DataNet: China.arkx

DataNet: China.arkx

“Para ganhar tempo, o governo chinês está estimulando o crescimento de sua economia e a mantém protegida da apreciação da moeda, na esperança de que seu vibrante crescimento possa continuar.

Mas ele vê os presságios. E eles não são bons.

Por um lado, a relação consumo-PIB da China está em queda; um sinal claro de que o mercado interno não consegue gerar demanda o suficiente para as fábricas gigantescas da China.

Por outro lado, suas injeções fiscais estão causando bolhas imobiliárias. Se estas não forem controladas, podem explodir e assim provocar um desdobramento interno catastrófico.

Mas como você desinfla uma bolha sem sufocar o crescimento?

Essa foi a pergunta de multi trilhões de dó- lares que Alan Greenspan não conseguiu responder. Todavia, não está claro se as autoridades chinesas conseguiriam.”

“O Minotauro Global”, Yannis Varoufakis – 2011

– a chave da análise deve ser a desestruturação da economia global causada pela Crise de 2008;

– a partir de então a contração do mercado norte-americano afetou sua capacidade de absorção das exportações chinesas;

– por outro lado, mercado interno chinês não consegue gerar demanda suficiente para manter elevada a taxa de crescimento PIB;

– o crescimento do PIB na China é uma questão interna altamente delicada, da qual depende inclusive sua estabilidade social e política, posto que uma recessão acarretaria ainda mais insatisfação entre a população;

– para contornar temporariamente a questão o governo chinês gerou uma bolha de investimentos e créditos a fim de compensar a escassez de demanda (externa e interna);

– as injeções fiscais inflaram uma gigantesca bolha imobiliária;

– a apreciação do yuan levaria ao estouro das bolhas internas: cambial, crédito, imobiliária, industrial;

– uma intervenção do governo chinês para desinflar as bolhas levaria a queda no crescimento.

China: PIB por demanda

China: dívida por setor

China: dívida do setor privado

China: dívida comparada do setor privado

China: bolha imobiliária

China: bolha imobiliária comparada

China: bolha imobiliária – Shangai

China: consumo de energia elétrica

China: formação de Capital – composição comparada

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“Os EUA foram também salvos pelo Dragão: o governo chinês aumentou os investimentos nacionais sem precedentes a fim de preencher a lacuna criada pela contração de gastos nos EUA e na Europa.

Por muitos anos a China permitiu a criação de créditos pelos seus bancos formais, e os bancos das sombras (“shadow banks”), permitindo também se beneficiar do dinheiro fácil do Fed, pegando empréstimos em dólar.

De maneira resumida, o Dragão entrou em cena para reequilibrar as contas do Ocidente quando o Minotauro já não podia mais.

Os líderes chineses sabiam o que estavam fazendo. Estavam criando uma bolha insustentável de investimentos para dar uma chance de ação conjunta à Europa e EUA. Infelizmente nenhum dos dois o fizeram: os EUA devido ao impasse entre o presidente Barack Obama e o congresso controlado pelos Republicanos, e a Europa por razões dolorosas demais para serem colocadas aqui novamente.

Quando a tempestade atingiu o ano de 2015, com as taxas de juros norte-americanas subindo e os preços das commodities caindo, a China teve que impulsionar, mais uma vez, a criação de crédito.

Hoje, o boom do crédito da China é sustentado por garantias quase tão ruins quanto àquelas em que a Bear Stearns, Lehman Brothers, e os demais bancos estavam confiando em 2007. Além disso, como o renminbi chinês está extremamente sobrevalorizado, as corporações estão pegando dólares emprestados para pagar antecipadamente sua dívida lastreadas em dólares, pressionando uma queda na taxa de câmbio…”

Varoufakis: Trump encarará realmente o dragão chines?”

China x EUA: comércio bilateral

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Redação

40 Comentários

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  1. DataNet: China.arkx

    “A estabilidade do capitalismo global, mas também do regional, requer um mecanismo mundial de reciclagem de excedentes – um mecanismo que os mercados, não importa quão globalizados, livres e eficientes sejam, não podem fornecer.

    Assim, a pergunta é: se os Estados Unidos não podem suprir o MGRE que falta, e a Europa está ocupada demais se desintegrando, quem pode? A China? Infelizmente, não.

     A China está, evidentemente, trabalhando arduamente, e com um sucesso considerável, na criação da versão chinesa de uma globalização parcial; uma que coloca Pequim no centro de uma vasta rede de acordos de comércio e de investimentos com a Índia, África, América Latina, mas também envolvendo europeus, norte-americanos e multinacionais japonesas.

    A China tentará conter as autoridades norte-americanas, europeias e japonesas e, em pouco tempo, promoverá a sua moeda própria, o renminbi (rmb), como o principal meio de troca dentro dessas redes.

    No entanto, essas redes estão condenadas a serem incorporadas numa economia mundial mais ampla, que a China não pode reequilibrar devido a uma incapacidade radical de gerar demanda suficiente para ela própria.

