A Pobreza do divã da economia comportamental, por Albertino Ribeiro

A economia comportamental aproxima a ciência econômica da realidade humana e deixa óbvio que a nossa racionalidade é limitada e muitas vezes tomamos decisões que são ruins.

A Pobreza do divã da economia comportamental, por Albertino Ribeiro

O trabalho desenvolvido pelos ganhadores do prêmio Nobel de economia na redução da pobreza mostra como o modelo neoclássico do homem racional, em suas decisões econômicas, não cabe na realidade.

Abhijit Banerjeee e Esther Duflo fizeram uma robusta pesquisa de campo em vários países pobres e colocaram a ciência econômica nua diante da inequívoca realidade do mundo real e das pessoas comuns, uma verdadeira “prova dos nove”. Para isso, adotaram os postulados da economia comportamental em seus experimentos. Diferentemente da escola Austríaca de economia que alega não precisar ser confrontada com a realidade, pois considera seu conhecimento apriorístico.

A economia comportamental aproxima a ciência econômica da realidade humana e deixa óbvio que a nossa racionalidade é limitada e muitas vezes tomamos decisões que são ruins.

Hebert Simon, um dos pioneiros da economia comportamental, disse certa vez que enquanto alguns queriam estudar a inteligência artificial, o que interessava a ele era estudar a estupidez natural. Profissionais respeitados, como o Psicólogo Econômico Dan Aryele, considera-nos pouco racionais. Aryele, inclusive, lançou um livro em 2008 cujo título é Previsivelmente Irracionais – editora Campus.

Ontem li o artigo de Luis Nassif sobre o trabalho realizado pelos ganhadores do nobel de economia. Em um dos parágrafos, Nassif explica a questão do viés do presente e seus efeitos deletérios sobre a economia dos agricultores pobres. Estes não gostam de adotam inovações simples, como fertilizantes artificias, mesmo se houver grandes benefícios.

“Uma explicação é o viés presente – o presente ocupa grande parte da conscientização das pessoas, portanto elas tendem a atrasar as decisões de investimento. Quando o amanhã chegar, eles novamente enfrentam a mesma decisão e optam novamente por adiar o investimento. O resultado pode ser um círculo vicioso no qual os indivíduos não investem no futuro, mesmo que seja do seu interesse a longo prazo.”

O viés presente mencionado por Luis Nassif também é conhecido pelos economistas como desconto (temporal)hiperbólico. Trata-se da nossa preferência pela recompensa imediata, mesmo se comparada com uma oferta melhor no futuro. Quanto mais distante uma recompensa, maior será o desconto que damos a ela. Dito de outro modo, o ganho futuro é exageradamente subdimensionado em nossa mente como mostra o gráfico abaixo retirado do site www.maisinteligentes.com.br

Os cientistas dizem que essa forma prejudicial de pensar é uma herança do tempo das cavernas, época em que consumíamos tudo que encontrávamos por não ter como guardar e conservar.

Ciente desse viés cognitivo, Esther Duflo e Abhijit Banerjee resolveram usar mais economia comportamental para neutralizar o viés presente que mantinha os agricultores na pobreza. Segundo os psicólogos econômicos, a dor da perda é bem maior do que a alegria do ganho. Sendo assim, quando você oferece algo que a pessoa e diz-lhe que só terá acesso agora e não mais no futuro, a tendência é que o indivíduo agarre a oportunidade.

“A racionalidade limitada tem implicações importantes para o desenho de políticas. Se os indivíduos são enviesados ​no presente, os subsídios temporários são melhores que os permanentes: uma oferta que só se aplica aqui e agora reduz os incentivos para adiar o investimento.

É exatamente isso que Duflo, Kremer et al. descobriram em seu experimento: subsídios temporários tiveram um efeito consideravelmente maior no uso de fertilizantes do que subsídios permanentes.”

Se pessoas reagem a incentivos e, ao mesmo tempo, não conseguem ter à disposição todas as informações necessárias para tomarem boas decisões, urge que os governos utilizem políticas públicas inteligentes e não baseadas, apenas, em indivíduos que só existem em modelos matemáticos.

Para aprofundamento no assunto, recomendo a leitura do livro escrito pelos laureados, lançado em 2011, intitulado ” A economia dos Pobres”. Uma leitura obrigatória para economistas da direita e também da esquerda.

Albertino Ribeiro – Economista e Especialista em Psicologia Organizacional

Redação

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