Sobre o julgamento de Lula – por Luciana Hidalgo (Facebook)

         Com a proximidade do julgamento de Lula e sua liderança nas pesquisas de intenções de votos, voltam os xingamentos de praxe ao ex-presidente por parte de “comentaristas políticos”, estes que um dia até estudaram e acreditaram que eram filósofos, historiadores etc., mas hoje em nada diferem de um Ratinho no sensacionalismo e na leviandade dos comentários.

       Usam xingamentos em vez de argumentos, pouco importando se isso contraria a premissa mais básica do que é um intelectual. Gritam frases de ódio a Lula em TVs, rádios e jornais, obtendo popularidade fácil e manipulando seguidores que saem por aí repetindo frases feitas em ruas e redes sociais. E mesmo depois dos trilhões roubados por políticos de todos os partidos, presos diariamente, não vejo o mesmo tom de linchamento a outros nomes.

       Uma das razões para isso é, claro, o eterno ódio ao Lula nordestino, ex-operário e “inculto”. Porém, há algo mais: o desprezo que alguns brasileiros que sobem de uma classe social para outra têm por sua classe de origem.

       Nos governos Lula, miseráveis saíram da miséria e se tornaram pobres; pobres viraram classe C-D com poder de compra; a classe média flertou com a classe média alta, e esta ficou rica mantendo seu dinheiro em bancos com os rendimentos mais altos do mundo. A estabilidade do real foi um feito do FHC, mas o auge do Brasil, desde que me entendo por gente, foi nos governos Lula. Todo mundo ganhou. E uma explicação para todo esse ódio é talvez o ódio de si mesmo.

       Vejo pessoas incultas da elite brasileira odiarem em Lula exatamente o fato de ele ser “inculto”. Vejo nordestinos nascidos pobres, que compraram seus primeiros carros 0km nos anos Lula, odiando em Lula justamente o que eles eram/são: nordestinos nascidos pobres. Vejo filhos de operários que ascenderam à burguesia odiarem Lula sem notar que no fundo rejeitam a própria genealogia.

       Recentemente até um autor de telenovela desmereceu Lula por não ler livros; ou seja, até o autor de um dos gêneros mais medíocres da cultura brasileira acha que pode dar uma de intelectual. E pior: intelectual esnobe.

       Lula virou o bode expiatório, o “pele” em quem muitos batem, a Geni da canção de Chico Buarque apedrejada por pessoas que se acham “mais”. O linchamento de Lula flagra o ódio que muitos brasileiros têm exatamente daquilo que os fundou, do que os constitui. Triste do país que se odeia assim.

       A defesa do ser humano Lula (já que o julgamento do réu cabe ao Judiciário) nada tem a ver com direita ou esquerda, é uma simples aceitação do que somos todos. É talvez a única, fundadora e conciliadora saída para a construção de um país digno.

Redação

1 Comentário

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  1. O problema é que muita gente subiu à classe média…

    O problema é que muita gente subiu à classe média, e começou a odiar a corrupção, à medida em que percebiam que o dinheiro roubado vinha de seus bolsos na forma de impostos. Quando eram pobres e não pagavam impostos, pouco ligavam para corrupção. Não digo especificamente Lula, mas o PT como um todo resolveu, em determinado monento, desprezar ostensvamente a classe média, lançando o termo coxinha, fazendo injunções racistas e dizendo que só queria saber de pobre. Assim a criatura voltou-se contra o criador.

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