    “O Minotauro Global”, Yannis Varoufakis – posfácio de 2013

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  2. 1–O que seria “bolha

    1–O que seria “bolha imobiliaria” na China, que construiu cidades inteiras aa espera dos residentes que nunca chegaram e Ta cheia de cidades-fantasma de espigoes vazios e chiques hoje?  A ultima vez que ouvi falar os EUA tinha 17 milhoes de inoveis vazios aa espera dos residentes que nunca chegaram tampouco.

    2–O livro de 2011 esta errado no quarto item:  porque eh que uma recessao que “acarretaria mais insatisfacoes” na China seria a)mais, b)menos, ou c)igual aas que foram esmagadas nos Estados Unidos em 2010?  Ou voce nunca ouvi falar de OccupyWallStreet e de EuSouOs99porcento?

  3. Igualmente… Que “bolha de

    Igualmente… Que “bolha de investimentos” eh essa da China se ninguem tem a menor ideia da proporcao de chineses que comprou e perdeu casa na China?

    Ou voce nao sabe que Obama foi o presidente que mais deportou estramgeiros dos EUA porque TODOS tinham centenas demilhares de dolares de divides com suas2casas e atravez da deportacao deles os bancos we apropriavam ambos dos imoveis e de TODOS is milhares de dolares que eles ja tinham investido na esperanca de um futuro melhor?

    1. DataNet: China.arkx

      -> O que seria “bolha imobiliaria” na China

      -> A ultima vez que ouvi falar os EUA tinha 17 milhoes de inoveis vazios

      não se trata aqui de conclusões definitivas sobre a China, e muito menos de uma tomada de posição pró ou contra. e sim de coleta de dados e análises.

      e quanto aos EUA, todos os dados confirmam sua irremediável decadência.

      os dados, também presentes no gráficos postados, mostram como o governo chinês mantém a economia aquecida através de investimentos, principalmente no setor de construção civil.

      a respeito da bolha imobiliária na China, os dados expostos no gráficos postados deixam claro sua existência. inclusive comparativamente com outras bolhas imobiliárias já ocorridas (desde o Japão, em 1990).

      veja os comentários do Wilton Cardoso Moreira e do Hydra. a China poderá reequilibrar a economia global, mais uma vez salvando o Capitalismo dele mesmo, ou desembocaremos numa guerra mundial e numa catástrofe ambiental?

      abraços

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  4. Governo chinês regula o mercado

    Não vejo o mesmo risco de bolhas na China como existe nos países de economia neoliberal.

    Isso porque o governo chinês tem planejamento de longo prazo e exerce forte regulamentação sobre o mercado. Não espera a mão invisivel fazer explodir.

    Exemplos: 

    China: [Mercado] Imobiliário desvalorizou em 2017

    (…) As autoridades chinesas adotaram, em 2017, um total de 270 restrições, em 110 cidades do país, visando controlar o mercado. Trinta dessas restrições foram impostas em Pequim. As medidas incluem o aumento do valor do pagamento inicial na aquisição de um imóvel, aumento das taxas de juro e maiores restrições no acesso a empréstimos para habitação. (…)

    Crescimento da economia chinesa acelera em 2017 pela 1ª vez em 7 anos

    A economia chinesa cresceu, em 2017, 6,9%, após sete anos de desaceleração

    O sector dos serviços, o mais dinâmico, aumentou 8,2% em 2017 em relação ao ano anterior.

    O governo também ofereceu crédito mais fácil, o que estimulou a demanda das famílias. Embora o crescimento das vendas no varejo tenha diminuído em dezembro (+ 9,4%), aumentou 10,2% ao longo do ano. 

    Outro fator de crescimento é o comércio exterior (+8% de aumento nas exportações em 2017), fundamental na economia do gigante asiático, que se recuperou em 2017 graças a uma conjuntura mais favorável nos Estados Unidos.

    -x-x-

    Há ativos no setor de serviços subavaliados. A bandeira de cartão de crédito chinesa PayUnion já é a maior do mundo (tanto em valores como em usuários), mas não o valor de mercado da Visa. O WeChat já tem 1 bilhão de usuários, mas não tem movimento em bolsa como o facebook. Da mesma forma o Baidu não é valorado proporcionalmente ao Google, nem o AliBaba à Amazon, nem a Didi ao Uber. Ou estas empresas chinesas estão subavaliadas ou são as empresas estadunidenses que estão vivendo uma bolha no valor de suas ações.

    1. DataNet: China.arkx

      obrigado pelo retorno.

      trata-se de uma pesquisa que sempre mantenho atualizada. tem mais dados e vou postá-los posteriormente.

      há uma linha mestre, seguindo as análises de Varoufakis (um errático “marxista keynesiano”):

      – para manter minimamente sob controle suas intrínsecas disfuncionalidades, o Capitalismo necessita de um Mecanismo Global de Reciclagem de Excedentes (MGRE);

      – após a Crise de 2008 os EUA já não conseguem suprir esta necessidade;

      – teria a China, e os (B)RICS, capacidade de estruturar um novo MGRE?

      valeu.

      p.s.:

      -> Isso porque o governo chinês tem planejamento de longo prazo e exerce forte regulamentação sobre o mercado. Não espera a mão invisivel fazer explodir.

      compreendo perfeitamente sua argumentação. mas considere que o Governo Chinês não tem como planejar e intervir na política econômica dos demais países. embora evidentemente tudo esteja globalmente interconectado. a margem de ação tanto da China quanto dos EUA, Europa, Japão, (B)RICS, é mutuamente limitada. daí a necessidade de um novo Bretton Woods (proposta de Varoufakis). seria viável politicamente?

