Para despertar a consciência, faça o contrário de hoje, por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

Para despertar a consciência, faça o contrário de hoje

por Marcos de Aguiar Villas-Bôas

Hoje já não é mais segredo, até porque foi comprovado cientificamente, que a meditação tem efeitos positivos drásticos do ponto de vista físico, mental e emocional, mas há diversas outras técnicas orientais utilizadas para despertar a consciência e até mais simples do que a meditação.

Parar todo dia por alguns minutos e ficar apenas observando a respiração profunda, o entrar e sair do ar, sentindo, por exemplo, a sua temperatura, é uma forma de dizer para a mente se acalmar e, ao mesmo tempo, de fazê-la pensar: “O que está acontecendo? Nunca foi assim. Por que ele está desacelerando?”

A maioria dos professores de meditação inicia o ensino a partir do foco na respiração. Apesar de existirem vários tipos de meditação, a sua base concepcional é a respiração encadeada, a mente ficando lenta ou vazia e a consciência atenta. 

Muitos acham uma baboseira e questionam para que fazer isso se há tantas tarefas importantes a serem desempenhadas ao longo dia. Os viciados em trabalho, por exemplo, se orgulham disso por se dizerem mais produtivos para a sociedade, por fazerem mais dinheiro. Aliás, esse discurso é especialmente comum em São Paulo/SP. Mal sabem, ou até sabem, que estão ficando doentes tanto física quanto mentalmente.

O ser humano pós-Revolução Industrial passou a ter mais comumente rotinas de trabalho e rotinas de estudo, além das rotinas dos casais, rotinas de cuidado dos filhos etc. Com a modernização e os inúmeros compromissos, a grande maioria passou a estar mergulhada em rotinas repetitivas, que não somente tornam a vida e as relações enfadonhas, mas também deixam o indivíduo inconsciente.

Se olharmos para os tempos antigos, apesar de haver menos tecnologia, menos vacinas etc., ao menos havia muito mais tempo e rotinas que envolviam um passeio pelo campo ou pela mata, uma maior integração com o restante da natureza. Não havia tantos compromissos com horários, tanta ansiedade, tanta cobrança e autocobrança. 

Com os êxodos rurais, a urbanização e a redução gradativa do contato da humanidade com o restante da natureza, a sociedade se mostra perdida em um quebra-cabeça estressante de rotinas que se dão dentro de prédios, casas, carros, aviões…

Quando o cérebro começa a repetir as mesmas ações todos os dias, ele passa a agir mecanicamente, de forma repetitiva e reativa. Isso é bom para um goleiro num jogo de futebol, que precisa reagir inconscientemente, pois, se pensar, a bola desviada no zagueiro terminaria entrando no gol; mas, isso não é bom nem mesmo para o próprio goleiro quando ele está fora do campo.

Muitos acordam pela manhã e nem realizam algumas respirações antes de levantar da cama. Aqueles mais espiritualizados podem até orar e agradecer por um novo dia de aprendizado, tentando estabelecer uma conexão com algo transcendental dentro das crenças de cada um, o que seria o ideal, mas, não sendo o caso, é interessante que, ao menos, o sujeito pare alguns minutos e sinta como está, se descansou bem, se pode mudar algo no seu sono: horário de dormir e acordar, o ar condicionado pelo ventilador etc.

A maioria das pessoas já começa o dia inconsciente, age mecanicamente até no despertar, dando um pulo da cama quando o despertador toca e correndo para o banheiro de modo a se aprontar para o dia de trabalho, sendo que a maioria já não se sente plena com a ocupação que tem. Outros enrolam na cama porque não querem levantar. As suas vidas são pesadas, o sono é intranquilo. Vivem cansadas e querem continuar na cama eternamente.   

Chegando ao trabalho – que tem, como dizia Jiddu Krishnamurti, quase sempre horários rígidos e já é uma prisão em si, com superiores, pares e subalternos controlando a hora que cada um chega, sai ou vai ao médico – a maior parte das pessoas já tem suas rotinas de ligar o computador, abrir os e-mails, pegar um café, falar mal de um colega etc.

E assim segue o dia: mecânico, todo robotizado, repetitivo, reativo. Quanto mais se repetem as ações, o cérebro deixa de se perguntar se aquilo é útil ou não, se está tornando o indivíduo melhor ou não, se não está na hora de mudar, se não há ao menos o que ser aperfeiçoado e assim por diante. É assim que vivem hoje os humanos em geral, sobretudo os ocidentais.

