Conheça as teorias que explicam a queda vertiginosa nas exportações asiáticas

Jornal GGN – As exportações das quatro potências asiáticas (China, Japão, Coreia do Sul e Taiwan) recuaram 2% nos primeiros três meses do ano, em relação ao mesmo período de 2013.
 
O setor já sofreu quedas acentuadas nos últimos 20 anos na região, especialmente pós-crise financeira em 1997 e estouro da bolha das pontocom, em 2001. No entanto, elas rapidamente retomaram um crescimento de dois dígitos depois de pouco mais de um ano, acompanhando a recuperação da economia mundial.
 
Porém, esse mesmo fenômeno não está se repetindo agora. As exportações asiáticas se recuperaram em 2010, na esteira da crise financeira global, mas caíram desde então e agora mal alcançam valores líquidos positivos, mesmo com a economia dos Estados Unidos ganhando fôlego.
 
Essa lentidão reflete uma mudança acentuada na economia global. Durante um período que remonta aos anos 60, as economias asiáticas, lideradas primeiro pelo Japão e, depois, por Coreia do Sul, Taiwan e China, tornaram-se a grande fonte, já que utilizam mão de obra barata para gerar negócios. Atualmente, o crescimento como um todo está desacelerando em muitos países asiáticos, levando governos a se perguntar se a demanda dos seus próprios consumidores será capaz de preencher essa lacuna.
 
A queda da China é particularmente notável. Na sexta-feira (25), o governo chinês informou que o superávit em conta corrente do país, que mede o saldo do comércio exterior e das transferências monetárias, encolheu no primeiro trimestre para o seu menor valor nos últimos três anos.
 
O consumidor parou?
 
Uma das teorias para a queda brusca é que a recuperação dos EUA desta vez está sendo diferente. Nos cinco anos desde que o país saiu da recessão, o crescimento anual de todos os bens e serviços que o país produz foi em média de apenas 1,8%, metade do ritmo das três recuperações anteriores.
 
A recuperação vem ganhando força, mas está sendo alimentada por investimentos de capital em áreas como a exploração de petróleo e gás, que não dependem muito das importações.
 
Ao mesmo tempo, o crescimento dos gastos do consumidor nos EUA está estagnado em cerca de 2% há mais de dois anos, enquanto os americanos pagam suas dívidas, comparado a bem mais de 3% há dez anos. Isso significa menos demanda pelas exportações asiáticas, que são dominadas por produtos manufaturados, especialmente eletrônicos.
 
De fato, as exportações para os EUA de China, Japão, Coreia do Sul e Taiwan avançaram a uma taxa anual de somente 1% em 2013, bem abaixo dos 13% em 2004.
 
Outra possibilidade são os próprios frutos do sucesso da Ásia – salários mais altos, melhor nível de vida – que tornaram o continente caro demais como centro de produção. Isso já se verificou há anos no caso do Japão, Taiwan e Coreia do Sul, à medida que esses países subiam na cadeia de valor. Hoje, suas montadoras e fábricas de eletrônicos criaram unidades no exterior para aproveitar salários mais baixos fora. Até mesmo a China parece estar perdendo negócios na fabricação de produtos baratos, resultado da alta dos salários e da migração dos exportadores de roupas e eletrônicos populares para países mais baratos, como Vietnã e Bangladesh.
 
Para esses países menos desenvolvidos, o caminho da exportação permanece aberto, se eles conseguirem fornecer um número suficiente de trabalhadores com a qualificação necessária. Mas os investidores no Vietnã já se queixam da falta de trabalhadores qualificados, ressaltando a dificuldade de países ainda mais pobres, como Mianmar, Camboja e Laos.
 
Em outras partes da Ásia, os líderes políticos estão enfrentando o desafio de tirar suas economias da dependência das exportações.
 
O FMI e vários economistas já pediram às economias asiáticas que façam reformas para se tornar mais eficientes. Essas reformas incluem liberalizar setores como agricultura, bancos, seguros e infraestrutura, para permitir mais participação estrangeira.
 
Na Coreia do Sul, o governo pretende desenvolver o setor de serviços, como parte de um plano para impulsionar o crescimento para 4%, ante 2,8% no ano passado.
 
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, prometeu combinar incentivos monetários e fiscais com mudanças nos impostos e nas regras e leis trabalhistas, na esperança de reavivar os investimentos domésticos por parte de empresas que estão se transferindo cada vez mais para outros países.
 
Os líderes chineses estão pressionando para reformar a economia do país de modo a depender menos da indústria pesada e das empresas voltadas para a exportação, e focar mais no enorme mercado consumidor doméstico.
 
Uma maneira de fazer isso, segundo analistas, seria liberalizar os mercados financeiros, para fornecer aos consumidores investimentos mais lucrativos, o que poderia aumentar o poder aquisitivo nesses países. Para incentivar as exportações, as autoridades de vários países asiáticos recentemente desvalorizaram um pouco suas moedas, com objetivo de baratear seus produtos no exterior.
 
O governo americano criticou as iniciativas chinesas para desvalorizar o yuan em 3% neste ano até agora. O FMI divulgou este mês que as intervenções governamentais podem ter derrubado o won sul-coreano para 8% abaixo do seu valor real de mercado.
 
Mas quanto mais os exportadores asiáticos tentam encontrar uma rota de fuga, desvalorizando as suas moedas, maior é o risco de uma guerra cambial.
 
Com informações do The Wall Street Journal.
Redação

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