      .

  5. Negócios da China?

    Olhando de forma rasa, poderíamos dizer que (“acidentalmente”) o mercado substituiu a debacle estadunidense por lastros ainda mais frouxos na China, algo como tentar estancar a hemorragia global de liquidez (que coagula em “bolhas”) com a alocação de vampiros para sugar o excedente…

    Não há vampiros em número suficiente…

    Outra vez o velho Marx: O Capital é um sistema que funciona basicamente pela expansão e contração de fluxos, que se movimentam pela assimetria dos polos (seja o Capital e o Trabalho, sejam as assimetrias geopolíticas, ou os gaps ilusórios dos mercados futuros e suas roletas de apostas)…

    Classicamente, alguns economistas trabalharam nessa brecha para induzir a crença de que era possível instituir políticas anti-cíclicas, ou por outro lado, no lado dos ortodoxos, havia outra escolha, quer dizer, escolhiam não agir (deixa quebrar)…

    O problema não é tão simples…Não há, do aspecto puramente econômico e científico, intervenção estatal que resolva esse problema para o longo prazo, assim como não há nenhuma desrregulamentação total e radical que possa ser implantada, como propagam os fariseus do mercado…

    Novamente sendo simplista, é uma questão de tempo: ou gasta o “tutu” do Erário antes, com interveção keneysiana, ou depois, como garantidor de última instância, como fez o Fed em 2008…

    Politicamente sabemos a diferença: incluir ou excluir gente…

    Com a financeirização da economia até que o dinheiro deixasse de ser meio para ser fim em si, com o ritmo alucinante de acumulação jamais prevista, o capital vai continuar com seu problema central insolúvel: gera e concentra riqueza em uma toada que paraliza o seu entorno, ou seja, os que não detêm essa riqueza…

    Riqueza parada não serve de nada…

    Não haveria problema algum em se utilizar a China como última fronteira para geração de uma enorme recicladora de excedentes, mas…

    Qualquer mexida naquele mundão de gente desiquilibra o jogo todo…

    Se cada chinês desejar aumentar seu consumo de frango ou de cimento em 1kg mês per capita, haverá um colapso e talvez a criação de outra bolha especulativa em torno desses ativos…

    O The Observer e a Carta Capital trouxeram matéria interessante sobre a falta de areia na Índia, e os danos (e crimes de morte) envolvidos nessa mineração desenfreada e estimulada pela demanda chinesa…

    É um círculo vicioso e permanente: cria outra bolha, estoura, mais gente excluída, cria outra bolha, estoura, mais gente excluída…e por aí vai… 

    1. DataNet: China.arkx

      como sempre, excelentes contribuições!

      os negócios da China nos interessam, e muito. não apenas por conta da economia global, mas pelos investimentos da China no Brasil, inclusive com a privataria de Temer & CIA. assunto complexo.

      penso que sua abordagem conjugada com a do Wilton fornece o rumo correto para se pensar a questão.

      -> Politicamente sabemos a diferença: incluir ou excluir gente…

      -> Qualquer mexida naquele mundão de gente desiquilibra o jogo todo…

      -> Se cada chinês desejar aumentar seu consumo de frango ou de cimento em 1kg mês per capita, haverá um colapso e talvez a criação de outra bolha especulativa em torno desses ativos…

      -> É um círculo vicioso e permanente: cria outra bolha, estoura, mais gente excluída, cria outra bolha, estoura, mais gente excluída…e por aí vai…

      para a estabilidade do regime chinês é imprescindível a inclusão social.

      como incluir sem inflar bolhas se a economia global não cresce?

      por outro lado, como incluir dentro do paradigma de consumo capitalista, sem provocar um colapso ambiental?

      o Capitalismo financeirizado e globalizado estaria cruzando seus limites para uma guerra de extinção em massa e um armagedon ecológico?

      apenas livremente pensando…

      .

      1. Seus dois últimos parágrafos

        Seus dois últimos parágrafos batem perfeitamente com minhas preocupações expressas em comentário por aqui mesmo. Dizendo cruamente: a esterilização total dos excluídos (baratas?). Cheira até a algo não humano…

  6. Talvez o roblema não seja a reciclagem de excedentes

    A critica do valor é uma corrente marxista heteodoxa, que vê a dominação abstrata do capital sobre as pessoas como principal, e não a dominação de classe. A dominação da elite burguesa sobre os trabalhadores seria secundária e a luta destes seria incapaz de levar à emancipação do capitalismo: quando muito, a luta de classe promove uma democratização do capital, reforçando-o ao invés de superá-lo.