O sufismo normalmente é associado a uma corrente mística do Islamismo, porém, para muitos sábios, como Osho, é mais do que isso. Trata-se de uma filosofia de buscar a conexão com o divino, o sagrado dentro de si mesmo, tornando-se capaz de fazer até mesmo mudanças drásticas na rotina para sair das ilusões e limitações do ego de forma a despertar a consciência, o Eu superior do indivíduo.

Os sufistas agem, com frequência, mudando suas repetições e dos seus discípulos. Eles são quebradores de condicionamentos, de automatismos, o que pode gerar choque nas pessoas, tão acostumadas a ver tudo acontecendo sempre da mesma forma, com todos tentando preencher as expectativas dos demais ou, quando se vê alguém quebrando expectativas, normalmente é por corrupção.

O budismo tem diversas técnicas que conduzem as pessoas por caminhos distintos dos normalmente seguidos, fazendo o controle realizado pelo ego entrar em curto-circuito. Quando isso acontece, a mente para e pode permitir algum despertar de consciência, a entrada de um novo ensinamento.

Tenha certeza disso: uma das piores coisas para o ser humano é passar muito tempo acreditando na mesma coisa. Aqueles que são ferrenhos defensores de políticos ou de bandeiras há muitíssimos anos podem ter certeza de que pouco evoluíram nesse tempo, pois, à medida em que se aprende, em que se descondiciona, a pessoa inevitavelmente muda e quase sempre para melhor.

Daí porque ter certezas, sobretudo se por muito tempo, é um sinal de ego forte no comando e de menos aprendizado. A educação tem que olhar para isso, formando seres dinâmicos, extremamente aptos à mudança de ideia, de situação. Muitos sábios dizem que a sabedoria está exatamente na capacidade de lidar com a mudança.

Em “O Livro dos Homens”, Osho trata do tema detidamente, lembrando que o sábio armeno George Gurdjieff, conhecido por ser um grande despertador de consciências, apesar de muito excêntrico, costumava dizer para os seus discípulos fazerem exatamente o contrário daquilo que era mais forte em suas vidas.

Se a pessoa era vegetariana, Gurdjieff dizia: “coma carne”. Se ela nunca tinha ficado sem comer carne por um tempo, ele dizia para fazê-lo. Se ela não bebia, ele dizia: “Passe a beber pelo menos por um mês. Beba o máximo possível.”

Ele queria ver como o discípulo se comportaria numa situação completamente distinta daquela com a qual estava acostumado. A quebra drástica da sua rotina, por óbvio, iria causar efeitos radicais e daí poderiam surgir grandes aprendizados. Nesses momentos, a mente não entende o que está acontecendo e para com a repetitividade e a reatividade, além de que a pessoa tem sensações novas, que nunca tinha provado, sendo possível entender melhor o que ela vivia antes de forma condicionada.

Osho explica que, por conta disso, nunca se preocupou muito com o que iriam pensar acerca do que ele dizia. Se ele vivesse tentando atender a expectativas, seria igual a quase todos os demais. O seu objetivo era mesmo chocar, despertar aquela fagulha de dúvida que tira o sujeito do automatismo, que o faz refletir sobre a mesmice dentro da qual vive.

Osho também diz que, quando critica um político, não se trata necessariamente daquela pessoa e do que ela faz, ou estaria fazendo igual a todos os demais: tomando um lado e defendendo-o, com unhas e dentes, como o certo. Muitas pessoas vivem iludidas ao longo de toda a vida ou se decepcionam amargamente em algum momento, tornando-se raivosas e/ou deprimidas. 

A crítica dele é ao político dentro de cada um. Quando se atinge o político, atinge-se o político dentro de cada um. “Todo mundo tem um político dentro de si. O político significa o desejo de dominar, o desejo de ser o número 1. O político significa ambição, a ambição da mente” (O Livro dos Homens, p. 74).

Todos que defendem políticos cegamente são inconscientes, não pararam para analisar o cenário profundamente, buscando mudar de perspectiva(s) em relação a ele para que pudessem construir uma visão mais ampla. Apenas querem defender o político dentro de si, seja por benefícios próprios, seja por crenças fanáticas numa ideia de “bom” que assumiram, seja por outra razão.

