Despertar na Roça, Vídeo Poema

Por Eduardo Waack

Escrito num momento de bastante tensão e entrega, “Despertar na Roça” retrata o cotidiano de lutas pela sobrevivência e garantia de posse da terra por agricultores empobrecidos, abandonados pelo poder público e que sem desanimar insistem em alcançar seu ideal, vítimas dos desmandos dos poderosos (latifundiários, políticos, conglomerados econômicos e coronéis decadentes). No final da década de 1980 percorri o interior dos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba junto a integrantes da Comissão Pastoral da Terra, que conheci em Recife. Foram meses de descobertas, surpresas e tristeza mesclada com alegrias. Visitávamos pequenos vilarejos e acampamentos sitiados por jagunços no sertão nordestino e ali permanecíamos alguns dias. Muitas vezes ao retornar, semanas depois, às residências das sofridas lideranças rurais, nos contavam de seu assassinato numa emboscada qualquer, ou mesmo vítimas de um tiro certeiro na porta de seu lar. A agonia das viúvas e das crianças nos tornava rudes, mas abnegados, partilhando um cotidiano de angústias e medo.

 

 

“Despertar na Roça” foi gerado numa dessas ocasiões, no município de Pitanga (PE). Foram duas semanas num estado de conflito deflagrado e guerrilha rural onde qualquer descuido poderia ser fatal. Chegamos numa Kombi, trazendo mantimentos e esperança. O radinho de pilhas narrava notícias do mundo lá fora, e as estrelas e a lua iluminavam com romantismo. Acender um lampião era luxo para as primeiras horas da noite, quando nos sentávamos em bancos de madeira traduzindo em palavras sonhos ancestrais. Bebendo água barrenta e comendo apenas cuscuz, dormindo em esteiras, senti a dor dos humildes e despossuídos. De madrugada, tiros e gritos ao redor do acampamento. Busquei traduzir este sentimento num poema quase fotográfico, documental.

 

Leandro Taques, autor das fotos que ilustram esta matéria (retratado por Rafael Oliveira)

 

A gravação que agora apresentamos conta com o precioso auxílio das imagens do fotógrafo e jornalista paranaense Leandro Taques (nascido em Pato Branco em 1974, atualmente reside em Curitiba), cujo trabalho é reconhecido além fronteiras. Mostra seres humanos que nada possuem a não ser a esperança de mudança e acreditam num mundo melhor. Entre suas influências, Cartier Bresson, Sebastião Salgado, João Urban, João Ripper, James Nachtwey, Robert Capa, Walker Evans e Josef Koudelka. Leandro possui três livros publicados: O Retrato da Paz (Angola/2007), San Lázaro — Babalú Ayê (Cuba/2015) e Yo Soy Fidel (Cuba/2017). “Minha fotografia é de gente. Me interessa a figura humana, suas marcas, suas histórias. O que me faz fotografar é a possibilidade de contar essas histórias.” Sábias palavras!

 

Maria Domingas Francischini, Viviane Lopes, Nayara Carolina Vinzinzotto e Vilma Caretta integram o coro feminino de abertura, em registro de 15/08/2019

 

O coro feminino de abertura é composto por Viviane Lopes, Nayara Carolina Vinzinzotto, Maria Domingas Francischini e Vilma Caretta. A filmagem coube a Valéria Chiozzini, em 23/08/2019, e a edição das imagens é do incansável Willian Calera. Como trilha sonora incidental utilizamos a música Liquid Days, composta por Philip Glass e David Byrne e que possui nos vocais a presença inconfundível do grupo vocal The Roches.

 

Willian Calera, companheiro de todas as horas

 

 

 

 

Redação

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