O dia em Joseph-Ernest Renan visitou o Estado Islâmico-Evangélico do Brasilistão, por Fábio de Oliveira Ribeiro

No Brasil a miopia é seletiva. A elite brasileira engatou nosso país num império que está afundando.

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O dia em Joseph-Ernest Renan visitou o Estado Islâmico-Evangélico do Brasilistão

por Fábio de Oliveira Ribeiro

O que distinguia as democracias ocidentais do nazifascismo europeu nos anos 1930 está rapidamente desaparecendo. A diferença entre a religião cristã (digo isso pensando especificamente nos evangélicos norte-americanos e latino-americanos) e o fundamentalismo islâmico já desapareceu.

As mesmas pessoas que pregam a existência de uma guerra de civilizações entre o Ocidente e o Oriente perderam o fio da meada que os ligava à venerável tradição greco-romana. Mergulhados numa ideologia que reinventa o passado, rejeita o presente e destrói a esperança no futuro, os defensores do neoliberalismo se esforçam para esmagar a Grécia e chamam os italianos de preguiçosos e aproveitadores.

Aqueles que olham para o sucesso da China se recusam a ver a construção tecnológica de um novo autoritarismo. Os que aplaudem a Índia fazem de conta que Narendra Modi não incentiva o fundamentalismo religioso dos hindus.

No Brasil a miopia é seletiva. A elite brasileira engatou nosso país num império que está afundando. Nosso bote salva-vidas irá a pique porque nosso país é governado para atender às necessidades de outro. Os brasileiros ricos e muito ricos parecem acreditar (ou querem que os demais acreditem) no sonho norte-americano dos anos 1950 que foi destruído nos anos 1980 e 1990 quando a Casa Branca destruiu a classe média operária dos EUA.

A crise financeira de 2008 provocou estragos permanentes no padrão de vida dos norte-americanos mais vulneráveis economicamente jogando gasolina na fogueira acendida por Donald Trump. Só não vê que os EUA caminha a passos largos para sua autodestruição através de uma guerra interna ou de uma grande guerra externa quem fica vendo séries “made in USA” no Netflix.

Mais Bíblia, menos Constituição. O grito de guerra dos evangélicos contra o regime laico inclusivo brasileiro levou Jair Bolsonaro à presidência. O mito retribui os votos que recebeu aumentando os lucros dos banqueiros e esmagando os brasileiros mais pobres de todas as maneiras possíveis e imagináveis.

O desgoverno Bolsonaro compromete nossas exportações para agradar Israel. E humilha os cidadãos brasileiros transformando nosso país em província tributária semiautônoma de um império mortalmente ferido pelo neoliberalismo. Sempre que aparece na TV ou na Internet, Bolsonaro vomita ódio contra os índios, contra os gays e contra os militantes de esquerda. Ele faz questão de rir do estrago que causou à imagem do Brasil. O mito sabe melhor do que ninguém que os pobres estão mais preocupados com o que comerão no jantar do que com a preservação da soberania da nação no dia de amanhã.

Uma miragem da Arábia Saudita. É assim que podemos descrever o Ocidente neoliberal.

A união sagrada entre a Casa Branca e Riad não forneceu apenas poder e riqueza à elite dos EUA e gasolina barata para os norte-americanos empobrecidos. Ela forneceu também um paradigma de estrutura social que provocou uma transformação imensa nos EUA. O Estado norte-americano, que cuidava dos cidadãos nos anos 1950/1960 passou a desprezá-los nos anos 2000. A elite norte-americana, que se sentia responsável pelo desenvolvimento humano do país se fechou sobre si mesma. A ética protestante (trabalho duro, inovação, criação de oportunidades, investimento dos lucros na produção, etc…) foi substituída pelo niilismo neoliberal. Salvo algumas exceções, os norte-americanos que podem se limitam a desfrutar os prazeres proporcionados por uma riqueza financeira crescente num país que importa quase tudo.

Os sauditas maltratam os trabalhadores contratados nos outros países. Os norte-americanos aprenderam a hostilizar os estrangeiros. Donald Trump prende crianças em gaiolas como se isso fosse normal. Justice for all… menos para aqueles que não nasceram nas famílias privilegiadas que fornecem os juízes dos Tribunais dos EUA.