Pensar por si, sem ir no meio da manada, é tornar-se mais consciente, saindo do “reativismo”. Quem age tem mais chances de fazer a diferença do que quem reage. É preciso que o indivíduo deixe de viver no automático, mecanizado. Essa é uma das principais razões pelas quais os brasileiros são tão facilmente manipulados pelos políticos.

Não é necessário que todos se tornem sufistas, apesar de que isso não seria uma má ideia. Basta começar a respirar, a meditar, a pensar se não poderia fazer nada diferente e, de fato, tentar fazer exatamente o contrário de hoje em algumas ocasiões. Não sejam levados pela torrente. Não repitam os mesmos equívocos de sempre. Vivam despertos e com plenitude!  

Redação

11 Comentários

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  1. deixe a preguiça, comece a CORRER

    9 motivos para começar a correr em qualquer idade.

    1 — Bom para o coração. Correr potencializa o desempenho desse nosso principal órgão. Também colabora na vitalidade dos vasos sanguíneos, fortalecendo ambos.

    2 — Eleva a capacidade de transporte de oxigênio na corrente sanguínea. Quando corremos, há um aumento no fluxo do sangue e, consequentemente, uma maior troca de oxigênio. Isso fortalece a distribuição de nutrientes por todo o corpo, causando a sensação de bem-estar.

    3 — Dá uma diminuída no estresse. Na corrida, saímos da fadiga, deixamos as tensões da rotina de lado por alguns minutos. Suar, mudar de ambiente, ‘mexer o esqueleto’ faz uma bem danado para o corpo e mente.

     

    4 — Felicidade! Depois de um certo tempo no exercício físico, o corpo começa a liberar a endorfina, hormônio que promove sensações de felicidade e bem-estar. Quando há mais presença de endorfina no sangue, geralmente ficamos mais eufóricos, alegres. É difícil começar os primeiros passos da corrida. Mas, uma vez que você entra nela, em pouco tempo, se sente bem. O ‘sacrifício’ será compensado, rss.

    5 — Eleva a atividade cerebral. Quando corremos, enviamos estímulos positivos ao cérebro, que, em troca, funciona melhor. Isso ocorre porque, como já mencionado, há mais transporte de oxigênio no corpo, no cérebro, o organismo se potencializa e deixa a mente mais ativa.

     

    6 — A atividade física sistemática melhora o sistema imunológico e impulsiona o aumento de glóbulos vermelhos e hemoglobina no sangue. Na prática da corrida, eliminamos aos poucos as triglicérides, sentimos menos fome e deixamos o intestino funcionando bem. Com o metabolismo em forma, ganhamos massa corporal.

     

    7 – Qualquer hora é uma hora boa para correr. Geralmente de manhã, há mais presença de hormônios no sangue. Com a corrida, esses hormônios ficam bem distribuídos no corpo, o que o torna mais ativo e em harmonia. Já à noite, a corrida funciona bem para reduzir tensões, estresse e ajuda na qualidade do sono.

    8 — Bom para fígado e rins. Estudos científicos mostram possíveis chances de regeneração de estruturas do fígado e funcionamento dos rins com a corrida. Ela promove alívio para esses órgãos. Deixa-os leve.

    9 — Correr com frequência impacta positivamente o sistema musculoesquelético. Para as pessoas acima dos 55 anos, este tipo de atividade física é especialmente útil porque ajuda na prevenção de problemas de articulações e musculatura. Além de afastar os efeitos da osteoporose.

    E aí? Inspirados? Então aos seus lugares…prontos… já!

     

  2. Misturar J.K. com osho e
    Misturar J.K. com osho e ainda chamar este último de sabio, retira de antemão qualquer credibilidade do articulista. É só mais um….

  3. Falácia para incautos e necessitados.
    Citar J.K. e chamar osho de sabio, retira a credibilidade do articulista. É so mais um.a explorar a boa fé alheia.

  4. O problema não é o mau político em si sim o péssimo juiz em nós

    Toda decisão e sua repetição, o que torna em comportamento e caráter, é resultado de uma decisão que consciente ou inconsciente, saem de nossas crenças, de nossa mentalidade. É esta mentalidade formada por nossas crenças que resultam no que se chama nossa consciência. Assim como não será uma mudança na lua ou no eixo do planeta que provocam as mudanças de consciência, duvida-se muito que figuras como o Osho, agora endeusado em suas fotos de olhos fechados e frases que apenas trazem açúcar aos ouvidos mas pouco afetam os maus hábitos, é que mudarão ao mundo. Aliás Osho não foi aquele guru que andava em suas Rolls Royce e que em 1985 foi preso pelas autoridades americanas tentando fugir de processos para as Burmudas em um Learjet com cerca de 58 mil dólares em dinheiro, além de 35 relógios e pulseiras de 1 milhão de dólares? Estes gurus milionários de hoje, por vezes são piores que muitos políticos e apenas fazem parte da mentalidade padrão deste mundo confuso.