    Para seus teóricos, a crise de 2008 tem causas mais profundas e começou a ser gestada na passagem dos anos 70 para os 80, com a 3a revolução industrial, com a incorporação da microeletrônica no processo de produção.A tese deles é que o trabalho (uma atividade exclusivamente capitalista) está ficando obsoleto com a tecnologia aplicada à indústria. O problema é que só o trabalho gera valor (capital). Por isso, os anos dourados do capitalismo de primeiro mundo acabaram em inflação e baixo crescimento na década de 70. A partir daí, a massa de capital não fictício estaria diminuindo no mundo.

    O neoliberalismo, segundo eles, foi uma solução que o sistema arranjou para sustituir a excassez de valor por crédito capital) fictício. A falta de reciclagem de excedentes, na verdade não seria a causa da crise, mas um efeito dela, pois os excedentes são, na verdade, capitais fictícios que se tornaram imensamente mais volumosos que o valor que a economia real é capaz de gerar. Chegou-se a ponto de saturação de capital fictício que não é mais possível reciclá-los.

    A crítica do valor acredita que o capitalismo está, agora, sem saída. O trabalho está cada vez mais obsoleto, mas o valor e a mais valia só é obtita através do trabalho. A solução neoliberal de fabricar capital fictício naufragou. O retorno ao keynesianismo/fordismo ou ao capitalismo de mercado (estilo China) é impossível, pois significaria voltar à “economia real” que, com a substituição de trabalho por maquinas em estágio avançado, não produz mais valor suficiente para se auto-sustentar (o caso da China, que não consegue absorver sua prórpia produção é prova disso).

    Enfim, para a crítica do valor, o caitalismo atual está em colapso. E a causa não é a falta de reciclagem dos excedentes nem a finaceirização neoliberal, e sim o avanço tecnológico da produção que torna o trabalho humano obsoleto e, em consequência, diinui a massa “real” de valor (capital não fictício).

    1. Falso dilema…

      Esse dilema é falso, mas nem assim deixou de paralisar o pensamento marxiano e de trazer consequências enormes da realidade política…

      Não é possível contrapor essas duas naturezas (a dominação do valor e de classes), porque ambas coexistem na engenharia capitalista…

      A questão do valor é pre-existente ao capitalismo, assim como a luta de classes, mas é nele que encontram seu estado da arte, porque funcionam em um ambiente de luta de classes (de dominação de classes) sofisticadíssimo e baseado em estruturas colapsantes…

      A lógica da ideologia capitalista, seja a liberal do século XIX, seja a neoliberal da triunfante revolução tecnológica digital, é despertencer o trabalhador do produto de seu trabalho, deslocando a noção de valor não para a parte que ele produz (como indivídiduo coletivamente agregado ao sistema de produção), mas para o resultado total, o produto, a riqueza, que é gerada pela soma de “ninguéns”…

      O truque seminal é que antes do capitalismo, o eixo (a terra, e sua propriedade) davam a dimensão do indivíduo e sua inserção social, ou seja, quem tinha ou não tinha terra, e daí derivavam todas as outras interações…

      Com o advento do capitalismo, essa noção se deslocou em um sofisticado jogo onde o poder e a dominação advinham não de uma condição pré-existente, mas da inserção de vários indivíduos em um esforço “voluntário” de geração da própria riqueza que os excluiria…

      Só que durante esse jogo, a luta de classes apresentou a demanda: queremos a distribuição de riqueza, então, a riqueza vai mudando de forma até que se torne cada vez mais alheia a quem a produz, chegando ao ponto de hoje: aquilo que era o parâmetro para a dominação está em transição para uma nova etapa de renomeação do valor, ou reificação dele…

       

      1. Uma das coisas que os

        Uma das coisas que os críticos do valor fazem questão de enfatizar, para se distanciar do que eles chamam de marxismo tradicional, é que o valor, o trabalho e a mercadoria não existiam antes do capitalismo (podia haver moeda, atividades humanas e bens). E valor, o trbalho e a mercadoria são formas sociais históricas, exclusivas do capitalismo.

        Por isto, eles não creem que o que define o capitalismo seja a apropriação do valor excedente produzido pelo trabalho pela elite, emboram não negam que isto acontece. Eles não acreditam que simplesmente distribuir o valor excedente entre os trabalhadores seja uma emancipação do capitalismo. Para eles, a emancipação do capitalismo passaria obrigatoriamente pela extinção das formas sociais que definem o capitalismo como regime social: o valor, o trabalho e a mercadoria.

        1. Aí o nó…

          O valor, o trabalho e a noção de classes são históricas e não são exclusivas do capital, inclusive a análise marxiana estuda o desenrolar dessas categorias como anteriores e externas ao capitailsmo…

          É bem verdade que a estrutura capitalista é de tamanho tão esfuziante que acabou por transformar-se na própria acepção, algo como a marca que vira sinônimo do produto, como bombril, gilette, etc…

          Quando acatamos que o valor, o trabalho e as classes são exclusivas do capitalismo, ao mesmo tempo aceitamos que não haverá valor, trabalho e classes após capitalismo…

          Então dizemos: opa, isso é bom, chegamos ao comunismo!

