Jovens pesquisadores da Baixada Santista têm trabalhos publicados nos EUA e Europa

Artigos aprovados abordam impactos das notícias falsas nas instituições e questões acerca da administração pública

 

Por Carlos Norberto Souza (Blog Jornalista em movimento)

Universitários oriundos da Região, Ergon Cugler e Aron Burgos, tiveram artigos científicos aprovados em grandes eventos internacionais, na Europa e Estados Unidos. Promissores, os jovens cientistas defendem a importância da ciência à democracia e contra o obscurantismo.

Cidadãos de Praia Grande e Mongaguá, respectivamente, Ergon é aluno de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e Aron cursa Ciências e Humanidades da Universidade Federal do ABC (UFABC).

No final de 2019, o artigo deles, intitulado The Fake News Impact on the Public Policy Cycle: A Systemic Analysis through Documentary Survey (Os impactos das Fake News nas Políticas Públicas: Uma análise sistêmica atrás de pesquisa documental), foi publicado na 22ª Conferência Internacional sobre Pós-Verdade, Política, Mídia e Comunicação, em Zurique, na Suíça.

Agora, em 2020, em Nova Iorque, o mesmo trabalho foi aceito na 14ª Conferência Internacional de Finanças, Bancos e Seguros.

Segundo Ergon, a partir da hipótese de que as fake news prejudicam a execução de políticas públicas, eles analisam sob a ótica do ciclo de políticas públicas para mensurar o impacto das notícias falsas.

Ele explica que o ciclo é formado, basicamente, por quatro etapas: a formação da agenda; a formulação de políticas a partir dessa agenda; a implementação dessas políticas e, por fim, a avaliação.

“Então, abordando cada etapa, a gente apresenta dados e elementos (inclusive de fontes bibliográficas) buscando validar essa hipótese que, de fato, as fake news estão atrapalhando o funcionamento das instituições”.

Nesse meio tempo, Ergon teve um artigo “solo” aprovado na 22ª Conferência Internacional sobre Governança e Reformas e Inovações da Administração Pública, em Berlim, na Alemanha.

A publicação é intitulada Spending Reduction and Transparency in Public Administration: The Brazilian Case of Electronic Information System (Redução de Gastos e Transparência na Administração Pública: O exemplo brasileiro do sistema eletrônico de informação).

Este trabalho é sobre redução de gastos e transparência na administração pública. Trata-se da análise do Sistema Eletrônico de Informações, desenvolvido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que substituiu todos os processos em papel. Segundo ele, adotado por várias prefeituras e, em parte, pelo governo federal.

O caminho até aqui

Ergon e Aron se conheceram em 2012, quando eram presidentes de grêmios estudantis em suas respectivas escolas. Desde então, eles sempre estiveram envolvidos em pesquisas e debates filosóficos e grupos de estudos sobre idiomas.

Antes de ingressar na USP, ainda como estudante da Fatec, em 2017, Ergon teve a oportunidade de acompanhar a bancada da União Nacional dos Estudantes (UNE) na 19ª edição do Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em Sochi, na Rússia.

“Fiz parte da mesa de debate, junto ao DCE FATEC, sobre os desafios do Ensino Superior em meio à Revolução 4.0. Desde então sempre procurei produzir conteúdo para contribuir com o movimento estudantil”, afirma.

Em 2018, no curso de Gestão de Políticas Públicas, começou seu relacionamento com o ambiente acadêmico. Já no segundo ano de graduação, 2019, saiu a primeira publicação dele, junto à Sociedade Brasileira de Administração Pública, durante o 6º Encontro Brasileiro de Administração, Pública (EBAP), em Salvador/BA.

Tornou-se, então, bolsista do CNPq pelo Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas da EACH/USP, participando da coordenação de um projeto de pesquisa, ao lado da pesquisadora Pamela Costa, sob a orientação do professor José Carlos Vaz.

Na UFABC, Aron Burgos pesquisa as relações da China com a África e seus impactos na diminuição da pobreza no continente africano. Burgos se considera um pesquisador versátil que pretende continuar transitando “entre as múltiplas esferas do conhecimento humano, gerando conhecimento holístico e amplo”.

Ele iniciou os estudos no Ibmec, mas decidiu migrar para a UFABC por causa da interdisciplinaridade da instituição. “O curso de bacharelado em Ciência e Humanidades é o ciclo básico, meu objetivo é me formar economista no curso específico”, diz.

Além do fato de serem velhos conhecidos, interesses em comum favorecem a parceria. Entre as afinidades, está o interesse pelo estudo dos impactos das mudanças tecnológicas no Estado, na sociedade e na democracia.

As novas ferramentas de comunicação são o ‘fio condutor’ dos pesquisadores. “Com minha admissão na UFABC, surgiu a ideia de pesquisar fake news e seus impactos em múltiplas esferas da sociedade”, afirma Aron.

Papel da ciência na sociedade

Ergon defende ser necessário preparação para as mudanças que estão acontecendo na sociedade, em que o investimento sério na ciência é “determinante para garantirmos não apenas o funcionamento das instituições da democracia, construindo terreno fértil para que o Brasil seja potência e vanguarda na produção científica internacional”.

“Acredito que o papel do pesquisador é fazer e aplicar o conhecimento no mundo real. Não gosto da ideia de produção científica para ficar engavetada. Minha motivação é fazer algo próximo ao público, apresentando conhecimentos que tragam mudanças à sociedade”, afirma Aron.

Ergon vai mais adiante: “Em meio à cruzada anticientífica e teorias da conspiração, como os movimentos antivacina, que colocam vidas em risco, ser pesquisador e combater o obscurantismo significa resistência”.

Por isso, essa parceria está longe de encerrada: eles pretendem aprimorar as pesquisas nas áreas de investigação que escolheram e buscar outros espaços da comunidade acadêmica. Além do mais, a ideia é se organizarem para participar presencialmente dos próximos eventos lá fora.

Fotos da montagem: Camila Modanez e perfil no Facebook

Redação

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