  5. Mudanças…

    Então, se eu acredito no Amor, Gentileza, Respeito entre seres humanos devo “mudar’, pelo simples fato de mudar, para “despertar” a consciência??

    O autor diz:

    “Tenha certeza disso: uma das piores coisas para o ser humano é passar muito tempo acreditando na mesma coisa. Aqueles que são ferrenhos defensores de políticos ou de bandeiras há muitíssimos anos podem ter certeza de que pouco evoluíram nesse tempo, pois, à medida em que se aprende, em que se descondiciona, a pessoa inevitavelmente muda e quase sempre para melhor.

    Daí porque ter certezas, sobretudo se por muito tempo, é um sinal de ego forte no comando e de menos aprendizado.”

    Será??

  6. Paradoxo!!!

    Se a tese central do texto é a de que devemos contrariar os ‘padrões’, não parece controverso recomendar, genericamente, a respiração/meditação como um ‘modelo’? Ademais, se dirigida aos ‘meditadores’ contumazes, a recomendação sinalizaria ‘fazer o mesmo’… Estranho, né?!?!

  7. Paradoxo!!!

    Se a tese central do texto é a de que devemos contrariar os ‘padrões’, não parece controverso recomendar, genericamente, a respiração/meditação como um ‘modelo’? Ademais, se dirigida aos ‘meditadores’ contumazes, a recomendação sinalizaria ‘fazer o mesmo’… Estranho, né?!?!

  8. a capivara do Rajneesh

    Osho®, nove e dez.

     

    September 9, 2015

      

    O cavalheiro que olha fixamente para a câmera da polícia nesta foto de 1985 é Chandra Mohan Jain, conhecido ao nascer como Acharya Rajneesh, mais conhecido há vinte anos como Bhagwan Shree Rajneesh ou “o guru dos Rolls Royce”, e brevemente (quando afirmou ser a reencarnação da Buda) como Rajneesh Gautaman the Buddha. Se estes nomes não lhe disseram nada, possivelmente sim ouviu o último dos muitos nomes deste febril charlatão: Osho®. Além de ser seu último nome, Osho® é hoje uma marca registrada do “círculo interior” de sua seita, os 21 herdeiros selecionados pessoalmente por ele, dirigidos pelo Swami Prem Jayesh (originalmente Michael William O’Byrne, do Canadá, quem ao menos até recentemente tinha a entrada proibida na Índia), que mantêm um frutífero negócio com os livros e idéias cambiantes de Rajneesh, centros de férias “de meditação”, oito sabores de meditação para você e diversos produtos e serviços adicionais, incluído um alucinante “tarô zen Osho®” e uma “multiversidade” em Pune, Índia, para aprender a meditar e conhecer as “ciências esotéricas” entre outras coisas.

    O “Osho®” que agora se promove na televisão espanhola como “místico contemporâneo” ou algo assim não foi senão mais um dos muitos gurus ou professores indianos que aterrissaram sobre a ingenuidade hippie do ocidente nos anos 70-80, na garupa de Maharishi Mahesh Yogui. A Rajneesh já acudiam ocidentais em busca de “iluminação” desde meados dos anos 70, como um produto diferenciado de sua competência. O que o fez singular é que, diferente de outros de sua mesma profissão, a Rajneesh custava muitíssimo trabalho fingir esse ascetismo superior, esse desprendimento do mundano que tão bem simulavam o Maharishi ou Sua Divina Graça Swami Bhaktivedanta Prabhupada, fundador dos Hare Krishnas. Não, Rajneesh gostava das mulheres bonitas, do dinheiro abundante e dos automóveis luxuosos, em particular os da marca Rolls Royce. Sua pequena mania por estes automóveis o levou a ser proprietário de 93 deles. Sua outra afeição o fez criar uma versão própria e aumentada do tantrismo hinduísta que permitia todo tipo de atos sexuais ao gosto do mestre. Em resumo, converteu seus terrestres e vastos gostos em uma “filosofia” do “materialismo é bom” prefigurando um pouco a Michael Douglas de “a avareza é boa” no filme Wall Street, mas com túnicas e incenso.