          Esse é um truque que nos levaria a imaginar que essa seria a solução comunista, no entanto, essa noção de exclusividade dessas categorias apenas dentro a realidade capitalista trazem um contrabando:

          O capitalismo não será extinto pela extinção apenas das classes, da dominação ou trabalho como categorias “históricas”, mas pela implosão das estruturas de engenharia que expropriam o valor que quem o produz e que se reproduz em uma lógica de exclusão e dominação de classes…

          Em outras palavras, o capitalismo estará superado apesar da manutenção e/ ou extinção dessas categorias (valor, classe, dominação abstrata)…

          O que não nos garantirá um futuro mais promissor que a realidade…

          Nesse sentido, não nos bastará controlar ou redistribuir o produto do trabalho e a propriedade do capital em si, mas redesenhar a lógica de produção que possibilita a acumulação rentista capitalista… 

    2. DataNet: China.arkx

      concordo totalmente com esta visão. pretendia chegar até ela, passando primeiro pela tentativa chinesa de estruturar um novo MGRE, através do OBOR (“One Belt, One Road”). para avaliar suas viabilidades.

      esclareço que se trata apenas, sem qualquer outra pretensão, de uma pesquisa para consumo próprio, para minha própria orientação. algo que não é incomum em meu modo de viver.

      obrigado.

      .

      1. Meus “estudos” também são

        Meus “estudos” também são para consumo próprio. Mas continue assim meu caro. A internet precisa de perspectivas alternativas, inventivas e ambiciosas como a sua. O debate que se dá apenas em torno do trivial perde a noção do todo social em que estamos inseridos.

        1. DataNet: China.arkx

          Cinema comercial e dominação abstrata

          A crítica do valor concebe o Capital como uma forma social que perfaz uma totalidade abstrata (porém real) que exerce uma dominação impessoal sobre os indivíduos através do trabalho. A Matrix, a Coletividade Borg e a praga zumbi também perfazem uma totalidade abstrata cuja dominação é impessoal, ou seja, não é exercida nem por uma pessoa (um déspota), nem por um grupo social específico (uma oligarquia).

          .

    3. Realmente. A robotização da

      Realmente. A robotização da produção, da administração, da comercialização e até mesmo se extendendo à repressão inviabilizará o trabalho humano lançando bilhões de seres na mais completa inutilidade, sob o ponto de vista da “nova nobresa burguesa” que detém o controle do planeta. Para mim sempre esteve claro que a ideia de capitalismo rentista seria um estertor do capitalismo (sem mercado) já muito próximo ao “horizonte de eventos” do buraco negro da acumulação indefinida do capital.

      Que se pode esperar daí?

      A única solução decente que antevejo é o reinício de novo ciclo de grandes navegações…

  7. Conflitos

    Neste ponto Arkx, não tenho certeza se concordamos. Este economista pelego não é confiável. O brilhante Ramin Mazaheri destroçou o “esquerdista” numa série de artigos no thesaker e as próprias incongruências se destacam, assim como as ausências.

    Nenhuma palavra sobre o OBOR, o projeto trilionário para integrar MENA e onde os dólares inúteis serão usados para coisas úteis? Se o percentual de exportações da China pros EUA é de 16%, como a contração da economia dos EUA a afetou? Os pelegos já tentaram de tudo pra minimizar a situação da China e tentam de todas as maneiras provar que ela que vai quebrar e não os EUA.

    Yannis é o mais muderno a entrar no coro. Começou com Al Gore em “Verdade Inconveniente” e desde então nunca parou.

     

    Abs,

     

    Tio_Zé

    1. DataNet: China.arkx

      e aí, Tio!

      -> não tenho certeza se concordamos.

      mas num é prá concordar, não. discorde à vontade.

      -> Nenhuma palavra sobre o OBOR

      “One Belt, One Road” é exatamente a tentativa chinesa de estruturar um novo MGRE, para reciclar seu excedente comercial, conforme propõe Varoufakis.

      veja os comentários do Wilton Cardoso Moreira e do Hydra. a China conseguirá ser o motor propulsor num realinhamento da economia global?

      -> Se o percentual de exportações da China pros EUA é de 16%, como a contração da economia dos EUA a afetou?

      em 2002 os EUA absorviam 25% das exportações da China. em 2016 este percentual cai para 19%. estes 6 pp (-24%) fazem enorme diferença, ainda mais numa economia em crescimento como a chinesa.

      como a China compensou a diferença? diversificaram os destinos!

      p.s.:

      The Saker é uma leitura obrigatória que precisa ser devidamente contextualizada.

      em outras palavras: se quisermos saber o que os Sionistas querem que saibamos: Debka. se buscarmos uma opinião dos movimentos anarquistas: CrimethInc. para uma visão de Esquerda, Jacobin. etc…

      .

