China surpreende em semana turbulenta no mercado internacional

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Em tempos de crescimento moderado ou fraco, ou mesmo com perspectivas pouco animadoras do Fundo Monetário Internacional sobre o Produto Interno Bruto das principais economias do mundo, a China sempre largava na frente e surpreendia a todos.

Nos últimos anos, parecia mais um competidor olímpico, quando o assunto era desenvolvimento: média na casa dos 9%, PIB ultrapassando os US$ 10 bilhões (ou 63,35 trilhões de iuanes, como em 2014), uma representatividade de cerca de 15% na economia mundial.

Porém, como se sabe, frente a resultados estarrecedores, chegam junto expectativas e, porque não, as frustrações. Foi aparentemente o que aconteceu esta semana, quando o governo chinês anunciou que, com algum esforço, chegará aos 7% de crescimento no ano corrente. Não só isso: o mundo assistiu a uma queda brusca de 15% nas exportações do gigante, bem como uma queda significativa em seu mercado interno.

O primeiro-ministro, Li Keqiang afirmou, segundo a rádio estatal chinesa, que o país deverá se preparar para enfrentar dificuldades econômicas maiores. A notícia foi divulgada na última terça-feira (14). Segundo ele, a pressão sobre a economia chinesa está aumentando – o que coincide com os dados desanimadores da balança comercial divulgados ontem (queda de 15% nas exportações em março deste ano) e antecedem a divulgação dos números do Produto Interno Bruto chinês, marcada para esta quarta (15).

De acordo com especialistas, a economia chinesa cresceu 7% nos três primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2014, porém, há um desequilíbrio notável em 2015 tanto no consumo interno quanto nas vendas para o mercado internacional.

O Brasil sofreu impactos com tais anúncios, mesmo estando do outro lado do mundo: o dólar registrou, naquele mesmo dia, sua segunda alta consecutiva, por conta das incertezas chinesas sobre o futuro econômico em médio prazo.

Dois dias depois, Keqiang afirmou em entrevista ao jornal Financial Times que não seria fácil para seu país crescer 7% em 2015 – embora descartasse desvalorização cambial para promover as exportações.

Li contou ao jornal que, embora a China esteja exposta à deflação devido à queda dos preços globais de commodities, o país ainda não está em deflação, pelo contrário – deve comemorar um crescimento estável em seu mercado imobiliário, que receberá respaldo do governo contra as chamadas “bolhas”.

Mas talvez ainda seja cedo para comemorar: fala-se até em aumento de subsídios para a indústria do milho no nordeste do país, numa aposta para estimular o consumo em um setor repleto de incertezas.

Um alerta ao estilo G20

O G20, grupo formado pelos ministro de finanças e chefes de bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia, alertou nesta sexta-feira (17) para o risco elevado de volatilidade financeira, conforme as políticas monetárias dos principais bancos centrais começam a seguir caminhos diferentes.

“Num ambiente de orientações divergentes de políticas monetárias e volatilidade crescente em mercados financeiros, as determinações de política devem ser cuidadosamente calibradas e claramente comunicadas para minimizar os efeitos negativos de contágio”, disseram em comunicado. “Vamos continuar a monitorar a volatilidade no mercado financeiro e a tomar medidas necessárias.

É evidente a preocupação sobre potenciais perturbações econômicas e no mercado financeiro conforme o Federal Reserve, banco central dos EUA, se move na direção de elevar a taxa de juros mesmo enquanto o Banco Central Europeu (BCE) e o banco central japonês mantêm a política monetária bastante aberta.

O grupo de economias avançadas e emergentes comemorou o fortalecimento de algumas economias importantes, embora ressaltando a natureza desigual do crescimento global e seus riscos. Para eles, ainda existem desafios, incluindo volatilidade nas taxas cambiais e baixa inflaçãoo prolongada junto a taxas de juros negativas, desequilíbrios sustentados e tensões geopolíticas.

Os países se comprometeram a perseguir políticas fiscais “flexíveis” para sustentar o crescimento, e citaram a necessidade de políticas monetárias expansionistas continuadas em muitas nações desenvolvidas. Disseram também que reafirmam compromissos anteriores sobre taxa de câmbio e que vão resistir ao protecionismo comercial.

O discurso se assemelha ao do premiê chinês, que falou esta semana em pressão sob a economia e que não se pode contar com o declínio da moeda local para impulsionar os negócios com o exterior. Ele também alertou que a China não deseja ver importantes economias mundiais tropeçarem uma na outra para desvalorizar suas moedas, o que levaria o mercado global a uma nova guerra cambial.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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