    É obvio, não é de forma alguma criticável que alguém desfrute do sexo enquanto não viole a lei, e tampouco que compre Rolls Royces se o fizer com dinheiro próprio e que não viole a lei (e melhor se não explore ninguém para conseguir o dinheiro). Mas obter tudo isso com o imbróglio místico e apresentando-se alternadamente como um super-homem, um deus, um Buda e um mestre espiritual, já não parece tão honesto. E menos quando você viola a lei seguidamente e acaba como o cavalheiro da foto. Menos honesto é também que suas “idéias” fossem todas recicladas de outros autores, e que seus livros, segundo confissão de seus seguidores, fossem com freqüência escritos por mulheres de seu entorno mais próximo, seu harém, pois. Tampouco tem alta pontuação de honestidade não pagar impostos ou defender o sexo incestuoso e o sexo com menores de idade, coisas que segundo seus seguidores achava natural e recomendável. E tampouco é exatamente honesto ter uns seguidores espirituais aos quais explora vilmente para obter uma fortuna econômica mantendo-os em condições de vida pouco recomendáveis.

    Nascido em 1931, Rajneesh dedicou virtualmente toda sua vida a ser guru ou “mestre”, conseguindo uma grande quantidade de seguidores na Índia e alguns nos Estados Unidos. Dito de outro modo, não trabalhou um só dia de sua vida, o qual o converte na inveja de mais de quatro. Seu manejo do assunto de ser guru e viver dos seguidores sempre foi pragmático, e sempre procurou o apoio de um marketing adequado para chegar a mais seguidores, com os quais seus ensinos eram bastante “flexíveis”, ou de tira e põe: o que ensinava ontem podia negá-lo hoje se convinha. Igual afirmava que acabariam as guerras e que, quando uma empresa de relações públicas lhe disse que as profecias apocalípticas tinham muito ibope entre os seguidores profissionais, predisse guerras e atrocidades. E quando o apanhavam cometendo alguma barbaridade, deitando-se com uma ou mais adeptas, consumindo valium e óxido nitroso “para encher um dirigível”, diz um ex-adepto (vários ex-seguidores asseguram que era viciado em ambos) ou tomando por assalto um povo, o fazia amparando-se no “tantra” ou em algum ente espiritual inventado ad hoc pela manhã.

    Mas Rajneesh era muito, muito simpático e convincente, e parecia honesto, pelo que nunca lhe faltaram seguidores. Sua “sabedoria” se pode calcular com suas afirmações como que a “Índia não necessita de alta tecnologia”, “no ano 2000 acabarão todas as guerras” ou suas profetizadas guerras que tampouco ocorreram. Seja como for, sua simpatia, sua defesa do prazer sexual e do materialismo e uma veia cínica e pícara lhe ajudaram a percorrer o caminho ao estrelato midiático e a uma fortuna cujos alcances ainda não são de todo conhecidos.

    Até que se afogou em seu próprio pântano de contos.

    Em 1981, os seguidores americanos de Rajneesh-Osho® compraram um rancho de 26 mil hectares nos condados de Wasco e Jefferson, estado de Oregon, nos Estados Unidos, afirmando que queriam fazer uma comuna agrícola muito pastoril e mona. O lugar passou a chamar-se “Rancho Rajneesh”, começou-se a construir nele uma cidade em que chegaram a viver 3.000 dos seguidores de Rajneesh (os chamados “sannyasins”) e a ele chegou em meados de ano o gurú em pessoa, que já levava um tempo nos Estados Unidos. Ao parecer, o revôo formado na tranqüila zona e no próximo povoado de Antelope fez que quando Rajneesh solicitou uma extensão de seu visto, as autoridades decidissem investigá-lo. Dois problemas se fizeram evidentes, conforme contam os registros do xerife de Wasco: uma série de matrimônios suspeitos entre seguidores americanos e seguidores de outros países que pareciam destinados apenas a conseguir a estadia legal dos sannyasins estrangeiros (simples casamentos de conveniência) e o fato de que a mudança do senhor Rajneesh da Índia ao país do dólar parecia estar relacionada com o fato de que o cavalheiro devia ao governo da Índia uns seis milhões de dólares em impostos, quantidade que, inexplicavelmente, não parecia disposto a pagar.

