Sobre as dúvidas que ficaram no ar do projeto O Verdadeiro Interlagos

por Livio Oricchio

Olá amigos

Li, como sempre faço, todos os comentários a respeito da ideia de vender o autódromo de Interlagos para a iniciativa privada e, com parte do dinheiro, construir um circuito que seja, em essência, o original, de 8 quilômetros, O Verdadeiro Interlagos, mas dotado da estrutura que o automobilismo moderno exige.

Reparei que a maior parte das críticas diz respeito ao fato de poucos acreditarem que a Prefeitura de São Paulo cumpriria eventual acordo para destinar uma porcentagem do dinheiro da venda para a criação de um novo autódromo. Dentre outros questionamentos.

A promessa não cumprida da Prefeitura do Rio de Janeiro, construir um novo autódromo em troca da destruição do Circuito de Jacarepaguá, é evocada com regularidade. O Rio de Janeiro perdeu sua pista em definitivo. E aqueles cidadãos que juraram de pés juntos que a cidade teria outro autódromo, embora dentro de si soubessem estar mentindo, não tiveram a menor preocupação com o fato de terem dito algo, com todas as letras, e depois não cumprido.

O Brasil é um dos países do mundo onde mais se pratica o dito pelo não dito e o não dito pelo dito. Dentre as nações que conheço, e são muitas, está dentre as que a opinião público tem menos poder. A importância da palavra tem pouco valor nessa esfera.

A classe política absolutamente não se importa com o que a sociedade vai pensar. Fazem suas falcatruas, de toda natureza, sem hesitar, gerando um custo impensável aos brasileiros, e não dão a menor importância para como povo, seus eleitores, vai reagir.

Fui chamado de inocente, por acreditar que na hipótese de a Prefeitura vender Interlagos a sociedade seria de novo enganada.

Pode até ser que esse fosse o desfecho da história, mas um projeto dessa natureza, até pelos valores envolvidos, para não falar da importância histórica, seria cercado de todas as garantias pelos profissionais do automobilismo. O exemplo de Jacarepaguá está ainda bem vivo.

Se a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) ainda não tem o lastro que deveria ter, como vimos no episódio de Jacarepaguá, então que uma associação fosse criada apenas para esse fim, defender o interesse da classe, apoiada por alguns empresários de peso, os mesmos interessados em investir no projeto.

Só lembrando, O Verdadeiro Interlagos contemplaria, na realidade, a construção de uma grande área de eventos. Se o projeto for concebido por um grupo de profissionais competentes, e há homens notáveis no mercado, ele provavelmente atrairia a atenção de empreendedores de diferentes segmentos.

Muito importante: tenho sérias dúvidas sobre a existência de interessados em assumir o atual autódromo. E teríamos boas razões para acreditar no interesse de empresários em explorar O Verdadeiro Interlagos, pela sua multiplicidade. É por acreditar que possivelmente não deveremos ter interessados no Interlagos de hoje que penso haver mais risco tentar mantê-lo do que partir para algo completamente novo, ousado, como o projeto O Verdadeiro Interlagos.

Há meios para garantir de o dinheiro não sumir. A venda do autódromo implicaria a formulação de um contrato onde a Prefeitura se comprometeria com a execução da obra que já teria até projeto, com valor determinado, com alguma margem de ampliação, e local para ser construído.

Escritórios conceituados de advocacia seriam contratados por exemplo pela nova associação ou a Confederação Brasileira de Automobilismo para redigir o texto onde a Prefeitura não teria como fugir da responsabilidade. O texto não daria nenhuma prerrogativa ao executivo. E tudo registrado em cartório. Um juiz minimamente comprometido com a justiça daria ganho de causa no caso de a história acabar no tribunal.

Você tem razão, acreditar no judiciário é outro risco enorme. Assim como há homens de bem, com grande senso de justiça, há uma importante porcentagem desse poder tão podre como o executivo e o legislativo, formada por cidadãos cujos interesses são pessoais ou da sua corporação, como se representassem uma classe de semideuses. Se a instância for alta, como o STF, então deuses mesmos.

A assinatura do contrato da venda e a obrigação da obra, depois de amplamente debatido, seria em um ato público, com a presença da imprensa, todas as mídias seriam chamadas.
Tá certo, como falei, a classe política também não estaria nem aí para o fato de terem se comprometido nesse nível, diante da nação, mas haveria um importante documento, o contrato, pensado e repensado, antes de seus termos finais serem definidos, repousando em um cartório.

Se a classe política não pensasse apenas em si, no quanto vai ganhar com toda e qualquer operação, enxergaria que um grande projeto como esse, uma vez viabilizado, em vez de representar um ônus político pesado, “a administração que pôs fim a Interlagos”, capitalizaria muito, de fato, com a nova realidade: “a administração que construiu O Verdadeiro Interlagos, resgatou o melhor do esporte que já deu ao Brasil Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, dentre tantos outros campeões.

Li comentários sobre o Ministério do Esporte, a Secretaria Estadual de Esporte e até a Municipal investirem no projeto, como sugeri. Alguns radicalizaram: “Não deveria nem mesmo ter mencionado o governo destinar recursos a um projeto dessa natureza”. Automobilismo é um esporte como tantos outros. Todas as instâncias esportivas estatais, não importa se na esfera federal, estadual ou municipal, recebem verba de suas secretarias de planejamento para investir durante o ano.

Seria apenas questão de destinar ao Verdadeiro Interlagos uma parte dessa verba. Ninguém está falando em deixar de investir em saúde, educação, transporte, para colocar dinheiro na construção de autódromo, o que de fato não faria sentido. Mas colocar o projeto do Verdadeiro Interlagos dentre as áreas de interesse de investimento de quem dirige o esporte no país, sem detrimento das demais.

Como redigi ontem, claro que tenho consciência de que esse projeto parece um sonho adolescente, bonito no papel, por vezes inocente, cheio de fantasias de quem não conhece nada sobre como as coisas funcionam, que interesses movem as iniciativas da Prefeitura ou outro nível do executivo. Tudo verdade.

Mas se fizessem as contas na ponta do lápis e os estudos provassem o quanto todos sairiam ganhando, talvez valesse mesmo a pena correr atrás. Seria preciso decisão política para levar o projeto avante, com a determinação que falta às lideranças brasileiras, a não ser que haja interesse pessoal. Essa gana seria fundamental para superar os muitos e muitos obstáculos que surgiriam.

O Verdadeiro Interlagos poderia se tornar, na minha visão, um marco, um recomeço para o automobilismo no país, seria um símbolo da resistência, estimularia uma série de atividade ligadas a esse esporte que, por décadas, foi também quem mais projetou o Brasil no exterior.

Abraçoshttps://www.facebook.com/livio.oricchio/posts/2064719450439729

 

 

Redação

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