Capital e trabalho, finalmente de mãos dadas

Todas as vezes que o pessoal do sindicato dos jornalistas ia visitar as redações onde trabalhei mais tempo em São Paulo, Estadão e Valor Econômico, para explicar como andava a campanha salarial, ou informar sobre o seu resultado, ouvia de alguns coleguinhas sempre as mesmas queixas:

– Para quê serve o sindicato? Só para pegar nosso dinheiro… Putz, que reajuste ridículo vamos ter… Também com um sindicato desses… 

E por aí afora.

Bem, com a aprovação da “reforma” trabalhista do governo golpista, acho que esses meus antigos colegas não terão mais do que se queixar.

Daqui em diante eles não precisarão mais de ouvir a turma do sindicato falar sobre a dificuldade de se promover uma campanha salarial, negociando com patrões irredutíveis que, todo ano, iniciam as conversas com propostas de nem repor a inflação, o que, na prática, significa rebaixar o salário da categoria.

Agora, esse povo que não se cansava de espinafrar o sindicato vai poder se reunir, discutir quanto quer de aumento, bater na porta do dono da empresa em que trabalham, ter uma boa conversa civilizada, e sair de sua sala, depois de tomar um cafezinho, dando pulos de alegria por ter conseguido o que queria.

Vai ser uma moleza, essa “reforma” realmente modernizou as relações trabalhistas no Brasil, acabou com a antediluviana CLT, coisa antiquada, inspiração do fascismo italiano, fora da realidade deste mundo, como dizem, “pós-moderno”.

Esses meus coleguinhas que, hoje eu sei disso, antecipavam o futuro com rara precisão, devem estar neste momento exultantes com o advento dessa nova era que, certamente, vai revolucionar o relacionamento sempre conturbado, difícil e desgastante, entre o capital e o trabalho.

Daqui para a frente, quem sabe por séculos e séculos, os conflitos entre trabalhadores e patrões vão ser não somente amenizados, mas – como querem os homens de bom senso, os homens de bem -, extintos.

Finalmente eles não serão mais importunados por aquele bando de sindicalistas, a maioria certamente petralha, que interrompia o trabalho sério que faziam e atrapalhava o fluxo das ideias que resultava num texto perfeito de uma reportagem definitiva, para, ora vejam só, reclamar da intransigência dos patrões, da falta de mobilização da categoria, e outras bobagens.

Daqui em diante, tudo vai ser diferente. 

Frias, Marinhos, Civitas, Mesquitas, todos os patrões de todas as empresas de todos os tamanhos e todas as áreas, se preparem para abraçar, com os corações em júbilo, os seus sempre leais “colaboradores”, doravante parceiros de uma, com certeza, trajetória direta rumo ao sucesso e à felicidade.

O Brasil Novo vai mostrar que bastará um sorriso, um aperto de mão, uma palavra gentil para que todos sejam felizes para sempre.

Redação

1 Comentário

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  1. Amém. O mistério iniquitatys

    No Jardim do Paraíso estava Eva e a serpente, animal mais esperto que Javé Deus havia feito (Gn,3,1). A serpente perguntou a Eva: “É verdade que os petralhas, sindicatos, CNBB e outros (Deus) disse que voces não devem comer de nenhuma árvore (políticas neoliberais de extinção de direitos) do jardim (sociedade capitalista dos rentistas)?  A mulher (Eva) respondeu: “Nós podemos comer de tudo, exceto a árvore do centro do jardim, senão morreremos.”  A serpente disse: “De modo nenhum voces morrerão. É os petralhas, sindicatos, CNBB e outros (Deus) que quer esconder de voces e impor uma sociedade bolivariana, venezuelana, cubana. Querem impedir novos empregos, crescimentos e desenvolvimento (falou baixinho – maximização do lucro para as empresas e sangue e sacrifício do trabalhador para o deus Mercado).

    A mulher (Eva) comeu (aprovou a reforma trabalhista) e deu ciência ao marido (Adão) e passado dois dias, perceberam que estavam nus – no Inferno. 

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