      .

      1. Pois é

        “é exatamente a tentativa chinesa de estruturar um novo MGRE, para reciclar seu excedente comercial, conforme propõe Varoufakis.”

        >>O Varoufakis supõe isso do alto da hubris ocidental, pois supõe que a China age do mesmo modo que o ocidente. Ele não supõe que a diminuição é proposital, e sim que a China sofre por não poder vender mais pros EUA!!! Tadinhos dos chineses, tão dependentes dos EUA.

        O Varoufakis é tão esquerda quanto o pisol. É a esquerda que o hegemon adora.

        E quem disse que a China tem excedente comercial? Um capitalismo estatal altamente controlado pode muito bem aproveitar o excedente internamente, como parece ter sido o caso nos últimos anos.

        Minha (amadora) interpretação parece muito com a do Wilson, de quem admiro muito os comentários.

         

        a China conseguirá ser o motor propulsor num realinhamento da economia global?

        >>Minha interpretação leiga é que o capitalismo tem muita lenha pra queimar. O desequilíbrio causado pelo sistema bancário excessivamente nas mãos do império anglo-sionista é que está colocando o sistema em risco. Parece-me que a China como a Rússia buscam corrigir esse desequilíbrio e não destruir o hegemon.

        TheSaker tem seu contexto sim. A pluralidade anti-hegemon tem seu espaço lá e é parada obrigatória para análises sérias e profundas.

        Obrigado por levantar esse tema e realmente estou aprendendo muito.

        Att

         

        Tio_Zé

        1. DataNet: China.arkx

          -> E quem disse que a China tem excedente comercial?

          faltou este gráfico. vou postá-lo abaixo.

          -> Minha (amadora) interpretação

          -> Minha interpretação leiga

          não é isto o mais importante. e sim saber como recuperar e tratar os dados, a partir dos metadados. como modelando, populando e manipulando uma base de dados

          outro ponto: aqui nesta pesquisa está sendo considerada a tendência macro.

          -> Um capitalismo estatal altamente controlado pode muito bem aproveitar o excedente internamente, como parece ter sido o caso nos últimos anos.

          a demanda interna chinesa é insuficiente. observe nos gráficos. por isto, e também porque os EUA e a Europa não são capazes de absorver suas exportações, a China tenta implementar sua própria reciclagem de superávit: “One Belt, One Road”.

          mas, como bem apontaram tanto Hydra quanto Wilton, talvez já não haja reciclagem possível para o agravamento das contradições internas do Capitalismo.

          assunto complexo. tem que ser abordado em continuidade.

          p.s.: abstraia as posições políticas e opiniões já formadas. foque nos dados. o que eles dizem? é assim que trabalho.

          .          

    1. DataNet: China.arkx

      -> que significa dinheiro além de, digamos, U$ 100 milhões?

      nem precisa chegar a tanto. todos nós deveríamos viver muitíssimo bem como um renda mensal de, digamos, R$ 20 mil. proponha isto a quase totalidade das pessoas comuns e humildes, imediatamente respondem que lhes bastariam R$ 5 mil.

      pois em 1 ano, os R$ 20 mil mensais significam R$ 240 mil. levaria 100 anos, mais do que um tempo de vida, para se chegar a R$ 24 milhões!

      vejamos os 5 brasileiros mais ricos do que metade da população do país. qual a qualidade de vida deles? ok, tem helicópteros, jatinhos, iates, boeings, ferraris… mas e qualidade de vida? trabalham como uns condenados até morrerem. o tesão deles é a acumulação de capital fictício em suas contas de investimentos!

      o Capitalismo financeirizado é a verdadeira Revolução Zumbi.

      .

      1. Talvez eu não tenha sido

        Talvez eu não tenha sido muito claro  na pergunta, pois NÃO me referi a nós da classe média. Com a pergunta quiz levar as pesoas a pensar que, além de um barco, um helicóptero (para fugir dos assaltos que virão em cada esquina) e de um avião (para se locomover com mais liberdade), dinheiro muito além desse valor representa PODER. Capische!

        1. DataNet: China.arkx

          -> Talvez eu não tenha sido muito claro  na pergunta

          -> dinheiro muito além desse valor representa PODER.

          a comunicação por escrito na web enseja muitos mal-entendidos. compreendi perfeitamente seu ponto de vista. quis apenas agregar à mesma questão um outro ângulo.

          e a verdade é com que U$ 100 milhões ainda se tem pouco poder. quando 82% da riqueza são apropriadas por apenas 1% da população mundial, formou-se uma neo-aristocracia. não pode acabar bem, a não ser em outra Queda da Bastilha.

          ” Em 2017, o país ganhou mais 12 bilionários, que agora somam 43 pessoas. A fortuna desses super ricos chega a US$ 549 bilhões, ou 43,52% da riqueza do país.”

          .

      2. Há uma miserável tendência de

        Há uma miserável tendência de alguns idiotas quererem ser Deus nesta merdeca desta minúscula nave espacial chamada Terra! Seu prazer é, simplesmente, oprimir as demais pessoas.