    Em 1982, os seguidores do Rancho Rajneesh eram já suficientes para tomar por assalto a cidade de Antelope. Em uma eleição que convocaram em abril, ganhou a proposta de lhe trocar de nomeie a cidade pelo de Rajneesh, incorporando como povoado ao rancho, agora chamado Rajneeshpuram, e começaram a exigir informação e apoio em dinheiro público para suas atividades ante a fúria dos residentes originais. Em 1983, os visitantes externos à comuna do Rajneesh, como o sociólogo Lewis F. Carter, que escreveu um estudo científico sobre a comunidade na revista Contemporary Sociology em 1991, detectaram na comuna o autoritarismo e a busca do “controle total” próprias das seitas, o qual também era evidente no interesse fundamental para que a comuna produzisse dinheiro para satisfazer os caprichos do “deus vivo&quot
    ;.

    O capítulo mais “mundo cão” desta história ainda estava por escrever-se. As tensões entre os residentes “de sempre” e os forasteiros adeptos de Rajneesh levaram a que estes últimos acumulassem um importante arsenal enquanto Osho® predizia que a AIDS mataria a todas as pessoas do mundo exceto aos de sua comuna. Houve uma tentativa de assassinato do médico de Rajneesh e do fiscal de distrito do condado de Jefferson, o saque e incêndio do escritório de planejamento do condado de Wasco e escutas telefônicas e com microfones dentro da comuna. No cúmulo do bizarro, os seguidores do guru cultivaram bactéria salmonella e a pulverizaram em bares de saladas de 10 restaurantes do The Dalles, em Wasco, afetando a mais de 700 pessoas, com o que esperavam poder influir nas eleições da comissão do condado inabilitando aos eleitores locais, no que hoje se considera, simplesmente, o primeiro ataque bioterrorista moderno, e um aviso de ataques de outras seitas, como a de Shoko Asahara e seu ataque ao metrô de Tóquio com gás sarin. Rajneesh culpou tudo a sua secretária e procurou uma saída para o que se convertia em um inferno jurídico e midiático, entre outras coisas devolvendo o nome original ao povoado de Antelope. Mas não teve êxito, de modo que tomou a alguns de seus seguidores, subiu em seu jato privado e tratou de fugir, mas o escritório de imigração e naturalização o deteve e o devolveu a Oregon, onde tomaram a foto instantânea que abre esta entrada e o levou a julgamento, entrando em acordo com ele de não sentenciá-lo a uma pena da prisão se abandonasse o país e se declarasse culpado de violar as leis de imigração. Fiel a sua auto-imagem, Rajneesh, na prisão, exigiu uma atenção adequada a seu status superior: comida especial e um trono.

    Rajneesh voltou para a Índia, deixando atrás seus seguidores, vários dos quais, em particular mulheres dirigentes, foram a julgamento e resultaram condenadas pelas tentativas de assassinato mencionadas, o ataque com salmonella e a fraude migratória. Enquanto eles passavam a ocupar uma cela em Oregon (sua secretária, Sheela, que estava acostumada a passear armada, foi condenada a 20 anos em 1986), Rajneesh percorria 21 países em seu jato privado: expulsaram-no da Grécia, passou pela Espanha, andou no Uruguai (onde trocou seu nome para Osho®), visitou a Jamaica e voltou para Poona, Índia, onde finalmente morreu em 1990.

    Mas seus ensinos vivem… Não os do misticismo fácil de esperar de “iluminação interna”, mas os de como armar uma comuna com estrangeiros. Em abril deste ano se informou que as autoridades australianas estão investigando a empresa de Osho® Melaleuca Properties porque, além de conflitos com Byron Shire, onde estão se localizados, há acusações de casamentos arranjados para levar para a Austrália numerosos sannyasins de outros países, repetindo hoje os acontecimentos de mais de 20 anos em Oregon.

    Por certo, existe em Antelope, Oregon, uma placa comemorativa da resistência do povo contra “a invasão e ocupação de Rajneesh de 1981-1985”. Sem dúvida o guru deixou seu rastro no povo, hoje de 60 habitantes.

    Esse é, pois, o “místico contemporâneo” que agora nos estão vendendo, provavelmente o místico menos místico da era de Aquário. Mas como já havíamos dito, a lábia não se cria nem se destrói, só se guarda uns anos até que as pessoas se esqueçam dos escândalos e ridículos do passado, e se passe de novo o chapéu entre os entusiastas sempre dispostos a redescobrir o oriente por uns quantos a dose.

     

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