A ideologia comunista era pragmática e possibilitou à URSS conviver com um império norte-americano igualmente pautado pelo pragmatismo. Nenhum equilíbrio do terror será possível se os cristãos ortodoxos fanáticos da Rússia resolverem fazer uma Guerra Santa contra os evangélicos igualmente fanáticos que controlam fatias crescentes do poder nos EUA.

O deserto do real que transformou os EUA num clone da Arábia Saudita ameaça desertificar o mundo inteiro. Se não entrar em colapso por causa da mudança climática que nega existir de maneira enfática, o império norte-americano será devastado por uma guerra nuclear em nome de Jesus.

É também em nome de Jesus os evangélicos se preparam para uma Guerra Santa no Brasil. Eles já estão queimando índios, sem terras e mendigos no varejo e querem fazer isso no atacado. O golpe dado em 2016, “com o Supremo com tudo”, queria pacificar o país mas devastou o espaço em que a política era feita. E o ítalo-beduíno que chegou ao poder etá se esforçando para transformar o Brasil num Estado Islâmico Evangélico para agradar os manos dele da CIA que criaram o Estado Islâmico para atormentar os sírios e iranianos.

Em meados do século XIX, Joseph-Ernest Renan defendeu a tese de que “A continuação do judaísmo não é o cristianismo, mas o islamismo”, pois a religião de Jesus foi criada na verdejante, alegre e bela Galileia e não na triste, árida e dogmática Judeia onde ele foi crucificado.

“A vitória do cristianismo só foi assegurada quando este rompeu completamente seu invólucro judeu, quando tornou a ser aquilo que era na alta consciência de seu fundador, uma criação livre dos estreitos entraves do espírito semítico (t. 2, p. 232)”

Os evangélicos reintroduziram no cristianismo as piores características do judaísmo. Isso explica tanto seu amor pela aridez e pela violência de Israel e da Arábia Saudita como seu ódio mortal pelas crenças africanas/indígenas. O cristianismo pode tolerar o sincretismo da umbanda, os evangélicos não.

Menos constituição, mais religião. A militarização dos evangélicos levará à guerra civil. Eles não podem tolerar nem a perda do poder nas eleições nem a competição de outras religiões. Os já demonstraram que desejam impor a força seus dogmas e preconceitos sexuais.

Um povo, um Estado, uma religião. A dominação total pregada pelos pastores evangélicos é semelhante tanto ao fundamentalismo judaico quanto ao Estado Islâmico inspirado no judaísmo. A politização inevitável dos evangélicos levou ao terrorismo religioso em curso e ao fim da democracia.

A construção de uma ditadura político-religiosa opressiva e genocida está em curso no Brasil. Enquanto seguem sendo tolerantes e acreditando que tudo está bem os outros brasileiros podem estar cavando suas próprias sepulturas.

Menos Constituição não produzirá mais cidadania. Muito pelo contrário. Observem com atenção e desprendimento o que está ocorrendo nos EUA. Quando penetra fundo num país a estrutura social da Arábia Saudita corrompe todas as suas instituições. Nós estamos fadados a viver num presídio continental em que a Sharia evangélica será imposta por Damares Alves e por outros espertalhões que difundem o medo do Diabo para conquistar mais poder, muita riqueza e um maior controle do Estado.

Se perderem as eleições os terroristas evangélicos nos devolverão pacificamente o direito de governar nosso país? Essa pergunta é apenas retórica. A resposta é não. Assim como a família Saud não realiza eleições, os membros da familícia Bolsonaro já se comportam como se fossem príncipes árabes.

O deserto só não dominou totalmente nosso país por causa da aridez nordestina. É lá onde o Brasil nasceu que floresce a esperança da reconquista de um país laico, independente e orgulhoso de suas próprias raízes e a serviço dos interesses de sua própria população. Não por acaso a fanatismo religioso penetrou muito pouco no último reduto de resistência ao Estado Islâmico Evangélico do Brasilistão. Amém.

Se você é evangélico e odiou meu texto ficarei imensamente orgulhoso e satisfeito. Enfie a sua Bíblia onde quiser. Ficarei melhor acompanhado com minha Constituição Cidadã.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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