Diário da Peste 7

Hoje acordei e tive uma epifania, palavra que ainda não tinha tido a oportunidade de usar. Minha epifania foi dolorosa, pois descobri que evelhecer é começar a prestar atenção nas juntas que doem. Suponho que as que não estão doendo começarão a doer em algum momento.

Ultrapassada essa questão, duas coisas chamaram minha atenção.

A primeira é triste. Ontem a noite ocorreu o tradicional “rendez-vous” na vizinhança. Pensei que ele seria cancelado, mas isso não ocorreu. O baile barulhento do bairro ao lado do condomínio em que eu moro começou às 9 e terminou às 2 da madrugada.

Suponho que o COVID-19 foi involuntariamente convidado para o esfrega-esfrega de corpos jovens e adultos regado a cerveja, cachaça e caipirinha. Em duas semanas o resultado provavelmente será noticiado.

A segunda é alegre. As partidas de futebol que ocorrem no Parque Municipal Manoel Manzano.em Osasco SP, foram canceladas. Essa medida simples certamente preservará as vidas dos jogadores e dos familiares deles.

Não tenho nada contra o futebol. O diabo é que um dos times que joga todo domingo de manhã no Parque reza alto antes de jogar e o barulho da prece deles incômoda. Religião deveria ser uma questão privada e não pública. Eles não respeitam meu sono e eu fico com raiva e desejando que eles quebrem as pernas jogando.

Além disso, essas demonstrações de fé que interrompem meu sono são inúteis. Minutos depois do saravá evangélico posso ouvir os mesmos jogadores gritando: passa a bola filho-da-puta; caralho mano, não tá vendo que estou sozinho; você não acerta um passe, desgraçado; vai tomar no cu, seu bosta; mas que inferno, vocês não marcam ninguém.

Hoje não teve nem reza, nem gritaria, nem chingamentos. Mesmo assim acordei cedo, pois estava com dor no ombro. Merda.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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