Maus ventos no Mar da China, por Gustavo Gollo

por Gustavo Gollo

O veredito do tribunal de Haia, apresentado na terça-feira passada, não poderia ter sido pior. Negando todos os direitos pleiteados pelos chineses, coloca a China contra a parede, e jogando-a em um impasse. Teria sido viável abdicar de parte das reivindicações; a China não abdicará de todas elas. A impossibilidade de aceitação por parte da China da conclusão integral do tribunal torna todo o veredito inaceitável. O resultado, considerado absurdo pelos chineses, acirrou sentimentos nacionalistas na China, levando os moderados a uma posição mais fortemente nacionalista. Uma declaração de incompetência do tribunal relativa a determinados pontos em pauta teria posto panos quentes na disputa, dando margem para alguma negociação, o que teria sido facilitado pela posse do atual presidente filipino, favorável a acordos com os chineses. A condenação radical à China inviabiliza qualquer possibilidade de acordo intermediário, levando a questão para o tudo ou nada. Em resposta ao veredito, na sexta-feira os chineses iniciaram exercícios de guerra na região, que se estenderão até setembro.

Os Estados Unidos vêm, há alguns anos, estreitando o cerco de bases militares em torno de China e Rússia.

Em vista disso, os chineses decidiram armar uma linha de defesa no Mar da China, em uma tentativa de contrabalançar a ameaça americana. A partir de 2013, apoiando-se em razões históricas milenares, e em um mapa de 1947, os chineses construíram suas próprias bases em uma região contestada por vários países, aproveitando e ampliando artificialmente pequenas ilhas, recifes e rochedos expostos.

Eis o mapa constando a linha de 9 traços:

A alegação chinesa causou desconforto entre os vizinhos. Em 2013, com o apoio dos Estados Unidos, as Filipinas iniciaram um processo junto ao tribunal internacional de Haia contra a alegação chinesa de soberania sobre a região englobada pela linha de 9 traços, e contra as recentes construções chinesas na área. O processo se baseou em um tratado, UNCLE (United Nations Convention on the Law of the Sea, Convenção das nações unidas sobre as leis do mar), assinado por ambos e que regula a jurisdição sobre águas internacionais.

Desde o início, a China negou a competência legislativa do UNCLE sobre o caso, afirmando que a abrangência do tratado restringe-se à soberania das águas, enquanto, nesse caso, estaria em questão a soberania sobre as ilhas, apresentadas como território chinês. Asseverando, por essa razão, a incompetência da UNCLE sobre o tema, os chineses decidiram desconsiderar a validade do julgamento, assim como de seu veredito, insistindo em manter a contenda dentro de discussões bilaterais entre os envolvidos.

Sem a defesa da China, na terça-feira passada, o tribunal pronunciou seu veredito contestando fortemente as pretensões chinesas. Esperava-se, talvez, o reconhecimento de soberania chinesa, por parte do tribunal, sobre algumas das ilhas ocupadas. O veredito, no entanto, desconsidera a existência de ilhas, considerando todas as ocupações realizadas sobre pontos de elevação sob maré, desconsiderando também o mapa chinês e suas alegações fundamentadas em considerações históricas milenares.

 

A decisão inflamará outros países, especialmente o Vietnã, que se ressente de dois atritos relativamente recentes na área. Em 1974 os chineses tomaram as ilhas Paracel do Vietnã, matando 70 soldados vietnamitas. Em 1988, tropas dos dois países voltaram a se chocar, causando a morte de 60 soldados vietnamitas. Em maio de 2014 houve múltiplos atritos entre navios dos dois países na região. A recente passagem do presidente americano pelo Vietnã, suspendendo o embargo da venda de armas ao país redobra os temores de novos atritos. Não teria sido necessário mais lenha na fogueira, os americanos, no entanto, não perderam tal oportunidade.

Os Estados Unidos estão insuflando as desavenças e militarizando a região. Os chineses responderão ampliando suas defesas e domínio sobre a área em disputa.

Tudo pronto para a terceira guerra mundial, o palco já está armado. O mundo inteiro se transformará em escombros.

https://www.youtube.com/watch?v=8AaN-kUucF4

Redação

8 Comentários

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  1.  
    Segundo Chico Xavier, caso

     

    Segundo Chico Xavier, caso não haja a 3ª guerra mundial, entraremos em plena prosperidade planetária a partir de 2019.

  2. Viagem

        A China, assim como os Estados Unidos, não reconhecem qualquer descisão exarada por “tribunais internacionais”, eles não “estão nem ai “, e o governo filipino sabe disto, tanto que irá procurar um acordo com os chineses, não por causa de uma descisão de Haia, mas para com apoio da China, aliado a ela, combater as intenções vietnamitas, indonésias, e principalmente taiwanesas em relação a esta região maritima.

         Quanto aos  exercicios de guerra chineses na area, eles serão a continuação da participação chinesa no RIMPAC 2016, conduzidos pela US Navy com participação chinesa inclusive, e no retorno destes navios a China eles em rota irão passar e exercitarem-se nesta area de possivel conflito, a US Navy sabe disto há meses, as Filipinas tambem.