  8. DataNet: China.arkx

    China: One Belt, One Road

    What is One Belt One Road? A Surplus Recycling Mechanism Approach

    Usman W. Chohan

    “O objetivo do projeto OBOR (One Belt, One Road) é recriar as avenidas de prosperidade, no passado conhecidas como Silk Road – rotas da intercâmbio de idéias, culturas, commodities, experiências bem sucedidas, curiosidades, produtos e pessoas.

    Muito embora seu foco primordial esteja assentado em fundamentos econômicos e políticos, o intercâmbio entre culturas e povos são também uma importante parte deste empreendimento.

    OBOR é assim descrito como um “Plano Marshall” do século XXI, possibilitando combinar o Capital excedente da China com investimentos de alto risco, e alta taxa de retorno, inicialmente no Paquistão através do e Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC).

    A partir de 2017, a produção industrial chinesa entra num estado e gerar excedentes, exigindo um grande mercado atue como um SRM (Mecanismo de Reciclagem de Excedentes).

    Ainda de maior importância, se faz necessário harmonizar o desequilíbrio entre o Oriente e o Ocidente, com uma realocação de processos industriais para o Ocidente.

    Ambos os fatores apontam para considerar o Paquistão como um mercado a ser desenvolvido para reciclagem de excedentes.

    Quais são os componentes de SRM através dos quais realmente se processa a reciclagem dos  excedentes? Existem três elementos a serem considerados nesta análise: produção industrial, mão-de-obra e capital financeiro.

    Não é dificil identificar OBOR como sendo o principal projeto de desenvolvimento no início do Séc. 21.

    OBOR é portanto, não apenas uma área de interesse dos homens de negócio e dos políticos, mas também das pesquisas acadêmicas.”

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    1. DataNet: China.arkx

      China: OBOR

      vídeo: China is the Real Deal

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=QpPAYdgDiFE%5D

      “Grécia e China, duas civilizações antigas, dois países cujos povos tiveram uma longa, e também muito recente, experiência de colonialismo, de serem tratados como os enfermos do mundo – a Europa, em nosso caso; Ásia, no caso da China.

      Em 2015, quando estava conduzindo negociações com os chinese, paralelamente às negociações que tínhamos com a União Européia e o Fundo Monetário Internacional, fiquei agradavelmente surpreso com a forma como as autoridades chinesas conseguiram combinar o seu interesse próprio com uma atitude de paciência e um compromisso genuíno de renegociar e negociar e discutir repetidas vezes conosco, com o objetivo de alcançar um acordo mutuamente vantajoso.

      As discussões começaram em relação ao Porto do Pireu, onde a COSCO, uma empresa chinesa estatal, já tinha o pé na porta, por assim dizer, e havia uma discussão sobre como expandir suas operações.

      Eles ficaram muito surpresos quando eu propus a eles que isso deveria fazer parte de um exercício de investimento mais amplo na Grécia pela China, envolvendo ferrovias, parques tecnológicos, envolvendo todo tipo de atividades onde nossa economia precisava de investimentos de longo prazo, como construção naval e estaleiros navais e turismo.

      Chegamos a um acordo magnífico.

      Eles mostraram ter uma visão ampla, estavam preparados para aceitar acordos de negociação coletiva com sindicatos. Eles estavam preparados para dar passo a passo de uma maneira que, naturalmente, os beneficiaria, mas também nos beneficiaria de um modo não colonial.

      O que interrompeu as negociações foi uma intervenção de Berlim, insistindo que nenhum acordo deveria ser feito até e a menos que a zona do euro tivesse acabado com o governo grego.”

      YANIS VAROUFAKIS

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  9. DataNet: China.arkx

    China: mapa de greves

    There are no official statistics on the number of strikes and worker protests in China. CLB’s Strike Map is currently the only publicly accessible database that contains detailed information (in English and Chinese) on nearly 10,000 workers’ collective actions in China dating back to 2011.

    link

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  10. Dedicado a meu tresloucado e

    Dedicado a meu tresloucado e hiperativo amigo Arkx:

    Deslocamentos do Centro de Gravidade Mundial, Karl Marx
    Artigo publicado na Neue Rheinische Zeitung, Politisch-Ökonomische Revue Nº2 Fevereiro  de 1850.
    Tradução: Jason Borba.

