ano do que o restante do mundo inteiro somado. Ele definiu esse esforço como “o maior programa de plantio de árvores já visto no mundo”.
 
 
Apesar do êxito, críticos questionam a Grande Muralha Verde porque possui também desvantagens ambientais, tais como sua pobre biodiversidade e o intensivo uso de água. Alguns estudos chegam a mostrar que a criação de novas florestas não é um modo eficaz de absorver carbono ou mitigar mudanças climáticas.
 
Governo motivado
 
Embora grandes projetos nacionais como o da Grande Muralha Verde funcionem também como ferramentas de propaganda para o governo chinês, os resultados diferem em nível local, como explica um artigo sobre reflorestamento no sudoeste da China, publicado no “China Dialogue”. O programa se deparou com problemas entre os camponeses que se rebelam quando as novas árvores não produzem renda na mesma proporção das lavouras perdidas e, em alguns lugares, o plantio simplesmente não decola por causa de projetos ruins de reflorestamento ou outras questões. Apesar disso, no geral, a iniciativa é um exemplo impressionante do que um governo pode fazer desde que esteja motivado.
 
Um esforço para deter a expansão do deserto de Kubuqi, na província da Mongólia Interior, atualmente é  dirigido por um ex-embaixador sul-coreano na China, Byong Hyon Kwon, que se tornou ativista em prol do meio ambiente.
 
De acordo com um artigo no jornal “The Star”, de Kuala Lumpur, Kwon fundou em 2001 a Floresta Futura, uma organização sem fins lucrativos, para combater a desertificação. Como embaixador na China de 1998 a 2001, ele viveu diretamente a experiência das tempestades de areia conhecidas como Dragão Amarelo, que deixam o céu sobre Pequim denso, por causa da poeira, e levam pessoas com bronquite asmática e problemas cardíacos ao hospital. Ele ficou convencido de que, se não fossem adotadas medidas, a trajetória da areia iria ameaçar a viabilidade do continente asiático.
 
Kwon e a Floresta Futura planejam o cultivo de uma faixa de 15 quilômetros e 800 metros de largura de vegetação densa para deter a marcha do deserto para o leste. Com seu parco orçamento de 1 milhão de dólares, a Floresta Futura já conseguiu plantar 6,2 milhões de árvores nos últimos oito anos.

 

Redação

3 Comentários

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  1. Tamara, eu tinha certeza

    Tamara, eu tinha certeza absoluta que a Australia ia fazer isso e quem o esta fazendo eh a China!  Uma surpresa enorme.

    Sabe porque eu conheco a tecnica?  Porque eu ja fiz isso.  Sai espalhando com irmao e sobrinho sementes de manga em uma montanha porque o chao era muito seco e as poucas e ralas nascentes estavam secando.  TODAS as sementes pegaram -no semiarido do Planalto Central.

    1. Para mim também foi uma

      Para mim também foi uma surpresa o programa ser da China e mais ainda na província da Mongólia ser dirigido por um ex-embaixador sul-coreano e que se tornou ativista em prol do meio ambiente. Aliás, a única foto que colocaram nesta postagem é do japonês Mase Hiroki no deserto de Engebei, norte da China e que também tornou-se voluntário para plantar árvores no deserto. 

      Na imagem abaixo, assim como você, seu irmão e sobrinho, ativistas do Floresta Futura. Uma beleza de iniciativa, parabéns Ivan. Um abraço.  

       

  2. Interessante

    Programa interessantíssimo.

    Melhor ainda se integrasse a questão de oferecer um meio de subsistência para a população rural e se replantasse com espécies nativas, reproduzindo assim a diversidade da floresta nativa.

    Ainda assim é uma iniciativa muito valiosa.

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