         Bases :  O mapa de 2004 encontra-se defasado, não mostra a principal base americana no Pacifico, a de Guam que controla o “east Pacific”, e “lar” dos submarinos nucleares da 7a Frota, que junto com a base de Diego Garcia no Indico, “fecham” os acessos aquela região, tanto que a estratégia de defesa chinesa, publicada em 2014, baseada no conceito A2/AD, determina Guam como alvo primário acessivel no momento, e Diego Garcia como “alvo possivel”, desde que bases e/ou facilidades logisticas, no sul da asia, como por exemplo : Ceilão, Birmania e Tailandia lhes sejam fornecidas.

           Na estratégia A2/AD chinesa, as bases no Japão, Coréia, Filipinas, ou mesmo Cam Rahn ( Vietnã ) hj. disponivel para russos e norte-americanos, em caso de confrontação, mesmo que localizada, não-nuclear, são despreziveis,alvos faceis, nem precisam ser atacadas, basta bloquea-las.

           Assim como, pela A2/AD chinesa, esta batalha dos estreitos, politica, é fundamental para o “fechamento” desta doutrina estratégica baseada na defesa ampliada.( 250 a 500 milhas nauticas ), um espaço necessário de projeção de controle, eventualmente, caso necessário de poder.

  3. Sobre o golpe na Turquia

    “Do meu ponto de vista, são elos de uma mesma cadeia. Os eventos na Turquia, na Armênia e no Cazaquistão (…) – tudo isso foi trazido de fora. Atualmente, no Cazaquistão não há premissas para que cresça algo sério capaz de levar a um golpe de Estado. Introduzem isso a partir do exterior. Acredito que a partir do outro lado do oceano, os serviços de inteligência se encarregam desses assuntos, desestabilizam a situação na Armênia e no Cazaquistão”, disse Taisáev, citado pelo portal Life.ru.

    http://www.vermelho.org.br/noticia/283824-9

  4. A2/AD

        Um pouco de geoestraégia naval.

         O acronimo A2/AD significa em inglês ” Anti – Acess and Area Denial “, ou seja : controle dos acessos maritimos e a certeza que seu oponente, caso entre em sua area estratégica, sofra tantos danos que o impossibilitem de prosseguir no ataque.

         É o conceito estratégico chinês atual, originário da escola russa dos anos 20/30, atualmente em contraposição com a escola de Marham/Nimitz/MacArthur norte-americana, de projeção de poder naval, originária das escolas britanicas de Nelson e Fisher, estabilizada hoje pelo conceito US Navy, da “Sea – Air and Land Battle “, ou : a dominação do espaço aereo ( aeronaves e satélites ), que precedem o dominio naval ( raio de 500 mn ), que possibilitando tanto o controle aereo como naval, podem projetar poder, até mesmo terrestre sobre areas de interesse.

         Distancias: Ambas estratégias são antigas, mas em suas origens eram entendidas apenas pelas distancias que as armas tinham a época, como o caso do porque o “mar territorial” é de 12 mn,  é que era o alcance maximo das armas costeiras naquele tempo, mas hoje as possibilidades efetivas para ações defensivas iniciam-se, caso Brasil p.ex. a mais de 300 mn da costa, já de um Grupo Tarefa da US Navy ( Porta Aviões + grupo ), a area de segurança da TF, é de um raio próximo ( dominação aerea/naval ) de 250 mn, e de controle alcança 450/500 mn, portanto as “distancias de possivel engajamento” mudaram – nem vou colocar a dependencia de satélites, os varios ( suicidas, de designação, acompanhamento, interferencia de com/dados/intel ).

          A estratégia A2/AD chinesa, em teoria e pratica, necessita cobrir este “gap” de defesa, manifestar poder sobre os acessos ao sul de seu território, mesmo que sejam necessários acordos, ou terá um buraco – dos estreitos, os sitios mais complicados em relação a estratégias de defesa – visando garantir seus trafegos maritimos, tanto de exportação como de importação, e claro : mostrar “bandeira”, estabelecer-se como um ente politico na area.

          Brasil : Com a END, “Amazonia Azul “, o Brasil emula, de acordo com suas condições geograficas, e necessidades estratégicas, o mesmo conceito chinês de A2/AD.

  5. O império enlouqueceu

    Os EUA enlouqueceram como nação imperialista. Quer simplesmente o impossível, controlar o planeta inteiro, negar a outros povos o direito à independência e auto determinação. É claro que não dobrarão a nova coalizão Rússia-China e acabarão levando o mundo a uma guerra final. Final para este modelo de mundo que estamos vendo, mas a humanidade saberá recomeçar.

  6. Lá pelos anos 80 escutava uma

    Lá pelos anos 80 escutava uma rádio no Rio quando ouvi uma professia sobre a terceira guerra mundial, que seria entre Estado Unidos e a China, mas que a Rússia entraria como aliada da China. Não lembro que rádio era essa, nem quem profetizava.

    Não sei como é possível o mundo se armar para uma guerra por esses anos, porque no meio do caminho existe o EI. Este aí já tem produzido o suficiente em matéria de desgraça para ser abolido da Terra. Tarefa difícil essa, se em cada canto se vê mais um a fazer vítimas inocentes. 

    A propósito, Temer tá dizendo que o povo pode estar tranquilo, e ir para o Rio sem medo, porque ele e seu governo já tomaram todas as medidas necessárias para “você chegar à Cidade Maravilhosa, e,…”, Após ouvir essa fala na rádio, a repórter diz: “Não tá fácil do povo acreditar nessa segurança se ontem mesmo – dia 18 – incendiaram 03 carros nas proximidades do Maracanâ, palco da abertura das Olimpíadas.

     

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