    Vamos agora ocupar-nos da América, onde sucedeu algo mais importante do que a revolução de Fevereiro [1848]: a descoberta das minas de ouro californianas. Dezoito meses após o acontecimento já é possível prever que terá efeitos mais consideráveis do que a própria descoberta da América. Ao longo de três séculos todo o comércio da Europa em direção ao Pacífico contornou, com paciência admirável, o cabo da Boa-Esperança ou o cabo Horn. Todos os projetos de praticar uma abertura no istmo do Panamá falharam devido às rivalidades e invejas mesquinhas dos povos comerciantes. Dezoito meses após a descoberta das minas de ouro californianas, os yankees começaram já a construir uma estrada de ferro, uma grande estrada e um canal no Golfo do México. E já existe uma linha regular de barcos a vapor de Nova Iorque a Chagres, do Panamá a S. Francisco, concentrando-se no Panamá o comércio com o Pacífico e deixando de se utilizar a rota do cabo Horn. O vasto litoral da Califórnia, com 30 graus de latitude, um dos mais belos e mais férteis do mundo, por assim dizer desabitado, vai se transformando rapidamente num rico país civilizado, densamente povoado por homens de todas as raças, do yankee ao chinês, ao negro, ao índio e ao mulato, do crioulo e mestiço ao europeu. O ouro californiano corre abundante em direção à América e à costa asiática do Pacífico, e os povos bárbaros mais passivos são arrastados para o comércio mundial e para a civilização.

    Uma segunda vez o comércio mundial muda de direção. O que eram, na Antiguidade, Tir, Cartago e Alexandria, na Idade Média, Gênova e Veneza, e, até agora, Londres e Liverpool, a saber, os empórios do comércio mundial, serão no futuro Nova Iorque e São Francisco, São João de Nicarágua e Leão, Chagres e Panamá. O centro de gravidade do mercado mundial era a Itália, na Idade Média, a Inglaterra na era moderna, e é hoje a parte meridional da península norte-americana.

    A indústria e o comércio da velha Europa terão que fazer esforços terríveis para não caírem na decadência, como aconteceu com a indústria e o comércio da Itália no século XVI, isto se a Inglaterra e a França não quiserem tornar-se o que são hoje Veneza, Gênova e a Holanda. Daqui a alguns anos teremos uma linha regular de transporte marítimo a vapor da Inglaterra a Chagres, de Chagres e São Francisco a Sidney, Cantão e Singapura.

    Graças ao ouro californiano e à energia inesgotável dos yankees, os dois lados do Pacífico serão em breve tão povoados e tão ativos no comércio e na indústria como o é atualmente a costa de Boston a Nova Orleans. O oceano Pacífico desempenhará no futuro o mesmo papel que foi do Atlântico na nossa era e do Mediterrâneo na Antiguidade: o de grande via marítima do comércio mundial, e o oceano Atlântico descerá ao nível de um mar interior, como é hoje o caso do Mediterrâneo.

    A única probabilidade que têm os países civilizados da Europa de não caírem na mesma dependência industrial, comercial e política da Itália, da Espanha e do Portugal modernos é iniciarem uma revolução social que, enquanto ainda é tempo, adapte a economia à distribuição segundo as exigências da produção e das capacidades produtivas modernas, e permita o desenvolvimento de novas forças de produção que assegurem a superioridade da indústria européia, compensando assim os inconvenientes da sua localização geográfica.

    Enfim, uma curiosidade característica da China, contada pelo conhecido missionário alemão Gutzlaff. Uma excessiva população, de crescimento lento mas regular, tinha provocado, já desde há muito tempo, uma tensão violenta nas relações sociais da maior parte da nação. Em seguida vieram os ingleses, que forçaram a abertura de cinco portos ao livre comércio. Milhares de navios ingleses e americanos singraram para a China, que, em pouco temo, foi inundada de produtos britânicos e americanos baratos. A indústria chinesa, essencialmente de manufaturas, sucumbiu à concorrência do maquinismo. O inabalável Império sofreu uma crise social. Os impostos deixaram de entrar, o Estado encontrou-se à beira da falência, a grande massa da população conheceu a completa pobreza, e revoltou-se. Acabando com a veneração aos mandarins do Imperador e aos bonzos, perseguia-os e matava-os. Hoje, o país está à beira do abismo, e talvez sob a ameaça de uma revolução violenta.

    Mais ainda. No seio da plebe insurreta, alguns denunciavam a miséria de uns e a riqueza de outros, exigindo nova repartição dos bens, e mesmo a supressão total da propriedade privada – e ainda hoje continuam a formular tais reivindicações. Após vinte anos de ausência, quando o sr. Gutzlaff regressou ao contacto dos civilizados e dos europeus, e ouviu falar do socialismo, exclamou aterrorizado:”Não poderei então escapar em lado nenhum a esta perniciosa doutrina? É exatamente isso o que apregoam há algum tempo muitos indivíduos da população chinesa!”

    É muito provável que o socialismo chinês se assemelhe ao europeu como a filosofia chinesa ao hegelianismo. Qualquer que seja a forma, podemos alegrar-nos com o fato de que o Império mais antigo e sólido do mundo tenha sido arrastado em oito anos, pelos fardos de algodão dos burgueses da Inglaterra, até a iminência de uma convulsão social que, qualquer que seja o caso, deve ter consequências importantíssimas para a civilização. E, quando os reacionários europeus, na sua já próxima fuga, chegarem enfim junto à Muralha da China, às portas que supõem abrir-se como fortaleza da reação e do conservadorismo, quem sabe se não lerão ali:

    República Chinesa
    Liberdade, Igualdade e Fraternidade

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